Afogando As Mágoas
Ou a Beatrice escolheu as roupas baseada no próprio tamanho ou Dominic deu minhas medidas a ela, pois as roupas deram perfeitamente. A calça é justa em meu corpo, assim como a blusinha preta e a jaqueta jeans.
Faço uma maquiagem leve e prendo meu cabelo em um coque frouxo, ajeitando minha franja. As vezes ela me irrita. Resolvi cortar há alguns meses, mas está demorando para crescer, o que está me irritando muito.
Quando desço novamente, Beatrice não está mais e levando em consideração que a às vozes deles se elevaram várias vezes durante a conversa, é compreensível Dominic estar de cara fechada ao me deixar em meu apartamento e nem mesmo me deu tchau antes de dar partida.
Precisei de duas malas, apenas. Roupas, sapatos, acessórios e maquiagem. Não acho que vou precisar de mais nada, já que serão apenas dois meses.
Meu telefone toca quando estou fechando a última mala.
— Estou ocupada no momento. Deixe seu recado e espere minha boa vontade para retornar a sua ligação! — digo para o meu irmão, do outro lado da linha.
— Você quase me convenceu, pestinha.
— Me ligou por quê está com saudades, Patrick? — pressiono o celular entre o ombro e a bochecha, usando as mãos para puxar a mala até a sala.
— Não. Mas achei que talvez você quisesse almoçar comigo quando sair do trabalho.
É claro que minha mãe deve ter espalhado para quem quisesse ouvir que sua filha estava agora trabalhando para Dominic Davenport.
— Tudo bem... Escolha um lugar e me mande o endereço.
Não vou contar a ele que no meu segundo dia de trabalho, eu simplesmente não fui.
— Sou cinco meses mais velho que você. Não fale como se estivesse mandando em mim.
— Pare de choramingar e escolha um restaurante descente. Você paga a conta.
Desligo antes que ele possa protestar.
Meu irmão escolheu um restaurante italiano e pediu um macarrão esquisito, mas disse que era bom. Não disse nada, Patrick é bastante viajado. Inclusive, esteve na Itália ano passado.
— Vai demorar muito? Estou com fome! — resmungo, com as mãos na barriga.
Não tomei café da manhã, já que fui interrompida mais cedo. E depois de arrumar minhas coisas, o motorista de Dominic foi me buscar, mas Seattle tem um trânsito horrível e ficamos duas horas no engarrafamento. Ou seja, perdi a minha manhã.
— Fizemos o pedido tem cinco minutos. — Patrick diz, atraindo minha atenção para si. Está elegante como sempre, usando calça social, assim como a blusa, com um colete e o blazer no encosto da cadeira.
— E daí? Estou com fome! — suspiro e cruzo os braços. Fico de péssimo humor quando não como nada.
— Mamãe vai fazer um jantar de boas-vindas para Finn, no domingo. — meu irmão me encara com cautela. Então era sobre isso esse almoço.
— Espero que ela não esteja contando com a minha presença. — dou um sorriso amarelo e tomo um gole do vinho.
— A mamãe vai ficar chateada se você não for. — Patrick insiste. Não acredito que ele me chamou aqui pra isso.
— A mamãe fica chateada com tudo o que eu faço. Isso será apenas mais uma coisa na lista dela. — bebo o resto do vinho, começando a ficar irritada com essa conversa.
— Ele é o nosso primo.
— Ele é um canalha.
— Não pensou nisso quando foi pra cama com ele.
— O que isso tem a ver?
— Olha, você sabe que eu nunca, jamais, julguei você ou apoiei as críticas da nossa mãe, mas já está na hora de parar com isso, Abby. Esse... Comportamento.
— Que comportamento? — arqueio a sobrancelha. Ele quer ter mesmo essa conversa agora?
— Você precisa parar com essa vida de baladeira. Tem vinte cinco anos, Abby. Está na hora de achar um rumo para seguir. Precisa começar a arcar com as consequências das suas ações e não sair enchendo a cara sempre que aparece um problema. Isso não é apenas sobre Finn.
Foi como jogar tijolos em mim, acertando um ponto sensível que eu nem sabia que tinha.
— Não sabia que você podia ser tão babaca, Pat. — pego minha bolsa e saio do restaurante. Não viro quando ele chama meu nome, apenas continuo caminhando pelas ruas de Seattle.
Finn Johnson é um primo de terceiro grau que namorei há um tempo. Eu não namoro, mas digamos que Finn Johnson era diferente e eu, uma tola. Nossa família não reagiu muito bem, mas eu queria continuar com aquilo, porquê pela primeira vez eu achei que pudesse criar uma família. Fui estúpida.
Não percebi que estava chovendo até uma mulher bater com o guarda-chuva em mim. Meu coque se desfez e meu cabelo está pesado por causa da chuva, mas continuo andando, não sei para onde, mas sigo em frente como fiz a minha vida toda.
Minha garganta queima quando viro outro shot e faço uma careta.
— Mais um! — bato na mesa com as duas mãos, gargalhando.
Entrei nesse bar há algumas horas e várias pessoas já me pagaram bebida, mas eu mesma não sei o tamanho da minha conta.
— Ei, gatinha, não quer tomar uma ar lá fora? — um cara que eu já esqueci o nome, está agora encarando meu corpo com um olhar que eu sei muito bem o que significa.
— Eu tenho namorado! — não é mentira. Dominic e eu temos um acordo e não podemos nos envolver com ninguém até isso acabar.
O barman me entrega outro shot que viro na boca sem pensar duas vezes, fazendo careta de novo. Talvez esteja na hora de deixar a tequila de lado...
Meu telefone toca. Da última vez foi meu irmão, então não me dou trabalho de olhar de novo.
— Não vai atender? — o homem pergunta. Pelo canto do olho vejo que ele ainda está me observando.
— Por que não vai cuidar da sua bebida? — reviro os olhos e deixo uma nota de cinquenta dólares no balcão, indo para o banheiro.
Eu não sou de sair em dias de semana, mas a conversa com meu irmão me deixou irritada ao ponto de eu entrar em um bar as duas da tarde e encher a cara. Sou irresponsável por não lidar com meus problemas e afogar tudo no álcool. Mas que se dane isso.
A fila do banheiro está longa e não sei o que tanta gente faz aqui. Deve ter acabo de dar 18:00 horas e é terça!
Meu telefone toca de novo e eu atendo, irritada.
— O que você quer, Patrick? Quer me humilhar mais? Me obrigar a ir a essa jantar idiota? Eu não vou, ok? E mande Finn se foder...
— Abby?
Mas não é Patrick que está do outro lado da linha. Afasto o celular e encaro o nome na tela. Dominic. Merda!
— O que você quer?
— Onde você está?
Não sei. Eu entrei no primeiro bar que encontrei e não sei onde, exatamente, é, já que andei por boa parte da cidade antes de parar aqui.
— Eu não sei.
— Está bêbada?
— Não.
— Me fale onde está e vou buscá-la.
— Eu já disse que não sei!
Desligo o celular e saio do bar. Ainda estou apertada para ir ao banheiro, mas não vou ficar naquela fila que parece não andar.
O barulho da chuva continua preenchendo Seattle, junto com as buzinas dos carros impacientes. Idiotas. Sabem que não adianta. Seattle é horrível em questão de trânsito e piora ainda mais quando chove, o que, tecnicamente, é todo dia.
Ando por alguns minutos ou talvez sejam horas, até parar em um parque. Não tem absolutamente ninguém aqui, o que me dá a oportunidade de sentar no balanço enquanto a chuva continua a cair. Jogo a cabeça para trás e deixo as gotas frias molharem meu rosto. É um toque ácido pois a chuva cai de forma violenta, mas não ligo.
Amo chuva. A forma como cai livremente, assombrando a todos, fazendo-os usar guardas-chuva para se proteger. Como pode ser o caos para alguns e a benção de outros, dependendo da perspectiva e necessidade. É incrível.
— Abby! — uma voz ressoa acima do barulho das gotas de água e eu abro os olhos, olhando por cima do ombro e encontrando Dominic. Está com um guarda-chuva e usa uma capa também.
— Como me achou? — fico de pé, observando se aproximar e seu guarda-chuva me cobrir.
— Rastreei seu celular. — Dominic não me dá tempo de questionar como ele fez isso, e sua mão agarra meu pulso.
Deixo que ele me arraste até o carro e que me envolva com seu casaco, seu cheiro de empreguinando em mim.
Chegamos a sua cobertura uma hora depois. O álcool ainda está em minhas veias e tropecei ao sair do elevador, fazendo Dominic me pegar no colo como ontem a noite.
— Quanto você bebeu? — seu rosto está próximo do meu e seu hálito quente acaricia meu rosto, enquanto ele nos guia pelo corredor.
— De mais para me deixar tonta, mas pouco para me fazer perder a consciência. — estou tremendo de frio e encharcada. Mas ele não se importa se estou molhando seu terno caro com meu cabelo molhado. Não, Dominic me carrega até seu quarto e me leva para o banheiro.
Ficamos em silêncio quando ele me põe no chão e tira minhas roupas, depois as suas. Observo cada pedaço de pele sua que consigo vislumbrar, o quanto ele é simetricamente perfeito e parece ter sido esculpido por algum Deus.
Dominic me leva até o box e liga o chuveiro, me puxando para baixo.
— Está gelada. — murmuro, sentindo o gelo da água ao tocar minha pele. Mas o homem comigo me abraça e seu corpo parece quente quando apoio a cabeça em seu peito, lhe abraçando também. Sua mão está subindo e descendo em minhas costas, enquanto a outra acaricia meu cabelo.
Eu não esperava me sentir bem ao estar em seus braços.
Ele me secou, como meu cabelo também e me vestiu com uma camisa sua antes de me deitar na cama. Sua cama. Depois vestiu uma cueca e saiu do quarto.
Três minutos depois ele volta e me entrega um copo de suco e um comprimido.
— Obrigada. — levo o comprimido a boca, junto com o suco, lhe entregando o copo depois.
— Quer me contar o que aconteceu? — Dominic deita ao meu lado e apoia a cabeça no punho, me encarando com seus olhos azuis claros.
— É uma opção? — não estou muito afim de conversar com ele sobre isso.
— Não.
Suspiro, encarando o teto.
— Meu irmão me deu uma bronca idiota — começo, lembrando de cada palavra que ele disse. — Ele disse que já está na hora da minha vida de baladeira acabar. Que tenho vinte e cinco anos e preciso agir como adulta.
Passo as mãos pelo rosto, sem acreditar que me deixei abalar pelas palavras dele.
— A pior parte é que ele está certo. Mas eu gosto disso. Gosto da liberdade de ser quem eu sou. Gosto de não ser uma desesperada por casamento. Ou de não precisar agradar a ninguém além de mim mesma. Gosto de quem eu sou.
— Quem é Finn? — pelo canto do olho vejo que Dominic ainda me encara, parecendo que realmente está prestando atenção. Por quê ele quer saber?
— Há dois anos eu me envolvi com ele. Pela primeira vez eu tive um relacionamento sério. Nossas famílias foram contra... Nós somos primos. Bom, primos distantes. Mas eu gostava mesmo do Finn e quando ele me pediu em casamento...
Dou risada da minha estupidez. Não acredito que um dia achei mesmo que fosse me casar.
— Eu aceitei — continuo, ainda olhando para o teto, como se pudesse ver a minha vida ali. — Em partes porquê minha mãe iria parar de encher meu saco sobre arranjar um marido e também porquê eu achei que pudesse ter aquela vida. Ser uma boa esposa; ter filhos e cozinhar para o meu marido. Mas não sou assim. Então, eu tive uma crise. Saí para beber uma semana antes do meu casamento e quando acordei no dia seguinte, estava na cama do melhor amigo de Finn. Não lembrava de nada, mas sabia que tinha feito merda.
Fecho os olhos ao lembrar de como me senti a pior pessoa do mundo ao perceber que havia traído meu noivo com seu melhor amigo.
— Saí da casa dele e me convenci de que ele não se lembraria de nada, assim como eu e ambos podíamos seguir com nossas vidas como se nada tivesse acontecido. O que, de fato, foi uma grande burrice. Eu deveria ter contado a Finn. Todos os dias até o nosso casamento, eu me olhava no espelho e me sentia horrível. Me convenci de que tinha que contar, mas não consegui... E quando chegou no dia do casamento... Ele me deixou.
Engulo em seco, piscando algumas vezes para afastar as lágrimas. Faz dois anos que não choro mais por ele. Não vou começar de novo agora.
— Quando fizeram a pergunta se ele queria se casar comigo.... Ele olhou nos meus olhos e disse que nunca se casaria com uma vadia mentirosa. Então, várias fotos apareceram no telão. Fotos minhas com o melhor amigo dele, na cama. Finn me xingou de tantos nomes que não consigo me lembrar agora. E como se ainda não bastasse, ele arrastou o melhor amigo até o altar e disse que ele podia ficar com seus restos.
Afasto a lembrança do olhar horrorizado da minha mãe ou da sensação da sua mão em meu rosto e dela dizendo que não criou sua filha para ser a vergonha da família.
— Eu mereci, no fim das contas. — dou de ombros. Eu realmente mereci, mas ainda sim não deixo de pensar que Finn foi um babaca por me expor daquele jeito. Do mesmo jeito que todos me acham uma vadia mentirosa por traí-lo.
— Eu sinto muito. — Dominic diz, lembrando-me então que ele ainda está aqui. Ainda não o encaro. Sei que deve estar me olhando com pena.
— Ah, não sinta. Eu não servia mesmo pra nada daquilo. — dou de ombros outra vez. Pelo menos foi isso que eu disse para mim mesma depois de um tempo.
— Mas não merecia ser humilhada daquela forma.
— Talvez.
E a ideia de ver Finn de novo, depois de tudo isso... Minha mãe acha que deve algo a ele. Talvez desculpas eternas pela falta de caráter da sua filha, mas convidar ele para um jantar e querer me obrigar a ir? Isso é um pouco demais.
— O que estamos fazendo? Deveríamos estar transando! — sento-me na cama e encaro Dominic. Seu olhar não é de pena... é compressão...
— Não precisamos transar sempre. — ele apoia a cabeça no travesseiro e eu monto em cima dele. Estou ciente que não uso calcinha e ele está apenas de cuenca.
— Mas vamos fazer isso agora. Sexo me ajuda a esquecer meus problemas. — tiro sua camisa, ficando completamente nua. Dominic segura meu quadril.
— Então da próxima vez, ligue para mim e eu resolvo isso, mas não entre em um bar e encha a cara — mais rápido do que eu possa processar, ele nos vira, ficando por cima de mim. — Mas agora você vai dormir.
Abro a boca para protestar, mas seu olhar me diz que mesmo que eu não durma, ele não vai transar comigo. O que é um desperdício de tempo.
— Durma, Abby. — Dominic me cobre mais um vez e beija meus lábios de forma carinhosa.
Com a sensação de seus lábios ainda nos meus, adormeço.
Votem e comentem
2bjs môres
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top