CAPÍTULO 46

CAPÍTULO 46:
Brincadeiras na piscina.



°•°•°• 2 meses depois •°•°•°

Acabei de acordar do meu cochilo no sofá. É aqui que tenho dormido a maioria das tardes, assistindo a um filme ou coisas do tipo. Isso quando Cinco não me leva para o quarto. Ou quando ele não faz barulho com a furadeira para montar os móveis e as prateleiras. Ben ajudou ele a montar o berço, mas depois disso Cinco o dispensou dizendo que queria fazer o resto sozinho. Depois de esfregar os olhos, me lembrei o motivo de acordar de repente: acordei com um grito. Um grito nervoso e parecia de Cinco.

Subi as escadas meio desnorteada e procurei ele no quarto da nossa filha, onde ele passa a maior parte do tempo. Ele não deve ter me visto, mas eu vi ele chutar uma tábua de madeira e jogar outra no chão com brutalidade, dizendo os piores palavrões. Obviamente não é uma boa hora para falar com ele, todos nós sabemos o resultado disso. Mas eu precisava. Precisava saber do que ele precisa e, assim, poder ajudá-lo, do jeito que eu conseguir.

— Cinco?

Ele virou de costas por alguns segundos e voltou a olhar para o chão, com as mãos apoiadas na cintura.

— O que aconteceu? — perguntei com uma voz mansa, e até um pouco rouca, que pode acabar deixando ele ainda mais nervoso pela minha calmaria.

— Essa porra não encaixa de jeito nenhum! — apontou para as madeiras.

— Você já viu o manual?

— Tenho cara de imbecil pra você?! É claro que já olhei. Mas o problema tá no caralho das madeiras.

— Ei, se acalma. Se for defeito de fabricação, nós podemos devolver — dei alguns passos para dentro do quarto — Se continuar chutando e quebrando as madeiras, não vai ter como.

— Eu tô com raiva, porra. Você quer que eu faça o quê?!

— Primeiramente, que saia desse quarto. Você está ficando mais maluco do que já é.

Ele bagunçou os cabelos, bufando, e saiu do quarto com passos pesados. Parou no corredor com as mãos na cintura, esperando minha próxima sugestão.

— Credo, melhora essa cara.

— Não começa — a voz grave dele me respondeu, com um tom de ameaça.

— Por que não chama alguém pra te ajudar com os móveis? — perguntei. Ele me olhou de cima a baixo — Quer dizer, outra pessoa.

— Eu quero fazer sozinho.

— Então não reclame se acabar se estressando com as tarefas. Tem muita coisa lá, Cinco, você precisa de ajuda.

— Não preciso.

— Beleza, eu vou ligar pro Ben — dei meia volta e ele agarrou meu braço.

— Tá louca?

— Não? — falei óbvia — Você não precisa fazer tudo sozinho. Não vai te fazer mais pai.

Se acham que estou exagerando, vou contar um pouco sobre o visual do meu noivo. Ele tem olheiras escuras nos olhos e não faço a mínima ideia da última vez que dormiu; os ombros estão caídos, mostrando o seu cansaço; seu cabelo está sem forma alguma, totalmente bagunçado e até consigo ver uma farpa de madeira entre os fios; a roupa prefiro nem comentar e seu cheiro é a mistura do ferro dos pregos e de madeira.

— Vai tomar banho agora e apareça lá fora em quinze minutos. Isso é uma ordem — falei e logo saí, sem abrir espaço para contestações.

Quando estou nervosa ou triste, ele faz o que pode para me fazer sentir bem. Somos recíprocos em tudo, então aqui estou eu fazendo a minha parte. Peguei algumas frutas e coloquei num pote de vidro, levando-o até as mesas perto da piscina. Frutas são melhores do que eu arriscar algum prato na cozinha. Tentei ligar o aquecedor da piscina pois está de noite e Cinco pode acabar ficando resfriado de novo. Aparentemente o aquecedor funcionou, espero não ter quebrado aquele negócio. Tudo pronto.

Ele chegou quando eu estava agachada na borda, testando a água. Levantei e finalmente vi um Cinco normal na minha frente, com roupas limpas e o cabelo molhado. Com menos cara de acabado.

— Oh, fez pra mim? Que fofo — Cinco fez um biquinho olhando para as frutas, e eu lhe dei um tapa. Sua ironia me irritou.

— Entra aí, se quiser. Você precisa relaxar, sabia? — Voltei para as cadeiras e peguei uma maçã.

— Por que não me avisou? Eu teria vindo de sunga.

— Tira a roupa — falei indiferente, apontando para a piscina — Ou tá tímido?

Ele riu e tirou a camisa, depois a calça, e deu um pulo na piscina, espirrando água em mim. Ainda bem que ele não decidiu pular de roupa, eu o xingaria até amanhecer. As águas já tinham se acalmado e ele ainda não tinha voltado para a superfície. Esperei mais alguns segundos e vi bolhas nas águas. Merda.

Me aproximei da borda e comecei a chamar ele, contendo o desespero e sabendo que ele só estava brincando comigo. Porra, Cinco, eu não quero entrar na água pra saber se você está vivo. Ele finalmente apareceu, de uma vez, me dando um susto. Tirou o excesso de água do rosto e começou a rir da minha cara. Se eu o alcançasse, provavelmente estaria enchendo suas costas de tapas.

— Seu idiota!

— Você ficou preocupada, foi? — ele gargalhava, se aproximando da borda.

— Claro, seu animal. Você me deu um susto. Quanto tempo ficou ai em baixo, tipo, dois minutos?

— Por aí.

— Idiota — resmunguei me sentando na beira da piscina, com as pernas cruzadas — Você não pode morrer, tem uma filha pra cuidar.

— Eu sei. Chega de broncas.

Mordi a maçã e cruzei os braços, e ele só olhava para mim, deitado com a cabeça.

— Não vai entrar? — perguntou.

— Não. Deixei meu biquíni lá em cima e estou com preguiça de buscar.

— Que pena — ele parou por alguns segundos — Olha como a água tá quentinha…

Me inclinei para tocar a água. Num segundo eu estava na borda da piscina e no outro eu estava completamente encharcada. Ele me puxou? Que cara irritante! Não sei se eu ria da sua atitude divertida ou se eu buscava uma faca afiada na cozinha. Senti seus braços me puxarem para cima de volta porque eu perdi a noção do tempo enquanto o xingava mentalmente debaixo d'água. Voltei a respirar e ele estava gargalhando do que fez, em oposição, eu não mexia um músculo do meu rosto. Eu odeio ele.

— Viu? Tá quentinha.

— Vai tomar no cu.

— Que isso, amor? É só uma brincadeira — suas mãos embaixo d'água seguraram meu quadril.

— Não escosta em mim — Tirei as mãos.

— Olha, pelo menos eu não fui um safado pedindo pra você tirar a sua roupa — falou ele, colocando de novo suas mãos em mim.

— Eu estava te ajudando — me justifiquei.

— É claro que estava. Você é sempre tão prestativa…

Virei os olhos e apoei meu braço na borda. Até que a água aqui não está tão ruim, estão não é uma brincadeira que eu deva odiar tanto. Ele chegou por trás e me abraçou, com uma das mãos pousando em minha barriga. Apoiou seu queixo em meu ombro e descansou ali.

— Valeu por isso — sua voz agora era calma — Eu precisava mesmo relaxar. E rir um pouco.

— Rir de mim.

— Isso. Rir de você — ele consertou — Mas é sério. Se você não tivesse mandado eu sair daquele quarto, eu aposto que eu estaria batendo o martelo na minha própria cabeça agora.

Sorri, até porque eu quero bater um martelo na cabeça dele agora.

— Eu sei disso, por isso eu fiz.

— E é por isso que eu gosto de você — sua voz foi abaixando ao longo da frase e, no final, ele selou com um beijo na minha bochecha.

— Vou ter que fazer mais do que isso para receber um "eu te amo" seu, né? — olhei para trás.

— Não. Você sabe o que eu sinto — ele me virou para ficar de frente para ele — Não precisa fazer nada.

— Não é querendo ser tóxica, mas a última vez que você falou foi há sete meses atrás — levantei minha mão esquerda da água mostrando a aliança, dizendo que foi no dia do nosso noivado.

— Tem prazo de validade?

— Não, idiota. Mas às vezes é bom — passei meus braços por cima de seu ombro e o abracei. Senti ele respirar fundo e chegar perto do meu ouvido.

— Eu amo você. Sua tóxica.

Abri um sorriso enorme e inesperado, e beijei ele. Não por mais de dez segundos porque ele se separou para dizer:

— Você também, filha — olhou para baixo — Mas não tanto quanto a sua mãe porque não te conheço ainda.

— Tadinha…

— É a verdade — ele deu de ombros — E se quando crescer ela virar uma filha da puta?

— Primeiramente, você acabou de me xingar porque sou a mãe dela. Segundo, não xinga ela. E terceiro, se ela virar, pode ser falha na nossa criação.

— Você está certa em todos os pontos. Peço desculpas pra vocês duas — deu um beijo na minha testa. Conheço ele o suficiente para saber que só falou isso para encerrarmos a discussão.

Ele se afastou do meu corpo e começou a se preparar para nadar. Eu interrompi dizendo:

— Se você fingir que morreu, eu te mato de verdade. Com aquele vidro — apontei para as frutas.

— Não vai, não. Quem vai ser o pai da nossa filha?

— Ninguém. Eu dou conta. Também cresci sem pai e não sinto falta.

— Mas virou uma idiota delinquente.

— Tá bom, eu arranjo outro papai pra ela.

Ele andou lentamente até mim, muito pelo empecilho da água, e segurou o meu queixo.

Eu sou o papai aqui.

Depois se afastou e continuou a nadar. Ok, o jeito intimidador que ele disse me fez morder o lábio inferior, e parar em outro planeta, com sua frase ecoando em minha cabeça. Sem a ajuda de Cinco para me apoiar, eu precisava ir até a parte rasa, mas preferi me segurar na beira da piscina para ter uma visão mais privilegiada do seu nado. Ele nadava super bem, de uma ponta a outra da piscina em poucos segundos. Como ele conseguia ser bonito até nadando? Tipo, o seu cabelo ficava perfeito quando voltava à superfície. Isso é fantástico.

De vez em quando ele sumia pois estava lá no fundo, mas depois voltava para respirar. Em um de seus sumiços, senti alguma coisa pegar o meu tornozelo. Até eu perceber que era o filho da puta do Cinco, eu já tinha gritado desesperada, pulando na água para me livrar da coisa. Ele voltou para cima rindo, batendo palmas de tanta felicidade. Ele tirou o dia para fazer brincadeiras comigo.

— Você tá se divertindo muito, não é? — perguntei brava.

— Você nem imagina.

— O que vai fazer agora? Prender meu pescoço debaixo d'água?

— Hum, pode ser.

Ele se aproximou de mim e segurou fraco o meu pescoço, enquanto eu tentava tirar as suas mãos mesmo não machucando. Foi quando eu chamei a atenção dele.

— Cinco, espera!

— O quê? — ele parou.

— Ai meu Deus.

— O que foi?

— Cinco…

— O QUE FOI?

— A minha barriga.

— O quê que tem?!

— Meu Deus, ela se mexeu. Isso foi muito estranho.

— É sério?

— Aham — eu ainda estava chocada.

Ele colocou a mão na minha barriga e esperou que acontecesse de novo.

— Eu juro que eu senti — falei depois de segundos sem acontecer nada.

— Tem certeza?

— Sim, eu senti.

— Você não tá com fome? Pode ser a barriga roncan…

— EU SENTI.

Quando gritei ela chutou de novo, provando para Cinco que eu estava certa.

— Caraca, isso é estranho — ele falou, sem decidir se colocava um sorriso no rosto.

— Foi o que eu disse… — coloquei a mão por cima da sua — É um estranho bom.

Um sorriso fraco pousou em seu rosto, junto a uma expressão pensativa. Ele gostou daquilo, assim como eu, nós só estávamos meio admirados.

— Sabia que às vezes a ficha não cai? — ele deitou em meu ombro — Eu brinco com ela e com você, mas de vez em quando eu vejo que isso está realmente acontecendo.

— Oh, está assustado? — debochei rindo. Ele não fez nada, continuou parado e sério.

— Estou.

Essa única palavra me fez deixar de lado as brincadeiras. Cinco tinha tanto pavor em ser pai que acho que ele iria preferir um outro apocalipse a um filho. Boa parte das brincadeiras e conversas que ele fazia era um mecanismo de defesa para esconder seu medo.

— Você não está sozinho.

Cinco enterrou ainda mais a cabeça em meu pescoço.

— Mas estou assustado.

— Isso é normal. Se serve de consolo, eu também estou. Mas não devemos ser os únicos pais do mundo que tem um puta medo do próprio filho.

Ele riu um pouco.

— É que… é uma coisa pra vida toda — refleti.

— Talvez não — ele olhou para mim — Podemos colocar ela na adoção.

Empurrei o corpo dele para longe do meu e caminhei até as escadas da piscina. Ele ficava o tempo todo dizendo que estava brincando e para eu voltar.

— Adoção devia ser um gatilho pra nós dois — falei procurando as toalhas nas quais esqueci de trazer.

— Mas ainda é uma saída, não é? — Cinco disse subindo as escadas. Fiquei quieta, não sei se ele realmente estava querendo doar nossa filha.

— Esqueci as toalhas. Vai buscar — pedi. Ele me olhou bravo, achando que eu estava o tratando feito um cachorro, mas eu só queria me aproveitar de seus saltos espaciais.

Cinco bufou e desapareceu, voltando segundos depois com algumas toalhas. A essa altura eu já estava me tremendo de frio feito um pinscher, com meu cabelo pingando nas pontas e seco na raiz, sentindo a roupa gelada cada vez que tocava no meu corpo. Cinco tinha começado a passar a toalha em volta de seu corpo, mas parou quando me viu, e largou a toalha de lado. Pegou uma seca e enrolou em volta de mim, me dando um abraço quentinho junto a um beijo no topo da cabeça. Só depois ele cobriu seu corpo com a toalha.

°•°•°•°•°•°•°•°• ☆ •°•°•°•°•°•°•°•°

— Tá fazendo o quê? — Cinco disse meio sonolento, entrando na cozinha. Deve ter sentido a minha falta depois que saiu do banho e não me viu deitada.

Mas após um longo banho e pijamas confortáveis, eu senti que faltava um chocolate quente. O detalhe é que eu não sei fazer chocolate quente. Mas aqui estou eu tentando. Não dava para viver sempre apoiada em meu noivo e em suas mãos milagrosas. Misturei o chocolate em pó e o açúcar, dando um sorrisinho para Cinco fingindo que eu sei o que estou fazendo.

— Chocolate quente.

Curioso, ele apoiou os cotovelos no balcão e começou a observar. Me senti pressionada, quase que derrubei açúcar para todos os lados.

— Você sabe fazer? — perguntou ele, já sabendo a resposta.

— Não.

— Quer ajuda?

— Não.

É só uma bebida simples, eu consigo fazer sozinha. Ele se divertia com isso, me ver errando as quantidades e esquecendo que o fogo estava alto era uma prova de que ele é muito melhor do que eu. Depois de alguns segundos mexendo a panela, senti falta de algo.

— Precisa de amido, não é? — perguntei e ele ficou calado — Ou de leite em pó?

Cinco deixou bem claro que não ia me ajudar, então eu larguei a panela para olhar a receita. Quando finalmente encontrei a receita do chocolate quente, o meu já estava se queimando na panela. Cinco se teletransportou e desligou o fogo, abanando a pouca fumaça com um pano.

— Ah, não. Meu chocolate… — olhei para a panela. Maldita memória curta de esquecer de abaixar o fogo.

— Você é ridiculamente péssima.

— Valeu.

Sentei em um dos bancos e apoiei minha cabeça nas mãos. Eu queria tanto esse chocolate, estava até com água na boca, mas agora ele virou uma gosma alienígena.

— Faz pra mim? — tentei minha última opção.

— Não.

— Por favor? — implorei. Não tinha nada que eu quisesse mais do que aquele chocolate.

— Não, já está tarde. Inclusive, era para a senhorita estar na cama.

— Sabia que se eu não comer, nossa filha vai nascer com cara de chocolate quente?

— Isso não é verdade.

— Quer pagar pra ver?

Ele pensou um pouco, menos pela superstição e mais pela minha insistência, ele fez. O suficiente para duas canecas, e só o cheiro já estava mil vezes melhor do que o meu. Ele se sentou na banqueta ao meu lado, já bebendo o seu chocolate.

— Cuidado, tá quente — arrastou uma caneca para mim.

Encostei minha boca na caneca e fiquei assoprando, até ter a melhor ideia de todas.

— Não me diga que você vai… — Cinco falou me vendo ir até o armário e pegar seus marshmallows — É meu, sabia? Eu uso nos meus sanduíches.

— É nosso. Moramos juntos.

— Não significa que você pode pegar minhas coisas.

— É só um pouquinho.

Falei tranquila e ele aceitou. Virei o pacote de marshmallows e eu não planejava que caísse tanto assim. Até transbordou a xícara.

— Não me mata. Foi sem querer — me rendi com as mãos e sem movimentos bruscos guardei o marshmallow.

— Se eu não gostasse tanto de você, estaria na rua agora.

Então quer dizer que enquanto ele me amar, eu vou ter um teto para morar. Que romântico.

Eu até queria ir para a sala e assistir algum filme, mas Cinco disse que eu estava distraída demais e ia acabar derramando chocolate no sofá. Concordei porque era a verdade. Sem contar que não era bom testar a paciência dele hoje.

Precisávamos saber como era o beijo com sabor de chocolate, e foi assim que encontrei a coisa mais estranhamente deliciosa da minha vida. O gosto do chocolate não era tão evidente, mas foi o sabor doce que fez aquilo parecer um pedaço do céu na minha boca. Depois do chocolate, o beijo dele é a segunda coisa mais viciante que existe, e é até difícil escolher em qual vou me concentrar. Já faz um ano e meio que namoro com ele e até hoje não adquiri um autocontrole sobre quando parar de beijá-lo nesses momentos. Simplesmente porque é bom demais e não quero parar.




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se fosse assim todas as vezes 😩


olha só o que vcs perderam

beijo meus curupiras, não aceitem nada de ninguém. Nem água 💘💋

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