♡ | 0.6

∯﹒🧸 ⁺ ﹒ ◍ ﹒ 𝐌𝐘 𝐋𝐎𝐕𝐄, 𝐌𝐘 𝐋𝐈𝐅𝐄 ﹒ ﹒ ♪
──⠀۪ 🩵 ♡ ۫ ´ “the winner takes it all” 🍼┄﹒ ▢
❛ postado em 21/01/2025
4.690 palavras | não revisado.

The winner takes it all
(O vencedor leva tudo)
The loser's standing small
(O perdedor fica pequeno)
Beside the victory
(Ao lado da vitória)
That's her destiny
(Esse é o destino?

. ݁ ٬٬ 𝐌𝐄𝐓𝐀 ִ ֗ ៵ʾ ▎38 votos
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O SOL TÍMIDO DO AMANHECER COMEÇAVA A INVADIR AS JANELAS do hospital trazendo consigo a esperança de um recomeço. Os corredores voltavam, aos poucos, com o  ritmo frenético do dia-a-dia enquanto novos pacientes davam entrada na emergência. Apesar das madrugadas turbulentas, os casos diurnos movimentavam mais o ambiente hospitalar. 

Agatha suspirou com o incômodo dos raios solares que invadiram a persiana do quarto. Olhou ao redor e percebeu que a mãe ainda dormia na poltrona ao lado. Faziam quase 5 dias que ela estava internada e a rotina parecia ficar cada vez mais entediante.

Decidiu então que voltaria a dormir. Ainda era cedo, por volta das 6:45 da manhã.

Cobriu seu rosto com o lençol e fechou os olhos.

─── Bom dia, mamãe do ano! ───  Billy entrou no quarto gritando aos quatro ventos. O garoto segurava alguns balões e um urso de pelúcia nos braços.

─── Eu disse pra você ser discreto, Billy! ─── Kate entrou logo em seguida. ─── Sabe que horas são?

Os movimentos não foram nem um pouco sincronizados. Enquanto Agatha murmurou algo inaudível com a voz fraca de sono, Sharon quase subiu pelas paredes com o susto repentino gerado pelo escândalo do jovem. Ela pôs uma das mãos sobre o peito e advertiu:

─── Não é porque nós estamos em um hospital que vocês devem me internar antes da hora.  ─── a senhora comentou ainda em alerta. Sua respiração era frenética e instável.

─── O que os dois palhaços de circo acham que estão fazendo a essa hora da manhã? ─── finalmente, a morena descobriu o rosto e disse. As sobrancelhas vincadas em confusão.

─── Hoje é o dia da sua alta, Tia Aggie! ─── Billy amarrou os balões na cama e a entregou o urso de pelúcia. ───  Temos que comemorar!

─── Partiu shot de leite fermentado e coquetel de refrigerante diet. ─── Bishop anunciou, brincando.

Agatha revirou os olhos, claramente irritada.

─── Eu tenho a opção de ficar os 9 meses aqui enquanto vocês não me enchem o saco?

─── Você pode tentar, mas duvido que consiga viver sem a gente. ─── Maximoff se moveu até a beirada da cama e se sentou admirando a Tia. ─── Como você está se sentindo, Tia Aggie?

─── Deixa de ser puxa-saco, moleque. ─── Kate o encarou sem paciência. ─── Faz alguma coisa útil e vai pegar aquilo que eu te pedi enquanto eu ajudo a minha irmã a tomar um banho.

─── Não se preocupe, querida. Eu a ajudo no banho. ─── Sharon interviu se aproximando.

─── Não, pode deixar, mãe! Eu disse que ia ajudá-la.

─── Eu já disse que não precisa se preocupar, Kate! Eu a ajudo! Fique em paz, querida! ─── a senhora já estava segurando as mãos da filha mais velha quando a outra rebateu, novamente.

─── Pode deixar, mãe! Eu já disse que ajudo… ─── Bishop insistiu. A fala travada entre os dentes.

─── Kate Harkness-Bishop! Não seja teimosa agora! ─── Sharon a desafiou. O olhar visceral.

As duas prosseguiram com um “pingue-pongue” interminável sobre quem ajudaria Agatha no banho.

─── Se alguém aqui tem o direito de ver a Agatha Harkness pelada, esse alguém sou eu. ─── De repente, Billy entrou na discussão decidido a vencê-la. ───  Podem tirar o pônei da vocês da chuva!

Foi apenas mais um candidato à batalha do século, ou melhor, do hospital. Os três estavam tão inertes com o bate-boca que acabaram não percebendo o momento em que a morena se levantou da cama, tirou os acessos e seguiu até o banheiro.

─── Doidos de pedra… ─── ela sussurrou antes de fechar a porta. 

O banho foi rápido. Agatha se sentou na cadeira que ficava disponível no chuveiro e molhou todo o corpo com delicadeza. Os dedos deslizando por cada centímetro de sua estrutura física.

Ao terminar, se enxugou ainda sentada para evitar esforços desnecessários. Pegou o roupão que permanecia atrás da porta e o vestiu.

─── Você ficou maluca? ─── Kate a interceptou. A preocupação estampada em sua expressão. ─── Nós íamos te ajudar no banho, sua songamonga!

─── Songamonga? Que tipo de xingamento de velho é esse? ─── Billy indagou. Sentia prazer em provocá-la.

─── Agatha, minha querida! Não é recomendável que tome banho sozinha, pode ser perigoso. ─── a matriarca da família pontuou. O rosto suavizando ao ver o estado em que a filha se encontrava.

A morena ignorou. Sua atenção se resumia em escolher uma roupa confortável e elegante para despedir-se daquele lugar. O clima lhe dava calafrios.

Ela prontamente se arrumou. Pediu para que os presentes a ajudassem com as malas e voltou para o banheiro.

Neste meio tempo, a médica responsável pelo caso apareceu. A mulher portava o documento de alta em mãos.

─── Sai daí logo, Agnes! ─── Kate bateu na porta. ─── A médica chegou pra te dar bronca.

Agatha a abriu calmamente. Seus olhos fuzilando os da irmã.

─── Sabe que eu odeio quando me chama assim!

O nome era evidente no jaleco: Dra. Robbins. Com um sorriso no rosto, a loira entregou um dos documentos para a paciente.

─── Está liberada, Agatha! ─── deu uma piscadela. ─── Mas não se esqueça do mais importante! Repouso absoluto pelas próximas semanas. Vamos entrar em contato para organizarmos as consultas domiciliares nestes dois meses. As visitas serão  mais constantes agora, mas não se preocupe, tudo para o bem da mamãe e do bebê.

As mulheres assentiram.

─── Pode ficar tranquila, doutora! Vamos mantê-la  no cabresto durante esses dias. A equipe Harkness-Maximoff vai entrar em ação. ─── Billy anunciou orgulhoso. Uma das mãos pra cima como se estivesse explicando um plano de candidatura eleitoral.

─── É bom saber que a paciente tem uma uma rede de apoio tão forte e determinada. ─── a médica riu admirada pelo entusiasmo do garoto. ─── Antes de saírem, não se esqueçam de passarem pela recepção para entregar o documento de alta.

Assim, a loira se despediu e saiu.

─── Finalmente… não acredito que vou embora. ─── Agatha suspirou profundamente. O alívio correndo pelas suas veias.

Billy e Sharon começaram a pegar as malas espalhadas pelo chão, enquanto Kate desapareceu pelo corredor. Bishop voltou alguns segundos depois empurrando uma cadeira de rodas.

─── Sua carruagem chegou, Cinderela. ─── ela brincou.

Agatha examinou o objeto de cima a baixo como se tentasse decifrar aquele tipo de “piada”.

─── Pra que isso?

─── Você escutou a doutora, nada de esforços, Harkness!

A mais nova apontou freneticamente para a cadeira.

─── Eu estou grávida, não invalida. Eu posso andar.

Billy interviu. Pegou nas mãos da Tia e a ajudou a levantar da cama.

─── Pode, mas não precisa. ─── ele a direcionou. ─── Vamos, rainha das entidades púrpuras! Seus dias de Cleópatra estão prestes a começar.

A morena queria contestar, mas estava tão cansada que preferiu seguir o fluxo dos demais. Sentou-se na cadeira e com muitas reclamações foi guiada até o estacionamento do hospital.

No fundo, sabia que a preocupação era louvável e sentia o coração quentinho com todo aquele cuidado. Mas admitir era algo que não correspondia com a teimosia em pessoa: Agatha Harkness.

Chegaram em casa em impressionantes 45 minutos. Não, aquele não era um tempo satisfatório. Sharon dirigia em uma lentidão que beirava ao ridículo. A senhora afirmou que não queria que a filha sentisse algum tipo de impacto decorrente da aceleração, por isso a viagem seguiu em passos de tartaruga. Para compensar o ritmo absurdamente devagar, Billy pediu para que fosse deixado em casa no meio do caminho. Afirmou que tinha que resolver algumas coisas em casa com a família.

Kate foi a primeira a sair. Deu a volta no carro e abriu a porta traseira para a irmã.

─── Me concede a sua mão, senhorita? ─── a mulher tentava manter o clima o mais agradável possível.

─── Vocês são ridículos, sabiam? ─── ela não insistiu. Estendeu a mão para a irmã e juntas seguiram até a casa.

Sharon vinha logo atrás carregando uma das malas com certa dificuldade.

Ao entrarem em casa, Agatha sentiu o aroma familiar percorrendo todo seu corpo. O cheiro de café recém passado e a suave fragrância de lavanda que depositava sobre os móveis após a limpeza estava no ar.

Seus olhos logo percorreram o lugar com satisfação, mas sua expressão serena mudou ao perceber a figura que estava sentada no sofá: Rio Vidal.

─── Chegamos! ─── Kate anunciou, feliz. ─── Meu Deus, que cheiro bom.

─── Rio, querida! Me ajude aqui! ─── Sharon implorou. Os braços quase roxos pelo peso que carregava.

Vidal prontamente pegou a mala das mãos da mulher que respondeu sorrindo: ─── Tem mais lá no carro, meu bem.

─── Bom, acho que temos um problema. ─── Bishop analisou o cenário e disse em um tom dramático. ─── As escadas…

Agatha inclinou a cabeça como se tentasse decifrar qual era o “problema.”

─── Já sei! ─── a Harkness mais nova abriu um sorriso cúmplice para a cunhada. ─── Vem, Riacho! Mostra pra gente que esses seus braços aí não são só para levantamento de garfo.

A escritora deu uma risada amarga.

─── Vocês só podem estar de brincadeira com a minha cara. ─── ela bufou. ─── Eu não preciso de ajuda para subir as escadas da minha casa!

─── Essa é a questão. Ela não vai te ajudar, vai te carregar.

Kate sorriu como se vencesse uma batalha.

Harkness a lançou um olhar como se dissesse: “Me obrigue”.

No entanto, Rio não hesitou. Se aproximou da esposa e perguntou baixinho:

─── Sem esforços desnecessários, lembra?

─── Você não vai me carregar… ─── Agatha assentiu séria.

─── Não vai ser a primeira vez. ─── Vidal abriu um sorriso tímido. Pôs as mãos na cintura da mulher com cuidado e a levantou nos braços.

─── Vidal, me coloca no chão! ─── a mais velha reclamou irritada. ─── Eu não vou falar outra vez!

─── Cachorro que ladra não morde, querida! ─── Sharon concordou com a atitude da nora. ─── Vamos subir!

(…)

AS MILHARES DE PEÇAS DE ROUPAS ESPALHADAS pelo chão do quarto eram sinal que o garoto tinha um plano a seguir. Billy Maximoff, enquanto ouviu sua playlist de musicais da Broadway, arrumava sua mochila como se fosse acampar em um deserto.

Sua bolsa continha tudo: vestimentas, acessórios, creme de mãos e pés, velas aromáticas, essências de banho.

─── Preciso pegar os biscoitos que encomendei mais cedo. ─── Ele comentou. Decidia se levava mais uma bolsa ou pegava a mala de viagens logo de uma vez. ─── “It's a hard-knock life, for us!”

O garoto cantarolava empolgado. Annie era um de seus musicais favoritos.

Ainda distraído com a arrumação, não percebeu ambas as mães paradas na porta do quarto o observando.

─── É oficial, ele vai se mudar. ─── Natasha comentou. Os ombros caídos em desconforto.

Wanda suspirou nostálgica.

─── Billy… ─── ela o chamou.

Ele se assustou.

─── Minha nossa senhora da bicicletinha! ───  o jovem colocou as mãos sobre o peito de forma teatral. ─── Sabia que a porta existe pra bater, né?

─── Viemos nos certificar de que não estava levando o carpete da casa também. ─── Romanoff cruzou os braços. Estava admirada com a quantidade de coisas que o filho levava. ─── Está indo pra algum combate, por acaso?

─── Mãe, pelo amor de Cher, eu não estou indo para a guerra. É só a casa da tia Aggie!

─── Só a casa da tia Aggie? ─── Natasha arqueou uma sobrancelha. ─── Você está indo praticamente gerenciar um spa cinco estrelas pra ela, garoto.

Billy deu um sorriso presunçoso e fechou a mochila.

─── Exatamente. E ninguém está mais qualificado pra isso que eu.

─── Tem certeza que é o momento, filho? ─── Wanda percorria o quarto que estava quase vazio. ─── A Agatha acabou de voltar pra casa e ainda está em processo de recuperação. Não sei se o momento é dos melhores pra você ir.

─── Eu já disse que não vou mudar de ideia, mãe! Eu vou ajudar a Tia Aggie e ninguém pode me impedir. Serão os dois meses de glória da vida dela. Apenas sombra e água fresca. Nada com o que se preocupar. E além do mais, não vou incomodar, eu tenho um quarto só pra minha na casa dela.

─── Desde quando você tem um quarto na casa da Agatha? ─── Wanda indagou incrédula.

─── Você não sabia? ───  Natasha riu. ─── Mulher…

─── Não?

Billy se aproximou e a beijou no rosto.

─── Eu amo vocês, mas vocês entendem que a minha maternidade está dividida em três, né? Preciso socorrer a minha deusa púrpura que ficará sob os cuidados traumatizantes da maléfica Rio Vidal. ─── seu tom foi extremamente dramático e teatral. ─── Pobre rainha, presa na torre, atormentada pelas amarras de uma companheira de quarto que não lembra nem do filme que assistiu ontem.

As duas mulheres gargalharam.

─── Felizmente o bobo da corte purpurinado, Billy, o maravilhoso, enfrentará todos os desafios para proporcionar um repouso mais do que agradável para sua ama suprema, Agatha Harkness, a primeira  de seu nome. A mãe dos gays oprimidos, a deusa das causas LGBTQIAP+, a defensora dos musicais injustiçados, a…

─── Nós já entendemos, Billy, o maravilhoso. ─── uma das mães o interrompeu.

─── Bom, já que compreenderam o meu propósito, acho que está na minha hora. ─── O jovem pegou a mochila que mais parecia conter uma coleção de tijolos e aprumou a roupa recém amassada. ─── Acho que vou precisar de um ortopedista mais tarde… a idade chega pra todos, não é mesmo?

─── Vamos, eu te levo! ─── Romanoff o ajudou com a mochila. ─── Mas se a sua Tia te expulsar o problema é seu. Não aceitamos devolução, garoto.

─── É bom saber o quão amado eu sou nessa família. ─── finalizou irônico.

(...)

O QUARTO DE AGATHA PARECIA UMA MISTURA DE HOSPITAL DE LUXO E SANTUÁRIO PARTICULAR. Cortinas de veludo cinza filtravam a luz suave do final da tarde, almofadas cuidadosamente organizadas estavam empilhadas atrás dela, e uma bandeja de chá e biscoitos repousava na mesa de cabeceira. Sharon, sempre atenciosa, ajeitava os travesseiros em volta de Agatha como se ela fosse feita de vidro. Kate estava ao lado, segurando um buquê de flores que havia trazido, movendo-se com a energia inquieta de quem não sabia exatamente o que fazer.

─── Pronto, querida, agora você está confortável? ─── Sharon perguntou, suavemente, enquanto dobrava uma manta macia sobre as pernas de Agatha. 

─── Se você colocar mais um travesseiro aqui, mãe, acho que vou sufocar. ─── Agatha respondeu, exasperada, mas com um sorriso cansado. 

Kate riu enquanto colocava as flores em um vaso que encontrou no canto. 

─── Pelo menos vai sufocar em grande estilo, mana. ─── Kate brincou, ajustando os caules de forma desajeitada. 

Agatha lançou um olhar dramático para a irmã mais nova. 

─── Estilo sempre, querida. Mesmo no leito de morte. 

Rio estava parada ao pé da cama, claramente desconfortável. Seus braços cruzados, os ombros tensos, como se estivesse em um ambiente onde não era bem-vinda – o que, considerando o olhar que Agatha ocasionalmente lhe lançava, não estava muito longe da verdade. Sharon notou a tensão e tentou suavizar a situação. 

─── Rio, querida, tem água na cozinha. Pode pegar um copo para a Agatha? 

Rio hesitou por um momento antes de assentir. 

─── Claro. ─── Ela saiu rapidamente, quase aliviada por ter um motivo para escapar. 

Assim que Rio desapareceu pelo corredor, Sharon virou-se para Agatha. 

─── Dê uma chance a ela. Está aqui porque se importa, mesmo que tenha dificuldades em demonstrar. 

─── Dificuldades? ─── Agatha arqueou uma sobrancelha. ─── Isso é generoso. 

Kate se aproximou, sentando-se na beira da cama. 

─── Aggie, relaxa. Você já venceu metade da batalha só por fazer a Rio sair da toca dela e vir até aqui. O resto vai acontecer naturalmente. 

Agatha suspirou, apoiando-se contra os travesseiros. 

─── Naturalmente não é exatamente o forte da Rio, Kate. E, francamente, não tenho energia para discutir com ela agora. 

Antes que Kate pudesse responder, Rio voltou, carregando um copo d'água, que entregou a Sharon, claramente aliviada por não precisar interagir diretamente com Agatha. 

─── Aqui está. Mais alguma coisa? ─── Rio perguntou, a voz baixa, sem olhar diretamente para Agatha. 

Sharon sorriu gentilmente e pegou o copo. 

─── Não, isso é tudo por enquanto. 

Ela deu um tapinha no ombro de Rio e depois olhou para Kate. 

─── Vamos, Kate. Deixemos a nossa paciente descansar. 

Kate deu um beijo na testa de Agatha antes de seguir Sharon. 

─── Fique tranquila, Aggie. Vou trazer mais flores da próxima vez, só para te irritar. 

Agatha revirou os olhos, mas não pôde deixar de sorrir. 

─── Tenha ao menos o bom senso de escolher flores decentes, Kate. 

Assim que Sharon e Kate saíram, o silêncio entre Rio e Agatha se tornou quase palpável. Rio olhou para o chão, os dedos mexendo nervosamente na bainha de sua camisa. 

─── Se precisar de mais alguma coisa, é só avisar. ─── Rio disse finalmente, a voz hesitante, ainda sem encará-la. 

Agatha suspirou, virando a cabeça para o lado e fechando os olhos. 

─── Vou avisar, sim. ─── Sua voz era baixa, quase um sussurro, carregada de exaustão. 

Rio ficou no lugar onde estava, indecisa se deveria sair ou falar. Algo na exaustão de Agatha, no jeito como ela virava o rosto para evitar olhá-la, a impediu de simplesmente ir embora. Respirou fundo, cruzando os braços como se tentasse se proteger das palavras que inevitavelmente viriam.

─── Quer que eu vá embora? ─── Rio finalmente perguntou, a voz baixa, quase temerosa da resposta.

Agatha abriu os olhos, encarando o teto por um momento antes de virar o rosto para ela.

─── Não, Rio. Você não precisa ir embora. ─── Sua voz era fria, mas havia um traço de cansaço que suavizava o tom. ─── Você vai dormir no quarto de hóspedes.

Rio assentiu, quase aliviada pela decisão prática.

─── Certo. Isso faz sentido.

Agatha soltou uma risada amarga, balançando a cabeça.

─── Faz sentido? ─── Ela repetiu, olhando diretamente para Rio. ─── Nada disso faz sentido, Rio. Você estar aqui, depois de me abandonar. Eu estar aqui, lutando para manter este bebê enquanto você... você nem acredita que ele é seu.

Rio franziu a testa, dando um passo à frente.

─── Eu estou aqui agora, não estou?

─── Sim, porque é o que você acha que deve fazer. ─── Agatha respondeu, a voz subindo um pouco. ─── Mas isso não significa que você acredita, que você realmente está comigo nisso.

Rio apertou os punhos ao lado do corpo, cada palavra de Agatha como um golpe. Sua raiva subia à superfície, quente e pulsante, misturada com a frustração que ela não conseguia controlar.

─── Eu estou aqui, Agatha! ─── Rio disparou, a voz finalmente ganhando força. ─── Não importa como, não importa o que aconteceu, eu estou aqui!

Agatha ergueu uma sobrancelha, o cansaço se mesclando com a raiva nos olhos.

─── Você está aqui porque acha que tem que estar. ─── Ela rebateu, o tom cortante. ─── Não porque quer.

Rio deu uma risada amarga, passando as mãos pelo cabelo em um gesto nervoso.

─── E como você quer que eu queira? ─── Ela perguntou, os olhos brilhando com a intensidade de sua raiva. ─── Como eu deveria reagir a isso tudo, Agatha? Você aparece grávida, e... de quem? Eu ainda tenho que acreditar que é meu?

Agatha fechou os olhos por um momento, tentando respirar fundo. Quando os abriu, havia um brilho perigoso neles.

─── O bebê é seu, Rio. ─── Sua voz era firme, embora o tremor de mágoa fosse perceptível. ─── Não tem outro “quem”. Só você. A porcaria do seu óvulo!

Rio deu um passo à frente, apontando para ela.

─── E espera que eu acredite nisso? Depois de tudo?

─── Sim! ─── Agatha respondeu, a voz finalmente saindo alta, mesmo em sua fraqueza. ─── Porque é a verdade! Isso é por nós, Rio! Porque era o que queríamos, porque isso nos faria felizes!

Rio deu uma risada amarga, balançando a cabeça.

─── Felizes? ─── Ela perguntou, incrédula. ─── Para nós? E agora eu estou aqui, ouvindo você dizer que é meu, mas tudo grita que não é!

Agatha segurou as cobertas com força, sentindo o coração bater mais rápido com a exaustão emocional.

─── E mesmo que não fosse, ─── ela começou, a voz tremendo de raiva e dor, ─── isso te dá o direito de me abandonar? De me fazer passar por isso sozinha enquanto é minha esposa?

Rio recuou um passo, como se tivesse levado um tapa.

─── Eu não... ─── Ela tentou, mas as palavras ficaram presas na garganta.

─── Você fez, Rio. ─── Agatha insistiu, sua voz baixando para um tom quase triste. ─── Você me deixou sozinha, e agora volta cheia de raiva. Raiva de mim, do bebê, do Billy... mas a verdade é que a sua raiva é com você mesma.

Rio ficou parada, a boca abrindo e fechando sem som. Era verdade. Ela sentia raiva de tudo, mas principalmente de si mesma. Por não saber lidar, por não conseguir acreditar, por amar Agatha mais do que qualquer coisa, mas sentir que tudo estava escapando pelas suas mãos.

─── Eu... ─── Rio começou, mas Agatha a interrompeu, a exaustão vencendo sua raiva.

─── Vá para o quarto de hóspedes, Rio. ─── Ela disse, sem força, mas com firmeza. ─── Eu não posso fazer isso agora. Não com você assim.

Rio hesitou, mas não conseguiu responder. Sem mais palavras, ela se virou e saiu do quarto, a porta se fechando suavemente atrás de si.

(...)

A ESCURIDÃO DO QUARTO DE HÓSPEDES PARECIA SUFOCANTE, e cada movimento de Rio fazia as cobertas se embolarem mais. Ela virou de um lado para o outro, puxando o travesseiro sobre o rosto na tentativa de sufocar os pensamentos barulhentos que ecoavam na sua mente. Mas era inútil. A imagem de Agatha, magoada e exausta, não saía da sua cabeça.

Depois de um tempo, Rio bufou e jogou as cobertas de lado, sentando-se na cama com um suspiro frustrado. Olhou para o relógio no criado-mudo: 3h24 da madrugada.

Sem conseguir se conter, ela saiu do quarto silenciosamente, seus pés descalços fazendo pouco barulho contra o chão de madeira. No corredor, passou pela porta do quarto de Billy, entreaberta. Parou por um instante e espiou lá dentro.

Billy estava deitado de lado, a respiração pesada em um ritmo constante de quem dormia profundamente. Sua mão estava jogada sobre a almofada, o cabelo um emaranhado que contrastava com a expressão tranquila em seu rosto. Rio ficou ali, observando-o por um momento. Ele parecia tão relaxado, tão seguro. Ela sentiu uma pontada de inveja.

─── Como você consegue dormir tão tranquilo, garoto? ─── murmurou para si mesma, sem esperar uma resposta.

Com um último olhar, Rio seguiu pelo corredor até a cozinha. Acendeu apenas a luz do balcão, que lançou um brilho suave pela sala. Abriu a geladeira e ficou ali, olhando para o interior como se a resposta para suas dúvidas estivesse escondida entre as garrafas de água e as sobras de comida.

Pegou uma garrafa de água e se apoiou no balcão, dando pequenos goles. Seus pensamentos estavam caóticos. Parte dela queria subir de volta para o quarto de hóspedes e tentar dormir, mas outra parte – a maior – queria ir até Agatha.

“Ela está dormindo”, tentou argumentar consigo mesma. “Você vai só agitar mais as coisas. Ela precisa descansar.”

Rio não conseguiu resistir. Era como se algo maior do que ela mesma a empurrasse em direção ao quarto de Agatha. Respirando fundo, largou a garrafa de água na pia e começou a subir as escadas em silêncio, cada degrau emitindo um pequeno rangido que parecia ensurdecedor no silêncio da madrugada.

Chegou à porta do quarto de Agatha, que estava entreaberta, deixando escapar um pouco da luz fraca do abajur ao lado da cama. Ela espiou por uma fresta, vendo a mulher adormecida. Agatha estava deitada de lado, com uma das mãos descansando sobre a barriga. Parecia frágil de um jeito que fazia algo se apertar no peito de Rio.

Com cuidado, empurrou a porta e entrou. Seu coração batia forte, mas ela se movia devagar, quase sem fazer barulho. Parou ao lado da cama, observando Agatha por um momento. O peito dela subia e descia em um ritmo constante, e seu rosto estava suavizado pelo sono, como se todas as linhas de tensão e mágoa tivessem desaparecido.

Rio hesitou, olhando para a barriga de Agatha. Era estranho. Como ela deveria fazer isso? Falar com um bebê que mal existia? Um bebê que... ela nem sabia como se sentir sobre?

Mas ali estava ela, de pé no meio da madrugada, com a sensação de que precisava tentar.

─── Oi. ─── Ela começou, a voz um sussurro quase inaudível. Limpou a garganta, sentindo-se ridícula. ─── É... sou eu.

Rio passou a mão pelos cabelos, olhando para a barriga como se esperasse que o bebê fosse responder.

─── Você provavelmente não sabe quem eu sou ainda, mas... eu sou sua... ─── Ela engasgou, a palavra "mãe" presa na garganta. ─── Eu sou Rio.

Sentiu um nó na garganta e tentou se recompor, agachando-se ao lado da cama para ficar mais próxima.

─── Olha, eu não sei como isso vai funcionar. Eu nem sei se vou ser boa nisso. ─── Sua voz era baixa, mas carregada de emoção. ─── Mas... eu acho que você merece que alguém tente.

Ela estendeu uma mão hesitante e parou antes de tocá-la na barriga de Agatha, olhando para o rosto da mulher para se certificar de que ela ainda dormia. Finalmente, pousou a mão levemente sobre a barriga.

─── Você é... complicado, sabia? ─── Rio continuou, forçando um sorriso. ─── Eu nem sei o que pensar sobre você. Mas uma coisa eu sei... você já tem a mãe mais teimosa do mundo. E se ela está disposta a lutar por você, eu acho que preciso fazer o mesmo.

Houve um momento de silêncio em que Rio ficou apenas ali, com a mão sobre a barriga de Agatha, tentando absorver o que sentia. Era confuso, mas era algo.

─── Eu ainda não sei como vai ser... ─── murmurou. ─── Mas acho que... talvez a gente possa descobrir juntos.

Rio ficou ali, com a mão ainda levemente pousada na barriga de Agatha, como se o contato pudesse transmitir algum tipo de certeza que ela não tinha. Uma pequena risada escapou de seus lábios, suave e quase inaudível. 

─── Sabe... você nem nasceu ainda, e já está complicando minha vida. ─── sussurrou com um sorriso melancólico. ─── Mas acho que isso é um bom sinal. Significa que você já está deixando sua marca. 

Ela ficou em silêncio por um momento, como se escolhesse as palavras com cuidado. Depois, balançou a cabeça levemente, um pensamento surgindo. 

─── Minha abuela... sua bisabuela, acho, ─── Rio corrigiu-se com um toque de humor nervoso, ─── costumava cantar para mim quando eu era pequena. Eu sempre achava que isso resolvia tudo... mesmo quando não resolvia nada. 

Rio fechou os olhos por um instante, permitindo que a memória da voz da avó preenchesse sua mente. Era uma canção simples, mas cheia de conforto. Ela começou a cantar, a voz baixa e um pouco trêmula no início: 

"Duérmete niño, 
Duérmete ya, 
Que viene el coco 
Y te llevará..." 

Havia um calor na canção, mesmo com as palavras um tanto estranhas. Rio balançava levemente o corpo enquanto cantava, como se tentasse acalmar a si mesma tanto quanto ao bebê. 

Quando terminou, um silêncio tomou conta do quarto novamente. Rio olhou para a barriga de Agatha, passando os dedos distraidamente pela costura do lençol. 

─── Não sei se você conseguiu ouvir, mas... talvez eu tente de novo quando você estiver aqui. ─── murmurou, a voz cheia de uma emoção que ela não sabia nomear. 

Ela ficou mais um momento ali, apenas ouvindo a respiração tranquila de Agatha, antes de se levantar e ajeitar o lençol cuidadosamente sobre ela. 

─── Boa noite, pequeno. ─── sussurrou antes de sair do quarto, fechando a porta com o máximo de cuidado, um pequeno sorriso no rosto.
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• 🩷 . . OO1 ❜ Acredito que falo por mim e por todas quando digo que Rio está agindo como uma criança quanto ao bebê, maaaaas... Minha parte otimista não pode deixar de estar feliz por elas estarem na mesma casa, né...? NÉ?

• 🩵 . . OO2 ❜ No próximo capítulo:

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