♡ | 0.1
∯﹒🧸 ⁺ ﹒ ◍ ﹒ 𝐌𝐘 𝐋𝐎𝐕𝐄, 𝐌𝐘 𝐋𝐈𝐅𝐄 ﹒ ﹒ ♪
──⠀۪ 🩷 ♡ ۫ ' "my love and my life" 🍼┄﹒ ▢
❛ postado em 10/01/2025
4.117 palavras | não revisado.
I've seen it on your face
(Eu vi em seu rosto)
Tells me more than any worn-out old phrase
(Me diz mais do que qualquer frase velha e desgastada)
So now we'll go separate ways
(Então agora vamos por caminhos separados)
Never again we two
(Nunca mais nós dois)
Never again, nothing I can do
(Nunca mais, nada que eu possa fazer)
. ݁ ٬٬ 𝐌𝐄𝐓𝐀 ִ ֗ ៵ʾ ▎20 votos
e 50 comentários para a próxima atualização
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AS NUVENS NO CÉU DE WESTVIEW PREENCHIAM a paisagem como se a manhã fosse um quadro pintado a mão. O clima úmido e ameno, característico dos invernos gélidos da cidade, trazia com sigo uma certeza de que época de festas estava se aproximando.
Tudo parecia estar calmo e silencioso, menos dentro daquele banheiro.
Aquele banheiro...
Agatha Harkness estava sentada na tampa do vaso sanitário há quase 10 minutos. Seus pés tamborilava de forma ansiosa o piso frio do lavabo. A única certeza que tinha era que o objeto depositado sobre a pia mudaria todo o seu futuro, ou talvez não...
Talvez fosse mais uma das inúmeras tentativas frustradas de terem um bebê para chamarem de seu, ou então um alarme falso como da última vez.
─── Tia Aggie, tá tudo bem aí dentro? ─── Billy, o sobrinho da mulher, estava ao lado da porta segurando Senõr Scratchy, o coelho de estimação da família. Sua animação era tamanha que já tinha dado umas 20 voltas pelo quarto. ─── Por favor, não me diga que a privada engoliu você.
Tinha chegado a hora, a morena de olhos azuis cintilantes não podia continuar com aquela tortura, ela precisava olhar.
Uma parte dentro de si já sabia o resultado, ela e a esposa estavam tentando há mais de 4 anos e os custos para futuras FIV's ficavam cada vez mais altos.
─── É só mais um teste... ─── Agatha sussurrou para si mesma enquanto pegava o item que nadava em seu xixi recém coletado.
Seus olhos caíram sobre o objeto e sua mente demorou alguns segundos para entender o que significava.
2 traços.
O coração de Harkness disparou. Não era possível que, finalmente, estava acontecendo.
─── Não... não pode ser. ─── A mulher resgatou a caixa do lixo e leu copiosamente as instruções.
2 traços = grávida.
─── Olha, eu vou chamar a polícia pra invadir esse banheiro! Abre logo! ─── Billi insistiu batendo na porta.
Agatha ficou imóvel segurando o teste em suas mãos. Um misto de sentimentos e sensações percorriam todo seu corpo e sua única vontade era sair daquele quarto e gritar para o mundo que estava à espera do primeiro filho.
─── Eu tô pegando o telefo... ─── as palavras de Billy foram interrompidas pelo solavanco nada carinhoso da mulher que abriu a porta rapidamente e o puxou para dentro do banheiro.
O menino logo arrancou o teste das mãos dela e o encarou seriamente.
─── São 2 traços. ─── ele sorriu. ─── Isso quer dizer que... AH MEU DEUS! ─── gritou.
Ele agarrou a tia em um abraço apertado e continuou escandalosamente.
─── EU VOU SER PADRINHO!!! ─── o garoto fingiu uma emoção teatral. ─── Espera, eu vou ser padrinho, não vou?
No entanto, o semblante hipnotizado de Agatha o deixou preocupado.
─── Ei... ─── Billy começou a encarando. ─── Tá tudo bem?
Ela concordou com a cabeça tentando segurar o choro. Entretanto, seus esforços foram em vão. Em menos de 2 segundos, Agatha estava agachada em prantos no chão do banheiro.
Billy se assustou, não sabia o que fazer para acalmar a mulher à sua frente.
─── Tia Aggie... ─── ele se abaixou com cautela. ─── O que foi? Você não está feliz?
A morena tentou conter as lágrimas que escorriam sem pausas pelo seu rosto.
─── Não é isso... ─── Agatha não conseguia parar de chorar. Seus soluços eram tão insistentes que o garoto ponderou seriamente em chamar ajuda. - Eu não sei, Billy...
─── Não sabe? ─── o menino se sentou ao lado da tia e perguntou confuso.
Ela levantou a cabeça e pôs as mãos sob a perna do sobrinho.
─── É mais complicado do que parece, querido... ─── a mais velha enxugou algumas lágrimas com uma das palmas da mão. ─── Pode ser que esse seja mais um daqueles falsos positivos... ─── ela tentou continuar, porém Billy a interrompeu segurando em sua mão.
─── Você sabe que com esses testes modernos é muito mais raro de acontecer, não é? E além do mais, tudo se encaixa. Os enjoos, o desprezo inacreditável por um dos meus perfumes caríssimos da Dior e parece que até os seus peitos cresceram. ─── ele pontuou sério.
Agatha olhou para baixo, encarando seus seios.
─── Você tem prestado atenção nos meus peitos, garoto? ─── a mulher perguntou soltando uma leve risada. Aquele menino tinha o poder de fazê-la sorrir até nos piores momentos.
─── É um pouco difícil não reparar com esses dois melões saltando pra fora. ─── ele suspirou rindo. ─── Mas não se preocupe, você sabe que eu não curto esse tipo de fruta.
Agatha corou sentindo a leveza do momento por alguns instantes. Ela queria acreditar que fosse mentira, mas parando pra pensar, tudo estava claro demais para não ser verdade.
Sim, era o sonho da sua vida, mas naquelas circunstâncias, definitivamente não.
─── Sabia que eu sou um pouco "jovem místico" né? E bom, digamos que eu sinto que existem 3 pessoas nesse banheiro. Eu, você e o bebê que vai ser a coisa mais fofa do mundo. ─── o jovem falou a última parte direcionada especialmente para o ventre da tia.
Ela respirou fundo e olhou nos olhos do sobrinho:
─── Posso te pedir uma coisa?
─── Claro! Contanto que não seja algo impróprio... ─── disse com sarcasmo. ─── Você sabe que eu sou um anjinho.
Agatha soltou uma risada abafada.
─── Pode guardar esse segredo pra mim, anjinho? ─── a mulher perguntou, sorrindo.
Ele colocou as mãos sobre peito em falsa indignação.
─── Mas é óbvio que sim! Minha boca é um túmulo!
─── É melhor ser mesmo, não quero ter que contar para a sua mãe que você dormiu na casa daquele garoto maior de idade sem a permissão dela. ─── Agatha comentou fingindo seriedade.
─── Você está me chantageando, Agatha Harkness? ─── Billy indagou, agora sim indignado.
─── Talvez... ─── ela suspirou dramaticamente.
O garoto se levantou do chão do banheiro e estendeu uma das mãos para ajudar a morena a se levantar. Quando ambos estavam de pé, Billy deu-se por vencido e disse:
─── Tudo bem, eu aceito a proposta.
Agatha sorriu com os olhos e o puxou para uma sessão interminável de beijos na bochecha.
─── Ah, tá bom, Tia Aggie, já entendi que a senhora me ama. ─── ele começou a limpar os beijos com uma das mãos. ─── Agora, pra provar ainda mais esse seu amor por mim, você pode me doar, carinhosamente, 50 dólares para eu ir em uma festa com um amigo no sábado?
─── Amigo? ─── Agatha fincou as sobrancelhas.
─── Amigo, colega, conversante, ficante, dá no mesmo né?
Ela revirou os olhos e destrancou a porta do banheiro indo em direção à cômoda do quarto.
- Você não se cansa de me extorquir não, garoto? - o tom da morena foi mais divertido
do que sério. - Eu vou ficar pobre daqui a pouco. - Agatha se levantou e pegou a carteira.
- Pobre, mas cheio do amor do seu sobrinho favorito. - Billy a acompanhou, sorrindo.
Ele pegou o dinheiro e depositou um beijo no rosto de Agatha.
- Juízo! - ela o fitou. - E não se esqueça, proteção em primeiro lugar.
Os dois riram e Billy começou a comentar sobre as últimas atualizações do caos que era o seu colégio.
Naquele momento, Agatha podia sentir o peso do turbilhão de emoção se esvaindo em pequenas porções. Entretanto, ela sabia que tinha que encarar aquela realidade de frente, mesmo que fosse impossível de aceitar.
(...)
𝑨𝑳𝑮𝑼𝑴𝑨𝑺 𝑺𝑬𝑴𝑨𝑵𝑨𝑺 𝑨𝑵𝑻𝑬𝑺
RIO ENTROU EM CASA COMO UM FURACÃO, trazendo com ela a energia de quem havia conquistado o mundo.
─── Você não vai acreditar no que aconteceu hoje! ─── anunciou, largando a bolsa no sofá e tirando os sapatos sem parar de falar. ─── Tive uma ideia genial para um cliente que estava travado há meses. Ele adorou, claro, porque, bem, eu sou incrível.
Agatha estava sentada à mesa da cozinha, aparentemente folheando um livro, mas os olhos estavam fixos no mesmo parágrafo havia horas. O silêncio dela era tão pesado que parecia contaminar o ambiente, mas Rio não percebeu.
─── E você precisava ver a cara dele, Aggie. Parecia que eu tinha dado a ele a chave para o universo! ─── Rio continuava, andando pela cozinha enquanto mexia na geladeira. ─── Eu devia começar a cobrar por ideia, sabia?
─── Rio. ─── Agatha tentou interromper, sua voz baixa e sem energia.
─── E aí eu estava pensando que talvez devêssemos celebrar hoje à noite. O que acha de pedirmos algo especial? ─── Rio ignorou, colocando um suco na bancada. ─── Sushi? Ou aquele risoto que você ama?
─── Rio! ─── A voz de Agatha subiu um tom, fazendo a outra mulher finalmente parar e olhar para ela.
─── O quê? ─── perguntou, confusa, ainda segurando o copo na mão.
─── Será que você pode parar por um segundo? ─── Agatha se levantou, os olhos cintilando com uma mistura de exaustão e raiva. ─── Você entrou aqui como se fosse o centro do universo, como se nada mais importasse além do que acontece no seu trabalho.
─── O que está acontecendo? ─── Rio franziu o cenho, sem entender a explosão repentina. ─── Eu só estava compartilhando o meu dia com você.
─── E eu não posso compartilhar o meu? ─── Agatha rebateu, cruzando os braços. ─── Eu tive um dia horrível, Rio. Horrível. Mas você nem perguntou como eu estava antes de começar a falar sobre o quanto você é incrível.
Rio a encarou por um momento, confusa, antes de largar o copo na pia.
─── Tudo bem, o que aconteceu?
─── O que aconteceu? ─── A morena soltou uma risada amarga. ─── Eu tive um sangramento hoje de manhã. Um sangramento, Rio. Você sabe o que isso significa, não sabe?
Rio empalideceu.
─── Aggie, eu...
─── Não, você não sabe, porque você não presta atenção! ─── A voz de Agatha quebrou, e ela passou a mão pelo rosto, frustrada. ─── É o fim de mais uma tentativa. Mais um fracasso.
─── Eu não sabia... ─── Rio começou, mas foi interrompida.
─── Claro que não sabia! ─── Agatha gritou, o rosto ficando vermelho. ─── Porque você estava muito ocupada vivendo no seu mundo perfeito enquanto eu estou aqui, sozinha, lidando com isso!
O silêncio caiu entre as duas como uma parede intransponível. Rio tentou tocar o braço de Agatha, mas ela se afastou.
─── Você não entende, Rio. ─── A voz de Agatha era apenas um sussurro agora. ─── Isso não é só uma derrota. É o sonho que estamos perseguindo há anos... escapando de nós de novo.
Rio a olhou, sem saber o que dizer. Ela sempre fora a otimista, aquela que tentava ver o lado bom em tudo. Mas, naquele momento, as palavras que ela poderia oferecer pareciam insignificantes diante da dor de Agatha.
Sem outra opção, Rio apenas abriu os braços, oferecendo um abraço silencioso.
─── Me deixa, por favor. ─── Agatha murmurou, desviando o olhar.
Rio abaixou os braços lentamente, seu sorriso vacilando diante da rejeição. A tensão no ambiente era quase palpável, cada palavra não dita ecoando entre elas.
─── Certo... ─── Rio disse finalmente, tentando manter a calma. ─── Mas você não precisa enfrentar isso sozinha, Agatha. Estou aqui, sempre estive.
─── Sempre esteve? ─── Agatha riu, mas sem humor. ─── Você não tem ideia de como me sinto, Rio. Nenhuma.
─── Então me explica! ─── Rio rebateu, levantando um pouco a voz. ─── Pelo amor de Deus, Agatha, como posso ajudar se você não me deixa entrar?
─── Não é algo que você possa consertar com sua atitude positiva e suas piadas idiotas! ─── Agatha disparou, a dor e a raiva transbordando. ─── Você acha que basta sorrir e tudo se resolve, mas não é assim que funciona! Não com isso.
─── Então me diga como funciona! ─── Rio cruzou os braços, sua paciência se esgotando. ─── Eu também estou passando por isso, Agatha. Acha que não sinto a mesma dor? Que não fico frustrada? Mas, claro, tudo tem que ser sobre você, não é?
─── Porque sou eu quem carrega o peso, Rio! ─── Agatha gritou, sua voz quebrando. ─── Sou eu quem faz os exames, quem enfrenta as agulhas, quem lida com os olhares de pena dos médicos. Sou eu quem sangra quando falhamos, não você!
Rio deu um passo para trás, como se as palavras fossem um golpe físico. Seu rosto endureceu, a mágoa evidente.
Rio deu um passo para trás, como se as palavras fossem um golpe físico. Seu rosto endureceu, a mágoa evidente.
─── Então, o que você quer que eu faça? ─── Sua voz era firme, mas baixa, carregada de emoção. ─── Quer que eu desapareça? Que eu pare de tentar? Porque, honestamente, Agatha, às vezes parece que é isso que você quer.
Agatha fechou os olhos, tentando conter as lágrimas, mas falhando. Ela deu um passo na direção da porta, pegando um casaco e sua bolsa no caminho.
─── Onde você vai? ─── Rio perguntou, a preocupação tingindo sua voz.
─── Eu não posso ficar aqui. ─── Agatha respondeu secamente, puxando a porta com força.
─── Está chovendo lá fora! ─── Rio exclamou, tentando alcançá-la. ─── Não seja irracional!
─── Irracional? ─── Agatha riu novamente, com amargura. ─── Irracional é acreditar que isso vai dar certo, Rio. Irracional é continuar fingindo que somos fortes o suficiente para isso.
Antes que Rio pudesse responder, Agatha saiu pela porta, ignorando os pingos de chuva que já começavam a encharcar seu cabelo e seu casaco.
Rio ficou parada no corredor, olhando para a porta aberta. O som da chuva ecoava na casa vazia, misturando-se ao silêncio ensurdecedor que Agatha deixou para trás.
─── Droga... ─── Rio murmurou, cerrando os punhos. Ela queria ir atrás dela, mas sabia que isso só pioraria as coisas naquele momento.
Enquanto Agatha caminhava pela rua, a chuva açoitava seu rosto, escondendo as lágrimas que agora desciam livremente. Ela sentia o peso de tudo ─── das falhas, da pressão, da solidão que parecia maior do que nunca.
A chuva continuava a cair com intensidade enquanto Agatha caminhava pelas ruas desertas, sem rumo definido. Seus sapatos encharcados faziam barulho contra o asfalto, e o frio da noite cortava sua pele. Depois de alguns minutos, ela avistou um letreiro piscando em neon: "The Crow's Nest". Um bar pequeno, quase escondido, que parecia exatamente o que ela precisava.
Ela entrou, deixando a chuva para trás, e foi recebida pelo calor abafado do ambiente e pelo som de uma música country tocando baixinho. O lugar estava quase vazio, apenas algumas mesas ocupadas por frequentadores solitários e um homem ao balcão, que virou a cabeça quando Agatha passou.
Ela caminhou direto para o bar e se sentou em um dos bancos altos, soltando um suspiro pesado.
─── O que vai ser? ─── perguntou o barman, limpando um copo com um pano.
─── Qualquer coisa forte. ─── Agatha respondeu, sem olhar diretamente para ele.
Enquanto o barman preparava sua bebida, o homem ao lado dela lançou um sorriso confiante. Ele era alto, com uma barba bem cuidada e um casaco de couro que parecia tirado de um catálogo.
─── Noite difícil? ─── ele perguntou, inclinando-se ligeiramente na direção dela.
Agatha apenas bufou, tomando o primeiro gole de sua bebida assim que o copo foi colocado à sua frente.
─── Você não faz ideia.
─── Talvez eu possa ajudar a melhorar. ─── Ele sorriu de forma sugestiva.
Agatha virou o rosto lentamente, analisando-o por um momento. Em qualquer outro dia, ela teria simplesmente cortado a conversa com uma resposta ácida. Mas naquela noite, sua raiva e frustração precisavam de uma válvula de escape.
─── É mesmo? ─── Ela arqueou uma sobrancelha, o tom carregado de sarcasmo. ─── E como você faria isso?
─── Bem, começaríamos com uma bebida. ─── Ele fez um gesto para o barman. ─── E depois... quem sabe?
Agatha segurou o riso. Ele realmente achava que tinha alguma chance.
─── Claro, por que não? ─── Ela respondeu com um sorriso falso. ─── Vamos ver até onde você vai.
O homem parecia encorajado, pedindo outra rodada de bebidas. E então outra. E outra. Agatha acompanhava cada gole com uma expressão quase entediada, mas internamente, ela se deliciava com o absurdo da situação.
Depois da décima bebida, ela se levantou, deixando o homem mais do que ligeiramente alterado.
─── Você é... bem interessante, sabia? ─── Ele disse, sorrindo.
Agatha ajustou o casaco, pegando sua bolsa e se preparando para sair. A chuva ainda caía forte lá fora, mas ela preferia enfrentar o temporal a ficar mais um segundo naquele lugar.
─── E você é um ótimo fornecedor de bebidas gratuitas. ─── Ela respondeu, seca, enquanto dava as costas ao homem.
Mas ao dar o primeiro passo, sentiu uma tontura súbita. O chão parecia balançar sob seus pés, e a visão ficou turva. Ela tentou se segurar no balcão, mas as mãos falharam.
─── Ei, você está bem? ─── A voz do homem soou distante, como se viesse debaixo d'água.
(...)
O JANTAR CORRIA DE FORMA PACÍFICA NA CASA DOS HARKNESS-VIDAL. As duas mulheres, sentadas no sofá com uma embalagem de comida chinesa nas mãos, comiam tranquilamente enquanto conversavam sobre o dia e assistiam a um documentário sobre aves migratórias no Discovery Channel.
─── Você sabia que as aves comem pedras para digerirem os alimentos já que não têm dentes. ─── Rio comentou interessada. Seus olhos viajavam entre a TV e o Yakssoba em seus hashis. ─── É chamada de mastigação mecânica. Elas têm até um órgão específico pra isso.
Entretanto, a única que parecia entusiasmada com o assunto era Vidal. Agatha permanecia em um estado de torpor desde a manhã.
─── Eu acho que o nome é moela ou algo do tipo, elas têm um... ─── o raciocínio da mulher parou ao reparar que a esposa estava totalmente inerte à conversa. ─── Agatha?
A mulher deixou os hashis caírem dentro da embalagem com o impacto de sair de seu transe.
─── Hm?
─── Você tá bem? Eu tô há meia hora falando sobre esse documentário e você não soltou nem um "a".
Agatha soltou um longo suspiro, cansada.
─── Estou... ─── ela se levantou e foi até a cozinha.
Rio a seguiu de imediato, sentia que algo não estava certo.
─── Tem certeza? Você parece, sei lá, prestes a tomar uma decisão que pode mudar o mundo. ─── ela brincou tentando amenizar o clima tenso que se instaurava no ambiente.
─── Eu já disse que estou ótima,Vidal! ─── o tom de Agatha foi mais grosseiro do que ela esperava.
A mais nova se aproximou com cautela.
─── Você sabe que pode me contar tudo, né? Qualquer coisa... ─── ela tentou segurar as mãos da esposa, mas a mesma recuou bruscamente ao sentir o aroma, exageradamente doce do perfume que Rio usava. O cheiro fez seu estômago embrulhar e uma leve sensação de tontura lhe atingiu em cheio.
─── O que é isso que você está usando? ─── Agatha se afastou tampando o nariz e a boca com uma das mãos. ─── Parece que um pote de açúcar caiu em você.
─── Você não gostou? ─── Vidal inspirou o próprio cheiro. ─── É pêssego, pensei que você gostasse.
─── Gosto... gosto longe de mim. ─── a morena abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água na tentativa de conter o enjoo. ─── Você poderia passar menos na próxima vez? Esses cheiros fortes atacam a minha rinite. ─── ela elaborou rapidamente uma desculpa convincente.
─── Claro... ─── Rio concordou um pouco decepcionada. ─── Tudo por você, meu amor.
O coração de Agatha palpitou. Ela sabia que a esposa não tinha culpa e não queria que a mesma suspeitasse da sua mudança - não tão repentina - de humor.
Foi então que, lutando contra os seus próprios instintos recém adquiridos de gestante, Agatha respirou fundo, prendeu a respiração e abraçou Vidal com todo o seu amor.
─── Está tudo bem, viu? ─── ela sussurrou no ouvido da mais nova. ─── Eu só preciso de um tempo a sós para pensar em algumas coisas do trabalho, sim?
─── Promete não me deixar na cama sozinha? ─── Rio a encarou com um brilho nos olhos.
─── Prometo, meu amor. ─── Agatha depositou um selinho nos lábios da esposa e pegou o celular logo em seguida. ─── Minha mãe disse que precisa da minha ajuda com algumas coisas no jardim, acho que vou antes que escureça. ─── ela pegou a bolsa.
─── Quer que eu te leve? ─── a mais nova perguntou um pouco mais animada.
─── Não precisa, eu vou caminhando. ─── antes de sair, Harkness mandou uma mensagem para o sobrinho para que o garoto a encontrasse na floricultura do bairro. Pegou as chaves de casa e foi até a saída.
─── Te veo, Agatha. Eu te amo! ─── Vidal disse ao acompanhá-la. até a porta.
─── Eu também. ─── ela completou com a voz embargada. ─── Não se esqueça disso.
E assim, Agatha seguiu seu caminho com a incerteza de que o amanhã poderia ser mais fácil.
(...)
O som de passinhos apressados ecoava pela calçada enquanto Billy seguia Agatha, saltitando com um entusiasmo que ela não conseguia compartilhar. Ele segurava um pequeno buquê de margaridas que haviam comprado no caminho, enquanto Agatha carregava um arranjo mais elaborado de rosas brancas e lilás. Sharon adorava flores, e Agatha sabia que seria um gesto apreciado. Ainda assim, o verdadeiro motivo daquela visita era outro.
Assim que chegaram à porta, Billy tocou a campainha repetidamente, sorrindo como se fosse o momento mais emocionante de sua semana.
─── Calma, garoto. Sharon não vai fugir. ─── Agatha murmurou, tentando soar paciente, mas sem muito ânimo.
A porta se abriu, revelando Sharon com o mesmo sorriso caloroso de sempre. Ela estava usando um avental florido e tinha as mãos levemente sujas de terra.
─── Olha quem está aqui! Meus dois favoritos! ─── disse ela, abrindo os braços para recebê-los. Billy se jogou em um abraço apertado, enquanto Agatha entregava as flores com um sorriso tímido.
─── Para você. Espero que combinem com o jardim. ─── Agatha disse, tentando parecer casual.
─── Sempre combinam, querida. Você sabe como me agradar. Entrem, entrem. Acabei de fazer um bolo. ─── Sharon deu um beijo na testa de Billy antes de levá-los para a sala.
A casa tinha o mesmo cheiro acolhedor de sempre, uma mistura de café fresco e lavanda. Billy correu para o jardim, disposto a cortar a grama por alguns dólares. Agatha ficou na sala, observando a mãe colocar as flores em um vaso com todo o cuidado do mundo.
─── Está tudo bem, Agatha? ─── Sharon perguntou, sem tirar os olhos das flores. ─── Você parece... distante.
Agatha hesitou. As palavras estavam na ponta da língua, mas ela não sabia como começar. Finalmente, deixou escapar um suspiro pesado.
─── Mãe, eu... estou grávida. ─── A frase saiu quase como um sussurro, mas Sharon congelou, olhando para ela com surpresa.
─── Grávida? ─── Sharon repetiu, a voz cheia de um misto de surpresa e emoção. ─── Isso é maravilhoso!
Agatha balançou a cabeça, as mãos tremendo enquanto puxava uma mecha de cabelo para trás.
─── Não sei. É complicado. Eu... eu não sei como aconteceu. Eu nem... não foi planejado, mãe. Na verdade, é um desastre.
Sharon colocou o vaso sobre a mesa e se sentou ao lado da filha, segurando suas mãos firmemente.
─── Vamos com calma. Me conte o que aconteceu.
Agatha hesitou novamente, mas sabia que Sharon era a única pessoa que poderia ouvir aquilo sem julgá-la. Contou tudo: o bar, o homem, o borrão de memórias. As palavras saíram entrecortadas, acompanhadas de lágrimas que ela não conseguiu segurar.
Quando terminou, Sharon estava visivelmente chocada, mas manteve a calma.
───Oh, minha menina. Você tem certeza de que foi isso que aconteceu?
───Não. É isso que me mata. Eu não sei de nada. Mas agora... tem algo aqui, crescendo dentro de mim, e eu não sei como lidar com isso. ───Agatha colocou as mãos sobre o ventre instintivamente.
Sharon abraçou a filha, apertando-a com carinho.
───Você não precisa fazer isso sozinha, Agatha. Seja lá o que aconteceu, você tem a mim, tem Billy, tem Rio...
Agatha soltou um risinho amargo.
───Rio vai me matar quando souber. Ela mal consegue lidar comigo nos melhores dias, imagina agora.
─── Rio ama você. Ela vai entender. E se não entender logo de cara, bem... dê um tempo a ela. Vocês são fortes juntas, querida. Vocês podem superar qualquer coisa.
Por um momento, Agatha não disse nada. Apenas permaneceu ali, nos braços de Sharon, sentindo o peso do mundo em seus ombros. Mas, pela primeira vez desde que o teste deu positivo, ela não se sentiu completamente sozinha.
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• 🩷 . . OO1 ❜ Olá! Esperamos que vocês tenham gostado dessa nova história. Estamos muito animadas com o plot, já temos alguns capítulos prontos e esperamos que vocês recebam a história bem.
• 🩵 . . OO2 ❜ No próximo capítulo: Rio Vidal desconfia, Agatha precisa ter certeza.
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