CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 15:
Pelos Ares



Desviei de uma faca de Diego, essas coisinhas correm rápido demais. Recuperei o fôlego com as mãos no joelho, senti meus pulmões queimarem pela falta de ar. Levanto o olhar para os bancos de madeira ao lado e vejo Cinco e Ben, que assistiam o treino mais concentrados do que nunca. Cinco quase sorri quando a faca passa de raspão em mim, enquanto Ben arregalou os olhos assustado.

Faltam quatro minutos para acabar, e eu ter meu sagrado intervalo, mas esses minutos parecem horas. Desviei de outra faca e, graças ao meu reflexo, não tenho meia dúzia de facas cravadas em mim. Lancei um corredor de chamas, um fogo extremamente quente, sua luz até brilhava o rosto de Diego, que escapou por pouco de não queimar seus sapatos. Aguenta, Candace. Só mais um minuto. Tentei lançar mais um linha de fogo mas ele falhava, eu estava cansada, isso atrapalhava meus poderes. Fiquei vulnerável sem eles. Como segunda opção tentei criar estacas de gelo mas elas saíram curtas e fracas, e derretiam tão rápido que mal me protegia. O que me restou fazer foi desviar de mais facas que Diego lançava. 

— Tempo! — ele anunciou o intervalo. 

Caí de joelhos no chão, exausta, e como todo intervalo de treino, Cinco veio dar a sua opinião indesejada. Ignorei buscando um copo d'água. 

— Você precisa melhorar. — ele disse, com suas mãos no bolso e com o olhar tranquilo.

— Acho que se eu estivesse boa, ainda não estaria treinando — eu disse sem olhar para ele.

— Controle sua respiração. — ele tomou o copo da minha mão — Não fique só na defensiva. Não use gelo quando você sabe que seu fogo derrete as facas dele.

— Acabou meu combustível.

Ele me olhou bravo, não aceitou a minha piada.

— É sério, olha isso! — eu disse.

Levantei minhas mãos e onde deveria sair fogo, saíam apenas faíscas. Faíscas fracas, isso não adianta de nada. Treino de poderes nunca é fácil, mas essa semana Diego tá pegando pesado. 

— Então você precisa usar o cérebro. Quais são os pontos fracos de atiradores de facas? — Cinco disse.

— Costas e braços.

Eu disse, quase numa pergunta, pois estava insegura se isso estava certo ou não. Cinco concordou com a cabeça e um sorriso orgulhoso se fez em seu rosto, que me fez suspirar de alívio.

— Isso, garota. — ele disse ainda sorrindo — Foca nisso.

Cinco voltou ao seu lugar e eu terminei de matar a sede. Diego voltou para a arena limpando suas facas com um pano e colocando-as no uniforme. Ele anunciou a volta do treino. Lá vai mais trinta minutos correndo de facas. Dei um último olhar para Cinco, que ao mesmo tempo me passava confiança e raiva. Logo meus olhos pousaram nas facas, elas brilhavam com o reflexo conforme Diego mexia.

— Não tem fio, Candace. Relaxa. — Diego disse, mas continuei tensa.

— Ah, você quase me matou — eu disse brincando, e quase pedindo um tempo de treinos.

— Se eu quisesse te matar, você estaria morta.

Uau.

Meus poderes ainda que fracos não eram vantagem. Sou limitada. Sou limitada a fugir de lâminas que passeiam no ar usando a minha pouca experiência. Me alonguei e assim que o sinal tocou, corri para cima de Diego o enfrentando numa luta corporal. Fechei meu punho e soquei seu rosto, mas isso nem fez cócegas. Ele agarrou meu antebraço e me girou no ar com tanta facilidade, para depois eu cair de costas no chão. Gritei pela dor, parecia que meus ossos tinham se partido ao meio. Apesar de ser um treino e não usar uma força considerável, ele ainda é mais forte que eu, e se fosse uma competição eu teria perdido aqui. 

Ainda no chão, aquela dor me consumia e me fazia sentir raiva. Essa raiva já é familiar. Não eu, mas sim ela, fazia um vento absurdo na arena. Ventos fortes que carregava com ele todas as coisas do chão, e se eu estivesse em pé, me carregaria também. Diego se esforçava para ficar em pé, me olhando com acusação. Esse vento vem de mim. O pequeno redemoinho foi ficando mais fraco à medida que eu tentava entendê-lo. Diego me perguntou como eu estava fazendo aquilo, e se eu soubesse a resposta, sem dúvidas eu diria. Assim que o vento cessou, voltei minha atenção ao treinamento.

Me levantei do chão, meus braços e pernas tremiam fracos. Tomei fôlego e corri em sua direção de novo, mas dessa vez passei direto por ele. Ele ficou confuso mas até perceber a minha estratégia eu já estava apoiada em seu ombro, dando cotoveladas em suas costas. Depois de um tempo machucando suas costas, passei minhas pernas em volta de seu pescoço. Ele caiu no chão, sem equilíbrio, mas continuei. Ele tentava respirar e eu apertava ainda mais. Faltavam alguns segundos para acabar, e então, parei.

Me joguei para o outro lado, abrindo os braços, enquanto Diego tossia e passava a mão na garganta onde foi ferido. Depois de uns segundos descansando, levantamos e comprimentamos para o final do treino. Ainda bem que acabou!

— Parabéns — Diego elogiou orgulhoso.

Agradeci com um sorriso, mesmo cansada fiz esse esforço. Ben veio em minha direção, aparentemente feliz.

— Você está bem? — ele perguntou, não muito preocupado.

— Eh — fiz um gesto com as mãos, não posso dizer que estou bem, mas pelo menos não estou ferida.

— Você foi ótima, maninha.

Ben deu uns tapinhas nas minhas costas que me obrigaram a fazer uma careta de dor. Ele saiu da arena junto com Diego, aposto que vão jogar videogame agora. Eu já estava no meu terceiro copo d'água quando Cinco apareceu ao meu lado.

— Como fez aquilo? — ele perguntou, tão confuso quanto eu.

— Não faço a menor ideia.

— Em todo caso, você é muito boa, mesmo sem poderes. — ele tomou o copo da minha mão e bebeu. De novo.

— Acho que sou melhor com eles.

— É óbvio que é, mas também precisa aprender a lutar sem eles. — ele disse — Você nunca sabe quando eles vão simplesmente te abandonar…

— Ah, isso é um gatilho para você, não é? — falei fazendo um biquinho. 

— É sim. — ele abaixou a cabeça — Você está ficando cansada muito rápido nos treinos de poderes. Talvez precise de um treinador melhor…

— Por que? — eu ri — Vai me oferecer aulas particulares?

— Talvez eu ofereça.

Ele disse com um sorriso que sempre me deixava pelos ares, mas dessa vez, não podemos chegar tão perto um do outro. Dei uma olhada para as câmeras que gravam tudo o que nós fazemos. Ou não. Nem sei se elas funcionam, mas não quero arriscar. Cinco apontou com a cabeça para a porta para irmos embora, quando fui na frente ele me deu tapinhas no ombro. Tapas fortes, na verdade. Me vi na obrigação de xingá-lo de todos os nomes possíveis.

— Treinos particulares no meu quarto hoje? — ele disse segurando as minhas mãos e com uma malícia no olhar — Precisamos falar do seu mini furacão também.

— Nem fodendo. Não vou aguentar um soco.

— Te espero lá. — ele deu um beijo na minha mão e seguiu seu caminho.

— Cinco, eu não vou… — eu disse, mas ele já estava longe demais para escutar.

Passei o resto da manhã descansando em meu quarto, eu poderia compor algumas músicas mas minha criatividade foi consumida pelo cansaço. Eu já estava cochilando e descansando meus ossos quando Ben entrou em meu quarto, apavorado, com Claire nos braços. Levantei num pulo, tão assustada, conferindo se estava tudo bem com a criança… e estava.

— O que aconteceu? — perguntei.

— Allison deixou eu ficar com Claire um pouco, só para brincar, mas ela está falando umas coisas estranhas. 

— Tipo o quê?

— "Merda", "titia" e outras bizarrices — ele disse.

— Tá, mas isso é normal, Ben. Qual o problema?

— O problema é esse, Candace! — ele aumentou o tom de voz, bravo, me espantei por um segundo — Mostra para sua tia, Claire.

Ele a colocou em cima da cama e sentou no chão para ficar da altura. Tenho medo do que está por vir.

— Vamos — ele incentivou a criança.

Claire sem muita opção, obedeceu o tio. Ela fez um biquinho e começou a imitar alguém. Logo depois ela apontou para mim, com um sorrisinho de criança levada. Levei uns segundos para entender o que significava, e quando percebi, fingi não saber. Fodeu!

— Não entendi — me fiz.

— Sabe o que mais ela disse? — Ben perguntou e eu neguei — "Cinco", ainda mostrou os cinco dedos.

— Sério? Então ela descobriu que o nome do tio dela é um número? 

Continuei com meu fingimento, mas Ben não caía nessa. Ele me conhece muito bem e sabe quando estou mentindo, ele provavelmente sabe de tudo o que aconteceu nos últimos dois meses e só finge que não, para ver até onde vou levar essa mentira. Ben se virou para mim, respirando fundo e esperando ouvir a verdade.

— Candace, você quer me contar alguma coisa?

— Quero. 

Eu disse enfim, já era hora de contar para ele. Ben deu um sorriso como se já soubesse do que se tratava.

— Pode falar. — ele se virou para mim, demonstrando toda a sua atenção.

Arrastei ele para um canto do quarto onde nem a espertinha da Claire e nem outra pessoa ouviria. Me preparei para dizer, eu esperava que isso seria mais fácil. Tenho dúvidas de qual será a reação de Ben.

— Tô pegando o seu irmão.

Ele levou as mãos à boca pela indelicadeza como eu disse, mas não muito surpreso.

— Eu sabia! O Cinco, não é?

— Óbvio, porra, quem mais seria? — sussurrei.

— Cacete, Candy, você não perde tempo. — ele disse com um sorriso de canto.

— Não fale assim! — dei um tapa em seu ombro — Não é como se eu tivesse planejado isso.

— Oh, então foi amor à primeira vista? — ele disse debochado, rindo mais do que nunca.

— Eu te odeio, sério. 

— Desculpa, querida. — ele foi parando de rir aos poucos — Então… é recíproco, ou o quê?

— Eu espero que seja. — falei de cabeça baixa.

— Olha, eu conheço bem o Cinco, e em todos esses anos eu nunca vi ele se relacionar com ninguém. Ele gosta mesmo de você. — Ben disse, me dando mais confiança.

— Você acha? 

— Sim, gatinha. — ele deu um sorriso — Investe nele porque ele é um partidão.

— Nossa, que palavra desatualizada. — eu ri.

— Tá bom. — Ben pensou em novas palavras — Ele é o cara, ele é foda, ele é tampa da sua panela, ele é…

— Ok, Ben, já chega. 

— Eu não te apoiaria nisso se não achasse que vocês nasceram um para o outro. — ele tocou o dedo na ponta do meu nariz — Até porque ele é meu irmão e eu morro de ciúmes de você.

Dei um sorriso fraco e abri os braços para abraçá-lo. É sempre reconfortante o apoio que ele me dá. De canto, olhei para saber se Claire não havia destruído o meu quarto, e o pequeno anjinho que me delatou só estava dormindo.

— Por favor, Ben, não conte isso a ninguém — eu disse, ainda em seus braços. — Se ele souber que te contei, ele me mata.

— Pode deixar. — ele disse rindo. Levantei minha cabeça para ele entender que isso não é brincadeira. 

— É sério. Ele me mata.

O sorriso divertido dele se desfez.

— Quanto tempo tem isso? — ele disse curioso, desfazendo o abraço.

— Não sei… um mês ou dois, eu acho. Começou no chalé e desde então a gente veio arrastando isso. — eu disse indiferente.

— Você não parece muito feliz, maninha… Você gosta dele mesmo?

— É complicado — ri fraco, apenas para esconder o quanto tenho vontade de chorar quando penso nesse assunto — Ele me faz sentir a pessoa mais forte do mundo ao mesmo tempo que me faz sentir um lixo. 

— Porra…

— Mas eu gosto dele. Ah, menos quando ele me ameaça de morte.

— Espera, ele te ameaça de morte?

— Constantemente — falei simples — A verdade é que seu irmão é um canalha estúpido.

— Ele com certeza é. Se quiser, te ajudo a dar uma lição nele. 

— É uma ótima ideia, viu? — e realmente era — Mas por enquanto quero manter a paz, acho que finalmente vamos conseguir fazer dar certo. Tem dois dias que não brigamos.

Uau, Candace, dois dias.

— Bom, já é alguma coisa — ele disse.

Perdi a noção do tempo conversando com Ben. Apesar de termos a mesma idade, ele parecia ser muito mais experiente do que eu e me ajudou com algumas dúvidas que tinha. Percebi que desde de que comecei a me relacionar com Cinco, me afastei de Ben. Eu senti saudade das nossas conversas e brincadeiras, e havia me esquecido de como ele me faz bem. Sempre me apoiando em todas as decisões, por mais malucas que sejam. A conversa com Ben me fez enxergar que não estou tão perdida como achei que estava. 

Eu contei para o Ben que eu teria um compromisso agora, e o drama dele ao sair do meu quarto foi algo até divertido. 

— Tchau, maninha. Foi bom conversar e colocar o papo em dia. — ele disse caminhando até a porta — Eu te amo, viu?

Eu apenas sorri. Sabia que ele iria implicar com isso.

— Que porra é essa? Que sorrisinho é esse? Não, não, não, não. Fala agora que me ama. — ele disse.

— Eu te amo, Lula Molusco. — acenei com as mãos.

— Se cuida… Elsa de Chernobyl.

Já é de noite e percebo que está chegando a hora de descobrir o que houve na arena hoje. Eu não iria encontrá-lo para treinar, mas sim para que ele me ajudasse a conseguir respostas para o que aconteceu hoje. Comecei procurando em seu quarto e ele estava sentado na cama. Se assustou quando me viu mas disfarçou.

— Por que você nunca bate na porta?! — se estressou — O que você quer?

— Conversar — falei simples.

— São oito e meia.

— E daí?

E daí que o nosso treino é às nove — ele disse me fazendo lembrar desse treino idiota que ele marcou.

— Ah, não, não vou treinar.

— Vai sim, e podemos começar agora. — ele se levantou vindo até mim — Prefere no meu quarto ou na garagem?

— O quê?! — exclamei. — Em lugar nenhum. Desculpa, aventureiro, mas não vou treinar hoje.

— Que pena, eu ia te ensinar a dar um mortal. — ele fingiu estar magoado, logo abaixando a visão — Mas que porra de short é esse?

— Você não devia estar olhando para o meu short. Olha para mim. — levantei seu queixo.

— Tem razão. Mas isso não é roupa de treinamento. — ele disse. Deus, ele não desiste nunca?

— Jura? Eu tinha certeza que era. — ri irônica — Tá calor, seu idiota, não enche meu saco.

— Com tanto calor assim… fica melhor sem ele.

— Nossa, essa foi a pior cantada que já ouvi. — eu ri, um tanto envergonhada. 

— Não se preocupe, esse é só o plano A — Cinco disse com um sorriso maléfico.

— Plano A? E qual é o plano B? — perguntei confusa. O que é que ele já tá aprontando?

— Fazer você de refém. 

Eu ri, espero que isso tenha sido uma piada. Vindo dele não espero mais nada. 

— Se não vai treinar comigo, o que quer aqui? — ele perguntou, indo fechar a porta.

— Quero descobrir o que aconteceu hoje na arena.

— Como quiser, querida.

Já entediada, deitei na cama dele ocupando todo o espaço. Eu sentia meus músculos arderem, mesmo sem me mover. E ele só me observava enquanto eu fazia umas pedrinhas de gelo com formatos diferentes, ele parecia até hipnotizado. 

— Olha, eu tenho duas teorias. A primeira, é que você concentrou a mesma energia que usa para manipular a água e o fogo, para mover o ar daquela forma. Como estava cansada e sem seus poderes, usou o ar como opção. A segunda, é que aquilo é só uma anomalia natural, nada de mais, veio da própria natureza. — Cinco disse.

— Eu… — tentei encontrar respostas — Eu nunca fiz isso antes. Eu consigo criar fogo e água de onde eu estiver, mas o ar? Aquilo foi realmente eu?

— Bom, eu estava olhando vocês e aquilo realmente pareceu vindo de você. Ainda mais porque o vento estava atingindo apenas o Diego. Do que se lembra quando fez aquilo? — ele perguntou dando voltas no quarto.

— Eu estava com raiva… porque estava sentindo muita dor. Foi isso. — falei olhando para o teto enquanto ele dava mais voltas pelo quarto.

— Já sei o que é isso, amor. 

— Ah, você disse de novo! — estalei os dedos com um sorriso vitorioso. Ele chacoalhou a cabeça, como se isso fosse apagar o que ele disse, ou pelo menos o fazer esquecer.

— O que eu quero dizer é que: Se eu estiver certo… você tem um poder a mais para treinar.

— Puta merda.

— Gostou da notícia?

— Não sei. Parece que eu acabei de escutar que estou grávida. — eu disse. Não sei explicar a sensação de ter um outro poder.

— Vamos treinar ele, certo? Esse novo poder misterioso — ele tentou me puxar da cama. Ele parecia animado com isso, seu sorriso mostrava.

— Vamos, sim. Vou te jogar desta janela com o vento.

— Desculpa, querida. Nem imagino como deve ser receber a notícia de ter um filho — ele disse debochado e eu taquei um travesseiro em sua direção.

Era só o que me faltava, receber mais um poder no auge da minha vida. Me pergunto se esse poder sempre esteve comigo e, por eu estar numa situação de vulnerabilidade dos outros poderes, ele se mostrou. Como uma forma de me defender, mesmo eu não o conhecendo. O treino de hoje foi pesado e talvez por isso eu consegui encontrar este poder e usá-lo ao meu favor. Eu nunca estive numa posição tão fraca como hoje, por isso nunca soube da existência desse poder. Eu precisava de uma dor extrema para que ele se revelasse. 

— O que houve com sua mãe, ein? Como está a minha sogra? — Cinco perguntou, tão delicado como ele geralmente é, me tirando dos meus pensamentos.

— Ela está doente — eu disse sem querer prolongar esse assunto.

— Ela está sozinha? Já que você tá aqui, imagino que ela esteja…

— Não. Ela está com o namorado dela. Pois é… Você acredita que eles começaram a namorar do nada? Ele é estranho.

— Estranho como?

— Em questão de dias o Hazel disse que amava ela. Meses atrás ele tirou ela de mim dizendo que iam morar juntos. Sem contar que ele sempre está de terno e carregando uma maleta, não sei por quê. Deve ser advogado.

— Espera aí, Hazel? Um com uma barba meio ruiva e olhos azuis? — ele estranhou.

— É, conhece ele?

— Puta merda, garota! Sua vida é uma loucura.

— Como é que é?

— Digamos que Hazel e eu já trabalhamos na mesma empresa. — ele disse disfarçadamente.

— Assassinos? 

Ele balançou a cabeça de leve, confirmando que minha mãe está namorando com a porra de um assassino. Não muito diferente de mim. Temos mais em comum do que imaginávamos, mãe.

Muita loucura pensar que a pessoa que eu dividia a minha vida agora nem sabe o que se passa nela. E nem eu na sua. O que eu sei é apenas o que os médicos dizem nas visitas que eu faço a ela no hospital. Queria tanto poder dizer a ela quem Hazel é. E dizer por quem estou apaixonada, mesmo ela com certeza não aprovando. É, já está na hora de eu lutar contra o meu orgulho e admitir que estou apaixonada por Cinco, não consigo esconder isso de mais ninguém. 

As dores pelo meu corpo fizeram essa conversa ficar mais insuportável do que já estava. Fiz um pedido a Cinco, esperava muito ouvir uma resposta positiva. Suportar essas dores e o Cinco, são duas tarefas que não consigo fazer ao mesmo tempo.

— Faz massagem em mim?

— Não. — ele disse seco.

É claro que ele não faria.

— Pedi para a pessoa errada. Talvez eu devesse pedir para o Ben ou o Viktor… — eu disse, para causar um certo ciúme, virando minha cabeça para o outro lado a fim de não vê-lo.

Cinco cansado de ficar em pé, se deitou ao meu lado e sussurrou:

— Você é minha, tá?

Eu ri sarcástica. Ele agora acha que tem posse sobre mim?

— Sou de ninguém, muito menos sua. — resmunguei no travesseiro. 

— Você é sim. Só não descobriu ainda. — ele disse. Achei um pouco possessivo.

— Ah, tá, vamos supor que eu seja sua… porque eu não sou — falei tentando traçar um raciocínio, ele concordou com a cabeça — O que eu devo fazer para você ser meu?

— Nada. Eu já sou.

Porra!

Tremi. Minha respiração ficou mais acelerada, eu não sabia que estávamos nesse ponto. MERDA, espera! Ele está apaixonado por mim? Estou tão confusa que posso ver meus pensamentos correndo diante dos meus olhos.

— Você quer que eu seja? — ele franziu as sobrancelhas, em dúvida, pois eu estava demorando a responder. O jeito que suas mãos passavam pelo meu rosto me intimidava a respondê-lo o mais rápido possível. 

— Espera, o mínimo de amor e paixão que esse seu coraçãozinho de pedra é capaz de sentir, daria a mim? — perguntei olhando seus olhos.

— Sem pensar duas vezes.

— Beleza, acho que vou buscar uma água — mudei de assunto me levantando da cama, ele me alcançou antes que eu chegasse à porta. Eu não tenho culpa, estava nervosa.

— Volta aqui, mocinha.



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Candace desabafando com o Ben:

3.522 palavras, quem leu até aqui é guerreiro. De todos os 25 capítulos, esse é o maior.

bjs, pipoquinhas <3

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