CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 21:
Estou perdida.

Quando chegamos em casa, me lembrei de tudo o que havia acontecido. A estrada, o lugar, os tiros, o Cinco. O poder de Allison se desfez e tudo veio à minha mente como um flash, me fazendo lembrar da sensação que é estar sozinha.

Tirar Klaus do carro foi uma tarefa mais difícil do que imaginávamos, apenas Luther conseguiu fazer isso. Ele ainda estava desacordado e, seu corpo estava brutalmente machucado. Nem imagino tudo o que ele passou. Diego fez uma compressa de gelo e colocou em seu ombro, para amenizar a dor feita pelo tiro de raspão. 

Já eu, pareço bem. Mal sinto minha perna doer, e não faço ideia do motivo. Eu estou bem. Apenas quando não lembro que Cinco foi levado para algum lugar, ainda baleado. Eu com certeza ficaria lá até sair com ele em segurança. Não posso negar que fiquei puta com a Allison por me fazer tomar decisões que eu claramente não faria. 

— VOCÊ NÃO TINHA ESSE DIREITO! — gritei descontrolada, andando em círculos. 

— Candace, você precisa se acalmar. Sua perna ainda está sangrando — ela disse. Parece que está arrependida mas minha raiva falava mais alto.

— EU ESTOU CALMA! — eu não estava — Eu estou bem… Só acho que não deveríamos ter saído de lá sem ele. Não é uma coisa que ele faria — finalizei num tom baixo. 

Cinco nunca deixaria nenhum de nós para trás. Não é justo com ele.

— Foi o melhor a se fazer, Candace, mas eu ainda não espero que você entenda isso! — Allison argumentou.

Ela não poderia ter feito isso. Se ela quisesse ir embora, que fosse, mas me deixasse lá porque essa era a minha vontade. Eu poderia trazer Cinco para casa. 

— Pense se fosse com a sua filha — falei. 

Allison mudou a expressão no mesmo instante, me ameaçando apenas com os olhos para que eu não continue a falar de Claire. Mas eu quero que ela sinta na pele o que eu senti.

— Você não faria de tudo por ela? — continuei e mesmo sem responder, Allison com certeza pensou que sim — Então você entende.

— Por que toda essa emoção assim do nada? — Allison debochou — Achei que vocês se odiassem.

— Em partes. Mas você só soube disso há algumas horas. Nós estávamos juntos há meses! — comecei a perder o controle novamente — Eu o amava.

Me lembrar de quando nós estávamos no chalé, de quando nós dançamos, de como nós viramos noites infernizando um ao outro e até do ciúmes dele, me faz querer descontar essa raiva em qualquer pessoa que estivesse na frente.

— Porra, ele também é seu irmão! Você parece que não sente nada — eu disse indignada.

— Eu sinto, mas sei lidar com isso melhor do que você — ela rebateu.

— Vai se foder, idiota do caralho! — avancei em sua direção.

Diego, que estava o tempo inteiro quieto num canto, se levantou para me segurar. Allison nem se moveu com o meu quase ataque, apenas revirou os olhos e subiu para o seu quarto. Eu não sabia que ela poderia ser tão escrota ao ponto de não respeitar o meu luto.

Após me acalmar e ter a certeza que eu não avançaria em mais ninguém, Diego se despediu, dizendo que precisava ir embora. Eu tenho a sensação de que sou a única que vejo a seriedade disso tudo. Eles estão agindo normalmente, como se fosse nada. Eles já perderam Cinco uma vez, mas eu não.

— É sério? Até você, Diego? — falei decepcionada.

— Eu… preciso falar com a minha namorada — ele disse indo em direção a porta.

O destino decidiu agir ao meu favor, me trazendo à mente um momento em que eu estava com Cinco no carro, horas antes de entrar naquele inferno. Me lembrei da cena e da voz de Cinco me dizendo sobre a moça que deixou a carta na nossa porta, vista pelas câmeras por Luther e Ben. Pela descrição de Cinco, não tenho dúvidas de que é a mesma mulher que me deu uma surra. E que tirou ele de mim.

Ela sabia o meu nome, porém eu nunca a vi na vida. Cinco também me disse que a tal mulher usava uma flor em seu cabelo. Pode ser loucura da minha cabeça, mas acho que a namorada de Diego e essa mulher podem ter alguma relação. E se as minhas ligações estiverem certas, estou mais perto dessa mulher do que eu imaginava.

— Espera, Diego — chamei a sua atenção e ele se virou — Você se lembra de qual flor você deu a sua namorada há dois dias atrás?

Ele parou e pensou um pouco.

— Por que a pergunta? Era uma rosa amarela, se não me engano. Você e Klaus que compraram.

— Exato — estalei os dedos — Qual o nome dela? Da sua namorada.

— Onde quer chegar com isso? — ele desconfiou. 

— A mulher que deixou a maldita carta na porra daquela porta tinha uma rosa amarela junto com ela. Coincidência para você? — cruzei os braços, mancando em sua direção. 

O queixo de Viktor caiu, pasmo, quando ouviu minhas palavras. E era óbvio, porque qualquer acusação nesse momento em que estamos com os nervos à flor da pele, traria surpresa. 

— Não, você está enganada. Você quer achar culpados pelo o que houve com o Cinco e o Klaus — Diego disse. Bom, talvez ele esteja certo — A Lila não faria isso.

Lila? Pelo o que eu me lembre ela te deu um soco no primeiro encontro.

Ligando os pontos e as poucas pistas, não tenho dúvidas de que seja a mesma pessoa.

— Diego, acho melhor você sentar aí e, por enquanto, não falamos com ninguém de fora da Academia. Pode ser muito arriscado — Viktor aparentava ter concordado com minha teoria — Vou pedir para Luther trancar os portões e ativar o sistema de alarme.

Diego bufou nervoso, lançando uma faca para a parede. Vi Luther descer as escadas, logo atrás de Ben, que estavam na enfermaria cuidando de Klaus.

— Ufa — Ben passou o braço na testa — Terminamos os curativos só agora. Onde está Cinco? Até agora não vi ele.

Quando ouvi isso, lágrimas involuntárias começaram a surgir nos meus olhos. Ben olhou confuso para os irmãos e sem nem questionar caminhou até mim e me abraçou. Foi o que eu precisava para desabar em choro. O apoio que Ben me deu era tudo o que eu precisava. Pelo ombro de Ben vi Allison descer as escadas com a filha no colo, e só pela briga agora pouco, já sinto desgosto em vê-la.

— Sinto muito, Candy… — a voz de Ben tomava um tom doloroso.

— Não, ele não morreu! — protestou Allison, entrando em nossa conversa. Sinto que isso é só para nos trazer esperança e tirar sua culpa de ter me forçado a ir embora — Ele só…

— Acha mesmo que ele não morreu?! — saí dos braços de Ben, quase gritando em direção a ela — Além de estar baleado ele estava com aquela… maldita.

— Não fale assim dela! — gritou Diego dando um passo à frente.

— Então você assume que ela e sua namorada são a mesma pessoa? — desafiei. Ele ficou quieto, não quer me dar razão. 

— Sem brigas! Diego, vê se dá um jeito nesse braço e tira essa merda de gelo — Ben ordenou — E você vem comigo para a enfermaria!

Ben me pegou pelo braço. Achei que minha perna passaria despercebida, porém ele notou. O caminho foi marcado com machas de sangue no chão pelos meus passos lentos. Chegando na enfermaria, sentei em uma das macas, ao lado de Klaus, parecia que ele estava só dormindo. Olhando para a minha perna, vejo que aguentei bem a bala.

— Não está sentindo dor? — Ben me perguntou pegando alguma caixa.

— Estou — falei rasgando um pedaço do tecido — Mas não é pela minha perna.

Ele compreendeu no mesmo instante.

— Ainda não acredito que ele não está mais aqui — Ben lamentou — Lembro que a última coisa que ele me disse, foi me mandando tomar no cu.

Dei uma risada fraca ao me lembrar. 

— Toma, se cuida — ele me entregou um recipiente com água e gazes. Abri a boca, me sentindo ofendida.

— Achei que você faria isso — eu disse me referindo ao curativo.

— Deus me livre — ele recuou os braços — Imagina se eu faço algo errado e você fica sem a perna? Só vim para te fazer companhia.

— Companhia? Acho que é melhor eu ficar sozinha, sem ofensa.

— Não acho que você ficaria bem sozinha nesse momento.

Ele está certo. 

— Tá, mas você vai me ajudar — cedi.

Ele aceitou com a cabeça. Rasguei um pouco mais o tecido, notando que ele derramava algum líquido conforme eu o abria. Não tinha cheiro e nem cor, mas com certeza me assustou.

— Que porra é essa? — passei a mão por aquele líquido que aos poucos se misturava com o meu sangue.

— Ah, esse é um uniforme especial. Ainda está em fase de testes e esse é um dos únicos que está pronto.

— Você ainda não me disse o que é isso.

— Tá legal. Quando esse uniforme é rasgado por um tiro, facada ou qualquer outra coisa, ele despeja um tipo de anestesia que faz a pessoa aguentar um pouco mais a dor — Ben me disse.

— O Cinco que me deu este uniforme. Ele não deixou eu entrar com roupas normais — meus olhos foram tomados por lágrimas novamente, no momento em que eu entendi. Cinco tentou me proteger de todas as formas, até quando não podia estar ao meu lado. 

— Ele cuidou de você, Candy — disse Ben, também emocionado ao descobrir.

— E eu não fiz nada para salvá-lo — concluí, não consigo deixar de me culpar por ter o deixado sozinho.

— Isso não é verdade, tenho certeza que você fez tudo o que pôde — Ben disse, secando as minhas lágrimas. 

— É só que… — eu suspirei, com a voz chorosa — Hoje eu acordei ao lado dele, como em um dia comum. E agora ele não está mais comigo, e não vou acordar ao lado dele novamente. 

Eu não sabia que eu o amava tanto assim, e eu tive que perdê-lo para perceber isso. Ben tentou me acalmar, e admiro a força dele pois também está de luto pelo irmão.

Ben terminou de me ajudar com o curativo, e disse que não estava tão grave. Apesar de ter feito uma bagunça na minha perna, não vai ser algo com que eu deva me preocupar. Ele começava a enfaixar minha perna quando me perdi nos meus pensamentos. Quis me lembrar de algo que deixei passar.

A terra tremeu. E eu fiz aquilo. Como eu fiz aquilo? Se Cinco estivesse aqui, ele provavelmente teria uma resposta. O vento absurdamente forte também apareceu, mais uma vez me salvando. Lila sabia meu nome, talvez Diego tenha contado a ela. Ou ela investigou cada parte da minha vida. Ela disse que queria o garoto, será que ela sabe a verdadeira idade de Cinco? 

Eu tenho muitas perguntas e não vou conseguir as respostas delas sentada, esperando que me digam. Talvez se eu voltar para aquele lugar ainda tenha sobrado algum morto-vivo para me explicar. 

— Terminamos — Ben falou, guardando a caixa. 

— Obrigada.

— Agora você vai dormir — Ben disse, isso era uma ordem — Você teve um dia longo e não quero você andando pelos corredores, ou olhando as câmeras.

— Você fala igual a minha mãe — eu ri. Ben também sorriu, perdendo a pose de mandão. 

Meus olhos procuraram Klaus, que estava deitado na maca ao lado, me surpreende que ele ainda esteja vivo. Pelos ferimentos em seu corpo, eu nunca acharia que ele teria sobrevivido.

— Como ele está? — perguntei.

— Ah, parece até que está de ressaca — Ben disse — Mas ele vai ficar bem, alguns curativos dão conta. Ele já passou por tanta coisa que eu me questiono se ele é imortal. Klaus é um cara forte.

E é mesmo. 

Ben me ajudou a caminhar até a porta e eu acenei para ele antes de ir embora. Demorei para chegar até o meu quarto. Esta casa é gigante, mas andar até lá mancando faz isso parecer uma eternidade. 

Quando abri a porta do meu quarto, me deparei com a cama já arrumada, foi o que eu pedi para Cinco quando acordamos. Ao lado, espalhado pelo chão, havia algumas de suas roupas, que ele deve ter esquecido de levar para o seu quarto. Com esforço e dor, me agachei até uma de suas camisetas, pegando-a para mim. Eu tinha receio de sentir o seu cheiro e terminar com os olhos inchados de tanto chorar. 

Larguei a camiseta, resistindo a vontade de senti-la e relembrar dos momentos que tive com ele. Às vezes sinto que a qualquer momento ele vai aparecer na porta, me xingando e pedindo para passar mais tempo com ele.

Me deitei na cama, com o dia já amanhecendo, mas não consigo dormir. Só penso em Cinco. Passo parte do tempo pensando no que eu poderia ter feito e outra parte me alimentando com esperanças e ilusões de que algum dia eu vou encontrar ele. 

Eu preciso achar ele. Eu tenho que achar ele. Vivo ou não, eu vou encontrar.

O dia já tinha chegado por completo, e eu ainda não havia dormindo um minuto sequer. Meus olhos estão lacrimejando e ardendo de sono, mas ainda assim, não fecham por nada. Ouvi um barulho na janela, talvez algum galho ou pedra foi lançado em direção a ela. Não estou no clima de aturar brincadeiras de criança à essa hora. 

O estralo ressurge novamente, dessa vez, mais alto. Quem é o infeliz que está tacando pedras na minha janela? Demorei para levantar da cama, mancando e sentindo dor mas fui até a janela, abrindo-a com raiva e vendo que não havia ninguém ali. Bati a janela com força, cansada de pensar que as coisas que acontecem ao meu redor são paranóias da minha cabeça. Tem alguém por trás disso, e eu vou descobrir.

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a Lila tá aqui desde o capítulo 12, só vcs não perceberam

Candace:


tchau, curupiras <3

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