Família

— Você pode ir dar uma volta se quiser. — digo a Zaac quando ele abre a porta do carro para mim.

— Eu estarei bem aqui, senhorita. — Zaac garante, sorrindo.

— Sabe, Zaac, você gosta demais do seu trabalho, estou começando a me preocupar.

Ele ri.

— É só que eu gosto de dirigir carros e o Sr. Devenport me deixa ficar com o carro quando não estou trabalhando, então não há motivos para eu não gostar do meu trabalho.

— Ainda é estranho.

Zaac voltar a ri, antes de fechar a porta. Me despeço dele e sigo meu caminho. Sei que ele não entra no carro até eu estar dentro de casa e que também não vai dar volta nenhuma.

Isso não me incomoda. Eu fico até aliviada, porque se eu discutir com minha mãe mais uma vez, Zaac estará bem ali para me levar embora.

São 17:00h e como não tinha nada para fazer na empresa, decidi que já estava na hora de visitar minha família.

Hoje pela manhã, antes de irmos para o trabalho, Dominic e eu passamos na delegacia para saber se haviam descoberto alguma coisa e informar das mensagens odiosoas em meu perfil. O policial amigo de Dominic acha que as duas coisas estão ligadas. Quanto o que aconteceu no estacionamento, ainda não conseguiram achar quem estava me seguindo e rastrear aquele site não levou a lugar algum.

Deixo esses assuntos para lá quando entro em casa.

— Abby! — meu pai fica feliz ao me ver e eu corro para lhe dar um abraço.

— Papai, estava com tanta saudade. — depois do que passei nos últimos dias, quero chorar ao vê-lo.

— Eu também, querida. Como você está? Dominic está cuidando bem de você? — meu pai me leva até o sofá e nos sentamos.

Dou risada, pensado nas formas que Dominic tem cuidado de mim.

— Sim, pai. Apesar de eu saber cuidar de mim mesma.

— Eu sei, meu bem, mas tenho que saber se ele está tratando você bem. Na verdade, isso me leva a outra pergunta... — papai está segurando minha mão enquanto parece pensar. Por fim, me encara. — Você ama o Dominic?

Começo a tossir. Por que as pessoas andam fazendo perguntas tão estranhas ultimamente? Quer dizer, você não chega em um casal e pergunta quando eles vão casar e você também não pergunta a sua filha se ela está amando um homem.

— Acho que isso responde minha pergunta — meu pai dá tapinhas na minha mão, rindo. — Venha, vamos beber um pouco de água.

Eu o sigo para a cozinha, limpando a garganta. Eu não respondi nada – e não pretendo – então espero que ele ache que a resposta é não.

— August, com quem você está falando? — a voz da minha mãe vem da cozinha, onde ela está com um avental, aparentemente tirando algo do forno.

Imediatamente, tomo consciência da roupa que estou vestindo: um terninho azul claro, mas ao em vez de calça, uma saia curta veste minhas pernas – ou metade delas.

— Oi, mãe. — tento soar agradável quando minha mãe nota minha presença.

— Abigail. Que surpresa você aqui. — não sei dizer se ela está feliz em me ver, mas com certeza desaprova minhas roupas.

— Não é? Agora que está namorando o Dominic, não tem tempo para nós. — meu pai diz em tom de brincadeira.

— Não é nada disso. Eu estive ocupada com o trabalho. — não estou afim de dizer a meu pai que não venho vê-los por causa da sua esposa.

— Então, o que veio fazer aqui? — minha mãe se volta para o que tirou do forno. Alguma torta, provavelmente de frango.

— Eu só vim. Não sabia que precisava de um motivo para vir aqui.

— E não precisa. — papai responde por ela ao me entregar um copo com água. Agradeço.

Minha mãe não tem tempo de dizer qualquer outra coisa rude, porque a porta que dá para os fundos se abre e uma garotinha com cabelos vermelhos passa correndo.

— Eu sabia que tinha ouvido sua voz! — Sarah se joga em meus braços e eu a pego no colo, quase quebrando minha coluna.

— Oh, Deus, como você está pesada! — dou risada, lhe abraçando.

Quando se afasta, noto que seu rosto está sujo de terra e ela provavelmente me sujou. Eu não ligo, mas não posso dizer o mesmo de minha mãe.

— Sarah! Olhe só para você está toda suja e sujando a casa. O que eu falei sobre isso? — minha mãe parece realmente brava e lembro que ela ficava exatamente assim comigo.

— Mas a minha mãe deixou. — Sarah cruza os braços, já querendo chorar. Eu beijo sua bochecha, murmurando para ela deixar pra lá.

— Sua mãe é uma irresponsável! Se você fosse minha filha, eu te daria umas boas palmadas!

— Mãe! — arregalo os olhos, querendo que ela cale a boca. Não há motivos para isso tudo.

— Não se meta, Abigail. Você vê sua família uma vez no mês, não sabe o que se passa nessa casa para querer dar palpite.

— Hayley, você está exagerando. — meu pai intervém.

— Eu não não preciso morar aqui para saber que tipo de comportamento é adequado para senhora ou o que faz quando não seguimos suas ordens.

Nós duas nos encaramos e eu sei que ela se lembra dos dias que me deixava de castigo ou me fazia limpar a casa até tarde da noite.

Me volto para Sarah, que está quase a beira das lágrimas.

— Vamos lá pra cima? O que você acha de um banho? — sorrio para ela, já lhe carregando para fora da cozinha.
Ouvimos papai e mamãe discutindo baixo, mas sei que mesmo que meu pai tente, nada pode mudar a minha mãe.

— Por que você não fica para o jantar? — minha sobrinha pergunta enquanto trança meu cabelo, depois de tomar banho.

— Eu marquei com outra pessoa. — termino uma trança no cabelo da sua boneca, começando a fazer outra.

— O seu namorado? Eu vi uma foto dele na revista que a mamãe comprou. Ele é bonitão.

Dou risada da forma que ela fala.

— Certo, certo, mas não conte isso ao seu pai, ele vai ficar ciúmes.

— Pode deixar.

Sarah continua trançando meu cabelo, e eu, o da sua boneca.

Depois que subi com Sarah e ela tomou banho, tentei distraí-la até Sabine chegar. Ela trabalha em um banco e meu irmão na joalheria da família, então quando eles não estão, Sarah fica com minha mãe. Vejo agora que talvez não tenha sido uma decisão sábia.

— Tia, posso te pedir uma coisa?

— O quê?

— Quando você tiver bebê, tem como ser menina? Aí quando ela crescer, eu vou poder pentear o cabelo dela também. Você deixa?

Pela milésima vez na minha vida, eu engasgo. Não sei se dou risada ou fico intrigada pelas pessoas de repente estarem me questionando sobre casamento, amor e filhos.

Pigarreio, lembrando que ela só tem dez anos.

— Não é assim que funciona, meu bem. Nós não escolhemos se vai ser menina ou menino.

— E quem escolhe?

— Deus.

— Aaaah. Minha mãe disse que quando a gente quer muito uma coisa, tem que pedir pra Deus, então vou pedir isso a ele.

Não destruo seus sonhos dizendo que não pretendo ter filhos.

Sabine me livra de mais conversas sobre bebês quando chega com seu próprio filho.

— Duas vezes em uma semana? Isso é carência? — minha cunhada me encara desconfiada ao entrar no quarto da filha, ainda com a bolsa do trabalho, usando seu uniforme e meu sobrinho em seus braços.

— Ah, sim. Eu não aguentei ficar longe de você — reviro os olhos, erguendo os braços para que ela me entregue o Louis. — Me dá aqui essa coisa gorducha.

— Não fale assim do meu filho. — me entrega o meu sobrinho e eu o suspendo no ar, fazendo ele rir.

— Mas ele gorducho, não é Louis? Quem é o gorducho da titia? Quem é? Hum?

A gargalhada dele nos faz rir, mesmo que Sabine ainda diz não gostar que eu o chame assim.

— Eu vou tomar um banho. Sarah, Fique de olho na sua tia.

Mostro a língua para Sabine, mas ela não vê.

— Dá para acreditar que ela não confia em mim? — pergunto a Louis, que está tentando apertar minha bochecha com sua mão gordinha.

Eu não sei se é possível uma criança se parecer tanto com a mãe quanto com o pai, mas é o caso do Louis. Ele tem os olhos e o queixo de Steve, mas o cabelo e o nariz da Sabine.

É o que tipo de criança que te faz querer ser mãe. Mas é apenas temporário, você muda de ideia quando ele gofa em você ou chora sem parar.

— Acho que o Louis quer que você fique para o jantar, tia Abby. — Sarah termina de fazer a outra trança em meu cabelo. Deve estar se desfazendo antes de eu ir embora.

— Você quer, gorducho?

Louis ri, mexendo os braços.

Entendo isso como um sim.

Quando descemos, evito falar com minha mãe. Eu realmente não quero discutir com ela e o melhor jeito para isso é ignorá-la. Patrick, que chega depois, percebe que tem algo errado, mas não diz nada. Nem meus outros dois irmãos.

Agora estamos na sala, eu convenci Patrick a fazer massagem nos meus pés enquanto Sarah mostra a dança que ela vai apresentar na escola. Nós rimos quando Steve dança com ela, mostrando que decorou a coreografia da filha. Isso é tão fofo que eu esqueço que meu irmão era um ogro antes de conhecer Sabine e eles terem a Sarah.

— Tia, dança com a gente. Eu te ensino! — Sarah pede, animada e eu sinto muito por decepcioná-la.

— Ah, querida, eu agradeço, mas sua tia está muito cansada. — estou deitada no sofá, a cabeça no colo de Philipe, enquanto Patrick faz massagem em meus pés.

— Você está parecendo uma idosa. — Jeff diz, sentado no braço do sofá, como se não conseguisse ficar longe do marido.

— Apenas na alma, querido, porque eu ainda continuo gostosa.

Os homens na sala reviram os olhos.

A campainha toca e Sarah sai correndo para atender. Steve senta ao lado da esposa, parecendo cansado. Ele não quis demonstrar isso na frente da Sarah e meu amor pelo meu irmão enche meu coração.

Infelizmente, esse momento de admiração acaba quando Finn entra na sala. Os risos cessam e a tensão no ar é tão densa que dá para cortar com uma tesoura.

— Boa noite. — Finn olha diretamente para mim ao dizer isso. Todos murmuram uma resposta.

Eu pigarreio, ficando de pé.

— Preciso fazer uma ligação. — aviso a ninguém em especial e saio da sala.

Eu não estava totalmente mentindo sobre a ligação, então tiro meu celular do bolso o ligo para Dominic. Eu não o avisei que não jantaria com ele e não é certo que ele fique me esperando.

Também quero apenas ouvir sua voz e não deixar que apenas a visão de Finn me leve de volta para aquelas lembranças.

— Você foi presa de novo? — Dominic pergunta do outro lado da linha. Dou risada enquanto ando pelo corredor.

— Não, mas considerando que minha mãe pode ter armado para que eu encontrasse Finn, acho que isso pode ser considerando uma prisão.

— Finn está aí? — apenas pela sua voz, sei que ele não está nada feliz com isso. Nem eu.

— Pois é — suspiro, entrando na salinha no final do corredor. Minha família geralmente usa isso como depósito e além de estar está escuro, há um monte de mobília e caixas. — O que você está fazendo?

— O jantar e pelo visto vou comer sozinho.

— Desculpe, a Sarah insistiu que eu ficasse. Eu não consigo negar nada aquela garota. — menos o negócio do bebê. Aquilo eu com certeza não vou poder realizar.

— Não se desculpe. Acho bom você passar um tempo com a sua família. Tirando o desgraçado do Finn.

Dou risada, porque concordo com ele.

— O que você está cozinhando? — abro uma caixa que está em cima de uma mesa e pela falta de poeira, alguém andou mexendo.

— Espaguete — ao fundo, ouço Lena latindo. — Está ouvindo isso? Ela está com saudade de você e eu também, então venha logo para casa, sim?

Casa. Será que ele se deu conta do que disse? É isso que aquele apartamento é para mim?

Deixo meus questionamentos e meu coração idiota para lá.

— O.K. Tente não morrer de saudade até lá.

Sorrio com sua risada antes de desligar.

Guarda o celular no bolso e retiro um porta retrato de dentro da caixa. Infelizmente, não é um foto da minha infância com meus irmãos ou algo do tipo.

Eu achei que tinha pedido para minha mãe queimar ou jogar fora todas as fotos do meu noivado com Finn, mas aqui está o registro do dia em que ele me pediu em casamento.

Foi aqui, nessa casa, durante um jantar. Eu soube mais tarde que minha mãe sabia, eu deveria ter percebido que ela estava muito animada. No momento que Finn fez o pedido, ajoelhado a minha frente com um anel de diamantes feito pelo meu próprio pai e fez a pergunta que muitas pessoas acham que toda mulher quer ouvir, eu não pude dizer não.

O fato de eu ter hesitado foi um sinal para eu recusar, percebi isso quando tudo foi pra merda, mas na hora achei que estava apenas nervosa. Não pensei que podia ser porque eu tinha 23 anos e não estava pronta para aquilo.

Eu nem sequer sei se realmente fui apaixonada por Finn. Ele foi a única coisa que minha mãe aprovou na minha vida, enquanto todo o resto da família discordava, até mesmo meu pai. Mas minha mãe convenceu todos que estávamos apaixonados (ela tinha nos pegado aos beijos na dispensa no Natal). Eu culpo a bebida por aquele infeliz incidente.

Encaro a mulher na foto, sorrindo enquanto o homem que a pediu em casamento lhe abraçava por trás. Estou me referindo a mim em terceira pessoa pelo simples motivo: a Abby da foto não é quem eu sou a agora, se é que um dia fui. Nem mesmo o Finn. Eu estava usando um vestido branco com saia rodada e de mangas, sem nenhum decote. Finn havia sugerido que eu usasse. "Por causa da sua mãe" ele havia dito. Eu percebi pouco tempo depois que ele também odiava meus vestidos curtos e roupas decotadas.

— Você estava tão linda nesse dia.

Me assusto com a voz dele, quase deixando o porta-retrato cair. Eu não percebi que ele tinha entrado.

— Você também está muito bonita hoje, a propósito.

Coloco a foto de volta na caixa e passo por ele. Não quero conversar...

Finn agarra meu braço, me obrigando a parar.

— Que porra você acha que está fazendo? — pergunto, me forçando a olhar em seus olhos castanhos.

— Você me ignorou lá fora. O que veio fazer? Ligar para o seu namoradinho? O homem lá fora já não é o suficiente? Você ainda tem que ligar para dar satisfações?

Odeio a forma como ele fala, como se Dominic fosse o tipo obsessivo.

— Não se preocupe, ele não é você — arqueio a sobrancelha, porque ele muito hipócrita. — Agora me solte.

Finn não se abalar pelas minhas palavras ou me solta. Minha raiva começa a fervilhar dentro de mim. Como eu pude pensar na possibilidade de me casar com ele?

— Eu não vi atrás de você para brigar, eu só... Eu fiquei sabendo do que aconteceu no estacionamento — seu aperto relaxa e sua mão sobe por meu braço. Eu não sei porque o estou deixando me tocar, se tudo dentro de mim está se revirando. — Fiquei preocupado com você.

Não caía nessa, Abby. Você não é mais aquela garota boba que aceitava qualquer tipo de atenção.

Afasto sua mão antes que ele toque meu rosto.

— Você e sua preocupação fingida podem ir para o inferno.

Mais uma vez, me afasto dele. Eu suspeitava que não chegaria até a porta, mas ainda fico com raiva quando ele me prende contra a parede.

— Me ouça, por favor.

Quando começo a mandar ele ir se foder, Finn põe sua mão contra minha boca, me calando. Ele também dá um jeito de segurar meus pulsos antes que eu lhe empurre.

— Eu não queria fazer isso assim, mas você precisa saber, Abby... Precisa saber que eu ainda te amo.

Paro de lutar, paralisada com essas palavras. Que porra ele tá fazendo?

Finn respira fundo, tomando minha desistência de lutar como sinal para continuar.

— Eu sempre vou amar você. Vejo agora que todo o tempo que ficamos juntos, que eu não tratei você como você merecia e lamento... lamento tanto, Abby — Finn apoia sua testa na minha, fechando os olhos. Eu continuo com os meus abertos, porém, me perguntando que maconha estragada ele andou fumando. — Eu preciso tanto de você, que seria capaz de qualquer coisa para te ter de volta. Você consegue entender isso?

Sim, Finn, eu estou começando a entender que você é um psicopata.

Seus olhos se abrem e ele me encara. Ele espera que eu responda com sua mão tapando minha boca?

— Eu voltei para essa cidade por sua causa. Eu não aguentei ver você com aquele merdinha e ficar longe. E eu não vou aguentar ficar sem você por muito mais tempo.

Certo, isso foi longe demais e estaria mentindo se dissesse que ele não está me assustando.

Me liberto de seu aperto e o empurro para longe.

— Você é louco.

Dessa vez, consigo sair sem que ele me segure, mas não demora muito para que esteja atrás de mim.

— Abby, espere, eu não terminei! — grita, tentando me alcançar.

— Eu já ouvi o suficiente. Você é louco, Finn e vai ficar longe de mim.

Quando apareço na sala, meus irmãos já estão vindo até nós, com certeza ouvindo a discussão.

— O que foi? — Steve pergunta. Eu já estou pegando minha bolsa.

— Estou indo embora. Eu não vou ficar debaixo do mesmo teto que esse psicótico.

— Abby, espere...

— Dê mais um passo e você descobrir o quanto dói um braço quebrado. — Patrick ameaça.

— Ou dois. — acrescenta Philipe.

— Vocês estão exagerando. Abby e eu estávamos apenas conversando. — Finn olha para mim, como se eu fosse concordar com alguma coisa que sai da sua boca.

— Conversando? Você chama me colocar contra a parede e me incapacitar, de conversa?

— Você estava indo embora...

— E isso justifica você me agarrar contra a minha vontade? — eu com certeza estou incrédula agora. Ele nem mesmo tenta negar.

Finn não tem chance de dizer mais nada, porque Steve já está lhe socando a cara.

— O que nós falamos sobre como você trata a nossa irmã?

Nenhum dos meus outros irmãos se move para impedir Steve de agarrar Finn pela gola da camisa. Sabine já subiu com Sarah e eu odeio que minha sobrinha tenha presenciado isso.

— O que está acontecendo aqui? — meu pai, que acabou de chegar, observa a cena sem entender.

— Finn prendeu a Abby no quarto no final do corredor. — Patrick responde, a raiva estampada em seu rosto. Parece que ele está pensando em onde dará seu golpe.

— Isso é verdade, Finn? — minha mãe também se junta a nós e eu não deveria ficar surpresa por ela duvidar que seu sobrinho querido tenha feito isso.

— A Abby disse... — Phillipe começa, franzindo as sobrancelhas para a nossa mãe, mas ela o interrompe.

— Sua irmã tende a aumentar as histórias. Quero ouvir da boca de Finn. Isso seria mais fácil se você o soltasse, Steve.

Os três encaram minha mãe, sem entender. Já eu não mostro tanta supresa. Ela não quis acreditar em mim quando contei que Finn me bateu, porque acreditaria que ele me encurralou, dentro de nossa própria casa?

E ainda assim, dói.

Começo a rir. Não é a risada calorosa que todos estão costumados. É seca e carregada de dor.

— Você sente prazer nisso, não é? Em me humilhar? — pergunto a Heyley.

— Eu só quero saber os dois lados da história, Abigail.

— Você também pergunto o lado da história dele por ter me batido?  — cuspo a última palavra, cada parte minha se encolhendo.

Ninguém fala.

— Qual foi a justificativa que ele te deu, mamãe? Ele disse que eu mereci? A senhora com certeza deve ter concordado, não é? Eu lembro muito bem das suas punições. Pensando bem, o que Finn fez não é nada comparado ao que você fazia comigo.

— Do que ela está falando, Heyley? — meu pai pergunta, ouvindo isso pela primeira vez.

— Você quer contar, mamãe? Ou eu faço isso? Está com medo que eu aumente a história?

— Cale a boca. — minha profere. Pelo canto do olho, vejo Phillipe se sentar, como se só depois das palavras de nossa mãe, ele acreditasse. Eu não me magoou com isso, ela sempre foi boa com ele e os outros.

— Ou o que, mamãe? Você vai me mandar limpar a casa até eu não sentir mais meus braços? Não, não... Talvez você queira que eu limpe as escadas três vezes porque você gosta do verniz brilhando, certo? Talvez você queira usar o cinto do papai. Ou vai me prender no sótão?

— Eu só fiz isso uma vez.

— Meu Deus. — acho que Patrick também não estava acreditando até agora.

— Você quer que eu me desculpe por tentar educar você? — a mulher que me criou não parece nem um pouco abalada, mesmo com seus filhos olhando-a como se nunca a tivesse visto.

— Então você vai dizer que sempre me tratou assim pelo meu bem?

— Essa é a verdade, mas pelo visto, eu não te castiguei o suficiente já que você se tornou a vergonha dessa família.

Eu não devia me encolher com suas palavras, porque já as ouvi antes, mas nunca com testemunhas.

— Finn foi a única escolha certa que você fez na vida e a jogou no lixo logo depois. Eu o aconselhei a não desistir de você tão fácil, mas vejo agora que é uma perca de tempo, porque ele merece alguém melhor do que você.

— Heyley... — meu pai também não parece reconhecer a mulher diante dele.

Enxugo lentamente as lágrimas que molham meu rosto. Olho para o teto, respirando fundo. Eu não sei o que esperava que ela dissesse quando eu a confrontasse na frente de todo mundo, mas vê-la admitir é pior que tudo.

Encaro Heyley.

— Se um dia eu tiver um filho, nunca vou fazê-lo se sentir um nada como você fez comigo a vida toda. Se um dia eu tiver um filho, não vou lhe diminuir pelas suas escolhas ou obrigá-lo a ser qualquer coisa que não seja ele mesmo — tomo uma respiração irregular, me esforçando para dizer as próximas palavras: — Se um dia eu tiver um filho, mãe, ele nunca vai te conhecer e eu nunca mais quero olhar na sua cara de novo.

Ninguém me impede quando saio da casa sem olhar para trás.

Mais um capítulo aí pra vcs!

Confesso que fiquei com dó da Abby 💔

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2bjs, môres♥

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