CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 43:
Interesses, ou a falta deles.
— Ei, pega a minha bolsa — falei para Cinco, enquanto eu terminava de me maquiar.
Já se passaram três semanas desde o nosso aniversário, e já foi tempo o bastante para a gente se acostumar com os novos planos. Cinco, por exemplo, nem teve tempo para sua sonhada pesca, essas últimas semanas passaram correndo. Meus enjoos ficaram cada vez piores, e às vezes a fome aumenta, porque nada para no meu estômago.
Tirando a correria de assinar dezenas de documentos da casa, planejar um casamento e planejar os meus próximos meses com o bebê, até que estou me saindo bem. Tudo isso atrasou um pouco mais porque Cinco ficou uma semana resfriado, e mal saia da cama, tive que cuidar dele e da casa sozinha. Acho que com um tiro ele estaria mais saudável e disposto.
Estamos indo ao hospital para dar a notícia para a minha mãe. As duas notícias de uma vez, espero que ela não tenha falta de ar.
— Você enrola demais, vamos logo — Cinco resmungou.
Bufei e larguei as maquiagens. Fomos para o carro e Cinco teve que se controlar no volante, ele adora dirigir rápido, mas agora tem medo por mim. Chegamos ao hospital e pegamos o crachá, me lembrei que a última vez que vim visitá-la não foi por bons motivos. Bati na porta antes de entrar, e nem sei porquê. Tinha um enfermeiro lá, trocando algumas coisas que nem quero saber o que é. Hoje é pra ser um dia feliz.
— Oi, mãe — falei baixinho.
Ela abriu os olhos, ao passo que o enfermeiro nos deixou a sós. Segurei a mão dela e Cinco se sentou na poltrona, mirando o chão. Não sei se está receoso ou entediado. Ou se está bravinho pela opinião da minha mãe sobre ele da última vez que esteve aqui.
— Candace, você veio me visitar… — Agnes disse devagar.
— Mãe, vim te dar algumas notícias. Prepara o coração — brinquei e meus olhos começaram a se encher de lágrimas.
Puxei Cinco da poltrona, quase lhe dando um beliscão. Ele ajeitou a postura e coçou a garganta, pelo visto sua mente estava em outro planeta.
— Vou me casar com a sua filha — Cinco disse sem avisar, apenas soltou as palavras.
— Vocês… Sério? — Agnes parecia tão feliz quanto confusa.
— Sim, super sério.
— Achei que você estava brincando da última vez que veio aqui. Você gosta mesmo dele?
— Sim, mãe — virei os olhos.
— Tem certeza…?
— Claro, olha como ele é lindo — Apertei as bochechas de Cinco. Ele com certeza vai brigar comigo mais tarde por eu ter feito ele passar vergonha.
— Gostei da notícia, minha filha, parabéns. Quando vai ser? — ela abriu um sorriso. Sempre foi o sonho dela.
— Ainda não decidimos, mas talvez demore mais de um ano.
— Um ano? Por que tudo isso? — Agnes disse e Cinco e eu nos olhamos. Era hora de dar a outra novidade.
— Mãe… nós vamos ter um filho.
— Queremos fazer uma festa meses depois de ele nascer — ele completou, com seu ar de indiferença.
Cinco, vai com calma, minha mãe nem assimilou a ideia de que vai ter um neto.
— Você está grávida, Candace? — Agnes perguntou e eu concordei. Por que ela acha que viemos aqui só para dar notícias falsas? — Minha filha, você estragou a sua vida…
— Eu estraguei a minha vida? — repeti sarcástica — Eu nunca estive tão feliz. Se isso é estragar a vida, quero que a minha vire um inferno.
— Olha a boca — ela repreendeu — Eu sabia que não ia dar certo você ficar com esse garoto.
— Na verdade, demos muito certo — Cinco disse, e ele começou a se preparar para dizer algumas verdades para a minha mãe — Vou exigir o mínimo de respeito porque eu sou o pai do seu neto e viemos aqui sem intenção de causar uma confusão.
Segurei a mão de Cinco antes que ele terminasse. Ele não usava um tom briguento, mas mesmo assim tentei o acalmar para essa discussão não piorar.
— Sei disso, só quero que minha filha seja bem cuidada.
— Ela está sendo — Cinco garantiu, com toda confiança.
— Seria ótimo pra mim se vocês não começassem a brigar — adverti os dois.
Agnes engoliu seco e eu até que gostei quando Cinco falou tudo aquilo, era uma coisa que eu queria fazer.
— Vocês planejaram esse filho?
— Lógico — respondi com uma risada fraca.
Nada que aconteceu nos últimos meses foi planejado.
— E há quanto tempo você já está? — Agnes me perguntou.
— Uns dois meses, mais ou menos — respondi e um silêncio ensurdecedor tomou a sala. O clima entre os dois era bem estranho.
— Você acha que vai ser uma menina? — Cinco tentou quebrar o gelo. Ele sabe que ter problemas com a minha mãe só vai trazer dor de cabeça pra gente.
— Acho que sim. Ela tá com uma carinha de que tem uma menina — minha mãe me olhou com os olhos cerrados e Cinco riu.
— Eu também acho, mas ela insiste que é um menino. São dois contra um, amor.
— Eu vou continuar com o meu palpite. É um garoto — falei sorrindo, vendo pelo menos um pouco de amizade entre eles.
— Bom, já está dando o horário de visitação. Vamos? — Cinco falou, quase que desesperado para sair dali.
— Vamos. Até mais, mãe — dei um beijo em sua mão. Cinco apenas acenou.
— Até mais, filha. Parabéns pela sua família — ela disse, milagre não ter alfinetado o Cinco.
Voltamos para o carro. O tempo todo Cinco falando o quanto não gosta da minha mãe. Pelo menos eles estão começando a resolver suas diferenças, minha mãe não é assim com todo mundo, mas é uma implicância especial que ela tem com os Hargreeves.
— Tenho muita coisa da casa pra resolver. Imposto, contas… — Cinco disse virando o volante — Tá cansada? Quer que eu te deixe em casa?
— Não. Na verdade, você pode parar aqui? — apontei para um restaurante — Tô morrendo de fome.
Ele também deveria estar, afinal, não comemos nada antes de sair. Pegamos uma mesa isolada e fizemos o nosso pedido, enquanto não chegava, eu pensava sobre o quanto ele mudou em relação ao nosso filho. Ele nunca é tão interessado quanto ele foi hoje ao debater com a minha mãe sobre o sexo do bebê, normalmente, ele prefere evitar esses assuntos. Conversa só o necessário comigo. Isso me faz pensar que aquela euforia no dia que descobrimos era por conta do choque e da bebida. Agora, sóbrio e cheio de preocupação, ele tenta afastar essa responsabilidade o tanto que pode.
A comida chegou e eu não esperei para atacar aquele prato, ignorando qualquer pessoa que tentasse julgar.
— Eu tenho um dragão de estimação — Cinco sorriu, comendo suas panquecas educadamente.
— Eu não sou de estimação — franzi as sobrancelhas, brava.
— Então é um dragão? — sua tentativa de controlar a risada foi falha, e eu só virei os olhos para não rir também.
Cinco puxou a manga de sua blusa com os dedos, se inclinando na mesa e passando o tecido sobre a minha bochecha. Eu nem sabia que tinha me sujado.
Depois de jogar conversa fora, nós fomos resolver outras coisas. Eu deveria ter escutado Cinco e ter ficado em casa, porque passamos o dia inteiro na rua, e a maioria do tempo estávamos procurando móveis para uma biblioteca. Cinco era exigente com as estantes que queria. Quando ele finalmente encontrou as estantes perfeitas, já era fim da tarde e eu estava nervosa.
Voltamos para a casa, com as encomendas das estantes feitas. Esquentei o almoço de ontem no microondas, e fui para a frente da televisão, assistir qualquer coisa sem graça que estivesse passando. Passar o dia inteiro fora de casa com buzinas e pessoas me deixou agoniada, e eu só precisava de um banho e um longo sono. A falta de interesse de Cinco em nosso filho também me deixou nervosa. Porra, já se passou quase um mês e ele finge que isso não está acontecendo e que nossas vidas não está mudando.
Minha cara fechada em frente a televisão era algo que não dava para esconder. Cinco apareceu na sala e notou meu mau humor.
— Que carinha brava é essa? — ele me deu um beijo na bochecha e eu recuei — O que foi?
— Nada.
Claramente não é nada. Mas ele nunca percebe.
— Você pode me ajudar aqui? — ele apontou para os quartos de cima.
Larguei o prato vazio na mesa de centro e segui ele. Cinco parou no quarto vazio, onde tem somente uma folha e um lápis no chão, provavelmente os rascunhos dele. Tinha marcações na parede e chão, e eu me perguntava por que ele me chamou aqui. Na realidade, ele só queria minha opinião sobre como ele posicionaria as estantes e sua mesa principal. Alguns segundos analisando, dei minha sugestão, e ele odiou.
— Faça o que quiser, você é quem vai usar a biblioteca! É praticamente seu escritório — falei, um pouco rude.
— Eu só estava pedindo a sua opinião nisso, o que custa ser um pouco mais atenciosa?! — Cinco falou, levantando a voz e, considerando que essa sala faz eco, a voz dele parece muito mais alta.
— Eu dei a minha opinião e você não gostou. Quer que eu faça o quê?! — falei mais alto.
— Não sei, que tal ser um pouco menos arrogante? Caralho, eu te chamei numa boa e agora você está fazendo uma confusão só por causa das estantes!
— Só acho que elas ficariam melhores do lado esquerdo, mas se não quiser, não tem problema. Faz do seu jeito — aumentei ainda mais o tom.
— Quando eu faço do meu jeito você reclama — ele argumentou — O QUE CARALHOS VOCÊ QUER?
— NÃO GRITA COMIGO SÓ PORQUE NÃO CONCORDO COM JEITO QUE VAI COLOCAR A PORRA DAS ESTANTES!
Gritei com a voz tremida porque já tinha começado a chorar. Eu amo o meu noivo, mas neste momento nem consigo olhar na cara dele. Estava demorando demais para nós darmos o nosso primeiro show na casa nova. Cinco começou a apertar as mãos e andar em círculos, e eu via o ódio em seus olhos quando olhava para mim. Ele quem me ensinou a treinar os poderes e lutas, se viesse para cima de mim, eu me defenderia e o atacaria, mas observando nossa situação, o melhor que posso fazer é sair de perto dele.
A briga e o estresse me fizeram ficar enjoada e tive que correr para o banheiro ao lado. Mal tive tempo de chorar. Agachei perto do vaso e coloquei para fora tudo o que comi, chorando e chorando. Tanto pela briga, quanto porque eu não aguentava mais viver indo ao banheiro toda vez que algo fora do normal acontecia. Mas não tenho como fugir, os hormônios estão à flor da pele.
Vi os pés de Cinco parar em frente a porta do banheiro e me olhar naquele estado digno de pena. Pensei que ele me ajudaria, mas ele saiu, o que me fez ficar ainda mais triste. Fiquei mais uns dois minutos agarrada ao vaso, estressada com tudo. Foda-se a biblioteca. Foda-se o Cinco. Foda-se a gravidez.
Escutei os passos dele de novo e levantei a cabeça. Ele carregava uma toalha e umas peças de roupa minha, junto com um shampoo. Ele deu um sorriso fraco e forçado, só para mostrar que veio ajudar, e colocou as coisas na pia. Odeio ter ideias precipitadas sobre ele.
— Toma um banho e descansa um pouco. Depois falamos disso.
Cinco disse e depois fechou a porta, me dando privacidade. E minhas lágrimas atacaram novamente. Acabamos de ter uma briga e ele ainda assim se importa em me deixar bem, mesmo que eu nem o olhe na cara.
Tomei um banho longo e passei vários minutos com uma toalha enrolada na cabeça, encarando o meu próprio reflexo. Dizer a ele o motivo do meu estresse não vai fazer com que ele mude, até porque é algo que ele nem controla. A verdade é que não sei o que eu posso fazer para voltarmos a ser os mesmos pais felizes que éramos há três semanas.
Fui para o nosso quarto. Eu o encontrei na cama, pensativo, não sabia se eu deveria ir embora e parecer infantil ou ficar e termos outra briga. Cinco notou minha presença e se levantou da cama, caminhando até mim.
— Pode ficar, eu vou para a sala — ele pegou as toalhas molhadas da minha mão.
"Vou para a sala". Ele não quer conversar comigo. Nem sequer ficar no mesmo quarto que eu.
Parece que quanto mais avançamos no nosso relacionamento, piores ficam as brigas. Ficam mais dramáticas e parece que doem muito mais do que se fosse só um namorado. Mesmo que o motivo da discussão seja o mesmo nas duas hipóteses, agora ele é quase meu marido, e isso dói mais.
Eu até deveria chamá-lo para conversar e resolver isso, mas o dia de hoje foi cansativo para nós dois. Podemos acabar resultando em outra briga. Ele saiu do quarto e eu me joguei na cama, tentando não me culpar ou culpar meu filho sobre nossas brigas. Sempre que vem um pensamento parecido, eu o afasto rapidamente. Agarrei um travesseiro e chorei até dormir. Eu precisava disso.
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Acordei, percebendo que caí no sono. Já era de manhã e eu ainda estava agarrada ao travesseiro. Cinco não estava aqui e seu lado da cama ainda estava arrumado. Ele não dormiu aqui. Desci as escadas lentamente, pensando se eu deveria perguntá-lo por que não dormiu comigo. A resposta deve ser óbvia demais.
Ao passar pela cozinha, de relance vi ele jogado no sofá, com o braço para fora e uma garrafa vazia no chão. É melhor deixá-lo sozinho com sua ressaca. Abri os armários procurando minha xícara e algo que sirva como café da manhã. Algumas frutas devem servir. Enchi a xícara com o café que Cinco deve ter feito essa madrugada, e ao levar a xícara à boca, a parte que eu segurava se quebrou. Resultado: a xícara caiu da minha mão, me queimando com o café e cortando o meu pé com seus cacos. Essa semana não poderia ser mais incrível.
Era de se esperar que Cinco ouvisse o barulho, mas não imaginava que ele se importaria o suficiente para levantar e ver o que aconteceu. Seus cabelos estavam bagunçados e sua camisa meio aberta, ele quase não abria os olhos direito pois acabou de acordar. Ele se deparou com café espalhado pelo chão e algumas gotas de sangue, além de vários pedaços de vidro.
— Não sai daí, você tá descalça — sua voz era grave e até um pouco rouca.
Ele se teletransportou e voltou com algumas coisas para limpar a sujeira. Me fez sentar no balcão enquanto buscava uma caixa de curativos, mesmo eu insistindo que estava tudo bem e que eu poderia fazer sozinha.
— A xícara quebrou — me senti na necessidade de explicar o que aconteceu, mesmo ele não perguntando. Não queria que ele achasse que eu era desleixada ao ponto de derramar café em mim mesma.
— Você fica comprando essas xícaras vagabundas — ele disse indiferente. Em minha defesa, a xícara era linda e tinha uma carinha de gato.
Ele começou a fazer o curativo no meu pé e em alguns segundos já estava pronto. Ele fechou a caixa e guardou. Talvez eu tenha que refazer mais tarde porque ele fez de qualquer jeito, muito por causa da sua provável dor de cabeça.
— Você tá melhor? — Cinco me olhou nos olhos pela primeira vez hoje.
Não sei de qual incidente ele perguntava. Sobre meu enjôo ontem, sobre nossa briga, sobre o meu pé, ou sobre tudo isso. Não importava, a resposta seria a mesma.
— Sim — desviei o olhar e me arrastei para sair do balcão, mas não tive sucesso, ele prendeu minhas pernas para que continuassem no lugar.
— Me desculpa por ontem — ele coçou a nuca — Eu não devia ter gritado com você. Não devia.
Seu arrependimento era sincero, honesto, e queria que ele fosse assim quando nós falássemos sobre nosso filho.
— Me desculpa também. Eu sei que não fui muito atenciosa, eu só estava estressada.
Lutei contra as minhas palavras pois isso é necessário se quisermos ter um casamento saudável. Cinco apoiou suas mãos em cada lado do meu corpo e me olhou curioso.
— Estressada com o quê?
— O dia. Foi muito corrido — balancei os ombros.
— E mais o quê? — ele sabia que tinha mais.
— Com você.
— O que eu fiz? Se foi por causa da sua mãe eu já digo que não foi o…
— Não foi por causa dela.
— Então?
— Foi pelo seu desinteresse — eu disse, ele se assustou um pouco com a frase — Já tem quase um mês e você sempre se esquiva quando falamos disso, fica muito difícil conversar sobre os planos para o bebê se você sempre dá respostas curtas.
Ele suspirou e balançou a cabeça. Se eu estivesse no seu lugar, também não estaria gostando de ter uma sogra chata, uma noiva sem interesses sexuais e uma gravidez indesejada. É compreensível, mas não aceitável. Estou sentindo um vazio que ele deveria estar preenchendo.
— Você sabe que tá sendo difícil, você sabe os motivos que fazem eu me assustar com isso.
— Cinco, eu sei, mas daqui a pouco eu já estou com… sei lá, seis meses e nem sabemos onde vai ser o quarto dele. Reformas demoram.
— Você tá muito ansiosa. É muito cedo pra essas coisas.
— Então vamos adiar até quando? Sabe que eu não vou conseguir te ajudar quando estiver com uma barriga enorme.
Cinco respirou fundo novamente e se afastou do balcão, dando uma volta completa e mirando o chão.
— Onde quer que seja o quarto dele? — perguntou. Pelo menos recebi um pouco da sua atenção artificial.
— O segundo quarto de hóspedes. Ele é o mais perto do nosso.
Ele sorriu fraco.
— Tá bom, vamos fazer lá — pegou a minha mão e deu um beijo — Tem alguma ideia?
— Nenhuma ainda.
Não tive com quem discutir.
— Isso passa muito rápido. Vou tentar aproveitar mais vocês duas — ele se inclinou e deu um beijo na minha barriga.
— Vocês duas? — sorri.
— Sim, ainda acho que é uma menina.
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Cinco tem sogrinha issues 😥
que vibe estranha desse cap 😣
beijinhos <3
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