CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 2:
Fantasmas do Passado

Sentei no meio fio na frente da minha casa, chorando feito uma criança que não recebeu doce. É, eu sempre choro depois das discussões. Eu sentia uma estranha sensação de liberdade, e era bom. Mas essa sensação trazia junto com ela alguns medos, talvez por estar experimentando algo novo. Não consigo decidir se estou chorando ou sorrindo. Retirei o telefone do bolso e liguei para o único que me ajudaria nesse momento.

— Alô? — falei com a voz trêmula, após educadamente me auto expulsar de casa.

— Quem fala? — escutei a voz de sono dele — São uma da manhã!

— Sou eu, Ben. Você poderia me ajudar agora? — minha voz falhava por conta do choro.

— Claro. Você está bem? Onde você está? — ele se preocupou ao notar que era eu.

— Na frente da minha casa, você pode vir rápido? — eu estava com medo, já era tarde da noite e a rua estava deserta e fria.

— Já estou indo, aguenta aí — ele disse e logo desligou.

Em questão de minutos, Ben chegou e me encontrou sentada com malas ao meu redor e chorando pra caralho.

— Ei, vem aqui — ele estendeu os braços e me puxou para abraçá-lo.

Eu amava Ben por isso, ele não precisou me perguntar o motivo de eu estar fora de casa, ele me ajudou sem questionar, ele me conhecia bem o suficiente para saber que eu não iria falar disso naquele momento e que eu só precisava de um abraço e palavras reconfortantes.

— Vai ficar tudo bem, eu vou te ajudar. Quer ir lá pra casa? — ele perguntou ao notar as malas e eu concordei com a cabeça.

Nós entramos no carro e eu tive que explicar com detalhes o motivo de eu ter tirado ele da cama em plena madrugada. Ele, sempre muito compreensível, apenas tentou me acalmar.

Fomos até a Academia, a qual eu não visito há muito tempo, a casa não fazia um ruído sequer, estavam todos dormindo e tivemos que fazer o máximo de silêncio. Está tudo tão diferente desde a última vez que vim, a morte de Reginald foi mais impactante do que pensei. Mudaram todas as decorações, mas ainda são luxuosas e extravagantes.

— Olha, eu vou te dar algumas toalhas e você pode tomar um banho se quiser. Pode dormir no quarto do lado do Klaus, ele está vazio.

— Obrigada, Ben. Você não sabe o quanto me ajudou…

— Ah, o que eu não faço pela minha irmãzinha favorita, não é Candy? — ele disse tirando um sorriso do meu rosto ao me fazer lembrar do meu apelido de infância.

— Eu prometo não congelar 1 dos seus 19 banheiros, Lula Molusco — eu disse e ele abriu um sorriso, rindo baixo.

— Boa noite, Candy. Se precisar de alguma coisa pode me chamar — ele bagunçou o meu cabelo — Te amo, viu?

— Boa noite, Ben. Também te amo.

Fui para o quarto que Ben me falou depois de tomar banho. O quarto estava limpo e arrumado o que me surpreendeu, por ser uma mansão antiga eu pensei que estaria tudo empoeirado. Deitei-me naquela cama macia com lençóis azuis e em instantes adormeci. Não é a primeira vez que durmo na Academia, mas é a primeira vez que não tenho uma sensação boa em relação a isso.

Acordei com dor de cabeça e pessoas brigando, eu ouvia algumas coisas como:

— NÃO ENCHE, VOCÊ É BURRO. ISSO SIM!

— QUAL É? VAI DIZER QUE NUNCA FEZ ISSO?

— SIM, QUANDO EU ERA UMA CRIANCINHA — ouvi a voz do Diego e me levantei num pulo para vê-lo, eu estava com muita saudade.

Mas antes, dei um jeito de melhorar minha cara inchada por ter chorado a noite inteira ontem. Quando pus meus pés para fora do quarto tive que desviar de uma faca que Diego havia lançado.

— O QUE VEM DE BAIXO NÃO ME ATINGE! — gritou Luther.

— ENTÃO PISA NUM FORMIGUEIRO! — respondeu Diego. Os dois brigam feito crianças. Nem notaram que eu estava ali.

— Que "bom dia" mais diferenciado… — falei olhando para a faca cravada numa coluna de madeira ao meu lado.

— Não! — Diego disse pasmo.

— Sim! — respondi com um sorriso levado.

— KLAUS, CORRE AQUI! — Diego chamou pelo irmão — Não acredito que você está aqui, maninha, quanto tempo…

Diego veio em minha direção e me deu um abraço forte. Forte até demais. Ele me levantou e me girou no ar. Só me colocou no chão de volta quando dei tapas o suficiente para ele parar.

— Também senti saudades, Diego.

— Nem fodendo — Klaus disse ao me ver.

— Vem cá — eu disse estendendo os braços.

Klaus estava gritando palavras que eu não conseguia identificar, mas estava muito feliz mesmo tendo me encontrado um dia antes na rua.

— Nossa, você está horrível. Tava chorando? — Klaus disse sendo muito sincero.

— É, eu estava chorando — eu disse. Consegui ver uma pessoa passando pelas escadas então fiquei curiosa.

— Quem é aquele? — falei no ouvido de Klaus.

— Ah, aquele é o Cinco — ele disse simples.

An? Pelo o que eu me lembre todos nós temos vinte e cinco anos, mas Cinco ainda parecia estar diferente. Acho que era o seu jeito de andar.

— Sério? Quanto tempo eu dormi?

— Seguinte, amorzinho, quando Cinco tinha treze anos ele decidiu viajar no tempo… o problema é que deu errado e ele acabou ficando preso lá por dezessete anos — Klaus disse.

Eu lembro de ter me afastado deles, e provavelmente foi antes deste acontecido pois eu não lembro do Cinco ter viajado no tempo

— Dezessete anos? Lá onde? — eu disse chocada.

— No apocalipse. Que iria acontecer dia 30 de março de 2019 — Luther disse e eu me assustei.

— Mas estamos em dezembro de 2019 — falei confusa.

— Obrigado. — eles disseram em unisom. Está mais que claro que eles impediram o apocalipse.

Apocalipse...? Ainda é muita coisa pra minha cabeça. Enquanto eu estava deitada assistindo séries eles impediram um apocalipse.

— Então está me dizendo que ele tem trinta anos? — eu disse.

— Não. A consciência dele tem trinta anos, mas aquele rabugento errou os cálculos e voltou cinco anos mais novo — Luther falou.

Quem precisa de creme rejuvenescedor quando se pode viajar no tempo?

— Qual foi a causa do apocalipse? Zumbis? ET's? Um vírus mortal que causaria uma super pandemia? — perguntei curiosa, eu tinha milhares de perguntas. Eles se entreolharam e hesitaram em responder.

— Um… asteroide. — Diego disse e eu compreendi com a cabeça. Percebi que eles queriam logo mudar de assunto.

— E sua mãe? Como está? — Klaus perguntou.

— Ela está bem. Está super feliz porque vai se mudar com o namorado. Mas nós tivemos uma briga feia ontem e eu decidi sair de casa, foi por isso que vim para cá.

— Olha, se quiser pode morar aqui — Diego disse.

— Sério? — eu disse pensando se isso era uma brincadeira de mau gosto.

— Sim. Pensa, vai ser muito mais legal você acordar com o Diego e o Luther brigando do que acordar na rua — Klaus disse sarcástico.

Mal consigo imaginar como será morar com eles, espero que os outros concordem com a ideia. Eu ainda não tinha visto os outros irmãos e estava morrendo de saudades. Sinto vontade de correr para ver a Allison, mas de repente escuto um barulho alto vindo da porta. Cinco havia empurrado ela com toda força e estava furioso.

— Achei vocês! — ele disse com um sorriso maléfico, como se fosse matar eles alí mesmo.

— Pô, cara, esquece. Seu café já foi — Klaus disse. Provavelmente Klaus mexeu em algo que não devia.

— Quem é você? — Cinco caminhou até mim e apontou um estilete no meu pescoço, como se eu fosse uma ameaça.

Sentir a lâmina gelada no meu pescoço me deu até um déjà-vu da nossa infância. Eu levantei as mãos como forma rendimento e disse:

— Não lembra de mim?

— Eu deveria? — Cinco logo me analisou mais um pouco e recuou seu estilete — Ah, Candace seu nome, não é?

Confesso que fiquei um pouco surpresa por ele ainda lembrar de mim, afinal, para ele fazia mais de dezessete anos que não nos vimos.

— Feliz em me ver?

— Não, e acho que está na hora de você voltar para sua casa — Cinco estava educadamente me expulsando. Nós nunca nos demos bem.

— Ela não tem casa — Klaus riu, quase sorri também mas me mantive séria — Vai morar com a gente agora.

— Como é que é? — ele perguntou rindo, achando que isso é uma piada.

— Ela vai ficar aqui o tempo que ela quiser, já está decidido. — Diego disse com autoridade.

— Idiotas — Cinco resmungou olhando para os irmãos e saiu.

Ele até parecia mais velho e arrogante, mas seu ódio por mim continuava o mesmo, e eu nunca soube o motivo. Me lembro de que várias vezes, quando éramos pequenos, tentei fazer alguma amizade com ele, porém ele sempre se afastava.

Desci para a cozinha para tomar café e reencontrei Allison, que não escondeu sua alegria ao me ver de repente em sua cozinha.

— Candace? — Allison disse, ainda mastigando a comida.

Fui até ela e a abracei. Não pensei que eu pudesse ficar tão feliz como estou agora. Allison e Vanya me perguntaram o motivo de eu estar lá, afinal, faz anos que não nos vemos. Eles me deram mais apoio do que eu imaginava.

— Pode ficar tranquila, Candy. Nós te ajudaremos em tudo — Vanya disse.

— Muito obrigada, de verdade — eu disse — Adorei seu cabelo, Vanya.

— É… Viktor — ele disse.

— Viktor? — perguntei confusa.

Foi só aí que eu notei, devia ter percebido antes. Suas roupas e seu cabelo…

— Ah, me desculpe, Viktor. Eu estou feliz por você — corri até ele com pulinhos e o abracei.

— Está tudo bem, foi recente — ele disse. É sempre tão tolerante.

Luther, ao ouvir a minha dramática história, tentou me dar algum tipo de… suporte.

— Liga não, sua mãe é uma besta de não aceitar seus poderes — Luther disse para mim, comendo uma pasta de amendoim.

Eu fiquei encarando-o por um bom tempo, até que ele percebe o que acabou de falar.

— Digo, ela não foi tão compreensiva… — ele se corrigiu gaguejando.

— Luther, vai ao mercado comprar as coisas que eu te pedi, vai? — Allison disse e Luther saiu com pressa.

Olhei para Allison e Viktor e demos risada de como Luther é atrapalhado com as palavras.

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