CAPÍTULO 39

CAPÍTULO 39:
Os testes.




Depois de arrumar as últimas malas, corri para o banheiro e me tranquei, tremendo com a caixa do teste na mão. Sinto que nenhum lugar é seguro para eu fazer, porque Cinco não precisa que a porta esteja destrancada para entrar. Ele pode se teletransportar aqui para dentro. Tá, ele não iria violar a privacidade nesse nível. Ainda assim é um medo. Finalmente tive coragem para pelo menos abrir a embalagem, na qual está úmida por algumas das minhas lágrimas. Trouxe os dois de uma vez porque se é para fazer, vou fazer direito. Li a instrução pela oitava vez e comecei a fazer.

Esperei de costas os minutos que dizia na embalagem, derramando lágrimas silenciosas sem parar. Eu nunca precisei fazer um teste de gravidez na minha vida, nem fazia ideia de como funcionava. E agora estou aqui, sozinha no banheiro e chorando pelo resultado. A sensação é quase de dor, porque sempre que eu imaginava essa situação, eu via o Cinco ao meu lado. Nas minhas expectativas ele estava ali, me ajudando, me apoiando e até me distraindo para não ter nenhum colapso. A realidade é bem diferente. Eu estou sozinha.

Me virei de costas depois dos minutos esperados, e antes de abaixar os olhos, eu encarei meu reflexo. Só o que vi foi uma garota assustada, que sabe que fez escolhas erradas, e não a mulher forte que eu mostrava ao bater de frente com meus inimigos. Eu parecia tão… frágil. Como se eu não fosse capaz de lidar com o resultado. Juntei toda a minha coragem e abaixei o olhar para a pia.

Que porra é essa?

Não é possível. O destino já não tirou onda com a minha cara o bastante? Os dois testes deram negativo, mas um deles ainda oscilava para o segundo risquinho. Já ouvi falar sobre falsos negativos e falsos positivos, então, em qual desses dois eu devo acreditar? Na marca mais cara? Por eu ter superpoderes, altera o resultado do teste? Talvez não, com a Lila foi tão rápido, os três testes estavam nitidamente positivos. Agora eu tenho um negativo e um meio positivo. Que merda está acontecendo aqui? Olhei novamente as instruções e já tinha dado o tempo suficiente. Beleza, um dos dois está com defeito. Eu não posso estar metade grávida. Vou ter que comprar mais um para tirar a prova real.

Joguei as embalagens em uma sacola dentro de outra sacola e dentro de outra sacola, e só depois ateei fogo. Cinco não pode descobrir isso da pior forma, então é melhor eu não deixar rastros.

Passei pela sala e Cinco estava assistindo algo na TV, em pé. Que desperdício, aquele sofá é maravilhoso. Ele puxou a minha mão e me fez ficar de frente para ele, tenho que confessar que minha expressão não era das melhores, e ele tentou me decifrar.

— Você tá linda hoje — ele disse, arrumando meu cabelo atrás da orelha.

— Eu sei — falei modesta. Linda é a última coisa que eu me sinto hoje.

Ele chegou perto e pressionou seus lábios contra meu pescoço, deixando algumas marcas. Queria poder fazer o mesmo mas não tenho outra coisa na cabeça.

— Amor… agora não.

— Foi mal — ele se afastou e notou meus olhos inchados — Posso te fazer uma pergunta?

Meu corpo estremeceu. Respondi com um som porque tive receio que minha voz saísse falhada.

— Você estava chorando? — disse ele.

Merda. Não dava para dizer que não, não dava para ignorar a minha cara péssima, meus olhos vermelhos e minha falta de interesse em seus toques. Balancei a cabeça, fingindo que não é nada demais.

— Deve ser alergia à essa maquiagem, deixa meu olho irritado — dei uma desculpa.

— Deixa eu ver… — ele se aproximou e começou a analisar meu rosto — Não parece alergia. Mas tenta evitar, tá bom?

— Sim, senhor — dei um sorriso fraco, digno de pena. Percebi que a cozinha chamou a atenção do meu estômago — Hum, tá fazendo o quê?

— Brownies.

— Mentira — abri um sorriso.

— Quer ver?

Corri para a cozinha, empolgada. Brownies e donuts são as únicas coisas que sei fazer na cozinha. Vi que o forno estava ligado e também tinha mais massa de brownie na mesa. Me sentei na bancada vendo ele despejar o restante da massa em uma forma, depois a colocando no forno.

— Brownies de quê? — perguntei, testando ele.

— Framboesa, é claro.

— Ah, então você se lembra? — Nem sei quanto tempo faz que eu disse a ele as coisas que eu mais amava. Mal sabia eu que depois de uns meses ele estaria entre essas coisas.

— É claro que lembro. É seu favorito — Cinco pegou uma colher e passou pela tigela, depois veio à mim e colocou a colher na minha boca. Fechei os olhos, aproveitando o sabor.

— Tá no ponto certo.

Pulei da bancada e agarrei a tigela. Pretendo comer toda a massa que sobrou aqui. Após alguns minutos, escutei o barulhinho agudo do relógio dizer que os brownies estavam prontos.

— Deixa que eu pego — falei, colocando as luvas de cozinha.

— Todo seu.

Tirei a forma com cuidado e coloquei sobre a mesa, o cheiro disso é incrível. Comecei a fazer os cortes quadradinhos e colocar em um prato ao lado, onde Cinco pegava um dos onze potes de geleia e depositava por cima, espalhando com uma colher. Eu já tinha acabado de cortar os brownies e voltei a me sentar na bancada, só esperava Cinco terminar. Ele estava tão concentrado, era até bonito de se ver.

Quando terminou, ele veio até mim com a colher na mão e se colocou entre os meus joelhos, sujando a minha boca com geleia. Dizer sujar é até uma ofensa, não me importo de ter geleia na minha boca. Lambi os lábios sentindo aquele gosto doce, às vezes até confundo com frutas vermelhas. Cinco passou de novo e eu comi de novo. Ele bufou e pela terceira vez, passou a geleia nos meus lábios, quase abri a boca para comer de novo quando ele disse:

— Para quieta, meu bem.

Fechei a boca na mesma hora e ele se aproximou, largando a colher na bancada. Agarrou a minha nuca e me beijou, levando para si uma parte da geleia. Os seus lábios ficam ainda mais doces e macios desse jeito, caramba, por que nunca fizemos isso antes? Nós dois acabamos soltando alguns sons, porque isso é realmente muito bom. Ele se afastou, e eu tive a sensação de estar com abstinência, quero muito mais disso. Parece até que ainda sinto sua boca na minha.

Felizmente, ele disse que tinha que projetar a sua biblioteca, então vou perder meu namorado por algumas horas. Ótimo, assim posso pensar mais sobre o que aconteceu hoje. Eu claramente preciso fazer o teste de novo, mas como vou sair daqui sem que Cinco perceba? Eu até poderia ir quando ele estiver dormindo, porém se ele acordar e não me ver, meu plano vai por água abaixo. Fora que ele acorda muito cedo então descarto a possibilidade de ir de manhã. Olhando por esse lado, essa casa parece uma fortaleza. Preciso inventar algo para sair daqui.

Enquanto não tinha um plano melhor, busquei uns lençóis no quarto de cima. Vou aproveitar que por enquanto o clima lá fora está bom para ver se consigo escrever um pouco ou compor algumas músicas. Estiquei o lençol no chão ao lado da piscina e deitei esperando as ideias virem. Minutos se passam e nada acontece, devo ter perdido minhas habilidades. Ou então minha cabeça pensa tanto sobre os testes confusos que minhas ideias foram consumidas. Ao invés de tentar escrever, comecei a desenhar para não ter trago o caderno à toa.

Eu revezada entre comer brownies e desenhar um pôr do sol, parecido com o que eu estava vendo. Tinha até um vento gelado passando por mim e me arrepiando. Senti outra coisa me arrepiando, parecia que estava subindo pelas minhas pernas. Dei um grito e me encolhi rápido, tentando me proteger do possível animal. Na realidade era só o Cinco que estava passando seus dedos sobre meu corpo. Ele se ajoelhou no chão, colocando minhas pernas de cada lado de seu corpo, e tapou minha boca.

— Para de gritar, os vizinhos vão achar que eu estou te matando! — ele disse, confiando em soltar as mãos da minha boca.

— Achei que era um bicho! — me recuperei do susto dando risada. Ele começou a fazer mais cócegas.

— Amor, para de gritar — ele falou, mas era impossível. Até ele estava rindo — Cala a boca.

— Não dá — eu continuava rindo. Ele se viu obrigado a colocar sua mão na minha boca para me calar de novo. Aos poucos eu parava de rir porque ele tinha diminuído as cócegas.

— Tá fazendo o quê aqui? — ele soltou a mão e beijou meu pescoço, me trazendo um arrepio.

— Fugindo de você — provoquei rindo.

— Nossa, eu devo ser assustador.

— Na verdade eu estava tentando compor. Até agora não consegui nada — apontei para as folhas limpas.

— Precisa de inspiração?

— Algo assim.

— O Oliver pode te ajudar — Cinco mirou para o gato ao meu lado.

— Não, ele não costuma me ajudar.

— Viu? Eu disse que esse gato não serve pra nada.

— Para! Não pode falar dele assim — tentei me levantar.

Seu peso em cima de mim me impediu, e para ajudar, ele empurrou meus ombros para o chão, me forçando a ficar deitada. Cinco encostou seu rosto no meu e eu não conseguia tirar meus olhos de sua boca. Aquele sorriso me prendia, eu não conseguia desviar nem se eu quisesse. Estava tão, tão perto, mas quando me inclinei para beijá-lo, ele recuou. E todas as minhas tentativas seguintes foram falhas.

— Posso te beijar?

— Não — ele deitou a cabeça em meu peito — Quero ouvir você cantar. Ou você já se esqueceu?

— Claro que não. É só que…

Que o quê?

— Nunca cantei pra ninguém. Não sei, acho que tenho vergonha — aposto que estou igual uma pimenta agora. Se eu pudesse, imploraria para ele trocar o seu pedido.

— Eu amo a sua voz. E você deveria ter vergonha de me negar isso. Começa logo antes que eu faça esse gato magricela de refém.

Coitado do Oliver. Pensei em qual música eu iria cantar e eu precisava ser rápida pois a vida do meu gato estava em risco. Céus, eu nem sequer aqueci minha voz. Apenas cocei a garganta e comecei a cantar. Tive vontade de voltar atrás, mas ver ele tão concentrado em mim e dando um sorriso cada vez que minha voz vibra no peito, me fez continuar. Acho difícil que eu consiga cantar até ele dormir, ele nem pisca, está muito mais que acordado. Terminei de cantar e apertei os olhos, não costumo ser tímida com ele, por isso esse sentimento é tão novo entre a gente.

— Ei — Cinco segurou meu queixo e me pediu para abrir os olhos — Eu sou seu maior fã.

Tenho certeza que nunca vou me esquecer dessa frase. Quando eu achar que fracassei, vou me lembrar o que o cara mais ranzinza que eu conheço disse. Na minha velhice, se eu estiver com ele ou não, eu vou lembrar. Assim como todas as frases que ele diz e que tem valores imensos para mim.

Cinco nem me deu tempo de responder. Ainda bem, eu não saberia responder a isso. Segurou um lado do meu rosto e me deu um beijo leve, apaixonado, eu diria até romântico. Sempre gosto dessa sensação enquanto eu o beijo, pois ela não é frequente, então aproveito o máximo que posso. Ele se mexeu para se encaixar mais a mim e continuou com seus beijos viciantes, que só me afasto para ter mais fôlego.

Aquele momento era mais que perfeito. Não tão confortável porque o chão não é macio, porém seus toques deixava tudo mais leve, e fazia esse simples lugar virar o céu. Ficamos loucos e passamos do limite. Na verdade, morando sozinhos esse limite nem existe. Então, corrigindo, estávamos sem limites. Cinco afastou os cadernos para o lado e se deitou, me puxando para o seu colo. Suas mãos conseguiam me deixar maluca até paradas. Comecei, enquanto beijava seu pescoço. Depois de alguns minutos, senti algumas gotas cair.

— Amor, acho que vai chover — eu disse, um pouco ofegante.

— Ótimo, isso vai ser lindo.


°•°•°•°•°•°•°•°• ☆ •°•°•°•°•°•°•°•°

Meus cabelos estavam completamente molhados e minhas roupas úmidas. Eu estava com uma toalha em volta de mim e segurava outra, caminhando até Cinco e o cobrindo. Dei um beijo em sua cabeça, o cabelo dele já estava um pouco mais seco, porém ele ainda não trocou as roupas molhadas e já está começando a ficar resfriado. As bochechas e o nariz dele, por exemplo, já estavam vermelhos. Eu ia buscar outra toalha quando vi ele espirrar, foi até fofo, nunca tinha visto Cinco espirrar antes.

— Você vai ficar doente — envolvi outra toalha nele e o abracei um pouco — Acho que precisamos de regras. Regra número um: Não men…

— Não transar na chuva — Cinco respondeu por mim, fungando o nariz em seguida — As consequências não são legais.

— Eu ia dizer "não mentir"

— Essa também serve — ele deu de ombros, logo depois parecia pensativo — Que dia é hoje?

— Vinte e nove.

— De?

— Setembro? — respondi óbvia.

— Ah, certo. Quero me lembrar dessa véspera.

— Véspera do que?

— Vou tomar banho, você vem? — ele disse andando, ignorando minha pergunta.

— Cinco, do que você tá falan…

Ele se teletransportou. Odeio quando ele me deixa curiosa. Eu pensava em ir atrás, porém o meu celular tocou a notificação. Algumas mensagens e duas chamadas perdidas de Ben. Na mensagem, Ben disse que depois de amanhã ele viria aqui, juntos com todos os nossos irmãos para fazer um churrasco e conhecer nossa casa. Eu achei a ideia ótima e disse que eles serão muito bem vindos. Fiquei rindo só de imaginar a cara de Cinco quando descobrir.

Talvez eu possa usar isso como desculpa. Posso falar para ele amanhã que vou conversar com o Ben e assim posso ir comprar outro teste. Só preciso ser calculista porque Cinco é inteligente demais.




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"se preparem, não sei de nada não"

tchauzinho, curupiras 🙆‍♀️🙈

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