Fique

— Me tire daqui. — nem mesmo dei a chance de Zaac descer do carro para abrir a porta.

Ele sabiamente me obedece, sem fazer perguntas sobre por que estou chorando ou a gritaria que ele com certeza ouviu.

Essa noite foi o ápice de tudo. Eu estava falando sério quando disse a minha mãe que não queria mais olhar em sua cara. Acabou os jantares em família onde ela achava um jeito de me humilhar falando da minha roupa ou como meu jeito atrevido não vai me ajudar a arrumar homem algum.

Eu posso sempre marcar de ver meus irmãos em outro lugar. Sabine comentou que ela e Steve estavam pensando em sair da casa de meus pais, então talvez o jantares possam ser na casa deles, certo? Eu ainda terei os meus irmãos comigo, não é?

De repente penso em minha mãe contando uma história totalmente diferente para eles, mesmo depois de tudo o que eles me ouviram dizer. Eles seriam tão manipuláveis assim?

O pensamento de ter meus irmãos contra mim me sufoca.

Percebo que estamos parados por causa do engarrafamento e não penso duas vezes antes de descer do carro. Para minha sorte, foi muita burrice Zaac não ter travado as portas.

— Para onde a senhorita vai?! — ouço Zaac gritar, mas não respondo. Ele também não pode me seguir com o carro por causa do engarrafamento ou largar o veículo e vir atrás de mim.

Cruzo os braços para me proteger do frio e ando pelas ruas movimentadas de Seattle.

Encaro o copo de whisky, envolvida na minha bolha de autopiedade. Eu sei que deveria parar de ter pena de mim mesma e parar de lamentar. Inclusive, esse foi um dos motivos de eu ter entrado nesse bar, mas estou há meia hora encarando a bebida.

Eu não lembro exatamente quando comecei a beber, mas foi por causa de uma discussão idiota com a minha mãe. Eu não sou alcoólatra. De alguma forma, consegui estabelecer meu limite, mesmo que algumas vezes eu saia do controle.

O fato é que sempre foi assim. Talvez eu seja imatura demais para lidar com meus problemas e prefira me afogar na bebida.

Eu sou mesmo uma vergonha, mas não vou deixar minha mãe vencer.

Pago a bebida que não bebi e saio do bar.

Eu ainda quero muito beber e esquecer a mãe de merda que eu tenho, mas isso seria declarar que ela estava certa em tudo o que disse e eu não vou lhe dar esse prazer, mesmo que ela nem saiba o que está acontecendo.

Consigo um táxi e dou o endereço do apartamento de Dominic.

Minja cabeça está doendo e meu corpo pesado. Se eu soubesse que uma visita inofensiva à minha família fosse se transformar nessa bola de neve, eu certamente não teria ido.

Quando saio do elevador, meus olhos vão direto para Dominic, parado no meio da sala e falando ao telefone.

— Tem um bar perto do parque Kennedy. Se ela não estiver lá, você tenta o... — ele para de falar quando me vê. Seus ombros relaxam e ele solta um suspiro. — Ela acabou de chegar. Você está dispensado.

Dominic desliga o celular, jogando o aparelho no sofá. Eu não sei o que pensar sobre o que acabei de ouvir. Ele mandou Zaac atrás de mim? Estava preocupado comigo?

— Eu já estava quase ligando para a polícia. — suas mãos percorrem seu cabelo e algo me diz que ele fez muito isso antes de eu chegar.

— Isso seria meio exagerado. — minha voz está desprovida de emoção enquanto permaneço parada. Eu queria me jogar em seus braços e deixar que ele me dissesse palavras de conforto, mas eu sempre faço isso, estou sempre correndo para Dominic nas últimas semanas. Preciso dar logo um fim nisso.

— Foda-se. Eu envolveria a porra do FBI. — Dominic parece desesperado e eu ignoro isso também.

— Você é tão poderoso assim? Uau. — fico momentâneamente impressionada com isso.

Dominic franze as sobrancelhas, se aproximando.

— Quanto você bebeu?

Tensiono a mandíbula, odiando que ele me conheça tão bem. Até para ele está claro que eu não sei lidar com meus problemas.

— Eu estou sóbria. Infelizmente.

— Então por que está agindo assim? É por causa da discussão com a sua família? Zaac me contou...

— Você disse que não queria controlar meus passos e aqui está você, dizendo que foi informado pelo homem que deveria ser apenas meu guarda-costas. Não sabia que estava sendo vigiada.

— E você não está, sabe disso. Zaac me ligou desesperado porque você desceu do carro no meio da rua. Ele me contou então, que talvez tenha sido algo relacionado a sua família, que ouviu uma discussão e depois você saiu chorando.

— Eu sei, eu estava lá.

Quando ele está cara a cara comigo, sua confusão com meu comportamento fica evidente.

— Por que você está...

— Por que você se importa tanto comigo, Dom? — semicerro os olhos. — Você trata assim todas as suas prostitutas?

Sua expressão muda e ele tensiona a mandíbula.

— Você não é uma prostituta.

Dou risada, saindo de perto dele.

— Não sou? Vamos ver... Eu dou pra você quase todos os dias, você me compra joias e me paga um salário. Essa não é a definição de prostituta ou eu estou errada?

— Eu não vou entrar no seu jogo. Você está magoada e com raiva e pode descontar em mim se quiser, mas não vou discutir com você.

— Você prefere transar comigo, não é? — lhe lanço um sorriso malicioso por cima do ombro, antes de me voltar para as garrafas de whisky que toda gente rica mantém em sua sala. Ponho o líquido âmbar em um copo.

Tomo um gole, ignorando minha garganta queimar. Encaro o piano que nunca vi Dominic tocar.

— Nunca transamos aqui — passo a mão pelo piano, lamentando por não ter insistido mais para que Dominic tocasse. — Talvez devêssemos fazer isso antes de eu ir embora.

— Ir embora?

Bebo mais do whisky, observando a confusão em seu rosto.

— Não faça isso, Dom. Nós dois sabíamos que isso ia acabar. Assinamos um contrato, lembra? Isso só acabaria daqui há uma semana, mas não faz mal por fim nisso um pouco antes.

Dominic não diz nada. Eu preferia que ele dissesse. Qualquer coisa seria melhor que o silêncio.

Eu não pretendia ir embora agora ou dar esse showzinho. Mas quando vi sua preocupação... Eu não posso mais fazer isso comigo. Estou apaixonada por Dominic, mas ele não sente o mesmo e eu não vou ficar aqui aceitando o que ele quiser me dar.

Eu sou melhor que isso.

Termino a bebida e me afasto do piano. Dominic não diz nada quando passo por ele, subindo para o quarto.

Cada passo é uma luta, mas tenho que fazer isso. Quando chego no quarto, vou direto para o closet e pego as duas malas que eu trouxe comigo.

Ponho-as em cima da cama e volto para o closet, pegando minhas roupas e jogando tudo dentro das malas.

Me dói fazer isso e estou lutando contra as lágrimas. Eu sabia que esse dia ia chegar, mas eu pensei... Eu não sei o que pensei, mas  com certeza não foi com eu fazendo as malas, sem ser impedida.

Encaro o vestido dourado que usei quando Dominic me levou para jantar e fechou o restaurante apenas para termos privacidade. Naquele dia nós fizemos um sexo incrível, com ele amarrando meus pulsos.

Deixo esse vestido fora da mala. Eu não preciso dessas lembranças.

Sinto uma coisa em meus pés e olho para baixo. Lena está tentando morder meu salto. Sorrio, pegando-a no colo.

— A mamãe está indo embora e você vai vir comigo. — beijo seu pelo dourado. O nó na minha garganta aumenta e acho que posso desmoronar agora mesmo.

Eu posso deixar todos os vestidos e joias que me lembram o Dominic, mas não posso deixar a Lena. Todos os dias vou olhar para ela e lembrar de Dominic lhe segurando no colo e lhe fazendo carinho.

Sorrio quando Lena começa a lamber as lágrimas que deixam meus olhos.

— Desculpe. A mamãe está meio emotiva — seu focinho cutuca minha bochecha e ela choraminga. — Você também está triste? Sinto muito.

Volto para o closet, terminando de pegar todas as roupas. Em algum momento, Lena pula de meu colo, quase se estabanando no chão porque ela ainda é pequena pra fazer esse tipo de coisa. Mas a cadela se recupera e corre.

Entendo o motivo da sua afobação quando vejo Dominic parado na porta, Lena agora em seu colo.

Cachorrinha traidora.

— Eu já estou acabando aqui. — aviso a Dominic, mesmo ele não tendo perguntado nada.

Volto-me para as malas, começando a fechar uma quando ouço sua voz.

— Fique.

Minhas mãos param contra a minha vontade e eu fico congelada no lugar. A palavra que faz meu coração parar de bater por um segundo, paira no quarto.

Meus ombros relaxam e eu suspiro. Não vou ficar, é o quero dizer a ele quando ouço-o respirar fundo. Eu apenas... É bom saber que ele se importa pelo menos um pouco, se quer que eu fique.

Viro-me para ele. Não consigo ler seu rosto, mas me concentro em seus olhos azuis mesmo assim.

— Me dê um motivo para ficar. — diga que sente o mesmo que sinto por você.

Dominic fica calado.

Eu espero. Espero por qualquer coisa. Mesmo depois de tudo o que falei a mim mesma que não poderia mais fazer isso, eu ficaria por qualquer motivo idiota que ele me desse.

Mas ele não faz isso. Ele não faz nada.

— Obrigada. — obrigada por provar que eu estava certa e você não sente nada por mim, que assim que eu sair, você vai arranjar outra para ocupar esse quarto.

Fecho as outras malas o mais rápido que posso, minhas mãos tremendo. Eu não sei como vou fazer para sair daqui com duas malas e um cachorro, mas vou dar um jeito...

Sinto o calor do seu corpo atrás de mim antes mesmo de ele falar:

— É isso mesmo que você quer?

Não.

Sim.

Posso jurar que sinto-o estremecer, mas sei que é coisa da minha cabeça, principalmente quando ele leva uma das malas já fechadas e sai do quarto sem dizer nada.

Eu nunca vou poder descrever como isso me destruiu.

Desço com a outra mala, minha garganta doendo com o esforço de não chorar, principalmente quando ouço Dominic murmurando alguma coisa para Lena.

Não digo nada quando me aproximo do elevador e coloco as duas malas dentro. Me volto para Dominic e tento não olhar em seus olhos quando ele me entrega Lena. Ela choraminga, parecendo entender que estamos indo embora e não vamos mais voltar.

— Está tudo bem. — digo a ela, lhe fazendo carinho.

Finalmente encaro Dominic, logo me arrependendo. Eles não demonstram nada. Nem mesmo um pingo de tristeza. Isso já deve ter acontecido antes, penso. Não deve ser a primeira vez que ele dar adeus para sua amante.

Tento não me encolher com a palavra. No fim, era isso que eu era para ele, não é?

Engulo em seco. Eu não vou sair daqui como todas as outras. Não vou dar essa satisfação a ele.

Obrigo meus lábios a sorrirem.

— Bem, foi uma aventura e tanta, não é? — nada. — Eu não me apaixonei por você, mas pelo menos você está na lista das minhas melhores transas.

Quero lhe sacudir por não mostrar nenhuma emoção, por não dizer nada e apenas ficar me encarando, as mãos dentro dos bolsos, como uma estátua.

Entro no elevador, apertando o botão.

Encaro Dominic uma última vez.

— Adeus.

Quando as portas começam a se fechar, posso jurar que ele hesitou, que o vi dar um pequeno passo para frente. Eu posso jurar que vi seus lábios dizerem meu nome sem emitir som.

Mas então as portas se fecham e tenho certeza que foi tudo imaginação minha.

Vocês estavam preparadas pra isso?

Não me matem, tem muuuuuuuita coisa pra acontecer ainda.

Mas por hoje é só.

Votem
Comentem
Compartilhem
E me sigam aqui e no Instagram
Meu perfil: stella.marques.autora
2bjs, môres♥

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top