CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 29:
Cimento Queimado.


— Você também ouviu isso, né? — perguntei a Cinco.

Ele confirmou com um som e nós nos aproximamos do chão, de onde vinha os barulhos. Ajoelhei no chão e encostei a cabeça para ouvir melhor, parece gritos abafados e posso garantir que tem alguém ali dentro.

— Como entramos? — eu disse, me levantando do chão, tirando a poeira da mão e dos joelhos.

— Espera um pouco.

Cinco me empurrou até eu chegar numa parede e mandou eu ficar parada. Ele tirou algumas coisas do chão, como latas, vassouras, caixas de papelão e arrastou para o lado. Com as garrafas de ácido ele teve mais cuidado e pegou um pano velho para proteger suas mãos, e também as arrastou para o lado, deixando o espaço livre. Cinco pisava no chão, em diferentes lugares, e dependendo de onde ele pisava, o som mudava.

— Tá vendo? — Cinco pisou em dois lugares diferentes — Aqui é oco.

Certo, então sabemos de onde o som vem e o lugar exato de onde ele vem, só não sabemos como chegar lá.

— Você tem alguma ideia? — ele perguntou.

— Bom, se esse cimento for vagabundo eu consigo queimá-lo até rachar. Mas vai demorar um pouco.

— Ele é todo seu. — Cinco apontou com os braços.

Fui até o local que ele pisava e me ajoelhei no chão, estendendo minhas mãos e começando a queimar o concreto. Ficamos bons minutos esperando que algo acontecesse, e Cinco já estava ficando impaciente.

— Não consegue aumentar a temperatura?

— Eu não sou um forno! — respondi e voltei a queimar o chão.

Foram mais de quarenta minutos queimando a porra do chão, aquela sala já estava começando a ficar insuportável pelo calor. O rosto de Cinco brilhava de suor e eu não estava tão diferente, porém para piorar, sinto dores de cabeça e fraqueza, nunca usei meus poderes por tanto tempo assim. Alphonso deverá me agradecer muito, pois estou prestes a desmaiar de cansaço.

O chão já formava umas linhas, começando a se rachar, e sua cor mudou bastante de quarenta minutos atrás para agora.

— Aguenta só mais um pouco.

Cinco me incentivou, pois às vezes o fogo falhava em minhas mãos. Eu estava ofegante, com calor e morrendo por um copo d'água, essa sala que antes era úmida, está mais abafada do que nunca. Cinco está bem pior do que eu, está claro que não tem a mesma resistência ao calor do que eu e me preocupo com ele assim. Deixei de pensar em quando vou desmaiar e passei a pensar quando é que Cinco vai desmaiar.

— Se você apagar e cair no chão, eu vou te bater até acordar! — ameacei. Não quero que ele me deixe sozinha aqui.

— Você é quem manda.

Cinco se afastou de mim e ficou na ponta da escada, onde o calor ainda não chegou por lá. Ele parecia mais aliviado e isso me deixava satisfeita, tive até mais forças para continuar queimando o cimento. Ele começou a rachar mais e mais, e de uma vez só, o cimento se partiu. Me levantei depressa e observei o chão se abrir, caindo pedras para algum lugar que ainda não tenho coragem de olhar. Ao ver aquele buraco de quase um metro e meio de diâmetro, percebi o porquê isso me levou tanta energia.

— Vamos ter que pagar a manutenção. — Cinco disse, olhando para o buraco.

— Isso se o dono daqui não for um corrupto. Por que ele tem uma sala no subsolo?

— Quer descobrir?

Cinco começou a caminhar em direção às rachaduras, mas eu o impedi. O chão está tão quente que pode acabar derretendo seus sapatos e queimando seus pés. Para resolver, eu simplesmente derramei um pouco de gelo por cima, que derreteu instantaneamente e fez o chão esfriar em apenas alguns segundos.

— Adoro esse som — eu disse. Aquele chiado do fogo se apagando é como música para mim.

— Você é estranha. — Cinco disse e passou na frente.

Ele se arriscou, entrando primeiro. Cinco se sentou e depois pulou para dentro daquela sala, e agora já não vejo ele mais. Me aproximei do centro do buraco vi ele lá embaixo, super despreocupado como quem não acabou de pular dessa altura.

— Cinco?

— Desce aí, tá tranquilo.

— Cinco…

— Para de ser medrosa. Isso não tem nem dois metros de altura.

— Se eu quebrar o meu pé, a culpa é sua.

— Minha por que?

Ignorei e me sentei, logo depois dando um pulo e caindo num chão nada confortável. Consegui sentir todos os meus ossos se chocarem contra o chão, e me levantei, com uma certa humilhação, até porque nunca tive que pular de um lugar tão alto.

— Bela aterrissagem. — Cinco implicou.

— Cala a boca.

— Eu jurava que gatos caiam em pé. Você deve ser uma exceção porque, meu amor, você é péssima.

— Você não cansa de infernizar a minha vida, não? — perguntei, limpando minhas mãos de poeira.

— Não.

Vejo que meu vestido está totalmente sujo e senti um aperto no coração de ter feito isso com ele. Ele é tão especial para mim. Espero que algumas lavagens resolvam. Comecei a olhar em volta e diferente do porão que está acima da gente, essa sala tem luz, energia. Tinha algumas caixas de papelão, extremamente lacradas e numeradas. Não sei se tenho vontade de descobrir o que tem dentro delas, ser curiosa demais pode custar minha vida. Ao lado tinha uns cofres, e apenas um deles estava aberto, com maços de dinheiro espalhados pelo chão. Cinco pegou um desses maços e me entregou dizendo:

— Toma, para você comprar um violão. Ou geleia de framboesa. Essas coisas que você gosta.

— Seu ladrão! — falei, quase rindo.

Pelo instante de honestidade que tive, joguei o dinheiro de volta para o monte e procurei por mais evidências. Mais à frente tinha uma mesa com uma caixa de pizza, e… também tinha um homem bem assustado.

— Ah, você está vivo — falei.

Alphonso pegou a faca que estava na caixa de pizza e apontou para mim, caminhando em minha direção. É só agora que vejo a quantidade de sangue que tem por aqui, tanto em seu corpo, quanto pelo chão e paredes, tem respingos vermelhos por toda parte. Isso sim não dá para confundir com molho de tomate. Tinha uma quantidade enorme de fitas espalhadas e uma cadeira, que provavelmente Alphonso foi amarrado, e é um mistério saber como saiu. Seu rosto estava mais desfigurado do que o normal, aposto que os homens que o sequestraram não sabiam como seu poder funcionava, e o largaram aqui.

— Se afasta, puta! — Alphonso me ameaçou com aquela faca.

— Fale assim com ela novamente e eu te garanto que vai passar o resto da sua vida miserável aqui dentro! — Cinco disse, fechando os punhos e contendo a vontade que ele tem de socar o Alphonso.

— Foi mal, cara. Eu achei que vocês estavam juntos com aqueles babacas — Alphonso recuou a faca e levantou as mãos, como rendimento.

— Você viu o rosto de algum deles? — perguntei.

— Não, eles usavam aquelas meias de bandido. Não vi nenhum deles. — Alphonso disse.

Não temos nenhum rosto para usar como suspeito mas pelo menos salvamos Alphonso de apodrecer esquecido nesta sala. Procurei mais coisas que pudéssemos usar para chegar mais perto de Adam, mas não havia nada aqui, nada que eu pudesse seguir como pista. A única coisa que me chamou a atenção, foi a caixa de pizza. Me aproximei dela, pensando em pegar apenas um pedaço. Não me julguem, ela parecia muito boa.

— Tá fazendo o quê, idiota? Vai comer isso aí? — Cinco perguntou, puxando o meu braço para evitar.

— Eu tô com fome.

— Acabamos de comer!

Não, tem quase uma hora que nós comemos.

— E daí? — falei.

— Quando chegarmos ao hotel, você come, pode ser? — Cinco tentou negociar, eu não tinha muita opção a não ser aceitar.

— Pessoal, eu amo pizza, mas nas últimas 21 horas eles só me alimentaram com isso. Eu não suporto mais ver uma pizza na minha frente, então se quiser comer, Candace, fique à vontade. — disse Alphonso.

Dei um passo à frente, em direção à mesa e aquela pizza incrivelmente bela.

— Eu já disse que não. — Cinco puxou o meu braço de novo, dessa vez, mais bruto.

Ficou um silêncio totalmente agoniante, e Cinco e eu brigávamos apenas pelo olhar. Para quebrar o silêncio, Alphonso disse:

— Vocês vão me levar de volta, é?

Cinco soltou o meu braço e olhou para ele, com uma expressão entediada e cansada.

— Não sou seu pai, cara. Pode ir embora, vai. — Cinco acenou para Alphonso sair, e sem pensar duas vezes ele foi.

Tinha uma porta naquela sala e se Cinco e eu fossemos mais inteligentes, poderíamos ter descoberto um caminho que levasse até ela, e não precisaríamos passar quarenta minutos queimando o chão e ardendo com o calor. Antes de Alphonso chegar até a porta, ela foi aberta com um chute, e vários homens saíram de lá. Era como se nós tivéssemos irritado um formigueiro. Para a nossa sorte, eles não tinham armas, mas para compensar vieram para cima de nós com toda a força que podiam.

Já saquei qual era o meu papel aqui, descer o cacete em todos que vierem em minha direção. No começo, estava fácil, eu socava eles e chutava suas partes sem dó nenhuma. Isso é até satisfatório. No ápice da luta, eu brigava com três ao mesmo tempo e ainda busco respostas de como consegui fazer isso, sem a ajuda de nenhum poder. Porém eles eram muitos, e nós éramos três contra dezenas, era óbvio que não íamos resistir.

As coisas começaram a ficar difíceis. Antes, eu batia em três ao mesmo tempo, agora, são três que batem em mim. Dois deles me seguraram enquanto outro descontava socos e mais socos, pelo meu rosto e meu corpo. Mesmo se eu quisesse, não conseguiria fazer nada, estava totalmente imobilizada e meus poderes estavam fracos, depois de tantos minutos usando-os.

Levantei a cabeça e vi que eles não batiam em Cinco, apenas o seguravam, porque ele tentava sair desesperadamente dali. Também não batiam em Alphonso por motivos óbvios. Cinco tinha dor em seus olhos e não era dor física, ele estava sofrendo por me ver assim, sendo covardemente espancada por aqueles idiotas. Ver ele assim com certeza doía mais que os socos que eu recebia.

— Soltem ela! — Cinco gritou — Para o bem de vocês.

O homem parou de descontar sua raiva em mim e olhou para Cinco, enquanto os outros dois me seguravam na parede.

— Não tão cedo, Número Cinco. Você era o nosso grande alvo, mas depois do que essa puta fez… — o homem com o rosto coberto riu — Ela colocou um alvo nas próprias costas depois de ter matado nossos amigos.

— Que pena que você não estava lá, eu teria te matado também. — provoquei.

Foi instantâneo o tapa em meu rosto, mas valeu a pena só pela provocação. O cara na minha frente já estava começando a fechar seus punhos para me bater novamente, mas nesse momento vi Cinco sumir dos braços dos caras que o segurava e aparecer do meu lado. Ele apontou uma arma na cabeça do homem, que recuou no mesmo segundo.

— Vamos sair daqui em paz e vocês não vão atrás da gente. Não vão nos seguir e nem chamar seus coleguinhas — Cinco disse devagar, olhando profundamente os olhos do inimigo — Eu fui claro?

O cara balançou a cabeça, confirmando. Só me pergunto o porquê de eu não saber que Cinco trouxe uma arma.

— Agora soltem ela — Cinco ordenou. Por que ele não fez isso antes?

Os dois homens que me prendiam na parede soltaram os meus braços. Como uma criança perdida, eu corri até Cinco e me escondi atrás dele, enquanto ele colocava um braço à frente para me proteger. Cinco fazia uns gestos para os homens se agruparem todos num canto, todos na mira de sua arma.

Cinco apontou a arma para a perna do homem que me batia e, sem avisar, ele atirou. Duas vezes. Tremi ao escutar o barulho, talvez seja um trauma brinde que ganhei na noite que pensei tê-lo perdido. O cara caiu no chão na mesma hora, reclamando de dor, os outros deram um passo para trás, pelo susto e por estarem desarmados. Cinco apenas ficou observando o homem agonizar de dor.

— Isso é por ter xingado a minha mulher. Isso não é jeito de tratar uma moça tão doce. — Cinco disse sarcástico, rindo de leve — Lembrem-se: não quero ninguém atrás da gente.

Cinco passou o braço pelo meu ombro e fomos até a porta, Alphonso veio logo atrás. Cinco nem fez questão de guardar a pistola, ele achava que podíamos precisar. Fomos seguindo corredores e corredores, até achar uma porta que nos dê para a rua. Espero nunca mais ter que ver esse lugar novamente.

O sol já estava se pondo e nós nos apressamos para chegar até o carro. Voltamos para o hotel, atentos no caminho inteiro se ninguém estava nos seguindo. Chegamos ao hotel e era óbvio que chamaríamos atenção pelo nosso estado, decidi ignorar todas as perguntas e ir para o quarto. Tudo o que eu mais queria era um banho e um prato de comida, e também muitas horas de sono, muitas.

Tomei esse desejado banho e saí apenas com o roupão e uma toalha na cabeça, não me importaria de dormir assim. Sentei na cama e comecei a olhar os meus braços, eles têm manchas vermelhas e roxas pelas agressões, algumas tem um formato de uma mão perfeita. Eu deslizava o meu dedo sobre os hematomas e  vi Cinco se aproximar, com os cabelos molhados e com roupas limpas. Ele olhou para o meu braço e depois para o meu rosto, e então entrou no banheiro. Voltou com uma caixa de primeiros socorros e tirou algumas coisas de lá.

— Você foi muito forte. — Cinco se sentou ao meu lado e molhou o algodão com o álcool — Você não disse um "a" enquanto eles te metiam a porrada.

— Não está doendo tanto quanto parece. Eles eram bem fracos, na verdade — eu ri e ele passou o algodão perto do meu nariz. Tem um corte bem ali e agora está ardendo pra caralho.

— Antes de eles te prenderem, você deu um show. Fiquei até orgulhoso. — Cinco sorriu. Ele pegou a minha mão e me fez segurar o algodão no nariz, enquanto ele molhava outro com mais álcool.

— Orgulhoso?

— Sim, foi eu que te ensinei — ele olhou em meus olhos e deu para ver a sinceridade em seu sorriso. Logo depois ele passou o novo algodão pela minha sobrancelha — Cada movimento que você dava eu lembrava dos treinos. Menos os chutes no saco, isso é maldade sua.

— Bom, eu usei as ferramentas que eu tinha.

Cinco terminou de limpar meus machucados e colocou alguns curativos. A melhor parte disso, foi quando ele me deu um beijo na testa antes de devolver a caixa para o banheiro. Agora entendo porque sempre pedem para beijar o machucado, de alguma forma, isso nos cura. Minha pele ainda dói, mas o beijo dele tirou todas as lembranças ruins que eu poderia ter nessa tarde, e isso o algodão não faz.

— Tá com fome? — ele perguntou ao sair do banheiro.

— Muita.

— Pode deitar, eu trago algo para você.

Se eu tivesse ânimo, eu o agradeceria com todas as palavras que conheço, porém um "obrigada" bem sincero cumpriu parte do tratado. Me deitei e ele puxou o cobertor até o meu pescoço, logo depois me dando outro beijo na cabeça. Dois beijos? Agora estou totalmente curada. Cinco prometeu que não demoraria para não me deixar sozinha no quarto por tanto tempo, o que pode ser perigoso.

Para falar a verdade, nem o vi chegar. Eu dormi antes. E nem foi planejado, eu apenas caí no sono e dormi feito um anjinho. Dormi com o roupão e a toalha na cabeça, do jeito que eu queria. Foi o melhor sono dos últimos dias, e é interessante porque estou inteiramente machucada. Acordei com alguns dedos arrumando as mechas soltas do meu cabelo, e então abri os olhos, sentindo a primeira dor do dia: a das pálpebras machucadas.

— Você dorme demais — Cinco estava deitado de frente para mim, e ele com certeza não acordou agora.

— Bom dia — falei irônica — Que horas são?

— Quase meio-dia.

Então isso quer dizer que eu dormi mais de quatorze horas. Bati meu recorde. Me sentei na cama, e as dores são muito mais fortes agora do que ontem. Cinco se levantou, alongando o seu corpo.

— Eu até trouxe a sua comida ontem, mas quando cheguei aqui você já estava dormindo. — Cinco explicou.

— É, eu acabei caindo no sono.

Me levantei da cama, sentindo cada canto do meu corpo doer. Fui para o banheiro e me assustei com o meu reflexo, estou muito pior agora do que ontem. Meu rosto está… totalmente diferente. Não está desfigurado, mas nunca houve tantos hematomas por ele. Graças a um gelo que Cinco me deu ontem, meus olhos não estão inchados, porém os cortes ainda estão aqui. Pelo reflexo vi Cinco se aproximar, ele parece ter lido a minha mente.

— Você está linda — ele parou atrás de mim e arrumou o meu cabelo para o lado — Sabe, essas marcas te deixam muito mais atraente. Mostram que você é uma mulher forte.

Mulher. Ele não me chamou de garota.

No mesmo segundo, dei meia volta e o abracei. Nunca pensei que Cinco, aquele cara arrogante, poderia me ajudar com minha autoestima, agora vejo que ele é muito bom nisso. Consigo até me sentir melhor. Eu só não queria parecer fraca e começa a chorar em seu ombro, sem contar que minhas pálpebras doloridas não iam gostar das lágrimas.

— Eu te amo. — sussurrei para ele. Se eu falasse em voz alta, provavelmente minha voz sairia tremida de choro.

— Eu também gosto de você.

Lhe dei um tapa leve nas costas e ele corrigiu a frase. Levantei minha cabeça de seu ombro e me inclinei para beijá-lo. Confesso que não foi a melhor ideia, pois também há um corte na minha boca e fazer isso dói. Me afastei dele e virei o rosto, para ele não continuar me beijando.

— Doeu, né? — Cinco perguntou.

Fiz uma careta e balancei a cabeça. Nós trocamos de roupas e descemos para tomar café da manhã. Ao meio-dia. Eu acho incrível que não importa o horário que eu for, sempre vai ter algum irmão meu lá embaixo. Dessa vez era Diego e Allison, que estavam acompanhados de Lila e Claire. Eu fui até o bar e peguei uma garrafa, por enquanto é a melhor opção que tenho para esquecer essas dores e tudo o que aconteceu ontem. Eu abri a garrafa e levei ela à boca, mas não tive o prazer de sentir o gosto do álcool pois Cinco tirou a garrafa da minha mão e trocou por uma xícara de café.

— Chato. — resmunguei.

— Que cuida de você. — Cinco completou.

Olhei para o lado e vi uma figura pequena correr em minha direção para me abraçar.

— Tia Candy! — Claire disse, ela quase não saía do quarto pelo medo de Allison que alguma coisa acontecesse. E entendo a empolgação da criança, eu também estava com saudade dela.

— E aí, pequena? — eu a abracei em meu colo. Claire faz eu mudar minha opinião sobre crianças, e talvez ela seja a única que não é insuportável.

— Você tá dodói? — ela perguntou ao ver meus hematomas.

— É, a tia tá dodói. — respondi com um sorriso. Acho que a inocência dessa criança me fez esquecer um pouco o que aconteceu ontem, e nem precisei de álcool para isso.

— Tia, hoje eu comi pipoca e o tio Didi me deu um ursinho — Claire disse. Achei engraçado o novo apelido que ela deu ao Diego.

— Sério? — fingi estar surpresa — Onde ele está?

Claire pulou do meu colo e correu para buscar a pelúcia. Cinco se aproximou de mim para cochichar em meu ouvido.

— Como você tem paciência? — disse ele.

— Eu tento. E estava com saudades dela — falei, vendo Claire voltar correndo com um urso nas mãos — Você deveria tentar também.

— Aqui — ela me entregou uma girafa de pelúcia. A girafa tem olhos enormes que fazem esse ursinho ser extremamente fofo.

— Não vai falar com o seu tio, não, pirralha? — Cinco disse a Claire.

Ela abriu os braços para ele e Cinco a colocou no colo. Claire ficou puxando alguns fios de cabelo de Cinco e tocando o rosto dele com o dedo indicador, apenas para irritar. Amo a relação deles. Cinco não movia um músculo de seu rosto, enquanto Claire caía na risada.

— Quer parar, menina? — Cinco se estressou. Ele virou a cabeça de Claire e tapou os ouvidos dela, para dizer algo a mim — Eu não vou ficar com essa criança encapetada, não!

— Ela só está brincando. — eu ri — Viu só, até parou.

Cinco voltou a olhar a sobrinha em seu colo e se deparou com ela deitada em seu ombro, e estava triste com a bronca. Eu nem sabia que precisava dessa cena fofa para esquecer meus problemas. Cinco cochichou dizendo para eu tirar ela de cima dele, eu resisti porque eles dois estavam uma fofura, mas ele disse que não aguentava mais, então eu inventei algo.

— Claire, eu tenho um curativo do Homem de Ferro, você quer ver?

— Sim! — ela gritou. Péssima ideia ter mencionado o herói favorito dela.

Claire se mexeu para sair do colo de Cinco e ele a colocou no chão, abrindo a carteira e tirando uma nota de cinco dólares.

— Toma, vai comprar doce. — Cinco entregou o dinheiro para a sobrinha, que saiu correndo e pulando.

— Isso é quase um suborno — eu disse a Cinco e ele puxou minha cintura com cuidado, para não machucar.

— Ela está feliz da vida porque vai comprar doces até conseguir mais. Não é suborno, é realizar um sonho de uma criança.

Eu ri fraco com sua declaração de inocência. Ele juntou seu corpo ao meu, até que não sobrasse mais espaço e brincava com o meu cabelo. Ele passava a mão de leve pelo meu rosto e beijava alguns machucados, com isso ele dizia que me amaria de qualquer jeito, não importa se estou cheia de cicatrizes ou não. E isso me traz uma confiança absurda. Ele deitou a cabeça no meu ombro e de vez em quando depositava alguns beijos no meio do meu pescoço. Estranhei sua demonstração de afeto em lugar público, não tem tanta gente aqui, mas Cinco nunca faz isso se não estivermos sozinhos.

— Vamos para o quarto? — ele disse em meu ouvido, e entendi sua intenção.

Sem responder, eu peguei sua mão e o puxei correndo até o elevador, ele ria da minha atitude divertida. O elevador estava vazio, era todo nosso, e quando as portas fecharam, Cinco caminhou até mim fazendo eu andar para trás e ficar sem espaço. Ele segurou meus quadris com firmeza, e isso não dói, mesmo sentindo a força dele. Ele usa a medida certa. Finalmente sem ter para onde correr, eu não pensei duas vezes em pressionar minha boca contra seu pescoço. Não vou ser a única com hematomas. Às vezes ele reclamava de dor mas não parei até as portas se abrirem.

— Argh, por que vocês estão se comendo no elevador? Que antiético! — Lila fazia uma expressão de nojo, segurando a porta do elevador — Sai daí, baixinho. Agora é a minha vez.

— Quê? Você vai comer minha namorada? — Cinco virou para Lila. Em defesa de Cinco, eu tive o mesmo entendimento.

— Não, seu rato. Só quero falar com ela.

— Tô disponível, Lila. — falei, olhando para ela de cima a baixo com um sorriso de canto. Cinco não gostou do meu flerte, mas era tudo brincadeira. Ele leva as coisas muito a sério.

— Mais tarde a gente conversa. — Cinco disse com a voz grave, soltando suas mãos de mim e saindo do elevador sem olhar para trás.

— Amor, eu tava brincando — chamei ele, mas ele continuou seguindo o corredor. Olhei para Lila, com um pouquinho de raiva — Acho que você terminou com o meu relacionamento.

— Por que eu? Foi você quem deu em cima de mim. — ela se justificou.

— É que você é irresistível — falei irônica e ela deu um sorriso igual — Tá, o que você quer? — perguntei e Lila entrou no elevador, apertando o botão.

Quando chegamos ao térreo ela não disse nada, apenas me puxou para um dos sofás que tinha na recepção do hotel. Lila disse que precisava falar a sós comigo e agora ela parecia bem nervosa, apesar de nem saber de qual assunto ela quer falar, tentei tranquilizá-la.

— Sobre o que quer falar? — eu disse, me acomodando no sofá. Lila não parecia estar com raiva ou algo do tipo, estava apenas assustada.

— Olha, você vai me achar maluca por estar falando isso para você, mas eu não acho ninguém mais compatível.

Lila disse, se aproximando de mim para que ninguém escutasse. O que será que ela prefere contar para mim do que para outra pessoa? Até mesmo os amigos dela.


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Candace para os capangas:

quem chegou até aqui é:
G U E R R E I R O.

votem e comentem ou Adam vai aparecer no pé da cama de vcs 😘💙

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