CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 6:
Pé na estrada


— Candace, já pegou o repelente? — perguntou Allison.

— Sim, tudo certo — respondi fechando a mochila.

— Diego, a barraca já está no carro? — Allison pergunta novamente.

— Tudo certo, senhora! — Diego diz sarcástico e Allison dá um tapa em seu braço.

Falta pouco para viajarmos ao chalé das nossas férias, e serão quase três horas inteiras de carro. Um dos vários problemas de ter muitos irmãos é que precisaremos de dois carros para levar todos e guardar todas as nossas mochilas, pode parecer que não, mas são muitas. Eu podia ver todos eles passando de um lado para o outro das salas arrumando suas coisas, e de vez em quando algumas discussões.

Estamos quase na hora de sair e se nos atrasarmos escutaremos Luther reclamar a viagem inteira.

— Vamos, pessoal? — disse Ben ajeitando algo dentro da bolsa.

— ME ESPEREM! — Klaus gritou do andar de cima.

— Klaus, já era para você estar pronto — Luther reclamou. Klaus desceu as escadas com umas bóias infantis com formato de animais.

— Agora sim, vamos — ele disse e seguimos para o carro.

A hora de nos dividirmos nos carros foi complicada, isso porque Diego não queria ir com Viktor e eu queria ir com o Ben. Todos falavam ao mesmo tempo até que Ben interrompe.

— Ok, então é simples. Luther, Diego, Allison e Klaus vão em um carro. O restante vai em outro — disse Ben tentando organizar, eu queria dizer que também quero ir com Klaus, mas Ben era capaz de ir embora sem mim se eu dissesse.

O Cinco, que não havia trocado uma palavra com ninguém, em um tom autoritário disse que iria dirigir. Passei um terço da viagem dizendo como seria melhor trocar o Cinco pelo Klaus, a viagem seria muito mais divertida. Acabamos escolhendo um lugar afastado da cidade, mas confesso que o caminho era um pouco assustador, com árvores muito altas e uma neblina densa. Ben e eu colocamos nossas músicas favoritas no carro, o que deixou Cinco um pouquinho nervoso.

— SERÁ QUE DÁ PARA ABAIXAR A PORRA DESSA MÚSICA? — ele gritou fazendo todos nós levarmos um susto.

— Ele não nega que é um velho rabugento — cochichei para Ben que riu do meu comentário.

— DO QUE VOCÊS ESTÃO RINDO? — Cinco gritou novamente olhando para o banco de trás, e se desconcentrado do caminho. Cinco não viu que logo à frente havia um gato na estrada e o carro estava prestes a atingi-lo.

— CINCO! — gritei apontando para a estrada e tentando tomar controle do volante.

Cinco freiou bruscamente fazendo o carro emergir um som agudo que ecoava por toda a estrada. Pela parada imediata, acabei batendo a minha cabeça no banco da frente, e escutei meus irmãos dizerem palavras confusas sobre o que havia acontecido. Não sei se o gato estava bem, mas eu com certeza não estava.

— O que foi que aconteceu? — Viktor perguntou com suas mãos apoiadas no rosto.

— Cinco estava prestes a atropelar um gato — eu disse tentando abrir a porta mas estava trancada.

— Eu não vi o gato porque estava OCUPADO CHAMANDO A ATENÇÃO DE VOCÊS! — Cinco se justificou.

— ABRE A PORRA DA PORTA! — gritei e ele apertou um botão fazendo a porta abrir.

Corri para a frente do carro, o farol iluminava a neblina e com esforço consegui encontrar uma sombra que se encolhia a cada passo meu. Me aproximei, o animal estava com medo mas logo tomou confiança e me deixou pegá-lo. Levei o gato cinza para o carro para deixá-lo em segurança.

— O que você foi fazer lá fora? — Cinco perguntou, mas fiquei em silêncio para ele não desconfiar. O gato por sua vez quis dar um "oi" e miou, fazendo Cinco suspirar nervoso — Deixe ele.

— Não vou deixar ele — abracei o gato.

— Você vai! Não pode ficar com ele — Cinco virou para trás, me dando um olhar de reprovação.

— Na verdade, ela pode sim — disse Ben e eu lhe dei um sorriso, uma forma de dizer obrigada.

— Candace, deixe o gato!

Ele repetiu mas eu não fiz. Ben já tinha se estressado com toda essa situação e com raiva saiu do carro. Ele parou em frente a porta do motorista e projetou um de seus tentáculos, abrindo a porta e arrancando Cinco de seu lugar. Ben tomou a posição de motorista, e Cinco reclamando sentou no banco de trás, ao meu lado… e também ao lado do gato.

— Olhe como ele é lindo — eu disse acariciando o gato e olhando para Cinco que revirou os olhos me ignorando.

A viagem com Ben dirigindo é com certeza mais tranquila, posso dizer que até um raio de sol surgiu. Chegamos um pouco depois que os outros irmãos e organizamos nossas coisas. Não tem quartos o suficiente para que eu fique sozinha, mas pelo menos não terei que dividir com Cinco, aliás, Ben e Viktor são ótimas companhias. Aqui é mais espaçoso do que eu imaginava, e o campo em frente a casa é tão grande que eu mal enxergo o fim dele. De cara, avistei um inseto entre as árvores que não consegui identificar, mas era assustador. Os outros irmãos ficaram surpresos com o gato e Klaus praticamente o adotou.

— Eu acho que o Klaus ama mais esse gato desconhecido do que os próprios irmãos — Diego disse.

— Você acha? — Allison debochou.

Klaus arregalou os olhos, parece que lembrou de algo. Colocou o gato no meu colo e saiu às pressas para dentro da casa. Ele volta minutos depois apenas de sunga, correndo e gritando "EU SOU ALÉRGICO".

Klaus sumiu entre as árvores e logo escutei um barulho de água. Corri em direção ao barulho preocupada se ele estava bem e ao chegar vejo que ele está nadando no lago. Suspirei aliviada e ele me chamou para entrar, jogando água em mim em todo momento. Tirei minha roupa ficando apenas com o biquíni que eu estava por baixo. Klaus não parava de jogar água em mim, o que me deixou nervosa então decidi entrar logo.

Pulei no lago e senti cada parte do meu corpo encostar na água gelada e o som abafado das águas faziam a risada de Klaus ficar distante, mesmo ele estando ao meu lado. Voltando à superfície observo com calma o lindo lugar, águas quase cristalinas e muitos cantos de vários pássaros. Ficamos apenas eu e Klaus por muito tempo até que ele decide sair pois estava ficando tarde, mas eu estava disposta a ficar mais alguns minutos. Eu só precisava ignorar as rugas que apareceram nos meus dedos. A sombra de alguém surgiu em frente a luz do sol que já estava se pondo, e logo essa sombra ficava mais nítida.

— Não vai sair daí, não? — Cinco perguntou — Está aí o dia inteiro.

— Gostei daqui — olhei para os meus pés debaixo d'água, a água é tão cristalina que posso vê-los com nitidez — Você deveria entrar.

— Prefiro ficar aqui sentado assistindo algum bicho morder seu pé — ele se sentou na grama.

— Qual é, dá uma chance? — sai do lago e fui em sua direção — Esse biquíni é lindo, não acha?

— Odiei — ele disse.

Fiquei bons minutos tentando convencê-lo a entrar, porém, muitos pedidos não eram suficientes, então fui obrigada a jogá-lo no lago com roupa e tudo. Acho que é por isso que ele me odeia.

— CANDACE, EU JURO QUE QUANDO EU SAIR DAQUI EU TE MATO — ele gritou fazendo ecoar sua voz pelo ao redor.

— SHIU! Para de gritar. Vai chamar atenção deles — apontei para o chalé — Quer ver o que eu sei fazer?

— Não.

— Ótimo, olhe.

Me sentei na beira do lago e inclinei minhas mãos. A água do lago começou a formar uma espécie de onda vertical que acabou levando Cinco junta a ela. Ele deve estar a uns 5 metros do chão e o que lhe segura é apenas litros e mais litros de água. E eu, que controlo toda essa água.

— Me coloca no chão! — ele disse suspenso no ar — Candace, isso não tem graça!

Para ele não ficar mais estressado do que naturalmente já é, resolvi colocá-lo de volta ao lago. Não antes de gargalhar por um bom tempo ao escutá-lo gritando feito uma criança. Dei um belo salto de encontro às águas, para o espanto de Cinco. Quando voltei à superfície, ele estava mais furioso do que eu imaginava.

De repente tudo ficou silencioso, ao não ser os grilos, mas é como se entre eu e Cinco houvessem barreiras de som. Olhei para ele que prendia os olhos em mim e pude perceber que ele se aproximava cada vez mais, seus pés davam passos lentos debaixo d'água e por instinto, me afastei lentamente, mas ele continuava na minha direção. Cinco?

Logo já não havia mais espaço entre nós dois e com um movimento rápido Cinco agarrou meu pescoço descendo para a água. Eu não conseguia respirar, eu não enxergava e tão pouco conseguia sair dessa situação. Ele a cada segundo apertava mais e mais o meu pescoço, senti meus pulmões queimarem pela falta de ar. Eu tentei. Tentei me tirar de suas mãos, tentei chutá-lo, e tudo o que eu conseguia era ficar mais cansada e sem ar. Eu já podia sentir alguns músculos relaxarem e desistirem de lutar, mas minhas mãos por impulso congelaram a mão de Cinco por uns instantes, que me soltou e eu pude voltar à superfície. Sentir o oxigênio em meus pulmões novamente me trouxe alívio, porém demorei para me recuperar. E o silêncio entre nós se tornou algo desconfortável.

— Eu nunca notei o quão estúpido você é — eu disse após ter mais fôlego, tossindo água sem parar.

— Você me julga muito mal — ele riu.

— Porra, você quase me matou! — fui para cima dele lhe dando sequência de tapas — Você tem noção disso, seu idiota do caralho?

Eu continuava batendo em Cinco que recebia os tapas calado, era como se ele não sentisse nada.

— Se não fosse o seu gelinho esquisito eu teria te matado mesmo — ele dizia tudo com um sorriso no rosto, que me dava ainda mais raiva.

E ainda por cima eu chorava pelo choque e a sensação de ter quase morrido ser muito recente. Vai se foder, Cinco. Seu idiota. Eu só conseguia xingá-lo e descontar a minha raiva em seu peitoral.

— Já chega! — ele foi aos poucos segurando meus braços, me imobilizando, e logo sua voz tomou um tom irônico — Pare de me bater ou então eu vou ficar chateado.

Ele olhava no fundo dos meus olhos com um sorriso marav- um sorriso vitorioso. Mas algo além de seu sorriso me chamou a atenção. Por cima dos ombros dele, vi o inseto novamente na grama, mas dessa vez ele estava mais perto, apenas suas patinhas brilhavam em meio a todas àquelas folhas.

— Cinco? — eu disse com a voz trêmula, parando de bater nele lentamente.

— O que foi? — ele soou confuso.

Eu estava paralisada e não tirava os olhos do animal, então, Cinco olhou para trás. Ele avistou o bichinho e quase instantaneamente se afastou, colocando seu braço na minha frente, na tentativa de me defender. Com muita cautela e com a voz calma ele me orientou.

— Saia do lago devagar e quando estiver longe o suficiente… corre.

— Não dá! Eu não consigo, porra! — eu disse quase num sussurro.

— Consegue sim, caralho. Agora anda — ele disse olhando para o animal —, ou prefere morrer com o veneno dele?

Fiz o que ele indicou, sai do lago devagar e corri para o chalé. Sem olhar para trás, sem verificar se Cinco havia fugido. Entrei desesperada e molhando todo o local, alguns irmãos estavam na sala e era óbvio que se eu chegasse ao chalé inteiramente molhada, com marcas no pescoço e com medo estampado na cara, geraria perguntas.

— Você está bem? O que aconteceu? Quem fez isso?

— Ele está lá fora! Precisam ajudar ele — eu finalmente consegui dizer alguma coisa.

— Quem está lá fora, Candace? — Diego perguntou. Tomei fôlego para explicar o que tinha acontecido e Cinco apareceu na porta do chalé e fechando a porta imediatamente.

— Ele… — soltei o ar.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Allison exclamou.

— Um escorpião — Cinco dizia recuperando o ar — Tinha um escorpião lá fora, e era dos grandes. Ele estava de olho em nós dois. Eu me teleportei mas Candace poderia não ter conseguido sair… bastante diversão para vocês?

— Tomem mais cuidado ao saírem da casa — Luther orientou e todos olhavam ao redor para ter a certeza de que nenhum outro animal apareceria.

— Isso no seu pescoço, Candace? Foi o escorpião que fez? — a voz de Klaus se fez alta em meio a sala onde estávamos.

Me lembrei de quem havia feito isso em meu pescoço e está bem longe de ser um escorpião. Cuidadosamente virei minha cabeça para um jarro de metal da decoração e em meu reflexo vi que estava bem feio. Algumas marcas roxas, que demoraríam muito tempo para sair. Eu não podia dizer que foi o Cinco que fez isso… ou podia? Não quero correr o risco de eles não acreditarem em mim e, Cinco, estrategista como é, saberia contornar o problema e se livrar da acusação. Eu não tinha escolha, eu teria que mentir, ou as consequências de dizer quem foi poderiam ser piores. Antes que eu pudesse tomar fôlego para dizer, Cinco se pôs à minha frente.

— Ela bateu em uma pedra do lago. Ela estava tão assustada… Não é, Candace? — a mentira de Cinco e a atuação dele foram tão boas que até eu quase acreditei que essa fosse a verdade.

— Estranho — Klaus inclinou a cabeça para ver melhor —, parece até uma mão. Tem até os dedinhos, olha.

Essa era a hora que eu mostraria para Cinco que eu sei jogar o jogo dele, e que não perderia tão fácil. Cinco estava numa má posição, afinal, estávamos no lago sozinhos e em seguida eu apareço com sinais de estrangulamento. Sem contar que eu e ele não temos uma boa amizade. Eu tenho motivos, provas de que Cinco teria feito isso comigo, porém só a minha palavra o salvaria dessa vez.

— Nossa… — me fiz — Parece mesmo, mas no desespero acabei torcendo o pé e batendo na pedra.

Me olhando totalmente confuso, Cinco se prepara para falar algo mas nada sai de sua boca. Lhe dei um olhar que dizia que de forma alguma somos cúmplices nisso, muito pelo contrário, qualquer vacilo dele eu derrubo essa mentira. Alguns irmãos acreditaram no que eu disse e outros ainda estavam processando o fato de ter um escorpião do lado de fora da casa.

— Você… — Cinco sussurrou para mim, tentava me dizer algo.

— Boa noite — eu disse, me caminhando ao andar superior do chalé, e molhando o caminho inteiro com pegadas. É extremamente satisfatório ignorá-lo.


______________________________________

Cinco quando vê a Candace moscando:

não esqueçam de deixar o seu voto, se você gostou. Isso motiva bastante <3

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top