Entre Risos e Chocolate
Eu precisei vir aqui depois de uma semana em Nova York. Minha mãe me ligou todos os dias, apesar de eu ter atendido apenas uma ligação. Ela está furiosa e se eu não conhecesse minha mãe, ia achar que era saudade.
Então estou entrando na residência dos Peterson nesse momento, tremendo de frio, apesar da forma quente que acordei, com um Dominic bem animado em uma manhã de segunda-feira. Não falamos sobre ele ter apenas três semanas para fazer eu me apaixonar. Não falamos sobre coisas complicadas e estamos bem assim.
— Bom dia, família! — digo assim que entro, indo direto para sala de jantar. Meus pais, meus irmãos, minha cunhada e meus sobrinhos estão tomando café.
— Ela resolveu dar as caras. — Steve murmura, nenhum pouco abalado em me ver. Mostro a língua para ele.
— Eu estava... meio ocupada — dou de ombros, dando um beijo na bochecha de meu pai. — Oi, papai.
— Feliz Ano Novo, querida. Você parece bem. — ele sorri, seus olhos se fechando levemente com isso.
— Ah, eu estou ótima! — tiro da enorme sacola que carrego, um embrulho e lhe entrego. — Eu trouxe presentes!
Phillipe e Sarah são os únicos que realmente se animam, enquanto eu distribuo os presentes de todos que fiz questão de comprar enquanto estava em Nova York. Bom, tecnicamente, foi Dominic que comprou, porque usei seu cartão, mas explicar isso seria um pouco complicado.
— Olha, mãe! — Sarah mostra o vestido rosa com um laço atrás, para Sabine.
— É lindo. Já agradeceu a sua tia?
— Obrigada, tia Abby! — o sorriso dela é a coisa mais bonita que eu poderia ver hoje. Solto um beijo para ela.
O último presente é o da minha mãe e eu paro ao seu lado, lhe entregando o embrulho chato. É um porta retrato. Ela ama porta retratos com fotos nossas.
— Feliz Ano Novo, mãe — tento sorrir, mas é verdade é que minha mãe está com aquela cara de anos atrás, quando eu fazia algo errado e ela me castigava. — Pra quem me ligou todos os dias, por três semanas, a senhora não parece muito feliz em me ver.
— Oh, eu estou. Precisava mesmo conversar com você.
Meu sangue gela. Nunca é um bom sinal quando sua mãe diz que quer conversar com você, muito menos quando a minha mãe diz isso.
— Ótimo. Como nos velhos tempos. — apesar do sorriso forçado, odeio o fato de estar com medo e parecer aquela adolescente de anos atrás, com medo de passar um final de semana inteiro limpando a casa e quase não parando para comer.
Steve foi trabalhar com papai, na joalheria, logo depois do café da manhã. Sabine foi levar Sarah para escola e meu irmão Phillipe lhe deu carona. Patrick ficou tentando em permanecer, sabendo o tipo de conversa que está por vir, mas ele também precisou ir.
— Então, sobre o que quer conversar? — finalmente ouso perguntar. Não deixo de notar seu olhar de reprovação para minha roupa. Um vestido curto de mangas compridas e botas na altura do joelho, com salto 15.
— Seu chefe deixa você trabalhar vestida desse jeito?
Controlo o impulso de revirar os olhos e respiro fundo. Está cedo demais para isso.
— Então quer falar de moda, mamãe? — ela odiava profundamente quando eu a chamava assim, por isso não escondo o cinismo.
— Quero falar sobre você e Finn.
Eu pisco, sem acreditar no que estou ouvindo. Espero ela dizer que ouvi errado, mas minha mãe continua sentada, pernas cruzadas e mãos sobre o colo.
— Eu achei... — balanço cabeça, rindo de modo amargo. — Achei que tivesse me chamado aqui porque estava com saudade ou coisa parecida. Quer dizer, três ligações por dia sugeriu isso.
— É claro que sinto saudade da minha filha. Que tipo de mãe eu seria se não sentisse? — odeio o fato de seus olhos castanhos parecerem sinceros. — Mas vocês dois...
— Não existe nós dois, mãe! — ergo os braços, deixando cair ao lado do corpo. — Finn me deixou no altar!
— Você traiu ele como uma...
— Uma o quê? — apoio as mãos na mesa, lhe desafiando. — Uma vagabunda?
— Abigail! — ela fica de pé, exasperada.
— Não é isso que acha de mim? Que sou uma vagabunda porque traí Finn?
— Mas você fez isso!
— Mas não significa que ele tinha que me humilhar daquela forma! — lágrimas se acumulam em meus olhos quando lembranças daquele dia; de como me senti, vêm atona.
— Ele só fez o que qualquer homem traído faria. Mas Finn ama você. — cada palavra é mais absurda que outra e eu me sinto enjoada.
— E se eu contar que o seu tão queridinho Finn... — forço as palavras a saírem da minha boca; a verdade que escondi por todos esses anos. — me agrediu?
Minha mãe não diz nada, apenas me encara com seus olhos castanhos fulminantes. Endireito a postura e engulo em seco.
— Foi um pouco antes do casamento — prossigo, sentido o nó no estômago. — Ambos estávamos bêbados, não era nada de novo, mas discutimos e ele me bateu. Um soco no olho.
Ela apenas pisca, a única reação que mostra. Eu não esperava que surtasse, mas é como se eu não acabasse de revelar a ela que fui agredida.
— Qual foi o motivo da discussão? — Hayley permanece inabalada, ignorando meu olhar de horror.
— Isso importa? Ouviu o que eu disse? Finn me agrediu, mãe. Ele me bateu. Ainda quer que eu me case com alguém assim?
— Eu conheço seu temperamento, Abby. Dependendo do que você falou para ele...
— Mãe! — exclamo, horrorizada. É possível que alguém seja tão cego assim? — Você vai defender o homem que agrediu sua filha?
— Conheço Finn...
— Quer saber? Foda-se! — pego minha bolsa na cadeira e me dirijo para saída.
Não consigo acreditar... Não dá para acreditar. Ela é minha mãe, porra. Não deveria estar ao meu lado? Me defender? Agir como mãe?
Tenho a impressão de ouví-la me chamar, mas bato a porta sem lhe dar a chance de falar mais babaquices. De todas as coisas que minha mãe já fez comigo, ouví-la defender Finn supera tudo. Eu nunca contei isso a ninguém e no momento que faço, ela praticamente diz que eu mereci. Que o babaca tinha o direito, apenas porque era meu noivo.
Procuro meu telefone na bolsa, esbarrando em várias pessoas ao chegar na rua principal.
— Dom? — eu não sei porque liguei para ele. Eu tinha que chamar um táxi e ir para algum lugar...
— Acabei de chegar na empresa. Onde você está?
— Eu... — engulo em seco. Eu sempre resolvo meus problemas. Geralmente é bebendo, mas... — Lembra quando você disse que se às coisas ficassem ruim, eu poderia ligar para você, ao invés de sair para beber?
— O que houve?
— Estou na 12091 Jenks Ave. Pode mandar alguém me buscar? — paro em uma lanchonete quando a chuva fraca engrossa. Na correria, esqueci de pegar meu sobretudo.
— Chego aí em quinze minutos.
— Obrigada.
Exatamente quinze minutos depois, o Audi R8 de Dominic para quando ele me vê na lanchonete. A chuva não passou, mas não me importo quando molho o cabelo e o vestido nos poucos segundos que levam de onde estou, para dentro do carro.
— Oi. — me obrigo a dizer a ele quando fecho a porta. Não encaro seus olhos quando ponho o cinto de segurança.
A mão de Dominic está incrivelmente quente quando ele segura meu rosto, fazendo-me olhá-lo. Seus olhos azuis transmitem uma preocupação que me faz questionar quantos sinais de trânsito ele ultrapassou para chegar aqui em tão pouco tempo.
— Eu discuti com minha mãe — respondo a pergunta silenciosa em seu olhar. — Não foi legal.
— Vamos conversar sobre isso — ele olha para trás, para o trânsito e franze as sobrancelhas. — Mas em outro lugar. Está bem?
Anuo e ele dá partida. Não pergunto para onde estamos indo, se estamos indo para cobertura ou para empresa. Contanto que não seja para perto da minha mãe, está ótimo para mim.
No caminho, ele entrelaça nossas mãos e eu me apego a isso, enquanto as lembranças daquele dia voltam a me atormentar. Nem mesmo o meu pai já me bateu e quando Finn fez... Eu me calei. Disse para mim mesma que foi efeito da bebida. Que não ia acontecer mais... Ele não chegou a me agredir novamente, mas seu comportamento mudou desde aquele dia.
Passamos por um enorme portão que abriu automaticamente, mostrando o caminho de árvores e jardins. Seguimos reto até um arco enorme e logo depois disso, a mansão. Contornamos uma fonte de água no meio do pátio, até ele parar ao pé das escadas que dão para mansão.
— É a propriedade dos Lisbon. — Dominic explica ao notar meu olhar de admiração. Lisbon é seu sobrenome por parte de mãe, eu me lembro.
— É bem... Chique. — acho que não tem outra palavra que possa descrever isso.
Dom ri, saindo do carro. Faço o mesmo, semicerrandoos olhos. Dominic volta a entrelaçar nossos dedos e me guia escada acima. Passamos pelas enormes pilantras e o teto é tão alto que me deixa zonza.
A tão igual enorme porta abre depois de usar a chave, então entramos.
Ok. Podemos mudar o chique para chiquérrimo. Por dentro é ainda mais deslumbrante, com um lustre no teto (com certeza feito de diamantes)e quadros que devem custar a casa da minha família. No saguão, há uma escada de cada lado, como nos filmes, ligando uma a outra e o tapete vermelho forrando ambas. O piso é de cor pastel, mas tão polido que vejo nossas silhuetas perfeitamente.
— Você já terminou? — Dominic aperta minha mão.
— Quê?
— Já terminou de inspecionar o lugar? — ele arqueia a sobrancelha e vejo que está se segurando para não rir.
— Não é todo dia que entro em um lugar assim. — me defendo, sentindo minhas bochechas corarem.
— Acho essa casa antiquada. Por isso não moro aqui. — ele nos leva para um corredor escuro que logo acaba em uma cozinha.
— Quem mora aqui? — a forma como a casa está bem cuidada, sugere que alguém vive aqui. Ou não. Ele é rico, pode pagar alguém para manter a casa limpa.
— Minha mãe. — eu o observo tirar o paletó, a gravata e dobrar a camisa até os cotovelos. Uh lá lá.
Concentração, Abby.
— Então vou conhecer sua mãe? — de repente, eu me vejo ansiosa. Será que ela vai gostar de mim? Por que estou preocupada com isso?
— Não.
— Ah. — eu esperava ficar aliviada, mas me encontro... decepcionada? Acho que transmito um pouco disso na minha voz, pois Dominic caminha até mim.
— Olhe, não é que eu não queira que você a conheça, é só que minha mãe é... — ele franze o cenho, procurando a palavra certa. — Espalhafatosa demais.
— Hum. — considerando o quanto ele é reservado, é um pouco difícil de acreditar.
— Quer falar sobre a sua mãe? — ele me envolve pela cintura e eu apoio a testa em peito, suspirando.
— Ela quer que eu volte com Finn — passo as mãos por suas costas, sentindo seu calor. — Contei a ela... o que aconteceu entre nós, antes do casamento e... ela ficou do lado dele.
— E o que você contou? — sua mão acaricia meu cabelo e sua voz é suave, mesmo quando seu corpo está tenso.
Engulo a bile em minha garganta, afastando a lembrança daquela mão se chocando contra meu olho.
— Que Finn me bateu.
Seus dedos que subiam e desciam em minhas costas, param com a revelação e ele me afasta para olhar nos meus olhos.
— Aquele desgraçado fez o quê? — Dominic é tomado por uma fúria surpreendente – não dirigida a minha – que quase me faz sentir pena de Finn.
— Sabia que ia ter essa reação. — suspiro, desviando do seu olhar. Eu omiti essa parte da história quando contei sobre meu noivado, porque sabia que ele ficaria assim.
— Quantas vezes? — sua voz parece controlada, mas posso jurar que ele está tremendo de raiva.
— Só uma. — talvez ocorrece mais vezes se tivéssemos mesmo nos casado.
Volto a encara Dominic e ele parece desconfiado.
— Foi só uma vez. Se ele tivesse feito de novo, eu teria denunciado.
— Devia ter feito isso mesmo assim.
— É fácil para você falar — balanço a cabeça, pois ele não sabe como é ser agredida por um cara que paga de certinho e é adorado pela família. — Olha só o que aconteceu quando contei a minha mãe? Se eu tivesse denunciado, Finn viraria isso contra mim.
— Abby... — seu toque suave esquenta minha bochecha e eu fecho os olhos.
— Não quero mais falar disso — é a segunda vez que me abro para Dominic assim. Não quero apagar a imagem da "Devastada Abby" que tanto lutei para construir depois do meu noivado fracassado. — Por favor.
Dom suspira, mas não insiste no assunto. Pelo contrário, ele me beija. Todo e qualquer pensamento relacionado a Finn, se esvai da minha mente e apenas os lábios de Dominic me importam.
Dou abertura para sua língua e ele aprofunda o beijo de tal modo que me faz gemer. Beijar Dominic é tão bom... tão prazeroso, que eu fico completamente bêbada.
Passo os braços ao redor do seu pescoço e mesmo de salto, fico na ponta dos pés para beijá-lo melhor. Às coisas são mais fáceis quando estamos juntos. Eu esqueço dos meus problemas quando ele está por perto. Apenas olhar para seus olhos que são reflexo do oceano, eu me sinto em casa.
Me afasto delicadamente, mesmo quando esses pensamentos me acertam como uma bomba.
— O que foi? — Dominic afasta minha franja, um gesto muito comum ultimamente.
— Nada, é só que... — não posso contar a ele que talvez... Apenas talvez, eu possa estar me apaixonando. Ainda não. Então olho em volta. — sua mãe pode chegar e ver a gente aqui, se pegando na cozinha dela.
— Ah, isso. Ela não deve chegar tão cedo se estiver no SPA. — ele dá de ombros, me puxando mais para si.
— Certo... Por que não cozinhamos então? — a ideia surgiu de repente, mas parece uma boa maneira de me distrair.
— Eu ia fazer panquecas. — Dominic movimenta as sobrancelhas de modo engraçado e eu dou risada.
— Sua mãe não vai ficar chateada se mexermos na cozinha dela? — o pai dele já me odeia, não precisa que sua mãe sinta o mesmo.
— Não se preocupe com isso.
No fim, não fizemos panquecas, fizemos um bolo. Todas as minhas tentativas de fazer bolos sempre falharam e eu avisei a Dominic que não ia dar muito certo se eu fizesse, então apenas ajudei ele passando os ingredientes.
Estamos "juntos" a um mês e meio, mas hoje foi o dia que mais conversamos. Não transamos loucamente todos os dias, que não sobra tempo para conversar, mas Dominic tem esse jeito reservado dele, então às vezes apenas ficamos em silêncio, apreciando a presença do outro. O que significa que hoje ele está tentando fazer eu me sentir melhor, por causa da discussão com minha mãe. E eu acho isso fofo e amável.
Amável? Deus, de onde tirei isso?
— Tire sua mão daí! — Dom dá um tapa em minha mão quando passo o dedo pela borda do bolo com cobertura de chocolate.
— Chaaaaaato. — levo o dedo à boca, lambendo o doce. Estou sentada no balcão, enquanto ele termina com a cobertura. Está com um avental, já que tirou a camisa para não sujar. Não achei que ele pudesse ficar tão sexy assim.
Estão na casa da mãe dele. Certo. Reprimo meu desejo e limpo minhas mãos. Dominic termina com o bolo e eu estou prestes a perguntar se podemos comer, quando sinto algo em minha bochecha.
— Você não fez isso. — eu lhe fuzilo com o olhar, passando a mão na bochecha e vendo que ele passou chocolate em mim.
— Você queria tanto. — ele dá de ombros, rindo. Desço do balcão, pegando a colher suja de chocolate e passo em seu rosto.
— Ops, acho que tem chocolate na sua testa. — sorrio de modo diabólico quando ele faz careta.
— Vai se arrepender disso. — a ameça soa ridícula, mas ele volta a me atacar com chocolate e por ser maior, tem a vantagem em melecar meu rosto.
— Isso é golpe baixo! — uso a colher para roubar chocolate da penela que ele ainda segura e passo em seu braço.
Entre risos e chocolate, minutos se passam e nós continuamos nessa guerra. Ambos estamos sujos de chocolate quando Dominic tropeça, caindo no chão e me levando junto.
Ele ainda está rindo e o som é tão agradável que fico hipnotizada. Quando ele ri, seus olhos se fecham, suas sobrancelhas se franzem e suas covinhas aparecem. Tenho certeza que não é uma expressão que muitos vêem e o fato de eu estar tendo esse privilégio, faz eu sentir um frio estranho na barriga.
— O quê? — Dom para de rir quando percebe que estou lhe encarando – lhe admirando – apesar de um sorriso suave ainda permanecer em seus lábios rosados e sujos de chocolate.
Estou deitada em cima dele, bem próxima desses lábios tão convidativos, mas eu não o beijo ainda, quero lhe apreciar mais um pouco. Tiro o doce de sua bochecha e passo na ponta de seu nariz. Ele enruga a testa, mas sorri mais abertamente. Seus olhos estão de um azul extremamente lindo. Dominic é lindo.
— Eu gosto de você. — digo baixinho, como se fosse um segredo. Não deixo de notar a surpresa que ele tenta esconder.
— Gosta? — não sei se é impressão minha, mas sinto seu coração bater mais rápido e ele aperta minha cintura.
— Sim. — sussurro, sentindo agora o meu próprio coração acelerar dolorosamente.
— Isso é bom. — ele engole em seco e parece... nervoso?
Apenas balanço a cabeça, com medo de falar mais e confessar as coisas estranhas que venho sentindo e o medo do que isso seja. Então eu lhe beijo, sentindo o gosto de chocolate, tão bom quanto seu beijo normal.
Sua mão desce para minha bunda, dando um aperto que me faz gemer em sua boca. Foda-se se estamos na casa da mãe dele, nós vamos transar aqui mesmo, no chão da cozinha...
— Meu pai amado, o que está acontecendo aqui?
Qualquer pensamento sobre sexo desaparece quando ergo os olhos e vejo uma mulher parada na cozinha, olhando para nós de forma horrorizada. Dominic vira o rosto o suficiente para vê-la também.
— Mãe?
Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?
Me perdoem pela demora de atualização, estava finalizando outro livro, mas agora eu tô de volta!
*Garota Mimada-San Franscisco foi finalizado e postei o primeiro capítulo de Garota Mimada-Los Angeles*
Mas o que acharam desse capítulo?
Carro do Dominic👇🏾
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2bjs môres ♥
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