CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4:
Uma boa observadora
— Candace, acorda!
Foi o que eu escutei enquanto abria os olhos lentamente.
— Vamos, já está ficando tarde.
Esfreguei os olhos e com a visão um pouco embaçada vi Klaus, e ele estava agitado. Olhei para o relógio que marcava 05:48. O que caralhos ele quer a essa hora?
— É sério, Klaus? — fiz uma pergunta retórica.
— Hoje tem algo novo para você. Levante, tome um banho e vista estas roupas que deixei em cima da sua cama. Não se atrase, você tem 15 minutos.
— Eu não sabia que você acordava cedo — falei me sentando na cama.
— Acordar cedo? Eu nem dormi ainda.
Ele disse rápido e logo depois saiu do meu quarto. Fiz o que ele pediu. A roupa parecia um uniforme de luta, boa coisa não vai vir, é fato. Era um material muito resistente, mas pensando bem, qualquer uniforme seria mais resistente que as roupas que eu usava para treinar. Havia alguns detalhes em roxo, que se destacavam por seus tons vibrantes.
Encontrei todos na cozinha com o café da manhã servido. Um banquete, se assim posso dizer.
— Demorou, não acha? — Cinco disse. Implicância às seis da manhã?
— Bom dia, Cinco. E não, não acho — eu disse.
— Candy, hoje vamos te ensinar algumas coisas. Lutas, na verdade. Será importante conhecê-las já que vai morar conosco — Luther disse.
— Foi o que eu imaginei pelas roupas. Creio que não será difícil, desde pequena eu treino bastante — eu disse devorando um pão com queijo.
— Tudo bem. Primeiro, temos que ver o seu nível em combate. Vamos esperar na sala de treinamento, Cinco vai te levar lá logo depois que comer — Diego falou se levantando da mesa.
— O Cinco? — estranhei.
— Sim, ele será seu adversário. Vamos ver se está bem treinada mesmo — ele disse antes de sair da cozinha.
— Gostou da notícia, Candy? — Cinco disse sarcástico e ironizando meu apelido com um sorriso.
— Adorei. Isso vai ser incrível — respondi no mesmo tom enquanto terminava a comida.
— Não é permitido o uso de poderes no treinamento de hoje — ele disse.
— Mas isso não me assusta — eu disse caminhando até a porta — Vamos?
Cinco me direcionou à sala de treinamento. A sala era grande, maior do que eu imaginava, talvez até uma mini arena. Uma luzes extremamente fortes ficavam no teto e ao redor, de forma que eu mal conseguia ver minha sombra no chão. Haviam alguns bancos de madeira também, como se fosse uma arquibancada. Cinco colocou alguns protetores para luta e eu fiz o mesmo.
— Em posições, por favor! — Luther gritou.
A mesa de madeira ao meu lado me chamou a atenção por ter muitas coisas que nunca vi na vida.
— O que são essas coisas? — perguntei.
— Tudo aqui pode te matar, mas te garanto que eu poderia fazer isso da pior maneira possível — Cinco disse. Disfarcei meu espanto ao escutar.
— Meus amores, eu sei que vocês não se dão bem, mas isso é apenas um treinamento, não é uma luta de verdade. Então façam o favor de não se matarem — Klaus disse com os cotovelos apoiados nos joelhos. Ele falava sério.
— Seria a hora perfeita para acabar com ela… — escutei Cinco sussurrar.
— O que foi que você disse? — perguntei.
— Em posição! — Luther chamou a nossa atenção — Três, dois, um… Comecem!
Meus olhos se prenderam em Cinco, na esperança de prever seus movimentos. Minha respiração, agora ofegante, e minha inquietação só mostravam o quanto eu estava ansiosa para dar o primeiro soco. Cinco estava tão ansioso quanto eu. Ele deu um passo à frente e me chutou, em seguida me deu um soco no estômago, o que fez eu desequilibrar um pouco. Esse soco também foi um treinamento para o meu estômago segurar o café da manhã. O ar de tensão na arena era maior do que parecia, todos concentrados e em silêncio.
— Está vendo aquele telão? — Cinco perguntou, mas eu não olhei, isso poderia ser uma distração.
— O quê que tem?
— Ele mostra nosso desempenho. A luz vermelha: ruim. Amarela: boa. Verde: excelente. — ele disse puxando o ar a cada palavra. Isso parecia não levar a nada, então pensei em distraí-lo.
— E a luz azul?
— Azul significa… espera, azul? — ele se virou para trás e olhou para o telão.
Nesse momento, chutei suas costas, o que fez ele perder um pouco do equilíbrio. Mas ele é muito bem treinado, não iria cair com um chute meu. Ele se virou sorrindo, acho que percebeu que não é o único aqui que sabe manipular. Soquei seu rosto com tanta força que ele levou a mão ao lugar atingido. Ele tirou a mão dos lábios, vendo que tinha sangue.
— Oh, se cortou fazendo a barba, Número Cinco? — falei mas ele ignorou a provocação.
Talvez eu devesse pegar mais leve com ele, mas está sendo muito bom descontar minha raiva nele e não ser julgada, afinal, estamos em um treinamento. Cinco mirou a bancada de madeira onde em cima continha facas, armas, espadas e outras coisas bizarras. Ele pegou a faca mais próxima colocando-a no barril de álcool e depois no fogo e, com uma expressão nervosa, veio em minha direção.
— Você é psicopata — falei observando o que ele acabou de criar.
— Prefiro o termo "criativo".
Ele tentou me esfaquear com aquela faca flamejante várias vezes e por sorte eu não me feri. Cinco era perigoso, mas eu sempre sabia como escapar, esse era meu dom. Posso prever que as coisas daqui para frente serão bem difíceis, justamente por nós dois estarmos desesperadamente querendo atacar um ao outro a todo momento.
Ele conseguiu me causar alguns cortes que ardiam pra caralho, e foi difícil continuar de pé e lutar contra ele que já era muito mais experiente. Eu senti os cortes em meus braços queimarem por conta do álcool, ele planejou isso desde o momento que pegou a faca. Chegou um momento em que ele me imobilizou, envolvendo seu braço em volta do meu pescoço, dando um "mata-leão". Era difícil respirar e minha visão ficava cada vez mais escura. Senti a falta de circulação do sangue em meu rosto e pude escutar Cinco gargalhar e sussurrar coisas como:
— Eu poderia te matar agora se eu quisesse.
— Então você não quer? — eu disse com dificuldade o questionando.
Ele pensou por um momento, acho que não notou esse ponto de vista.
— Sim… eu quero.
— Então mata — eu disse, mas Cinco não reagiu — Anda! Tô começando a achar que você não tem coragem — falei para provocar, queria ver até onde ele iria.
— Claro que tenho. Você não tem ideia de quantas pessoas eu matei.
— Então eu serei só mais uma! — gritei e mesmo assim Cinco não reagiu.
Ele me soltou com agressividade e mirou o chão, parecia que sua mente estava confusa. Eu tossia passando a mão pela minha garganta, que doía muito depois desse sufocamento.
— O que foi isso? — perguntei — Que porra foi essa, Cinco?
— O treino acabou. — ele disse e saiu da sala.
Tentei entender o que havia acontecido, mas cheguei a conclusão que isso não valia meu esforço. O melhor que eu teria para fazer agora era tomar um banho e tratar dos meus machucados.
— Ele anda muito estranho ultimamente — disse Luther se referindo ao Cinco.
— "Ultimamente" não. Desde ontem, ou melhor, desde que a Candace chegou — Klaus disse.
— Ele deve estar bravo por eu ter vindo morar aqui e eu não tiro a razão dele. Para mim também seria chato ter que aceitar alguém que eu não gosto na minha casa — eu disse, tentei ser mais justa.
— Mas fica tranquila, ele gosta de você — Diego disse.
— O quê? O mesmo Cinco que disse que iria me matar há dois minutos atrás? — eu ri irônica.
— Sim, ele nunca te mataria, pelo menos não na nossa frente — Diego disse para me assustar — Mas ele gosta de você, gosta de todos nós, só não sabe demonstrar.
— Beleza, essa conversa já me encheu. Vou para o meu quarto, porque eu não sei se vocês viram, mas meu braço está sangrando — eu disse.
Procurei a saída, passando por aqueles corredores escuros, várias portas e chão de madeira que rangiam a cada passo, até que achei a porta. Ao subir as escadas para o meu quarto encontrei Ben, que quando me viu naquele estado esgotado não segurou a pergunta.
— Dia de treinamento?
— Sim — respondi sem vontade.
— Lutou com um tigre, foi? — ele disse sarcástico.
— Ben, dá um tempo! — o pior é que ele tinha razão, eu realmente parecia que lutei com um tigre por todos esses arranhões no meu corpo.
Ao chegar no meu quarto, notei que a porta estava entreaberta, o suficiente para um curioso observar. Me lembro muito bem de tê-la fechado antes de descer para o café. Quem quer que seja, devia estar com muita pressa para não deixar a porta como estava. Me aproximei devagar e com os dedos empurrei a porta. Não havia ninguém. Estava tudo como antes, tudo em seu lugar a não ser a porta e uma gaveta bem específica onde eu guardava alguns papéis e anotações, como músicas que eu compunha e alguns "diários" antigos que tinham valor sentimental. Cheguei perto da gaveta que estava pela metade aberta e notei que os papéis não estavam lá. Pensei em quem poderia ter pego os papéis e logo me veio à mente o Cinco, mas como seria possível se ele estava comigo no treinamento? A não ser que…
Bati a gaveta, forte o bastante para todos os meus produtos em cima dela tremerem. Fui para o quarto de Cinco esperando encontrá-lo lá, eu poderia estar muito errada sobre minha suposição mas não deixarei isso passar batido, e se eu estiver certa, vejo que estou atenta o bastante sobre Cinco e seus mistérios.
— Seu idiota! — gritei ao entrar no quarto de Cinco e encontrá-lo sentado em sua cama, ele fez um movimento rápido quando me viu mas não consegui saber o que era.
— Você não poderia bater na porta antes de entrar? — ele disse.
— Bater na porta? Foi isso o que você fez quando entrou no meu quarto e pegou meus papéis? — cruzei os braços.
— O quê? Do que você tá falando?
— Você sabe exatamente do que estou falando, seu merdinha.
— Não, eu não sei — ele afirmou.
— Onde eles estão? — apareceu-se uma faca de gelo em minha mão.
— Acha que tenho medo de você, Candace? — ele riu da situação.
— Não, eu não acho…. Onde eles estão?
— Vou repetir. Eu não sei onde estão esses papéis, rascunhos e anotações antigas suas. Eu não sei. Se você não sabe cuidar das suas coisas, isso não é problema meu — ele disse como se estivesse encerrando a conversa.
— Anotações antigas? Não me lembro de ter dito a você sobre "anotações antigas" — achei que eu finalmente tinha conseguido tirar a verdade de Cinco. Ele se entregou nas palavras.
— Foi o que eu imaginei quando você disse "papéis". É a sua cara, sabia? Escrever sobre tudo e todos, depositar todos os seus sentimentos num papel… — ele riu com desprezo — Você é previsível, Candace.
Eu odeio concordar com ele. Acho que devo esconder melhor esses papéis, eles estão sendo quase um manual de como me manipular. Cheguei mais perto de Cinco a fim de enfrentá-lo.
— Se eu fosse tão previsível você teria me vencido hoje, não acha? — falei, ele parecia que ia dizer algo mas nada saiu de sua boca.
Sai do quarto largando a faca no chão. Tenho que tomar mais cuidado com Cinco, ele sabe como conseguir o que quer sem deixar rastros ou pistas para eu usar como prova. Ele provavelmente entrou em meu quarto para achar algo que falasse mais sobre mim, e encontrou. Cinco é cheio de mistérios e segredos, como ele disse na arena "você não tem ideia de quantas pessoas eu matei" O que será que ele quis dizer com isso? Foi só para me dar medo? Tenho que estar um passo à frente dele e uma amizade com certeza não vai rolar, não posso ser sincera ou amiga com uma pessoa que tenta me matar.
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Pessoal, eu juro que a fic melhora, mas tenham paciência, please 🥺
bebam água, seus curupira
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