CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 11:
Efeitos Colaterais

Hoje é dia de ir embora, deixar essa casa e esse lago tão fresco. Saio deixando os momentos estampados em cada lugarzinho, pelo menos terei uma cópia deles na minha memória. Restará apenas lembranças, dos momentos bons e ruins. Acho que principalmente os ruins. O único ponto bom é que nunca mais verei esse lago novamente.

Estão todos nos carros, apenas esperando que eu encontre o Bucky, Oliver, tanto faz. Esse gato tem dom em se esconder. Eu estava quase desistindo quando vi ele atrás de uma árvore, tentando pegar uma borboleta. Ou matar ela. Aquela borboleta desviava de todas as patadas de Oliver, talvez seja ela quem está brincando com ele.

— Vamos Oliver, não temos tempo para isso — Peguei ele no colo, só assim para me ouvir.

O carro estava uma loucura, como sempre: Ben e Klaus rindo e ouvindo músicas altas enquanto Cinco parecia que ia explodir de raiva. Confesso que chega a ser até um pouco engraçado vê-lo bravinho assim. A volta para casa foi bem rápida, isso porque eu dormi o caminho inteiro juntamente ao Oliver que tinha um sono de pedra.

Ao chegar na academia, mal arrumei minhas malas e corri direto para o meu quarto procurando os papéis que eu havia esquecido que perdi. Merda! No mesmo instante me lembro que Cinco me deve esse favor. Fui para o quarto dele onde o encontrei dobrando suas roupas da mala.

— Sabe bater na porta não, caralho? — ele reclamou aumentando o tom de voz.

— Sei, mas não vim aqui para discutir modos — eu disse entrando na frente da mala para receber sua total atenção — Quero meus papéis.

— Acabamos de chegar, Candace. Me dá um tempo.

— Eu esperei tempo demais. Preciso deles logo.

— Eu disse que preciso de um tempo — ele reforçou suas palavras cerrando os punhos.

— Você tem duas horas. — eu disse por fim e saí de seu quarto.

Ele deve achar rápido, é só ele fazer aquele lance de teletransporte. Vai encontrar rápido. Isso se ele mesmo não tiver pegado.

No computador, pesquisei o horário de fechamento da gravadora, ainda tenho um tempinho até eles fecharem. Tenho que entregar as minhas composições o mais rápido possível, pois já adiei demais. Tenho quatro horas para fazer isso. É quase impossível, eu sei, mas é minha insistência e minha paixão pela música que vai fazer isso acontecer. Isso se o Cinco me entregar a merda dos papéis! Eu andava de um lado para o outro no quarto, ansiosa para ter minhas composições em mãos novamente.

— Era isso que você queria? — Cinco entrou no meu quarto com algumas folhas na mão.

Peguei as folhas de sua mão e vi nelas o nome e a letra de cada música que compus. Não consegui segurar um gritinho de felicidade ao ver minhas composições intactas na minha frente.

— Onde estavam? — perguntei.

— Por aí, em algum lugar — ele deu de ombros.

— Que lugar exatamente? — franzi minhas sobrancelhas.

— Um lugar — ele foi direto — Estamos quites agora, certo?

— É, acho que estamos.

— O que é isso? — Cinco caminhava em direção ao computador.

— Ah, é uma gravadora. Vou levar isso hoje — coloquei as folhas numa pasta para que fiquem seguras e longe das mãos de Cinco.

— Porra, é longe — ele disse olhando as informações do endereço — Quer uma carona? Eu te levo.

Seria muito chato destruir essa atitude bondosa de Cinco apenas dizendo que eu sei dirigir. Mal posso esperar para ver a cara que ele vai fazer quando descobrir que dirigiu de uma cidade a outra à toa.

— Sério? — me fiz — Me ajudaria muito, estou meio atrasada.

— Então vamos.

Não deu dez minutos dirigindo para Cinco passar raiva no trânsito. Eu o apressava dizendo que eu estava atrasada e ele acelerava feito um louco. Depois de algum tempo, chegamos à gravadora.

— Prontinho — Cinco disse quando estacionou.

— Obrigada — falei pegando minha bolsa.

Eu estava prestes a abrir a porta do carro quando ele segurou o meu braço.

— Ei, ei, ei, espera aí.

— O que foi? — perguntei.

Sem aviso, ele me puxou para um beijo leve enquanto ajeitava o meu cabelo. Dessa vez, ele é quem me pegou de surpresa, achei que nunca mais faríamos isso de novo.

— Boa sorte — ele disse.

Lhe dei um sorriso. Cinco escolheu esperar no carro, e quando eu terminar, me levaria de volta para casa. Ele está gentil demais e isso é estranho. Quando cheguei na gravadora tinha alguns bancos de espera, mas estavam vazios, eu era a única na sala. Pelo menos não vou precisar encarar uma fila.

— Boa tarde, eu marquei uma produção de uma música. Vim para deixar a composição — eu disse para o atendente, que chamou muito a minha atenção.

— Claro, é só aguardar que já já eu mando sua composição para o estúdio — ele disse. Quase não consegui desgrudar de seus olhos azuis.

— Obrigada… — olhei para seu nome no crachá — Peter.

Sentei em um dos bancos me sentindo uma criança apaixonada. Minhas bochechas provavelmente estão vermelhas agora. Eu e minha mania de me apaixonar por pessoas que só vou ver uma vez na vida. Seus cachos castanhos eram perfeitamente curvados, ele parecia um sonho. Um anjo. Peter me chamou e quase num pulo eu fui até o balcão.

— Eles já receberam a sua composição, agora só falta esperar eles te mandarem uma carta ou um e-mail dizendo se aprovaram ou não — ele dizia e eu só reparava em seus olhos hipnotizantes.

— Tudo bem — sorri — Obrigada, Peter.

— Foi um prazer… — ele disse, mas não sabe meu nome.

— Candace — falei.

— Foi um prazer, Candace — ele riu. Peter pegou um cartão em seu bolso, me entregando — Qualquer coisa pode chamar.

Pelo sorriso que ele me deu, acho que tem o mesmo tipo de interesse em mim. Assenti com a cabeça e sai da gravadora. Cinco que me esperava no carro notou meu sorriso de orelha a orelha.

— Você ama mesmo isso, não é? — ele disse dando partida no carro.

— Com certeza — sorri para o papel que tinha o telefone pessoal de Peter.

Ao chegar em casa, ou melhor, na garagem, Cinco mal me deixou sair. O motivo eu já podia desconfiar, porém eu ainda sim torcia para que não fosse isso. A garagem talvez seja um dos poucos lugares que não tem câmeras na mansão, contando com os quartos e banheiros.

— Posso te falar uma coisa? — ele se aproximou de mim. Aquele calor já era familiar.

— O quê?

Ele selou nossos lábios, bem devagar e calmo. Um erro dele. Aquele beijo lento me fez prestar atenção em sua mão que discretamente tirava algo do meu bolso. Ele estava me distraindo.

— Isso aqui fica comigo, querida — ele mostrou o cartão de Peter bem diante dos meus olhos. Será que ele também se interessou em Peter?

— Não, eu acho que não — eu disse com muita paciência tirando o cartão de sua mão — E eu não sou sua querida.

— Dessa vez passa, tá? — ele disse antes de sair e me deixar sozinha na garagem. Eu odeio ele.

Eu entrei na sala com a maior cara de tédio, quando fui surpreendida por Klaus, que extremamente radiante disse a mim:

— CANDY, CANDY, VOCÊ NÃO SABE!

— O quê?

— Hoje o Ben me chamou de belíssimo — ele sorriu balançando a cabeça.

— Que lindo, Ben. — elogiei.

— Klaus, eu te chamei de "belíssimo filho da puta". Viaja não — Ben disse do sofá.

— Isso é só um detalhe. Allison me disse para focar nas coisas boas.

— Vocês fazem o meu dia — balancei a cabeça.

No meu quarto, apenas me joguei na cama e apaguei, de tanto sono e cansaço. Acordei com alguém me chacoalhando, e é a coisa mais estressante que alguém pode fazer enquanto estou dormindo.

— Pelo visto você também não sabe bater na porta — murmurei com a cara no travesseiro, evitando olhar para o Cinco. Não respondo por mim se eu atacar a cara dele.

— São sete horas da noite, não são horas de você estar dormindo — ele disse, caminhando pelo meu quarto — Levante, agora você tem treino.

— Como assim? O Diego não me avisou nada — me sentei na cama, ainda confusa.

— É porque ele também não sabe — Cinco disse com um sorriso.

— O que é que você aprontou? — fiz uma pergunta retórica, me levantando da cama. Eu não tenho muitas opções, se eu não levantasse, Cinco me arrancaria da cama de qualquer jeito.

— Não é nada demais, querida. Só um treinamento — ele disse.

— Pare de me chamar assim — repreendi — Não combina com você…

— Mas combina com você. — ele falou.

Agora é fato: Eu não sei lidar com este novo Cinco. Ele me acompanhou até a sala de treinamento, me perturbando o caminho inteiro. Na arena estava tudo pronto, ele havia preparado todos os equipamentos que eu usaria. Eu espero que algum dia esses treinos sirvam para alguma coisa.

— Ei, pegue essa espada — ele disse apontando para a mesa do lado. Caminhei até ela, mas não consegui deixar de pensar como isso vai me ajudar em algo.

— Sério? Espada? Vai me ensinar como desviar de um tiro com ela ou o quê? Estamos muitos séculos à frente disso — falei.

— Tem razão… Pegue o revólver.

Fiz o que ele pediu. Espero que essa merda esteja carregada.

— Agora atire em mim — ele disse. Eu tô sonhando?

— Vai ser um prazer — falei. Fechei um dos olhos e mirei na perna dele, depois de alguns segundos, apertei o gatilho… mas nada aconteceu. Eu estava profundamente chateada. Já Cinco, ria da minha atitude desesperada de tentar matá-lo.

— Ah, Candace, não achou que teria balas aí, achou? — ele ria.

— Não sabe o quanto eu estou decepcionada.

— Isso foi um treinamento. De confiança. — ele andava pela arena com suas mãos para trás — Eu confiei que você não atiraria em mim, mas não confiei o bastante para deixar essa arma carregada. E você atirou.

— Então agora você se sente traído e deprimido. Onde tudo isso vai me levar?

— Isso, Candace, é a base de tudo. A confiança. Como posso deixá-la morar aqui se existe um risco de você nos trair, nos expor e fugir? — ele dizia, parece que isso é um ponto fraco entre os Hargreeves.

— Tenho certeza que não existem esses tipos de riscos — falei caminhando até ele — Alguma vez te fiz pensar o contrário?

— Sim, o tempo todo. — riu pelo nariz — Vai me dizer que não entregaria minha cabeça por uns dois milhões de dólares?

— É uma boa oferta, mas você não vale tanto. — respondi com um sorriso. Ele brincou, tocando seu dedo na ponta do meu nariz.

— Essa casa virou uma fortaleza para os inimigos e estranhos. Você só entrou porque meus irmãos são idiotas. Mas lembre-se que pode confiar na gente, e nós confiaremos em você. Esquece seu ódio por mim um pouco, garota, e nos proteja com a vida. Porque faremos o mesmo por você. Eu, nem tanto, mas vou tentar. — ele disse.

— Sim, senhor. — falei — Mas farei isso pelos seus irmãos.

Eu ainda acho que dois milhões é uma ótima oferta.

— Agora pode voltar a dormir, você está parecendo um zumbi. — Cinco disse.

Ele caminhou e se aproximou de mim, suas mãos quase tocaram o meu rosto quando ele olhou para cima e recuou o gesto. Pela curiosidade, olhei para o mesmo ponto que ele observava e ali haviam câmeras. Cinco deu um sorriso fraco pelo o que acabou de acontecer.

— Boa noite.



— Bom tarde, pessoal. Já estou saindo, beijos — Allison disse de passagem pela cozinha, com passos rápidos.

Não deu tempo de eu perguntar o motivo, então, perguntei a Luther, ele provavelmente saberia.

— Ela tem que estar no tribunal hoje para decidir quem ficará com a guarda da Claire — Luther respondeu.

— Vou torcer para que ela consiga — eu disse.

Nunca tinha conhecido a Claire antes, apenas por fotos. Allison com certeza deve estar com o coração na mão pelo risco de não ter a guarda da filha. É nítido o quanto ela a ama.

A cada dez minutos eu olhava meu e-mail e o correio. Eu girava na cadeira do meu quarto pensando se eu fiz alguma coisa errada. A ansiedade pela resposta da gravadora conseguia me fazer esquecer de tudo, até não perceber coisas ao meu redor, como o Cinco encostado na porta observando meu conflito interno.

— O que você quer? — eu disse entediada.

— Vim ver se você não ia implodir de ansiedade — ele caminhou até mim e se agachou para ficar da altura da cadeira que eu estava sentada.

— Você não acha que está demorando muito? — meu semblante estava negativo.

— Não. Eu acho que você tem que parar de esperar por essa resposta que vai demorar para chegar e ir perder tempo comigo — ele segurou a minha mão.

— Perder tempo com você?

— Sim, você ama fazer isso.

Ele levantou e fechou a porta e por algum motivo eu me sentia confortável em estar sozinha com ele num quarto. Ele se aproximava tão devagar que me fez ficar ansiosa de novo, saltei da cadeira e ataquei seus lábios. Quando estou perto dele não me reconheço. Ele apertava meus quadris enquanto mordia minha boca. Não sei se ele faz isso por maldade, porque se for, não está dando certo. Eu gostei. Não consegui cumprir minha própria promessa de nunca mais beijá-lo, eu não sabia que seria tão difícil.

O que eu sinto por Cinco com certeza mudou. Mas nem tanto. Eu ainda o odeio, demais, mas ao mesmo tempo quero ficar com ele, quero sentir seu toque, quero virar noites com ele e quero que todos saibam disso. Afinal, o que eu sinto por ele? Seus olhos são tão lindos, como nunca reparei antes? Seu sorriso tem uma curva perfeita que me faz sorrir também. São pequenos detalhes que nunca reparei antes e que agora são os que mais me chamam a atenção. Tenho que parar de pensar nisso, eu estou falando como uma garotinha apaixonada, e eu com certeza não estou apaixonada por ele.

— Cinco?

— Diga, querida — o apelido me faz revirar os olhos.

— Você estava brincando comigo, não estava? — perguntei.

Parece que ele demorou para saber do que eu estava falando, e quando percebeu, tentou disfarçar. Eu falava sobre os flertes dele enquanto estávamos no chalé.

— No começo era só diversão, mas… — ele disse.

— Como assim? — meu queixo caiu. Eu desconfiava, mas ouvir isso dele foi pior do que eu imaginava — Você é patético.

— Podemos recomeçar, não acha?

— Não sei se é uma boa ideia… Você nem beija tão bem assim — eu disse, tentando segurar a risada. Cinco se assustou, mas logo sorriu de canto pela provocação.

— Ah, é?

— É.

Ele puxou minha cintura para ele e selou nossos lábios de uma maneira que nunca fez. Dessa vez, senti que era verdadeiro. Ele parou o beijo ainda sorrindo e disse baixo:

— Repete.

— Por quê? Ficou ofendido?

— Eu fiquei super ofendido.

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