Enxaqueca

Eu tenho enxaqueca desde os dez anos de idade.

Ninguém sabe, eu acho, o que significa que os remédios fazem efeito. Me deixam cansado na maioria das vezes e eu não consigo pensar em nada além de dormir.

Ou pelo menos costumava ser assim.

Agora minha enxaqueca tem nome, sobrenome, um corpo que parece ter sido esculpido por algum Deus e a língua mais afiada que uma lâmina.

Depois que Abby Peterson saiu da minha vida, tudo virou um caos. E acredite, eu não estou exagerando. Faz duas semanas que eu vi as portas do elevador se fecharem e foi quando tudo começou a dar errado.

Não presto mais atenção nas reuniões, algo que está tirando os outros empresários do sério. E ainda para piorar, Anne Dempsey está de volta a Seattle. Eu não sei que porra deu na cabeça de Isaac para mandar sua irmã para lhe representar.

Os Dempsey tem ações na empresa, já que nossas famílias são amigas a gerações. Nunca foi de interesse deles se envolverem, até Isaac tomar controle da família. Não mudou muita coisa, até agora. Até Anne entrar na minha sala há duas semanas.

- Veja só se não é meu ex-noivo preferido! - havia dito, invadido meu escritório. Eu deveria ter demitido Grace por isso.

- O que você está fazendo aqui? - não fui nem um pouco receptivo. Minha cabeça estava doendo mais do que o normal, consequência de não ter dormido nada na noite anterior.

- Também estou feliz em te ver, Dominic. - sentou-se de frente para minha mesa. Sua cabeleira loira estava bem penteado como sempre e o brilho em seus olhos verdes não tinham nada a ver com o sol que lhe refletia pela janela.

- Mais uma vez: o que você está fazendo aqui?

- Eu vim representar o meu irmão.

E aquilo não foi nem o começo. Não quando outra mulher também invadiu o meu escritório. Mas eu não fiquei irritado em ver Abby. Não achei que fosse vê-la de novo, mas ali estava ela com aquela calça jeans apertada e uma blusa que, como sempre, valorizava seus seios, me deixando louco.

Eu tinha tantas coisas para dizer. Queria lhe contar que eu apertei o elevador de volta, para trazê-la para mim, mas que foi tarde demais. Que precisei quebrar meu celular porque eu não podia ligar. Abby fez sua escolha e se era o que ela queria, eu não a faria mudar de ideia. Eu não poderia lhe dar um motivo para ficar quando a única coisa que eu poderia lhe oferecer era o meu coração.

Eu queria acreditar que ela estava apaixonada por mim. Ouvi isso da sua própria boca. Mas a minha parte cautelosa que não se envolve em relacionamentos duradouros e construiu uma barreira em volta do coração, me disse que ela estava apenas bêbada e pessoas bêbada dizem qualquer coisa.

Porém, quando a vi parada ali, eu quis contar tudo a ela. Eu nunca havia falado com ninguém sobre o meu pai e quando ela me ouviu no casamento... Eu sabia que podia confiar nela, mais do que já confiei em qualquer outra pessoa.

Mas ela não me deu oportunidade de falar, e, sinceramente, eu não sei se realmente teria dito alguma coisa. Então, mais uma vez em menos de vinte e quatro horas, eu a vi ir embora.

- O senhor quer outro café? - Grace recolhe a xícara pela terceira vez no dia. Eu estou de olhos fechados e com a cabeça para trás, me mostrando mais vulnerável do que eu deveria.

- Por favor.

Grace sai e solto um suspiro cansado. Eu estou cansando. Isso não é incomum, claro, mas como eu disse, há um motivo específico. Uma mulher específica.

Meu celular toca, me lembrando que há uma vida fora da minha mente. Porém, quando vejo o identificador, eu preferia permanecer com meus pensamentos.

- Oi.

São 22:00h quando saio da empresa. Faz um tempo que eu não saio tão tarde assim ou que trabalho tanto. Eu preferia passar meu tempo de outro jeito. Com outra companhia que não fosse as caras feias dos outros empresários e advogados.

No estacionamento não tem mais nenhum carro além do meu e uma pessoa encostada nele.

- O que você quer? - destravo o carro, jogando minha maleta no banco de trás.

Beatrice continua encostada na porta do motorista, os braços cruzados enquanto me observa.

- Eu quero muitas coisas, Dominic e uma delas é que você não morra trabalhando.

Coço minha testa, querendo dizer a Beatrice que tudo o que menos quero agora é discutir com ela.

Antes nós não éramos assim. Eu ainda não me abria com facilidade, mas ela era a pessoa mais próxima que eu tinha, que sabia que poderia contar. Isso até ela me enfiar uma faca nas costas ao ficar do lado do meu pai quando ele se divorciou da minha mãe, não querendo dar a ela o que tinha direito. Meus irmãos, apesar de serem mais receptivos com meu pai, nunca o perdoaram por fazer minha mãe passar por essa humilhação. Já Beatrice ficou "neutra", sendo ainda mais compassiva com meu pai.

- Eu não estou com paciência para você hoje. - espero ela sair do caminho, mas é claro que ela não faz.

- Você tem estado sem paciência para mim há um ano, Dominic.

Não digo nada. Realmente não acho que tenho fôlego para uma discussão. Ou energia.

Acho que Beatrice percebe isso, porque seus ombros relaxam e ela suspira.

- Eu só queria saber como você está. Encontrei com a Grace outro dia e ela... Ela disse que você não estava nos seus melhores dias e Liam também contou que você e a Abby terminaram.

Ótimo, agora meus funcionários falam sobre mim...

- Espere. Como Liam sabe disso? - semicerro os olhos. Não vejo meu irmão desde o dia do casamento. Ele me ligou há duas semanas por causa da sua droga de mesada.

- Não sei, acho que ele encontrou a Abby.

- Como ele... - me calo quando um pico de dor atravessa o meu crânio.

Fecho os olhos, respirando fundo. Esfrego a testa como se isso fosse apagar a dor.

- Você tá legal? - Beatrice está me olhando com preocupação quando abro os olhos. Não lhe digo que vejo sua imagem duplicada.

- Sim. Sim, agora eu preciso ir pra casa. Vejo você depois. - tento tirá-la do caminho, mas Beatrice é tão teimosa quanto quando era criança.

- Não vou deixar você dirigir desse jeito - a mulher não me dá chances de refutar antes de pegar a chave da minha mão e entrar no meu carro. Fico lhe encarando até ela abaixar o vidro. - Você não vem?

Engulo um suspiro, sabendo que mesmo que eu discutisse com ela para que eu pudesse dirigir, teria muitas chances de eu bater o carro.

Então entro no carro com Beatrice e deixo que ela me leve para a minha cobertura.

Gostaram do Capítulo ser narrado pelo Dom?

E pra quem não entendeu, teve uma quebrada de tempo e passaram-se duas semanas.

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2bjs, môres♥

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