CAPÍTULO 37

CAPÍTULO 37:
Dúvidas terríveis.





Aquela biblioteca estava tão empoeirada quanto imaginei. Depois de tantos dias no hotel sem ter ninguém para limpar, não podia ser diferente. Me sentei em um dos sofás de couro que tinha lá, pensando em ignorar todos esses livros que me pedem para serem lidos, e ficar escutando meus pensamentos me dominarem. Eu encarei o teto e refleti sobre o que está acontecendo comigo. Já conheço o meu corpo o suficiente para estar entediada, mas o que mudou? Não é de hoje que me sinto estranha. Talvez Cinco tenha razão, eu posso estar doente.

Depois de alguns minutos me corroendo com perguntas sem respostas, ouvi a porta se abrindo. Vi uma sombra familiar e uma voz feminina fazer um som de negação. Me levantei, o suficiente para me apoiar nos cotovelos.

— Sua melhor amiga chegou — Lila se sentou num sofá na frente do meu.

— Que inferno, meu Deus — bufei. Eu só queria ficar sozinha.

Mal esperava eu que ela poderia ser a ajuda que tanto pedi mentalmente.

— O que tá fazendo aqui?

— Eu que te pergunto — disse ela.

— Tô pensando um pouco.

— Sobre?

— Quer parar de ser curiosa? — perguntei. Jogar um desses livros nela seria ótimo — Sua vez. O que tá fazendo aqui?

— Quero saber se você está bem — Lila disse. Estranhei seu interesse mas ainda assim respondi.

— Perfeitamente bem.

— Eu vi você vomitando hoje cedo — Lila foi direta, falando sério — O que você tem?

Me virei para o lado, a fim de não olhar para ela.

— Não sei.

— Gata, eu conheço isso aí.

— Então, por favor, me fale. Estou começando a ficar maluca — me sentei no sofá, voltando a encará-la.

— Tá sentindo enjôo? — Lila começou o interrogatório.

— Não agora.

— E fome?

— Toda hora.

— Sono?

— O de sempre.

— Sente dor nos seios? — ela disse. Hoje foi a primeira vez que senti, então acho que conta.

— Eh.

Lila fez uma pausa e colocou a mão na boca, fingindo que iria chorar.

— Eu vou morrer? — perguntei.

— Não, louca. Fico tão lisonjeada de saber que fui a primeira a descobrir.

— Descobrir o quê, Lila?! — comecei a ficar nervosa.

— Que você está grávida, cunhadinha.

Ok, essa frase foi um choque. Isso não faz sentido. Não faz o menor sentido. Para falar a verdade, isso nem é possível, sempre me preveni muito. Tirando a vez que… enfim, não é possível. Desculpa, Lila, mas você é a única grávida nessa biblioteca.

— Eu não estou grávida — repeti as palavras que passeiam na minha mente.

— Primeiro estágio: Negação — Lila provocou.

— Vai se foder.

— Qual é? Eu tô tentando te ajudar — Ela jogou os braços — Parece até que invertemos os papéis. Eu posso comprar um teste e podemos fazer amanhã.

— Lila, eu não estou grávida. Você confirmou isso com base em quatro perguntas. Não é assim que funciona.

— Beleza, eu estou te propondo fazer um teste. Se você não está grávida, porque se recusa a fazer?

É uma boa pergunta, me senti até encurralada. Não sei se tenho a resposta correta para ela.

— Porque tenho medo — respondi de cabeça baixa. Isso se aproximou da resposta correta.

— Do que? — Lila se inclinou para frente, interessada na resposta — Ou devo dizer de quem.

— Não, não tenho medo dele, é que…

— Cara, ele é o Cinco. Se eu estivesse na sua pele estaria tremendo igual um pinscher.

— Não tenho medo dele. Ele só é… meio imprevisível, às vezes. Acho que depende do humor — dei de ombros, voltando para o foco da conversa — O que importa é que eu não estou grávida. E não vou fazer teste porque é perda de tempo.

— Que pena. Poderíamos comprar roupas de bebês juntas — Lila provocou para me deixar nervosa. Me levantei do sofá, cansada dessa ideia maluca.

— Já chega. Boa noite, Lila — eu disse e ela respondeu antes de eu sair.


°•°•°•°•°•°•°•°• ☆ •°•°•°•°•°•°•°•°


— Tá atrasada.

Disse Cinco ao me ver entrar na arena com vinte minutos de demora. Um "bom dia" seria mais receptivo. Ontem não dormi muito bem pensando no que Lila disse. Às vezes penso que ela colocou essa ideia na minha cabeça só para me apavorar. Isso me fez dormir tarde e por isso entrei correndo na arena sem nem ao menos ter tomado café da manhã. Cinco estava sentado em um dos bancos com a expressão cansada de esperar.

— Achei que não viria.

— Foi mal, eu acordei tarde.

— Algum problema?

— Não. Tá tudo certo — disfarcei com um sorriso.

— Então vamos começar — ele se levantou e andou até parar na minha frente.

Não me lembro muito bem, mas acho que tenho que golpeá-lo. Fechei meus punhos e dei um passo à frente, tentando acertá-lo. Ele desviou balançando a cabeça.

— Já começou errado. Esqueceu de se alongar.

Isso. Como pude esquecer? Era obrigatório. Comecei a me alongar, esticando minhas pernas, braços e costas. Depois de alguns minutos, voltamos ao treino que agora sim começou de verdade. Tentei acertá-lo com um chute e ele desapareceu, surgindo atrás de mim e me dando um soco leve nas costas. Me virei rapidamente e tentei golpeá-lo, mas fracassei. Eu tinha me esquecido o quanto ele era bom. Após muito tempo tentando, consegui prendê-lo num mata-leão, só não por muito tempo porque ele se teletransportou.

Pensando bem, acho que Lila estava certa. Até Cinco notou que estou diferente e achou que era alguma doença. E se eu fizesse o teste? Só para deixar a consciência mais tranquila. Não custa nada e vai me livrar dessa dúvida terrível. MERDA! Senti uma dor do lado esquerdo do rosto e levei minha mão ao lugar. Esqueci que estava em um treino.

— Porra, Candace. Eu estava na sua frente! Por que não defendeu? — Cinco exclamou.

Porque eu nem estava prestando atenção em você.

— Só queria ver se você ia bater forte — menti. E realmente ele está levando o treino a sério pois seu soco agora foi consideravelmente forte.

— Você nem está com a cabeça aqui — ele resmungou, um pouco bravo — Teve várias oportunidades de me prender, porque eu tô pegando leve com você, mas você não fez.

— Desculpa. Vamos começar de novo.

— Esquece. Não dá — ele se afastou e começou a guardar algumas coisas naquela mesa — Vou acabar te machucando porque você não tá se defendendo. Se não quiser treinar, é melhor falar agora.

— Cinco, eu praticamente acabei de acordar. Só estou com sono — fui até ele e ajudei a guardar os materiais.

— Nos primeiros treinos você acordava ainda mais cedo e conseguia me dar uma surra. Você nem sequer usou seus poderes.

— Não quero mais treinar — eu fui direta, já que ele disse que era melhor falar agora.

— Tá bom. Só deixa eu testar uma coisa…

Ele me arrastou para o centro da arena, segurando o meu quadril para me ajudar com a postura.

— Faça um cubo de gelo aqui — ele apontou para o chão.

Me concentrei e tentei fazer. Resultado? Saiu um cubo enorme com estacas afiadas em volta. Acho que exagerei e nem foi minha intenção. Cinco me puxou para trás para que as estacas não me ferisse.

— Eu sabia — ele sussurrou.

— O quê?

— Você com certeza não tá bem.

— Amor, isso foi só um descontrole. Eu disse que estou com sono. Para piorar, nem tomei café — caminhei até Cinco, fazendo isso não passar de uma anomalia aleatória, e segurei suas mãos.

— Eu estou preocupado com você.

— Não precisa.

— Certeza? — Cinco estava com a mesma cara de ontem quando disse que me levaria ao hospital.

Segurei sua cabeça com as duas mãos e lhe dei um beijo, confirmando que estou bem. Não tão bem assim, minha cabeça parece que vai explodir. Ele segurou meu quadril e colou em seu corpo, chegando bem perto do meu rosto mas não me beijando. Ele estava me provocando.

— Tem câmeras aqui. Você se importa? — eu disse, olhando para cima.

— Nem um pouco.

Ele se inclinou e beijou o canto da minha boca, dando selinhos até chegar ao centro. Passei meus braços por cima de seu ombro enquanto ele se abaixava um pouco, fiquei confusa sobre porquê ele estava assim, até sentir suas mãos segurarem minhas pernas. Quando me dei conta, estava em seu colo, agarrando suas costas com medo de cair. Cinco me levou até a mesa e eu finalmente pude me soltar de suas costas. Enquanto eu o beijava, as suas mãos passeavam pelo meu corpo inteiro, mas nada acima da cintura para não levar outro tapa.

— Ah, aí está você. Eu estava te procuran… — escutei uma voz ecoar pela arena. Me separei rápido de Cinco, arrumando meu cabelo e minhas roupas que ele fez o favor de bagunçar — Desculpa, eu não sabia que vocês estavam…

— Tudo bem. Só me dê mais uns três minutinhos que eu já vou — desci da mesa e respondi para Sloane, que assentiu e saiu da arena com passos largos.

— Deixa eu adivinhar. O casamento? — Cinco disse com as mãos no bolso.

— Sim — lhe dei um selinho porque ele estava com a cara péssima — Pena que não é o nosso.

Ele sorriu envergonhado.

— Tá perto, meu amor.

— Ah, tá sim — virei os olhos. Ele riu e antes de de eu sair, avisou:

— Vamos sair hoje à noite e não vou adiar novamente, tá ouvindo?

— Sim, senhor.


°•°•°•°•°•°•°•°• ☆ •°•°•°•°•°•°•°•°


Lila, Allison e Sloane estavam me esperando na sala que combinamos. Todas elas falavam ao mesmo tempo, e eu precisava ser direta para aproveitar o máximo possível desse planejamento, pois meu namorado irritadinho não vai me deixar ficar mais um dia.

— Gente, calma — eu estendi os braços — Vamos por partes. Decoração: o que você estava pensando, Slo?

— Eu queria com muitas flores e… Ah, a Lua, vai ficar lindo e o Luther vai amar — ela respondeu empolgada.

— Meu Deus, eu vou chorar. Que lindos — eu disse, piscando rápido os olhos. Eles são tão fofos.

— Candy, eu estava testando os perfumes para pôr nas flores. Vê qual você gosta — Allison me entregou seis papelzinhos diferentes.

Levei cada um ao nariz, mas já no segundo senti meu estômago revirar. O cheiro não é ruim, mas é bem forte.

— Não gostou de nenhum? — disse Allison ao ver minha cara enjoada.

— Sim, este aqui é bom. Mas é muito doce, dá até dor de cabeça — afastei aqueles papéis de mim, antes que eu acabasse agarrada ao vaso.

— Na verdade, é bem fraco. Você que tá sensível — disse Lila, querendo comprovar sua teoria. Chacoalhei a cabeça para ver se esqueço do que ela disse.

— E comidas? — esperei a conversa inteira para fazer essa pergunta.

— Bom, eu estava pensando em comida tailandesa. O que vocês acham? — Sloane respondeu, com um caderninho anotando tudo.

— Acho ótimo. Poderia abrir uma exceção e colocar um sushis para sua amiga, não é? — Lila deu uma indireta.

— Ok, vou abrir uma exceção.

— Sabe o que iria ficar lindo? — chamei a atenção delas — Que as comidas tivessem formato de estrelas e luas.

— É a coisa mais brega e mais fofa que já escutei — disse Allison.

— Anotado.

Nem vi as horas passar enquanto conversava com elas. Conseguimos planejar quase tudo, faltava apenas decidir o vestido e o local. É uma das partes mais importantes, então precisávamos de tempo e calma. Para acabar com a minha alegria, escutei batidas na porta e Cinco me chamando para ir. Eu queria tanto pedir mais alguns minutos mas ele vai virar uma fera.

— Vocês vão aonde? — perguntou Lila. Olhei para Cinco, era hora de contar.

— Então… a gente meio que vai…

— Comprei uma casa e ela vai morar comigo — Cinco respondeu por mim, ele foi direto demais, eu diria até um pouco rude.

As reações delas foram doídas de se ver. Elas perguntavam ao mesmo tempo o porquê eu não contei antes. Nunca gostei da ideia de avisar em cima da hora. O máximo que deu tempo de fazer, foi dar um abraço em cada uma, logo depois Cinco me puxou pelo braço.

— Eu te odeio — falei enquanto nós subíamos as escadas.

— Qual o motivo dessa vez?

— Me separar dos meus amigos.

— Não estou te obrigando a nada. Se não quiser ir, pode ficar. Eu venho te visitar uma vez por semana.

Parei de subir os degraus. Não sei se consigo ficar tanto tempo longe dele assim. Estou acostumada a vê-lo todos os dias. No fundo sei que ele está blefando.

— Não. Eu vou — voltei a andar.

— É claro que vai. Você me ama.

Dei um tapa no braço dele para que o ego diminuísse um pouco. Fomos até o meu quarto, porque só faltava algumas coisas, nas quais ele me ajudou a terminar. Quando acabou sua parte, ele parou atrás de mim e me abraçou, olhando por cima do meu ombro minhas mãos trabalharem. Isso até me atrapalharia mas não pedi para ele sair.

— Eu gosto dessa camisa — ele apontou para uma das roupas que eu dobrava.

— Achei que nunca mais veria ela de novo.

Muitas coisas eu achei que não veria de novo. Quando arrumamos as nossas malas para ir para o hotel, não coube tudo e eu tive que deixar aqui.

— Espera, estes são aqueles papéis? Aqueles papéis? — Cinco desmanchou o abraço, pegando uma pasta que estava em cima da cama.

— Eles mesmos. Deixei aí dentro porque ficam mais seguros longe de você.

— Posso te contar uma coisa? — ele disse, devolvendo a pasta para a cama — Fui eu que peguei.

— Eu sabia. Você não enganou quando disse que encontrou por aí — sorri vitoriosa.

Eu sempre estive certa.

Guardei as roupas e a pasta na mala. Pronto. Estava tudo pronto para eu me mudar e dividir uma casa com o Cinco. Parece loucura, nunca imaginei isso. Morar só com o garoto que me infernizava quando éramos crianças, parece algo irreal.

Cinco levou nossas malas para o carro enquanto eu me despedia desse quarto. Olhando cada canto que me fazia lembrar dele. Lembrar do nosso passado e refletir sobre nosso futuro. Se a intenção de Lila foi querer me deixar mais louca, ela conseguiu, porque agora não penso mais em outra coisa. Eu deveria contar para o Cinco? Provavelmente. Mas não sei como ele vai reagir. Ele é sempre tão imprevisível. E se eu estiver? Não, eu não estou grávida.

— Amor? Tá pensando em quê?

— Porra, que susto! — Me virei de costas, com a mão no coração.

— Você tá chorando? — ele perguntou. Passei a mão pela minha bochecha, notando que estava molhada.

— Eu só… É meio triste ter que sair daqui — disfarcei.

— Não precisa chorar. Você vai poder vir quando quiser — Cinco pegou minha mão — Vamos? Já está tarde e não gosto de ver você chorar.

Dei um último olhar para o quarto e descemos. Ao passar pela sala, vi Ben sentado no sofá junto com o Oliver. Não posso ir embora sem meu filho.

— Você vai levar esse gato magrelo? — Cinco perguntou quando eu soltei sua mão, indo em direção ao Oliver.

— Sim?

— Levar pra onde? — perguntou Ben.

— É…

— Para nossa casa — Cinco bufou, ele já estava começando a ficar nervoso — Candace, vamos logo, eu estou cansado.

— Eu também quero o Oliver — Ben disse.

— Você já pode brincar com o Tomate. Eu vou estar sozinha com aquele rabugento — apontei para o Cinco.

— Já sei. Guarda compartilhada.

— Fechado. — Apertei a mão dele — Essa semana é comigo.

— Mas eu ainda não acredito que você vai fazer isso comigo — Ben fingiu um choro, se levantando do sofá para me abraçar — Achei que éramos amigos.

— Nós somos, gatinho. Prometo que venho te visitar.

— Os dois podem parar de se agarrar, por favor? — Cinco soltou um pouco de seu ciúme.

Ele não queria se despedir de todos, disse que depois poderíamos fazer isso melhor. Não sei para quê tanta pressa. Estávamos quase saindo quando Klaus entrou pela porta, com uma garrafa na mão. Lá se vão todos dias de sobriedade. Me despedi dele e foi como deixar um pedaço do meu coração para trás. Foi até engraçado ver Klaus se despedindo do Cinco.

— Tchau, maninho — Klaus abraçou o irmão, que o afastou no mesmo segundo — Eu amo… eu amo você.

Klaus estava mais do que bêbado.

— Obrigado — Cinco respondeu. Parando para pensar, nunca vi ele responder um eu te amo que não seja o meu.

Agora sim, conseguimos entrar no carro e seguir a estrada. Oliver foi o caminho inteiro no meu colo, para o azar de Cinco que queria apoiar sua mão na minha perna. Estradas são o meu ponto fraco, acabei dormindo no carro e só acordei com Cinco me chamando.

Saí do carro quase sonâmbula, de tanto sono. Eu tinha me esquecido de como essa casa era linda, mas estou tão cansada que, mesmo acabando de acordar, só penso em ir para a cama e dormir de novo. Cheguei no nosso quarto e tirei meus sapatos, junto com a calça jeans. Até eu encontrar o meu pijama no meio de todas aquelas malas, já vai ser de dia.

— Já vai dormir? — Cinco perguntou entrando no quarto.

— Sim — falei com a voz abafada pelo travesseiro, logo após soando irônica — Posso?

— Idiota — ele veio até mim e me deu um beijo na cabeça — Eu vou só guardar algumas coisas e já venho também. Boa noite.

Só me lembro de ele apagando a luz e fechando a porta.



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os Hargreeves indo buscar a Candace na estrada:


beijinhos 💋

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