Epílogo

Três anos Depois

    Solto um suspiro ao entrar em casa. Eu não queria admitir, mas talvez ficar "zanzando" pela cidade não seja um boa ideia. Mas o que posso fazer se tenho três lojas para controlar? Não que eu não confie nas duas gerentes, mas simplesmente fico ansiosa para saber se tudo está indo bem.

Quando sonhei com a minha boutique, nunca pensei que, três anos e meio depois, eu teria aberto mais duas lojas depois que Dominic me presenteou com aquela que tornou tudo possível. Porque é real, agora eu sou uma empreendedora, tenho uma rede de lojas de roupa e se tudo der certo, continuará crescendo.

Eu ainda preciso criar uma rotina que não me deixe tão cansada. A ideia inicial era que eu gerenciace pessoalmente apenas uma das lojas, mas como eu disse, acabo indo fazer uma visita nas outras todos os dias e não uma vez na semana, como eu deveria.

Eu preciso de um banho bem demorado e uma massagem nos pés. Acho que a palavra acabada seria perfeita para como estou me sentindo agora. Não me importaria de dormir agora mesmo...

— Mamãe!

Apesar do cansaço e todo o resto, abro um enorme sorriso quando Christian vem correndo até mim enquanto segura sua mantinha azul.

— Oi, meu amor. — Lhe pego no colo, ignorando o protesto do meu corpo. — O que você está escondendo aí?

Christian está tapando a boca com as mãozinhas, mas dá para ver pelos seus olhos azuis - como os do pai - que ele está sorrindo.

Semicerro os olhos.

— Christian Walker Davenport, o que você está escondendo? — Aperto seu nariz, fazendo-o rir. O som faz meu peito aquecer.

— Papai me deu pilulito — diz ao abaixar as mãos, revelando a língua azul.

— Parece que eu vou ter que colocar seu pai de castigo. — Balanço a cabeça, andando com ele. Deixo minha bolsa no sofá enquanto vou para a cozinha de onde está vindo um cheiro delicioso.

Ponho Christian no chão, lhe dando um beijo na testa.

— Pirulito antes do jantar? — pergunto, indo até o homem de costas para mim no fogão.

— Foi apenas um. — Dominic olha para mim por cima do ombro, sorrindo.

Eu não poderia pedir nada mais que isso, dou-me conta. Chegar em casa e receber sorrisos das duas pessoas que eu mais amo? Isso foi algo que eu nunca sonhei antes de conhecer Dominic, mas sou grata hoje.

Passo meus braços por sua cintura, apoiando o queixo em seu ombro e espiando o que ele está fazendo.

— Camarão?

— Sim — responde, orgulhoso. — Você parece exausta.

— Você nem olhou para mim direito — defendo-me, mesmo que uma parte de mim fique admirada com como ele me conhece.

— O suficiente para saber que você não deve estar se aguentando em pé. — Dominic mexe na panela mais um pouco antes de virar para mim.

— Não sei de onde você tirou isso, eu estou totalmente disposta. — Dou de ombros, claramente mentindo ao passado as mãos por seus ombros enquanto as suas próprias seguram minha cintura.

— Já que é assim, não vai precisar que eu prepare um banho e lhe faça uma massagem. — O filho da mãe arqueia a sobrancelha, me provocando.

— Não foi isso que eu disse — murmuro, inclino-me para perto dele e beijo seus lábios, passando a mão por seu cabelo. Está um pouco mais comprido, alcançando a nuca e eu não posso dizer que não gosto.

— Mamãe — Christian puxa meu vestido e eu olho para baixo, para ele. Mesmo depois de três anos, ainda tenho vontade chorar toda que ele me chama de "mamãe". — Você vai blincar comigo agola?

Eu prometi a ele quando saí para trabalhar, que brincaria quando chegasse. Dominic estava certo e estou exausta, mas nunca quebro uma promessa que fiz ao meu filho, por isso sorrio, pegando-o no colo outra vez.

— Claro que sim. Do que você quer brincar?

— Mamãe, não tá plestando atenção! — A voz de Christian me faz abrir os olhos, piscando rapidamente.

— Quem disse que não estou prestando atenção? — faço pouco caso quando na verdade estava sonhando com unicórnios e roupas. Não tem sentindo, eu sei.

Christian me entrega uma peça do seu brinquedo de montar e eu finalmente o ajudo, tentando não cochilar no processo.

Uma das melhores partes do meu dia é ficar com ele. Durante a semana, as manhãs e a noites são as horas que mais passamos juntos. Dominic e eu saímos para trabalhar às 09h e Christian fica com a babá até algum de nós chegar às 18h. Geralmente — sempre — é Dominic. Ele me pega no trabalho às vezes, principalmente às quintas e terças.

Acabô! — Christian bate palmas, sorrindo por ter terminado de montar o que quer que isso seja. Está entre um cavalo e... Eu prefiro não opinar.

— Uau, mandou bem. Que tal irmos jantar agora? — Aperto seu nariz. Dominic já deve estar terminando.

Christian balança a cabeça, se jogando em cima de mim.

Ps: eu estou deitada no chão.

Quelo blincar com a mamãe — diz, jogando meu cabelo pelo meu rosto.

— Você precisa comer, mocinho. E sabe por quê? — Faço cócegas em sua barriga. Sua risada me faz sorrir.

— Ficar fote! — Christian faz uma pose tipo Hulk, mostrando seus "bíceps".

Dou risada. É a cara de Dominic ensinar isso a ele.

— Isso mesmo, espertinho — digo depois de me controlar. — Você precisar ficar forte.

— Eu quelo ficar fote! Eu quelo ficar fote! — Christian sai correndo, punhos erguidos.

Balanço a cabeça e fico de pé, indo atrás dele.

Nossa casa faz eu sentir como se eu morasse na própria casa dos Cullen, com paredes de vidro e zero privacidade, mas considerando que a casa mais próxima da nossa fique à quilômetros de distância, não é necessário.

Passo por uma dessas paredes, vendo o jardim lá fora. O tempo está bom e espero que fique assim até domingo para podermos fazer nosso piquenique. Christian adora e às vezes Dominic monta uma barraca lá fora para passamos a noite contando histórias e comendo besteira.

Chego a cozinha, porque só usamos a sala de jantar para coisas formais, como ano passado quando Liam trouxe sua noiva, Jude, para conhecermos. Ela é adorável, aliás, e eles parecem se amar. Pelo menos os olhares apaixonados diziam isso e eu fiquei tentanda a tirar Christian da mesa porque Liam mal parecia se conter. Estou feliz por eles, Dominic também e regularmente saímos para fazer algo de casal.

Falando em casal, Karen está grávida (inseminação artificial, é claro). É muito fofo ver Beatrice cuidando dela e aguentando suas alterações de humor (ela disse que é culpa dos hormônios).

Isso naturalmente me leva a outra coisa: Patrick é pai. Isso mesmo. Quando voltamos de Paris, ele contou que se envolveu com uma moça, Iris, e resultou na linda Audrey de cabelos encaracolados e olhos verdes como os da mãe.

Já que estou falando dos casais dessa família, não posso deixar meus outros dois irmãos e seus pares de fora.

Steve e Sabine estão bem, Louis e Christian são melhores amigos, eu diria, mesmo meu sobrinho sendo um ano mais velho. Sarah é a garota mais inteligente da sua turma e ainda me considera a melhor tia do mundo (talvez porque eu dei dinheiro a ela escondido uma vez para ir ao parque com o menino que ela gosta). Sabine e eu ainda somos inseparáveis e Steve continua implicando com Dominic.

Phillipe e Jeff ainda são o casal mais sensato da família, acabaram de voltar de uma viagem da África com Zyan durante as férias de verão. O garoto é um gênio da matemática e assumidamente fã da Marvel e eu fico zoando ele porque seu herói preferido antes era o Super-Choque.

Papai, assim como meus irmãos, ainda não perdoou mamãe, mas a sua decisão por outro lado se tornou decisiva e permanente quando ele se divorciou dela. Mamãe por sua vez foi para a casa de parentes na Flórida e eu espero de todo o coração que ela esteja bem.

O cheiro delicioso da comida vem até mim e eu suspiro.

— Isso parece delicioso — digo. Dominic está com Christian no colo enquanto põe os pratos na mesa. — Já lavou as mãos, mocinho?

— Sim! — Ele mostra suas mãozinhas para mim e eu o pego do colo do pai para colocá-lo na própria cadeira.

— Muito bem.

Você não lavou as mãos — Dominic acusa.

— Eu já estava indo fazer isso, ok? — Belisco sua bunda ao passar por ele.

O jantar corre bem, Christian finalmente fazendo uma refeição completa. Ele tem tido dificuldade para comer, recusando os legumes e as verduras, mas hoje transcendeu tudo bem.

— Você já sabe quando vai tirar férias? — pergunto a Dominic enquanto ainda jantamos.

— Não. Com Karen prestes a ter bebê, Beatrice ficará fora por um tempo e até acharmos alguém para cobrí-la, Liam e eu teremos que fazer isso.

Anuo. Tiramos férias todo ano ao mesmo tempo para que possamos viajar. Há dois anos fomos para Veneza e ano passado para Barcelona. Esse ano estávamos pensando em algo mais perto, como a Disney para podermos levar Christian com a gente.

Terminamos de jantar e infelizmente hoje é o meu dia de lavar louça, então Dominic colocará nossa filho para dormir.

Dou um beijo em Christian, murmurando um boa noite e lembrando-o de escovar os dentes direito.

Após Dominic o levar, entro em ação.

Meia hora depois, meu marido volta quando já estou terminando.

— Em qual capítulo vocês pararam? — pergunto. Dominic e eu temos lido Percy Jackson para Christian depois que Phillipe fez isso uma vez há alguns meses quando Christian foi passar o final de semana lá.

— Dezoito.

Anuo, secando minhas mãos.

— Vou tomar um banho e já volto — digo a ele, dando-lhe um beijo. — Então podemos maratonar alguma série ruim.

— Você não estava morta de cansada? — Ignoro seu olhar desconfiado.

— Desço em quinze.

Exatamente quinze minutos depois estou descendo as escadas, tomada banho, cabelo úmido, vestindo uma camisola de seda.

Dominic está sentado no sofá, relaxado enquanto bebe vinho, sua atenção focada na TV no painel na parede, acima da lareira. Uma garrafa de vinho e uma taça estão na mesa de centro, a qual ele descansa os pés.

Dominic deixa a taça de vinho de lado e me puxa em sua direção assim que eu me aproximo, então eu monto em seu colo.

— Oi — digo.

— Oi — repete, semicerrado seus olhos azuis para mim. — Você está estranha, o que foi?

— Você é observador demais para o próprio bem. — Seguro suas mãos, fugindo da pergunta mesmo quando quero muito responder, só não sei como.

— Talvez um pouco de vinho para te fazer relaxar? — Dom parece que vai colocar vinho para mim, mas eu o impeço.

— Eu vou precisar cortar o vinho e outras bebidas alcoólicas por um tempo. — Brinco com seus dedos, sorrindo.

— Você recusando vinho? — Dominic arqueia a sobrancelha. — Pelo o que eu me lembre, a última vez que isso aconteceu...

Quando ele para de falar, ergo os olhos, mas os seus estão focados em seus dedos coberto pelos meus, pressionados contra minha barriga.

— Abby... — Sua respiração fica intensa, os olhos arregalados.

— Sim — sussuro, meus lábios esticados em um sorriso que mal cabe em meu rosto.

— Nós vamos ter um bebê. — Dom me encara, seus olhos brilhando e definitivamente são lágrimas neles.

— Sim, sim, sim...

Dominic fica de pé, me levando consigo, girando nós dois como costuma fazer, eu percebi ao longo dos anos, quando tem uma explosão de felicidade que não consegue controlar. É uma das muitas coisas que amo nele.

— Puta merda, eu vou ser pai de novo! — diz, praticamente gritando, entre me beijar e me abraçar.

Eu descobri há uma semana que estava grávida de dois meses. Por mais que tenhamos concordado em "aumentar o nosso time", estávamos nos estabelecendo primeiro e acredite ou não, isso levou três anos porque não queríamos fazer isso às pressas, estávamos mobiliando nossa casa, cuidando das nossas carreiras, o Christian... Mas finalmente chegou a hora.

— Quantas semanas? — questiona, uma hora depois, nós dois deitados em frente a nossa lareira. Não preciso dizer que não estamos vestindo nada agora, certo? Deus queira que Christian não acorde e nos pegue aqui.

— Oito. — Observo sua mão fazendo círculos em minha barriga.

— Você acha que é menino ou menina? — Ele está deitado ao meu lado, o rosto apoiado no punho, um sorriso sonhador nos lábios.

— Menina. — Dou uma risadinha.

— Eu acho que é menino. Vamos fazer uma aposta?

— Definitivamente não.

Seis meses depois

— Você vai lavar a louça por um mês — digo a Dominic, na sala da obstetra.

É uma menina. Nós teremos uma menina. Eu amaria esse bebê se fosse menino, de qualquer forma, minha emoção ainda seria a mesma, eu ainda estaria chorando agora, emocionada.

Já poderíamos ter descoberto o sexo do bebê antes, mas pensamos em esperar, como se a gravidez já não fosse emocionante o suficiente. Em algum momento da semana passada eu não aguentei, então combinamos que na próxima consulta iríamos descobrir.

Depois de toda a rotina da consulta, de sabermos que está tudo bem com a nossa bebê, saímos do consultório.

— Eu sei que hoje é quinta, mas podemos jantar em casa? — pergunto a Dominic antes de entrarmos no carro. Estou com uma mão na barriga e a outra na coluna, uma "pose" muito constante ultimamente.

— Claro. Você está mesmo se sentindo bem? — Dom passa a mão em minhas costas, ainda segurando minha bolsa no ombro.

— Sim, só preciso de um pouco de sorvete.

Meu marido ri, beijando minha testa.

— Certo, vou providenciar isso.

Ele me ajuda a entrar no carro depois, mesmo não precisando pois eu estou grávida, não virei uma velinha que precisa de ajuda (com todo respeito as velhinhas).

Grávida de oito meses, não vou dizer que tem sido tudo as mil maravilhas. Pelo menos vinte e cinco por cento do tempo eu passo chorando por qualquer coisa, o que me irrita; preciso fazer xixi mais vezes do que já fiz em toda a minha vida porque todo líquido que eu consumo parece ter que sair imediatamente; os enjôos pararam nos primeiros meses, mas ainda não suporto comer panqueca; sem contar minhas roupas que não cabem mais em mim há um tempo.

Pegamos um engarrafamento terrível e não ajuda que a bebê esteja dando cambalhotas. Dominic fica acariciando minha barriga, murmurando músicas. Sem surpresa, isso a acalmar, assim como a mim também, que cochilo o resto do trajeto.

Quando chegamos em casa, não demora muito para a babá ir embora também, ficando apenas nós três. Nós quatro.

Encontro Christian brincando com Lena na sala... ou brigando. Não sei quem está ganhando essa luta, mas com certeza a manta azul de Christian sairá perdendo já que seu dono está puxando de um lado e Lena do outro.

— Lena, não! — Christian continua puxando e Lena continua rosnando.

É um espetáculo e tanto, melhor do que MMA e eu poderia deixar os dois continuar para ver quem ganha, mas se essa manta rasgar, será uma dor de cabeça e tanta pelo simples fato de Christian não viver sem ela.

— Os dois, parem já — mando, tirando minhas sapatilhas. Desço os três degraus para a sala e Lena solta a manta, fazendo Christian cair de bunda no chão. — Malvado, Lena, muito malvado.

— Lena é mal! — Christian faz bico, olhando feio para a sua amiga de banheira (eu nunca vi uma cachorra gostar tanto de tomar banho quanto Lena gosta de fazer isso com o garotão ali no chão).

Ajudo ele a ficar de pé, mas não me arrisco a pegá-lo no colo, não se eu não quiser virar a Bella em 'Amanhecer part 2' e entortar a minha coluna. Então conduzo Christian para o sofá comigo e ligo a TV para assistir "Hora da Aventura".

Dez minutos depois Christian e Lena fazem as pazes e ela deita a cabeça no colo dele.

Dominic já está fazendo o jantar.

Tudo está correndo bem.

Não está correndo nada bem.

Quando me viro na cama pela quinta vez, Dominic ascende o abajur.

— Qual o problema? Não está se sentindo bem? — Ele passa a mão pela minha testa, a outra em minha barriga.

— Eu virei uma bola e não consigo achar uma posição confortável — murmuro, olhando para o teto.

Dominic sai da cama por alguns segundos, voltando com aquelas travesseiros grandes que nunca usamos.

— Deite do seu lado esquerdo — diz. Faço isso. Dominic põe o travesseiro na lateral do meu corpo. É grande o suficiente para eu poder seguir suas instruções, colocando uma parte entre minhas pernas, a outra embaixo da minha barriga e um extra sob minha cabeça. — Está melhor assim?

Penso um pouco, percebendo que posso dormir confortavelmente assim.

— Sim, obrigada. — Suspiro, minhas pálpebras ficando pesadas.

— Você quer mais alguma coisa? — Dom deita de frente para mim e sinto sua mão em minhas costas momentos depois, subindo e descendo.

— Não — murmuro, me aconchegando mais um pouco... — Talvez uma massagem nos pés seja legal.

Meu marido ri e eu sorrio, ainda de olhos fechados. Não demora muito para que eu sinta seus dedos em meus pés.

Algumas semanas depois

Fomos a aulas de parto, estávamos preparados para isso, sabíamos como tudo aconteceria, tivemos diversas conversas com a obstetra, Lins, que nos garantiu que tudo apontava para ocorrer bem.

Mas nada disso importa agora quando parece que algo está me dilacerando de dentro para fora, rasgando minha pobre vagina. Aliás, quem inventou que vaginas são feitas para saírem bebês? Pelo amor de Deus, tem um bebê saindo de dentro de mim!

— Vamos, querida, você consegue. — Ouço Dominic dizer ao meu lado, enxugando minha testa com um pano.

Se você me chamar de querida de novo, eu vou chutar a sua bunda — ameaço, apertando seus dedos enquanto faço força.

— Estamos quase lá, Abby — Lins levanta o polegar para mim. "Estamos" como se fosse ela que estivesse com as pernas abertas e com um ser humano saindo de dentro dela.

— Eu não aguento mais! — choro, porque a noite já virou dia e a bebê não sai.

— Apenas mais um pouquinho, ok? — Dominic tenta me acalmar como tem feito desde a hora que a bolsa estourou.

— A culpa... — Empurra. — É. — Empurra. — Sua! — Empurra. Tomo respirações rápidas, ainda esmagando seus dedos. — Você me engravidou, você deveria estar aqui.

— Eu trocaria de lugar com você com prazer, amor.

— Eu te odeio. Pare de dizer coisas fofas quando sua filha está lutando tão fortemente para se manter dentro de mim.

— Deveria ser algo bom, né? Significa que ela gosta muito de você, hein, se quer continuar aí dentro.

Lanço a ele um olhar misturado com descrença e sede de sangue e com certeza vou matá-lo por causa das suas piadinhas.

— Bebê à vista! — Lins exclama. — Faça força, Abby. Isso aqui não é um exercício, você pode fazer melhor do que isso.

Eu odeio essa mulher. Isso é totalmente oficial. Eu vou matá-la. Enquanto faço força, penso em todas as formas de...

Respiro fundo quando sinto o alívio e em seguida um choro histérico e agudo preenche o ar.

— Eu disse que você conseguiria. — Dominic beija minha têmpora quando relaxo na cama de hospital.

Um exame rápido é feito na bebê pela pediatra. Tenho uma vaga noção da placenta sendo retirada, mas meus olhos estão no pacotinho nos braços da doutora.

A pediatra finalmente a entrega para mim e eu já estou chorando de novo ao ter minha filha em meus braços.

— Ela é linda — Dominic diz e há um sorriso em sua voz.

— Ela é... e tão pequena — sussurro, meu coração transbordando de amor ao encarar seu rostinho, olhinhos azuis escuros olhando de volta.

— Emory Peterson Davenport — a voz de Dominic também é baixa e eu olho para ele, vendo as lágrimas em seu rosto.

— Ela também tem os seus olhos. — Dou risada em meio as lágrimas.

Dominic me beija rapidamente.

— A próxima ou próximo podem herdar os seu — diz.

Definitivamente dou risada agora.

— Pode ir sonhando.

Volto-me para Emory e nós dois sorrimos maravilhados para nossa filha.

Cinco anos depois

    Encostado no capô do carro, já notei quatro olhares na minha direção, de pessoas que parecem nunca ter me visto aqui. Abby diz que talvez se eu parasse de vir buscar nossos filhos na escola parecendo um agente do FBI, as pessoas não olhariam tanto.

De óculos de sol, terno e encostado na BMW preta, acho que ela pode estar certa, mas venho direto do trabalho, então não posso fazer muito a respeito disso além de ignorar os estranhos — algo que eu sempre faço, na verdade.

Checo meu celular quando o mesmo vibra.

Abby: Pegou eles?
Dominic: Esperando. McDonald's hoje?
Abby: Por favor. Preciso comer algo gorduroso ou vou morrer.
Dominic: Você vive comendo porcarias, querida.
Abby: Mas não comi porcarias nas últimas vinte e quatro horas, isso é um recorde!!!!!
Dominic: De fato. Está se sentindo bem para isso?
Abby: Sim, contanto que eu fique sentada e você role meu corpo pelo chão depois que eu comer tudo o que eu puder.
Dominic: Vou levar um guincho pra você.

Ergos os olhos quando o sinal do colégio toca e parece que as portas do inferno são abertas porque um monte de crianças saem correndo prontas para atacar seus pais. Felizmente sou um deles e as minhas pestinhas já estão correndo também.

Dominic: Crianças vindo. Chegamos em 20.
Abby: Ok <3.

Guardo o celular e sorrio para Christian e Emory.

— Papai! — a última grita, de mãos dadas com o irmão.

Abraço os dois, dando um beijo em cada.

— Como foi a escola? — Pego suas mochilas e abro a porta do banco de trás para os dois.

— Foi legal. Sabia que o Christian tá namorando? — Emory conta enquanto ponho o cinto de segurança nela. Seu cabelo comprido está se soltando da trança e ela parece que saiu de um tobogã, as bochechas vermelhas e dois dentes faltando.

— Não tô nada! — Christian rebate, olhando feio para a irmã. Checo o cinto de segurança dele também, mas ele já colocou certo.

— Tá sim! Eu vi você dando flores pra Louisa Margareth!

— Você não viu nada!

— Vi sim! Christian tá namorando! Christian tá namorando! Christian tá namorando! — Emory começa a bater palmas, gritando para quem quiser ouvir.

— Argh! Eu te odeio! — Christian tampa os ouvidos, ficando vermelho.

— Christian, não diga essas coisas a sua irmã. Emory, pare de abusar seu irmão. Agora.

A pequena para com a gritaria, mas seu irmão a ignora, olhando pela janela ainda mais vermelho que antes. Eu escondo um sorriso porque sou o adulto da situação e fecho a porta.

Ponho as mochilas dos dois no porta malas e finalmente entro no carro.

— Então, se comportaram bem hoje? — Ligo o carro, dando partida.

— Sim, então posso comer sorvete extra depois do jantar? — Emory pergunta, a espertinha. Com cinco anos de idade vive nos querendo passar a perna.

— Vou pensar nisso, espertinha. Christian? — Olho para o garoto de oito anos de relance pelo retrovisor.

— A professora gostou do trabalho de ciências. Mamãe mandou bem. Ela merece sorvete extra também.

Sorrio.

— Ela vai gostar de saber disso.

Chegamos em uma das lojas, à qual fica perto de um dos shoppings da cidade. Com o passar dos anos, a rede de lojas de Abby foi se expandindo e hoje ela tem sete, duas destas em Tacoma, cidade vizinha de Seattle.

Eu estou muito orgulhoso dela e lhe digo isso com frequência. Parei de tentar discutir quando ela continuava pagando pela primeira loja, então fizemos um acordo: o dinheiro iria para a poupança das crianças. Foi um bom acordo.

— Esperem um minuto — digo para as crianças em questão. Viro-me para eles no banco do motorista. — O que nós conversamos sobre a mamãe?

— Que não devemos deixar ela estressada ou chateada — os dois dizem em unissoro.

— Exatamente. Então façam as pazes. Ela não vai gostar de saber que vocês brigaram. — Olho para os dois, que parecem pensar sobre o assunto. Eles nunca ficam brigados por muito tempo, de toda forma. São os irmãos mais inseparáveis que eu já vi, mesmo com a diferença de idade entre eles.

Emory roe as unhas enquanto olha hesitante para o irmão.

— Desculpa por ficar falando da Louisa Margareth — a mais nova diz primeiro, oferecendo o dedo mindinho.

— Desculpa por dizer que odeio você, não é verdade. — Christian aceita a oferta de paz da irmã, entrelaçando o próprio mindinho no dela.

Pronto. Melhor do que a Guerra Fria.

— Muito bem. Podem ir.

Os dois saem do carro correndo, coisa que eu já avisei para não fazerem.

Saio do veículo também, deixando meu blazer lá dentro com meus óculos preto. Christian e Emory já invadiram a loja e eu sorrio ao seguir seus passos.

Não está tão cheio, no máximo dez clientes além das funcionárias estão circulando pelas seções diferentes de roupa. Dou boa noite a todos ao passar.

Abby está sorrindo, linda como sempre com um vestido cor nude que vai até os joelhos e cobre seus braços completamente. Seu cabelo — da mesma cor que o de Emory — está no comprimento de sempre, no meio das costas, assim como sua fiel franja.

Ela está falando algo com nossos filhos, bagunçando o cabelo, agora loiro escuro, de Christian, quando ergue os olhos para mim. Seu sorriso fica maior, os olhos castanhos-esverdeados brilhando. Meu coração responde, acelerando suas batidas enquanto eu devolvo o sorriso, mais do que feliz em vê-la.

— Oi — diz.

— Oi — respondo.

Dou um beijo rápido nela, ouvindo Emory soltar um "Eca, germes", o que faz nós dois rir.

— Como vão as minhas garotas? — Passo a mão por sua barriga de oito meses e três semanas.

— Eu vou muito bem, obrigada! — Emory responde antes que sua mãe possa.

— Ele não está falando de você. Dãã! — Christian revira os olhos azuis escuros.

— Estamos ansiosas por comida — Abby diz antes que Emory e sua língua afiada intervenha outra vez.

— Nós também — os pirralhos dizem juntos.

— Então vamos. Quero ver quais brinquedos tem no McDonald's hoje — Abby conta alegremente. Pego sua bolsa e seu casaco atrás do balcão enquanto Christian diz:

— Mamãe, você não tem mais idade para brincar com aqueles brinquedos.

— Você acabou de chamar sua amada mãe de velha? — Abby finge estar horrorizada, colocando um braço e depois o outro no caso que mantenho estendido para ela.

— Isso não se faz, Chris — a pequena Emory diz. — Mulheres não gostam de ser chamadas de velhas.

— E o que você sabe sobre isso? Ainda é um bebê! — seu irmão retruca.

— Isso não é verdade!

— É sim, você é um bebezão!

Balanço a cabeça, pensando se me precipitei em chamar isso de Guerra Fria.

— Crianças — advirto, ajeitando o casaco de Abby. — Ninguém vai ganhar sorteve extra desse jeito.

Eles se calam na mesma hora.

— Chantagista — Abby murmura apenas para que eu ouça.

Pisco para ela.

— Como você acha que eu mantenho eles na linha? — pergunto com um sorriso.

Ela balança a cabeça, virando para dar tchau as funcionárias que ficarão para fechar a loja.

Saímos de lá pouco depois, as crianças na frente, Christian segurando a mão da irmã e conversando civilizadamente enquanto vamos atrás, de mãos dadas também.

Abby e eu falamos sobre nosso dia, sempre mantendo os olhos nos dois que vão apenas alguns passos a nossa frente. Minha esposa mantém a mão na barriga, enquanto falamos, um sorriso em seu rosto o tempo todo.

Descobrimos sobre a gravidez no primeiro mês quando ela desmaiou em uma das lojas. Eu fiquei assutado pra caralho, mas quando cheguei para vê-la, estava chorando e balbuciando que teríamos outro bebê. Eu com certeza acordei até quem estava em coma com a minha comemoração.

Meses depois descobrimos que era menina, para a felicidade de Emory que pulou de alegria. Christian também ficou feliz, mas disse claramente que preferia que fosse menino.

— Minha mãe disse que chegará no próximo mês — conto quando entramos no shopping. Lauren Davenport está em um cruzeiro com seu novo namorado, mas disse que voltaria para ajudar nas primeiras semanas que Abby desse à luz.

— Acho que a Ruby chega antes. — Abby está enrolando uma mecha do cabelo em seu dedo, parecendo pensativa.

— Eu não tenho dúvidas sobre isso. É só olhar para você, parece que vai dar a luz à qualquer momento. — Balanço a cabeça. Tivemos essa conversa ontem, com eu  dizendo que ela precisa parar de trabalhar, e ela se recusando a fazer isso porque ainda faltam algumas semanas para o parto.

— Você é muito chato.

— Você é muito teimosa.

Abby dá de ombros, levando isso como um elogio, com certeza.

Chegamos ao McDonald's e ela praticamente se joga no assento acolchoado atrás da mesa.

— Me contem alguma novidade, vamos — pede aos nossos filhos. — Algum coleguinha perdeu o dente? Levaram coisas aleatórias para a escola?

— Chris tá namorando a Louisa Margareth — é claro que Emory voltaria para seu mais novo assunto preferido.

— Eu não estou! — Christian volta a ficar vermelho. Abby e eu nos entreolhamos.

— Você deu flores a ela, Chris. Garotos fazem isso quando gostam de garotas!

— E nenhum garoto vai fazer isso para você, porque não gostarão de você!

E lá vamos nós...

Alguns meses depois

Se me perguntarem qual meu dia preferido da semana, eu direi que é domingo, sem hesitar e não serei o único. Com os piqueniques que fazemos regularmente nesse dia da semana, não há como não ser.

Há uma árvore em específica em nosso quintal, onde forramos um lençol nas sombras e distribuímos as guloseimas.

Estamos aqui agora, Abby com a cabeça deitada em meu colo enquanto permaneço encostado no tronco da árvore. Nós dois observamos Christian e Emory jogar bola com Lena. Ao meu lado, Ruby está com sua chupeta, na cadeira de descanso.

Ela tem os olhos de Abby, castanhos e verdes, com cabelo escuro. Outro dia comparamos uma foto de Abby quando bebê, com Ruby agora. Idênticas seria eufemismo.

Ruby completou cinco meses ontem, mais uma foto para o álbum.

— Acho que eu gostaria de conhecer o Egito — Abby diz, colocando uma uva na boca.

— Muita areia, não acha? — Aliso seu cabelo, sorrindo para ela.

— Esqueci que o Príncipe de Seattle não gosta de tomar sol.

— Você esqueceu que nossa lua de mel foi na Grécia?

— Excessões existem mesmo, não é?

Belisco seu nariz e ela ri antes de gritar para as crianças:

— Christian, chute essa bola mais baixo, pelo amor de Deus. Você vai acabar arrancando a cabeça da sua irmã!

— Desculpe! — ele grita de volta.

Meia hora depois, tanto ele quanto Emory se cansam e se junta a nós. Abby pega Ruby no colo que começou a chorar e eu ponho suco para as crianças.

— Por que não temos uma casa na árvore? — Christian pergunta, bebendo o suco e comendo cupcake.

— Eu gostaria de uma casa ba árvore. Seria legal. A gente pode ter uma?! — Emory se anima, mal agradecendo a Christian quando ele lhe oferece as tão preciosas balas Fini.

— Vai demorar para construir — aviso, lembrando daquela que construimos, Liam, Karen, eu e nosso pai, naquele verão.

— Tudo bem, pai, a gente espera. Não é, Emie? — Christian cutuca a irmã. Emory anue, muito entusiasmada.

— Ok, ok, vou pensar sobre isso — eles já sabiam que eu ia ceder e comemoram.

— Estou vendo que a minha opinião nem importa mais nessa família — Abby diz, a cara triste. Onde será que ela fez curso de teatro?

— Não é nada disso, mamãe. A gente se importa muito com a sua opinião. Certo, Emie?

Emory volta a assentir, colocando mais balas na boca.

— Muito importante! — reforça a garota, de boca cheia.

— Hum, ainda não estou convencida.

A chantagem emocional dela funciona e os dois vão lhe dar uma abraço, tomando cuidado com Ruby, dizendo quanta a ama.

Rindo, pego Ruby, dando um beijo na minha esposa antes. De alguma forma, Christian e Emory se acomodam em seu colo, ainda bajulando ela.

— Então eu sou a melhor mãe do mundo? — Abby pergunta. Ela nunca mais vai me chamar de chantagista depois disso.

— Sim! — os pequenos traidores respondem.

— Veja, Ruby, você é a única que não me abandonou ainda — digo para a bebê em meus braços. Ela sorri e mesmo não tendo dentes em sua boca ainda, de alguma forma ela lembra sua mãe.

— Ainda sobra um pouquinho do nosso amor para você, querido. Não é mesmo, crianças? — Abby pergunta. As crianças anuem, dando risadinhas.

— Eu também amo vocês, fiquem sabendo — declaro a eles. Abby sorri, linda, devastando meu coração que sempre irá bater por ela.

Minha esposa se inclina, beijando meus lábios.

— Nós também amamos você — sussura.

Eu sorrio, olhando para eles, para Ruby em meus braços. Nossa família. Eu não poderia estar mais feliz. Essas quatro pessoas são tudo na minha vida e eu nunca irei me arrepender do dia em que entrei no apartamento de Abby Peterson — oficialmente Abby Davenport há oito anos —, quando tudo começou. Ou recomeçou, porque o prólogo da nossa história sempre será aquela festa e o que veio depois... o agora...

Agora é, sem dúvidas, o nosso 'Felizes para sempre'.


FIM

•••

ACABOU

MDS EU NEM ACREDITO QUE ESSE É O ÚLTIMO CAPÍTULO 😭😭😭😭😭

Esse capítulo tem meu coração, de vdd. Eu amei cada pedacinho dele e espero que vcs também!

Espero também ter conseguido atender as expectativas de vocês e não ter decepcionado ninguém!

Depois de dar adeus aos nossos queridos personagens, sigam para os "Agradecimentos" e dps "Leiam Meus Outros Livros"

Pela última vez nesse livro...

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2bjs, môres♥

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