CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3:
Lar
— Hoje o almoço é digno de algo especial, pois "a boa filha retorna ao lar" — Allison disse fazendo-nos rir.
Me senti tão especial e acolhida por eles que eu desejaria ficar lá para sempre. Ben entrou na cozinha com a maior cara de sono, consegui até ver olheiras em seus olhos. Ele mal olhou para nós, apenas passou e colocou o seu café. Eu facilmente confundiria ele com um zumbi.
— Ben, você tá legal? — perguntou Viktor enquanto Ben bocejava.
— Tô, sim. É só que ontem eu tive que acordar de madrugada — Ben disse, me dando um olhar bravo e um beijo na testa — Não é, gatinha?
Não consigo entender a bipolaridade, apenas dei um sorriso como forma de desculpas por ontem.
— Você ainda tem aquele soninho regular? — perguntei segurando o riso.
— Sim, Candace — disse Viktor, rindo por nós dois — Ele vai dormir todo dia no mesmo horário e acorda no mesmo horário. Ele tem um reloginho ao lado do cérebro.
A essa altura eu já tinha desistido de tentar segurar a risada. Ben olhava para mim e Viktor com a feição mais entediada de todas. Ele ficou imitando a gente para mostrar o quanto isso não tinha graça. Mas para mim tinha.
— Candy, quer que eu pegue suas malas do carro? — Ben perguntou quando terminou seu café.
— Não, obrigada. Acho que eu consigo levar — eu disse para ser educada porque acho que não vou conseguir.
— Está bem, se precisar me chame.
— Ele é um anjo — eu disse para Allison e Viktor que concordaram.
— Acho que nós não merecemos um Ben nas nossas vidas — Viktor falou.
Terminando meu café fui para a garagem para pegar minhas coisas, porém tinham muitas malas e mochilas e eu não conseguiria levá-las sozinha. Saí em busca da pessoa mais próxima para me ajudar. Até que encontrei Cinco no jardim, ele parecia triste mas aquele homem sempre estava de mal com a vida, então nem me importei. Ele segurava uma rosa e parecia que sua mente estava bem distante. Me pergunto se ele é sempre assim sozinho, e se alguém já tentou lhe oferecer companhia.
— Ei? — falei chegando perto dele.
— O que foi? — ele disse sem olhar para mim.
— Pode me ajudar com as malas?
— Não — ele disse curto.
— Se você não levar eu conto para a Allison que foi você que colocou corante no shampoo dela quando tínhamos dez anos — chantagiei.
Ele bufou, pensando se valia a pena ou não.
— Pode contar — ele disse despreocupado.
Concordei com a cabeça e comecei a caminhar em direção a cozinha. Allison vai virar uma fera quando descobrir, afinal, até hoje não encontrou o culpado daquela brincadeira. Cinco imediatamente apareceu na minha frente segurando o meu braço.
— Espera! Tá louca? — ele franziu as sobrancelhas — Eu levo as malas, onde estão?
— Tá no carro — falei com um sorriso vitorioso.
Ele desapareceu na minha frente e quando eu cheguei até o carro, não havia mais nenhuma mala.
— Já? — estranhei.
— É — ele disse direto.
Desde pequenos nunca nos demos bem. Ele adorava fazer brincadeiras de mau gosto comigo e sempre rejeitava uma amizade. Mal me considerava como irmã. Contudo, teve uma vez que fomos amigos por um dia. Ele comia vários donuts da minha mãe enquanto eu pregava peças nos irmãos dele. No fim do dia, sentamos e rimos de tudo o que fizemos e ele até me olhava de uma maneira diferente, mas no dia seguinte, éramos inimigos mortais de novo.
Voltei para a cozinha, onde Diego e Allison faziam o almoço.
— Hum, que cheiro maravilhoso — elogiei.
— Ah, para com isso — disse Diego modesto e sorrindo.
— Querem ajuda? — me ofereci.
— Acho que precisamos sim. Você poderia fazer um suco natural ou uma salada? — Allison disse passando de um lado para outro da cozinha. Ela sabe da minha má fama na cozinha e ofereceu coisas simples para eu fazer.
— Claro — falei e lavei as mãos para fazer a salada.
Comecei a cantarolar uma música da minha cabeça enquanto eu escutava o barulho da panela de pressão. Quase me cortei com a faca pela minha falta de atenção.
— Está errado, é: "flores em vida" e não "flores sem vida" — Ben disse, me fazendo levar o maior susto.
— Jesus, garoto, de onde você saiu? — perguntei levando a minha mão ao peito. Meu coração está batendo descontroladamente.
Ben caminhou até mim rindo do meu susto. Pude perceber que Cinco entrou na cozinha e sentou na mesa. Ficou observando todos nós fazermos a comida, mas até então ele estava quieto. Ele olhava de um jeito estranho para mim e Ben, fico curiosa para saber o que passa na cabeça dele.
— Vem cá, deixa eu te ajudar — disse Ben, pegando a faca da minha mão e fazendo a salada por mim.
— Vocês estão deixando a Candace fazer a comida? — Cinco levantou sua voz num tom sarcástico.
— Sim, algum problema? — Allison rebate.
— Nenhum, mas ela pode acabar colocando fogo na cozinha — ele riu — Ela não consegue nem controlar os próprios poderes… tanto é que a mamãe dela pegou ela no flagra.
Senti uma vontade enorme de chorar, e é exatamente isso que ele quer. Existem zero motivos para ele ter feito isso, talvez por vingança ou talvez só por me odiar… não sei.
— Se for para queimar a cozinha, que seja com você dentro — eu disse com um sorriso posado no rosto e com uma pequena chama nas minhas mãos.
— Eu sairia bem facilmente, você sabe — ele falou tranquilo me fazendo lembrar do teletransporte.
Eu ri, não por achar graça, mas para irritá-lo, ele veio para cima de mim com uma fúria enorme nos olhos.
— Chega vocês dois! — Diego exclamou — Cinco, sai daqui cara.
Cinco foi embora mas algo me diz que isso ainda não acabou.
— Ele é sempre arrogante e insuportável assim? — perguntei.
— Não. Normalmente ele fica quieto, sozinho… Mas hoje por algum motivo ele está brigando por tudo — Allison falou.
— Bom, terminamos. — Diego se referiu a comida.
Fiquei com a missão de chamar os outros irmãos para almoçar. Na sala estava Luther e eu o chamei para a cozinha avisando que o almoço já estava pronto. Subi as escadas e em um dos quartos encontrei Klaus e Viktor e também os chamei para almoçar.
Procurei Cinco pela casa toda e não o encontrei, eu já estava cansada porque essa casa é gigante. Eu só não tinha procurado no jardim, então fui para lá. Até que eu encontrei ele no mesmo banco que o de hoje mais cedo.
— Ô idiota! — chamei a atenção dele que logo olhou para mim — O almoço está pronto, vem logo.
Cinco se teletransportou para a minha frente, me encurralando na parede. Me assustei, óbvio, foi muito rápido. Ele olhou no fundo dos meus olhos por alguns segundos, que pareciam eternidades.
— Nunca mais me chame nesse tom, você está me ouvindo? — ele tentou me intimidar mas eu não sentia medo dele.
— Prefere como? Que eu te chame de canalha? Babaca? Esquisit…
— ME CHAME PELO MEU NOME, PORRA! — ele bateu na parede atrás de mim.
— Que nome? — debochei sem sentir medo algum dessas ameaças.
— Só espero que no dia que não tiver nenhum dos meus irmãos para te defender, você tenha toda essa coragem — ele disse e saiu. O que será que ele fez de tão ruim para achar que eu teria medo dele.
Voltei para a cozinha, fingindo que nada disso acabou de acontecer, e estavam todos lá à minha espera. O 8° lugar na mesa me esperava com talheres e louças muito caras, de luxo, com certeza esta casa não é a mesma de quando eu vinha na infância. A fartura na mesa e a variedade de comidas enchiam meus olhos famintos e me apressei para sentar à mesa.
— Candace, sua mãe ainda está tendo aqueles desmaios? — perguntou Luther, comendo um pedaço de frango.
— Sim, ela já fez vários exames mas ainda sem explicação para esses desmaios — falei.
De repente, percebemos que Diego e Klaus estavam brigando na mesa. Eles ofendiam um ao outro e isso era tão engraçado que eu queria ter gravado para ver mais tarde.
— Será que dá para vocês calarem a boca e comerem logo? — Cinco falou estressado.
— Cinco, pega leve, cara. É o primeiro dia da Candy aqui — Ben disse para acalmar os nervos.
Cinco deu de ombros, ele não está nem aí se é o primeiro dia. Ele só espera que seja o último.
— Ele não parece um pinscher quando está bravo? — sussurrei para Klaus me referindo ao Cinco.
— Agora que você falou eu notei uma semelhança — Klaus respondeu e nós rimos baixo.
Depois de almoçarmos aquela comida que ouso dizer uma das melhores que já comi, eles decidiram com quem ficaria a louça.
— A louça de hoje é por conta do Ben — Diego disse.
— Se lascou — Klaus riu.
— Eu posso te ajudar, Ben — eu disse — Não tenho mais nada de interessante para fazer hoje.
— Não precisa, Candy. Você tem que arrumar suas malas, lembra? — ele disse — Pode deixar que o Cinco me ajuda, não é Cinco?
— Eu? — Cinco olhou para Ben — Não vou, não.
Ele se retirou da cozinha seguido dos outros irmãos, ficaram apenas Ben e eu. Rimos da situação enquanto ele lavava os copos.
— Que moral, ein? — debochei.
— Não começa, Candace — ele jogou espuma em mim e eu desviei.
— Mas me diz aí, o que vocês fizeram para voltar a morar todos juntos. Pelo o que eu me lembre depois dos dezoito vocês se separaram, não é?
— Foi uma decisão um pouco difícil para todos nós, afinal, nem todos aqui se gostam por causa das suas diferenças. Nós decidimos que depois de tudo o que aconteceu com o Cinco e com nós naquele quase apocalipse, nós deveríamos ficar juntos para o que der e vier. Somos muito mais fortes juntos.
— Que belas palavras, Ben.
— Foi um pouco clichê dizer isso, mas é a verdade. Juntos nada pode nos parar.
— Bombas nucleares, elas com certeza podem — eu disse e Ben negou com a cabeça, pelo visto, nem elas podem.
Diego entrou na cozinha e me chamou, dizendo que precisávamos conversar. Segui ele até uma sala, na qual eu nunca havia entrado antes. Lá estavam sentados Luther e Cinco. Havia mais duas cadeiras para mim e Diego, e a sala era bem estranha. Tinham réplicas de armas nas paredes, mapas, e muitos papéis que nem ouso saber do que se tratam.
— O que eu fiz? — perguntei com receio.
— Nasceu — Cinco disse para provocar. Diego chacoalhou a cabeça para afastar nossas brigas.
— Sei que é o seu primeiro dia aqui, mas precisamos começar o quanto antes — disse Luther. Começar o quê?
— Você terá uma espécie de treino, vamos dizer assim — disse Diego —, para aprimorar suas defesas e ataques de luta, e seus poderes também. Você mora com a gente agora, nunca se sabe o risco que você corre por não saber se defender.
— Eu sei me defender — falei.
— Tem certeza? — Cinco disse se levantando rápido, pegando uma das réplicas das armas e apontando para mim.
Fiquei paralisada por um tempo. Assim que voltei para a realidade, conjurei uma bola de gelo, pesada o suficiente para arrancar a arma da mão de Cinco. A bola se quebrou em mil pedaços quando atingiu o chão. Tudo isso aconteceu segundos depois de Cinco apertar o gatilho, mas ali obviamente não havia bala alguma e se tivesse, eu estaria morta agora.
— Seus reflexos não são tão bons… — Cinco disse — Precisa de treino sim, garota.
Dessa vez vou ter que concordar com ele, mas ainda sim não vou deixar que ele saiba disso.
— Quando começa? — perguntei.
— Amanhã. Acorde cedo — Diego disse.
Pelo visto, a pequena reunião acabou.
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