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Acordei com uma dor de cabeça lave, o que já era de se esperar pela quantidade de bebida que eu ingeri. Os eventos da noite passada estavam embaçados na minha mente, involuntariamente soltei um sorriso bobo quando me lembrei de Beom-gyu, e enquanto me sentava na cama, sentindo a leve tontura, procurei meu celular no criado-mudo. Ao ligá-lo, a primeira coisa que vi foi uma mensagem de Han Seo-jun. Meu coração deu um salto.

"Esteja pronta às 19h. Vamos sair."

Esse garoto só pode estar brincando com a minha cara! Eu tinha decidido que iria desistir dele e ele apronta essa? Mas não é possível! Me enfiei nos edredons de novo e balancei minhas pernas, fazendo birra como uma criança. Como ele ousa mandar uma mensagem assim, depois de tudo o que aconteceu? E ainda com tanta certeza, como se ele tivesse o direito de me ordenar algo.

Meus pensamentos estavam uma bagunça. Parte de mim queria ignorar a mensagem, fingir que nunca a recebi e continuar com meu plano de seguir em frente. Mas outra parte, a mais teimosa e curiosa, queria saber o que ele tinha em mente, o que ele queria dizer ou fazer.

Revirei-me na cama, tentando encontrar uma posição confortável que talvez me ajudasse a pensar melhor. Olhei para o celular de novo, a mensagem de Seo-jun ainda brilhando na tela, como se zombasse de mim. Não tinha nenhum emoji, nenhuma explicação, apenas a ordem simples e direta.

"Esteja pronta às 19h. Vamos sair."

Meus dedos coçavam para responder algo sarcástico, talvez uma recusa direta. Mas sabia que não seria capaz de ignorar isso. Talvez porque, no fundo, ainda me importasse com ele, ainda quisesse entender o que se passava na sua cabeça.

Quando voltei para Seul, nem cogitei a possibilidade de nós reatarmos, só queria me desculpar e deixar as coisas menos estranhas entre a gente. Não que eu não quisesse voltar com ele, muito pelo contrário, eu queria e muito, mas eu pensei que ele não iria querer absolutamente nada. Por que será que ele me beijou? No mesmo dia em que eu tinha decido abandonar tudo, foi como se ele conseguisse ler meus pesamentos e só fez isso pra me manter presa.

Meu irmão pode ser meio galinhas, mas ele sabe dar alguns conselhos, então me levantei da cama ainda enrolada no edredom e caminhei em direção ao quarto dele.

Abri a porta do quarto de Min-soo sem bater, pronta para desabafar, mas parei abruptamente. Havia uma mulher deitada ao lado dele na cama. Eu gritei instintivamente, e os dois acordaram assustados.

— Na-yeon! — Min-soo exclamo, confuso enquanto eu cobria os olhos com as mãos.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntei, ainda atônita. — Quem é ela? — Descobri os olhos e tive a visão dos dois me encarando incrédulos.

— Na-yeon, calma. — Min-soo disse, levantando-se rapidamente da cama. — Essa é a Jae-in, minha namorada. Eu ia te contar, mas...

— Mas não teve tempo? — Completei, sentindo uma mistura de raiva e constrangimento. — Vocês poderiam ter me avisado!

— E você avisava quando o seu namoradinho esquisito vinha aqui? — Min-soo rebateu. Dessa vez que lançou uma olhar incrédulo fui eu.

— Olha só, ele só veio aqui umas cinco vezes, e todas eu te avisei. — Apontei meu dedo pra ele. — Mas teve uma vez que... — Conclui baixinho lembrando-me do dia em que ele me pediu em namoro.

Seo-jun me empurrou levemente até a cama, fazendo eu me deitar. O olhar dele me prendia. Quando ele se posicionou sobre mim, meu corpo se arrepiou por completo pela segunda vez.

— Aí, Na-yeon... você quer comer... — A porta do meu quarto foi aberta. Pelo susto susto, empurrei Seo-jun de cima de mim, o fazendo cair no chão. — A sobremesa. —Min-soo completou boquiaberto, mas logo mudando sua feição para uma furiosa.

— Você não tirou cisco nenhum, Seo-jun. — Coloquei a mão no meu olho e comecei a inventar tudo. — Min-soo, me ajuda. Tira o cisco do meu olho, tá ardendo. — Corri até ele arregalando os meus olhos.

Eu ri, me lembrando da desculpa terrível que eu dei. Era uma época tão boa onde eu só tinha que me preocupar em aprender uma coreografia e gastar o dinheiro da minha mãe. Mas eu consegui estragar tudo...

— Do que você ta rindo, maluca? — Min-soo perguntou ainda com um tom bravo.

— Pelo menos você sabia que o Han Seo-jun existia. — Cruzei os braços, fingindo estar irritada. — Não adianta ficar bravo comigo não.

— Desculpe por isso. Não queríamos te assustar. — A tal de Jae-in disse com um sorriso tímido estampado nos lábios.

— Tudo bem, só... avise da próxima vez, ok? — Olhei para Min-soo com uma expressão séria, e ele assentiu.

— Desculpa, maninha. — Ele disse, parecendo genuinamente arrependido. — Não queria que você descobrisse assim.

— Não me chama assim, credo. — Revirei os olhos impaciente.

— Eu vou tomar um banho e deixar vocês conversarem. — Jae-in se levantou meio sem jeito e eu concordei, caminhando até a cama dele.

— O que achou dela? — Min-soo perguntou depois que ela já tinha saído do quarto.

— Não, por pouco não vi ela pelada. — Dei de ombros com indiferença, logo em seguia recebendo um tapa no braço como resposta. — Aí!

— Fala logo o que você tanto queria falar. Pra você abrir a porta desse jeito... coisa boa não é.

— Então... — Pensei no melhor jeito de começar a contar. — Ontem eu encontrei o Su-ho, que me fez falar com o Seo-jun, mas tudo bem. Eu resolvi ignorar os dois e aproveitar a festa. Um cara famoso e super bonito chegou em mim, acredita? — Peguei meu celular para pesquisar uma foto de Beom-gyu.

— Bonitinho mesmo. — Min-soo o analisou dos pés à cabeça. — Devo me preocupar?

— Não, porque depois que ele me levou para dançar, eu pensei que fossemos nos beijar, mas o Su-ho me fez o favor de me atrapalhar extremamente bêbado. E eu, como uma boa amiga, tive que levar ele em casa, mas ele era muito pesado então tive que chamar o Han Seo-jun. — Fiz uma pausa para respirar, já que estava falando rápido de mais. — Depois que deixamos o Su-ho no apartamento dele, o Seo-jun teve a capacidade de me beijar.

— E você retribuiu? — Min-soo me interrompeu e eu suspirei novamente.

— Sim, mas esse não é o ponto. Eu achei que ele me odiaria pelo resto da vida, por isso eu só queria que ele pelo menos me perdoasse, não precisávamos voltar. Mas então, por que ele fez isos? E pra piorar... acordei com isso hoje de manhã. — Entreguei meu celular para ele, mostrando a maldita mensagem e me joguei no monte de travesseiros espalhados pela cama. — O que eu faço?

— Então ele realmente está tentando se reconciliar? —Min-soo perguntou, cruzando os braços.

— Eu não sei, Min-soo. — Respondi, passando a mão pelo cabelo. — Estou tão confusa. Você acha que eu devo ir hoje?

— Vai. — Ele disse rápido. — Na-yeon, é bem simples. Vai lá, escuta o que ele tem pra dizer e fala pra ele como você se sente.

— Isso não vai dar certo. — Suspirei passando a mão pelo cabelo mais uma vez, e dessa vez alguns fios vieram juntos.

— Como não? É só falar. — Ele disse como se fosse a coisa mais simples do mundo.

— Esse é o problema, Min-soo. Eu não consigo falar como eu me sinto. Eu nunca fiz nada por ele. Nada. Eu nunca falei pra ele o quanto eu gostava dele. Eu nunca consegui falar... Sabe como é difícil ouvir uma pessoa te falar coisas lindas, mas não conseguir retribuir da mesma forma? É como se eu não tivesse voz pra falar tudo que se passa pela minha cabeça. Tudo que eu consegui fazer foi fugir pra porra de uma turnê e deixar ele aqui sem nenhuma explicação porque eu não consegui simplesmente falar com ele.

— Na-yeon...

— Quando a gente começou a namorar... — Interrompi Min-soo enquanto lutava para não derramar nenhuma lágrima. — Eu fui tão idiota que nem disse um sim direito, enquanto ele até se ajoelhou, eu só fiquei brincando falando que ia pensar. Ele me aguentou falar do Su-ho pra ele só porque queria me ver feliz, ele sempre aceitava fazer os meus planos malucos mesmo que só ele fosse sair no prejuízo. Ele me apoiava em tudo, me dava força, e eu? Larguei ele aqui. Eu nunca consegui falar que amo ele. Eu queria conseguir falar com ele, falar pra ele tudo que eu sinto. Me declarar pra ele... mas não dá. Eu mereci ouvir tudo que ele falou e mereço muito mais, mas...

— Olha, Na-yeon... — Min-soo me cortou e soltou um longo suspiro. — Se você gosta tanto dele assim, você precisa ter coragem pra se abrir e falar como você se sente e se ele te amar também, e eu sei que ama, ele vai te entender mesmo que você não consiga se expressar direito.

— Eu vou acabar enlouquecendo. — Murmurei revirando os olhos e me levantei da cama.

— Você quer ir almoçar comigo hoje? Você e a Jae-in podem se conhecer melhor.

— Não posso. — Disse rápido. — Preciso me arrumar.

— Mas o seu encontro é ás 19...

— Eu sei disso. — Completei olhando para ele e cruzando os braços.

— E agora são 11:30.

— Por isso mesmo. — Disse antes de sair do quarto de Min-soo e voltar para o meu.

Abri meu guarda-roupa e sentei na beirada da cama, analisando peça por peça. Enquanto eu escolhia uma roupa e me arruma, várias possibilidades se passaram pela minha cabeça. Eu não sabia se ele viria me buscar, ou se era para nos encontramos no local, mesmo eu nem sabendo onde era. Como ele pode ter tanta certeza de que eu não vou dar um bolo nele? Talvez o plano dele seja me dar um bolo e me deixar mil vezes mais confusa.

Mas se fosse isso, ele não teria me beijado daquele jeito na noite passada, teria? Ele não pode me odiar tanto ao ponto de me beijar só para piorar minha cabeça pertubada.

— A única maneira de não levar um bolo é dar um bolo primeiro. — Essa ideia se passou pela minha cabeça e eu acabei a soltando em voz alta enquanto passava blush com um pincel e dava os retoques finais.

Para minha roupa escolhi um vestido preto simples e uma jaqueta básica, rezando para o frio que estava fazendo lá fora fosse apenas psicológico. Fiquei bem confusa na hora de escolher o que vestir já que eu não tinha ideia do que esse garoto tinha planejado. Então um vestido preto serviria para qualquer ocasião.

Quando me dei conta faltava meia hora para o horário combinado, quer dizer, o horário que ele escolheu. Desci para o andar de baixo, onde Min-soo estava deitado no sofá, para variar, assim que ouviu meus passos na escoda ele se virou com um sorriso, tentando me encorajar.

— Ta preparada?

— Não. — Respondi sem ânimo, indo me sentar ao lado dele.

— Apenas seja honesta com ele, Na-yeon. E, acima de tudo, seja honesta consigo mesma.

— Você falando uma coisas dessas? — Ri da forma dramática que ele disse. — Mas obrigada, acho que eu precisava ouvir isso.

— Agora vai lá. — ele disse, me empurrando suavemente com os ombros. — Se cuida em. Juízo.

— Para com isso. — Resmunguei me levantando do sofá, finalmente pronta para sair. — Eu só espero não estragar tudo de novo.

Eu estava nervosa, me sentindo como uma adolescente prestes a sair em seu primeiro encontro. Nem quando eu saí com ele pela primeira vez eu estava tão ansiosa.

Assim que abri a porta de entrada, pude ver Han Seo-jun escorado no portão. Fechei a porta e fui até ele tentando parecer calma. Assim que ele virou na minha direção, o garoto piscou algumas vezes. Eu sabia que ele estava nervoso, eu o conhecia, só não tão bem quanto ele me conhecia. As vezes eu sentia que Seo-jun sabia absolutamente tudo sobre mim, apenas de olhar nos meus olhos.

— Oi. — Eu disse, tentando soar casual.

— Oi. — Ele respondeu normalmente.

Sem dizer nada, Seo-jun começou a caminhar e eu fui atrás dele. O clima estava estranho, quase palpável. Ambos sabíamos que havia muito a ser dito, mas nenhum de nós estava pronto para começar aquela conversa.

Durante o caminho em silêncio eu podia sentir alguns olhares de Seo-jun em mim, mas eu ignorava todos e olhava apenas para frente.

Eu queria me desculpar, esclarecer tudo e falar tudo o que eu sinto, mas não da para saber qual é o momento certo.

— Han Seo-jun, eu... — Finalmente tomei iniciativa e abri a boca, tudo isso para ser rapidamente cortada,

— Depois conversamos. Vamos só fingir que nada aconteceu por favor.

Assenti, meio sem graça, e olhei ao redor, tentando imaginar para onde ele estava me levando. O silêncio era confortável e desconfortável ao mesmo tempo. Respirei fundo tentando fingir que nada tinha acontecido entre a gente e a agir normalmente.

— Onde vamos? — Perguntei para quebrar o gelo. Mas eu realmente estava curiosa para saber. E a a curiosidade só aumentou quando nos aproximamos do shopping central.

— É surpresa. — Foi a única coisa que ele respondeu. Pelo visto ele não estava muito afim de conversar.

Entramos no shopping e seguimos para o andar de cima.

— Ah não... — Resmunguei vendo uma pista de patinação bem na nossa frente. — Péssimo lugar para se vir de vestido. Você podia ter me avisado antes.

— E estragar a surpresa? Não mesmo.

Pegamos nossos patins e nos sentamos em um banco para calçá-los, trocamos poucas palavras enquanto isso, nada muito importante, mas pelo menos estava ajudando a deixar o clima ruim de lado.

— E desde de quando você gosta de patinação no gelo? — Perguntei, para não cairmos no silêncio de novo.

— Você não sabia que esse é um lugar bem comum pra dates? É uma ótima oportunidade pra se jogar e salvar a menina da queda eminente também. É desculpa pra encostar nela. Sabe como é né? — Seo-jun respondeu um pouco mais animado, me fazendo sorrir.

— Então me chamou pra um encontro mesmo? — Perguntei sem coragem para encará-lo.

— E você pensou que eu te chamei pra que? — Ele rebateu e eu dei de ombros. — E eu já queria ter vindo aqui com você faz tempo.

— Eu não sei patinar. — Comentei, observando as pessoas na pista enquanto calçava meus patins.

— E eu muito menos. — Seo-jun riu e eu me virei para ele como os olhos arregalados.

— Nós vamos quebrar um braço.

— Vamos logo. — Ele me apressou assim que eu terminei de fazer meu laço.

Me levantei meio sem jeito, tentando me equilibrar. Assim que entramos na pista de patinação, ambos um pouco tímidos. Eu me agarrei ao corrimão, temendo cair logo no início. Não queria passar vergonha na frente dele. Quer dizer, na frente de todo mundo.

— Você está bem? — Seo-jun perguntou, já deslizando com uma certa facilidade sobre o gelo.

— E porque eu não estaria? — Perguntei com um tom irônico.

— Vem, eu te ajudo. — Ele agarrou minha mão, me deixando surpresa. Mas antes que eu pudesse falar algo, fui puxada para o meio da pista.

— Seo-jun... — Reclamei, segurando a mão dele com força, após levar um pequeno escorregão. — Eu não to podendo quebrar nenhum osso agora, não posso ser demetida.

— Relaxa, no máximo um dedo. — Ele brincou e eu revirei os olhos. — Mas, olha, você está indo bem.

— Só porque você está me segurando. — Murmurei, tentando manter o equilíbrio e tudo que ele fez foi rir.

A pista estava cheia de outras pessoas patinando, rindo e se divertindo. Senti uma pontada de nostalgia, lembrando dos tempos em que tudo era mais simples entre nós. Ele sempre soube como me fazer sentir segura.

Apesar de estarmos fingindo que nada aconteceu, pelo menos por algumas horas, no fundo ainda pairava um clima estranho no ar. Mesmo enquanto sorríamos e ríamos, eu sabia que havia muito mais a ser dito entre nós.

— Acho que estou começando a pegar o jeito. — Disse, tentando aliviar um pouco a tensão.

— Então, vamos fazer uma aposta. — Seo-jun soltou minha mão e eu arqueei uma sobrancelha para ele.

— O que você quer apostar? — Perguntei cruzando os braços. Ele sempre inventa de apostar alguma coisa e na maioria das vezes eu perco.

Uma vez apostamos corrida, eu cai no chão e machuquei meu joelho. Ganhei muitos beijos como pedido de desculpa, mas ainda assim, eu acabei saindo em desvantagem.

— Quem  chegar naquele pilar primeiro, vence e ganha um pedido. O que acha? Ainda vou te dar uma vantagem e vou de costas.

— Vamos então. — Concordei soltando um sorriso, já pensando no que iria pedir caso ganhasse. — Mas quem perder não pode recusar o pedido do outro.

— Fechado. — Ele sorriu de canto.

Respirei fundo e suspirei pronta para começar a correr.

— 1, 2, 3. Go! — Seo-jun disse e começou a patinar de costas.

Tentei acompanhá-lo enquanto lutava para me equilibrar, mas confesso que estava sendo uma das maiores humilhações da minha vida.

Sinceramente, eu parecia um espantalho, balançando os braços para não cair. Mas como escolhi ser dançarina e não patinadora, acabei fracassando e me desequilibrei totalmente. Involuntariamente agarrei os braços de Seo-jun, na esperança de nós dois continuarmos de pé. Mas o puxão fez com que ele perdesse o equilíbrio, e antes que pudéssemos nos dar conta, ambos estávamos caindo no gelo.

Seo-jun caiu em cima de mim, e nossos rostos ficaram extremamente próximos. Por um momento, o tempo pareceu parar. Podia sentir a respiração dele contra meu rosto, e meu coração começou a bater mais rápido.

— Na-yeon, você está bem? — Ele perguntou, se levantando.

— Sim, estou. — Respondi, rindo nervosamente e um pouco constrangida. — Desculpa por isso. — Segurei o braço estendido de Seo-jun e me levantei. Quando firmei o pé no chão senti uma leve pontada no tornozelo. -- Merda.

— Tudo bem? Se machucou? — Ele perguntou preocupado segurando meus braços.

— Não, ta tudo bem. — Tentei tranquilizá-lo e sorri. —Mas acho que é melhor eu sair daqui, não quero quebrar nada.

— Vamos. Vamos comer, to com fome. — Ele sorriu me puxando para fora da pista para que eu não caísse de novo.

Me sentei no banco para tirar o patins e calçar minhas botas novamente. Meu pé estava vermelho exatamente onde doía, mas fiz de tudo para esconder de Seo-jun.

— Aliás, eu ganhei. — Ele falou em um tom convencido, me empurrando de leve com os ombros.

— Só porque eu quase morri, então não vale. — Revirei os olhos e ele soltou uma risada sincera. Me levantei do banco e cruzei os braços. — Anda logo, achei que você estivesse com fome.

— Calma, princesa, já to indo. — Ele se levantou e eu o olhei confusa pelo apelido.

Começamos a caminhar pelas ruas iluminadas de Seul em silêncio. Apesar de não estar desconfortável, parecia que algo gritava para resolver isso logo. Então eu respirei fundo. Sei que Seo-jun pediu para fingir que nada aconteceu por enquanto, mas se eu não falasse logo, iria acabar desistindo.

— Seo-jun... — Parei de andar e o chamei com a voz baixa. — Nós precisamos conversar, então vamos acabar com isso logo. — Respirei fundo enquanto repassava tudo que eu queria dizer. — Eu realmente sinto muito por tudo. Por como terminei as coisas, por ter sumido, por não conseguir falar o que tava acontecendo. Eu sei que fui horrível com você e não tem um dia que eu não me arrependa. Eu estava pensando que sinto falta de nós, Seo-jun. — Finalmente consegui dizer. — Sinto falta do que tínhamos, de como você sempre esteve lá para mim, mesmo quando eu não conseguia retribuir do jeito certo. Mas eu vou entender se você tiver me chamado aqui só pra me fazer de otária.

— Você realmente acha que foi só isso? — perguntou ele, sua voz baixa. — Que eu estive lá para você e você não fez nada por mim?

— E o que eu tanto fiz por você? — Perguntei em um tom irônico, sem coragem para encará-lo.

— Na-yeon, você foi mais do que uma namorada para mim. Você foi minha melhor amiga, mesmo que eu tenha ouvido você falar do Su-ho por horas. Você estava lá quando eu mais precisei, mesmo que você ache que não fez nada de especial.

— Desculpa... — Meu tom de voz saiu falhado e baixo, enquanto eu lutava para segurar as lágrimas que queriam cair. — Eu estava tão assustada. Você sempre foi tão incrível para mim, sempre me apoiou em tudo, e eu nunca fiz nada por você. Fiquei com medo de te machucar mais ainda. Mas eu... eu senti tanto a sua falta.

— Na-yeon, você não precisa se desculpar mais. Eu entendi. E, para ser honesto, eu senti sua falta também. Muito. Só não faz mais isso, por favor... Não foge de novo.

— Prometo. — Erguei meu olhar para encontrar os olhos dele e sorri fraco. — Não era exatamente isso que eu queria dizer, me desculpa...

— Então tenta de novo. — Ele sorriu segurando minha mão e voltando a caminhar tranquilamente.

— Esquece, agora já foi. — Tudo que eu queria dizer é "Eu te amo" Suspirei tentando afastar esses pensamentos. — Mas... Ontem a noite... Quando me beijou... No que estava pensando? — Finalmente perguntei o que ficou na minha cabeça a manhã inteira.

— Eu estava pensando que não queria perder você de novo. — Ele suspirou e eu sorri envergonhada.

Caminhamos mais um pouco e encontramos uma cafeteria simples e entramos. Peguei uma mesa no canto enquanto Seo-jun foi fazer os pedidos. Assim que ele voltou para a mesa começamos a conversar normalmente, como nos velhos tempos.

Quando terminamos de comer, eu não queria ir para a casa de jeito nenhum, então comecei a enrolar e inventar desculpas para fazermos outros coisas. Então nos sentamos em um banco de uma praça, mesmo que eu estivesse com frio.

— Então... Você não vai mais dançar? — Seo-jun perguntou.

— É claro que eu vou. Só que o meu contrato acabou e eu não renovei. — Dei de ombros. — Mas não foi só por isso. Eu recebi uma proposta da Move... — Contei e balancei as mãos com animação. — Meu trabalho como dançarina de fundo fez mais sucesso do que eu esperava. A primeira vez foi quando uma das idols caiu no palco e se machucou, ninguém fez nada, então ajudei. Eu levei uma bronca, mas pelo menos não fiquei com a consciência pesada. — Dei de ombros novamente, com indiferença e Seo-jun concordou. — E também teve a vez que uma delas foi fazer alguma coisa na China e eu coloquei uma peruca loira e me passei por ela.

— Quando foi isso? — Seo-jun riu e eu peguei meu celular para mostrar um vídeo

Fui um dia incrível e inesquecível, mas também foi o dia em que eu fiquei mais nervosa. Ser dançarina de fundo não chama tanta atenção, agora ter que fingir ser uma delas... mesmo que eu estivesse de peruca e mascara as pessoas me reconheceram e começaram a me seguir nas redes sociais.

— Que incrível, você dançou melhor que elas. — Seo-jun sussurrou e eu corei um pouco.

— Algumas pessoas começaram a falar que eu tinha que ter meu próprio girl group, mas eu nunca levei a sério. Até que um dia eu fiz uma audição e passei. Então, surpresa! Agora sou treinee da move.

— Sério? Eu quero ouvir você cantar um dia.

— Ainda não. Eu tenho vergonha. — Neguei com a cabeça. — E eu ainda preciso treinar muito.

— Mas é isso que você realmente quer? Ser famosa e tudo mais? — Seo-jun perguntou, mais sério do que antes. — Nunca pensei que você iria querer tanta atenção.

— Eu... eu não sei. — Confessei. — No momento eu só quero dançar e ficar de boa. Mesmo sendo dançarina de fundo eu tinha que treinar um monte e fazer dietas malucas, era legal. Uma vez eu dancei ate desmaiar e...

— Você dançava até desmaiar? Ficou maluca? E ainda tem coragem de falar que é bom? — Seo-jun me interrompeu e eu abaixei a cabeça. — Mas achei que você não ia mais voltar.

— O que? — Perguntei confusa.

— Eu vi no seu Twitter, depois que sua mãe...

— Ah, isso! — Soltei uma risada fraca me lembrando.

Depois que minha mãe morreu eu tive um pequeno surto no twitter falando que nunca mais pisaria em Seul e coisas do tipo. Como na época eu só tinha o Su-ho de amigo e olhe lá , isso foi uma forma de eu lidar com tudo.

— Eu pensei em não voltar mais, de verdade. Mas, sabe como é... não dá pra ter certeza. Só que não quero ficar naquela casa, não tenho lembranças boas...

— Se você quiser, pode ficar alguns dias no meu apartamento. — Seo-jun disse com a maior tranquilidade e eu olhei para ele arregalando os olhos.

— Tá maluco? E se alguma namorada sua tentar me matar durante a noite?

— Eu não tenho namorada. — Disse simples novamente.

— A não? Que bom então. — Sorri de canto, pelo menos consegui matar uma de minhas dúvidas. -- Fiquei sabendo que você voltou a ser treinee, tá famoso né. — empurrei ele com os ombros.

— É... eu vou debutar daqui alguns meses. E você ficou com alguém nesse meio tempo...?

— Pra ser honesta sim... — Fechei os olhos com força, claramente arrependida.

Fazia quase um ano que minha mãe havia falecido e eu estava completamente perdida nos Estados Unidos.

— E você? — Já  que ele perguntou eu também tinha o direito, não é?

— É sério? Com quem? — Seo-jun perguntou surpreso, mas engoliu seco rapidamente e tentou disfarçar. —Esquece não precisa responder. Eu... não fiquei com ninguém não.

Era uma noite fria, e eu fui em uma festa cheia de gente animada. Luzes coloridas piscavam por toda parte, e a música alta fazia o chão tremer. Eu me movia pela multidão, tentando encontrar o rosto familiar de alguma amigo, até que meus olhos encontraram Su-ho. Ele estava parado perto do bar, estava sério como sempre, mas não estava sozinho.

Oi, Su-ho, Eu disse, me aproximando devagar e um pouco receosa.

Na-yeon! Ele se virou para mim com olhos arregalados, estava realmente surpreso.

Passamos a noite conversando e rindo, e a tensão entre nós começou a crescer. Até me enturmei com os amigos dele.

Lá pelas tantas, ele me puxou para um canto mais reservado e começamos a falar sobre algumas coisas dos nossos amigos. Antes que eu percebesse, seus lábios estavam nos meus, um beijo profundo e cheio de desejo. Suas mãos desceram pelas minhas costas, firmes mas carinhosas, enquanto ele me puxava ainda mais para perto. Quando ele segurou meu cabelo, puxando levemente, senti uma onda de excitação percorrer meu corpo. Era intenso, e eu não esperaria isso de alguém como Lee Su-ho.

Balancei a cabeça tentando afastar essas lembraças, não que eu me arrependesse totalmente, só não imaginei que veria Seo-jun de novo.

— Então... me desculpa... — Cobri os olhos sentido meu rosto esquentar. Como sempre eu, consegui dar um jeito de estragar tudo.

— Pelo o que? Você não fez nada de errado. — Seo-jun sorriu e segurou minha mão tentando me tranquilizar. — Eu senti sua falta. Não sabia o quanto até te ver novamente.

— Eu também senti sua falta. — Murmurei, olhando nos seus olhos. Senti minhas bochechas corarem, um leve frio na barriga e meu coração bateu ainda mais rápido.

Ele se inclinou mais para perto, e eu fiz o mesmo, nossos rostos agora a poucos centímetros de distância. Fechei os olhos, pronta para sentir seus lábios nos meus, mas, de repente, uma dor aguda atravessou minha cabeça.

Abri os olhos em choque, e vi um sapato caído ao meu lado. Olhei ao redor e vi uma garota loira com uma casaco de plumas brancas e maria chiquinha com o outro sapato ainda na mão, pronta para atacar novamente

— Quem é essa doida? — perguntei, me levantando pronta para ir até ela, mas Seo-jun se levantou e me impediu.

— O que você tá fazendo, Che-ni? — Ele estava furioso e eu não pude evitar e deixar um sorrio escapar.

A garota bateu o pé no chão e bufou enquanto arremessava o sapato em minha direção, mas eu consegui desviar. Peguei o sapato e arremessei nela de volta, e é claro que eu acertei bem no peito.

— Quem é você? — Perguntei sem nenhum pingo de paciência.

— Eu? — Ela pensou um pouco para falar. — Eu sou... a futura namorada dele. E você quem seria?

— Eu... sou a ex dele. — Cruzei os braços e me aproximei dela.

— Você... — Ela disse entre dentes.

— Vamos sair daqui. — Seo-jun disse agarrando minha mão com firmeza. Sem esperar minha resposta.

Enquanto caminhávamos rapidamente pelas ruas, meu coração ainda batia acelerado, tanto pela proximidade de Seo-jun quanto pela adrenalina da situação. Ele não soltou minha mão em nenhum momento, e senti um conforto inesperado em seu toque.

— Desculpe por aquilo. — Ele começou, depois de alguns minutos u não esperava que ela aparecesse e fizesse uma cena. Ao perceber que estávamos perto de uma farmácia, Seo-jun me puxou para dentro. — Vamos, precisamos cuidar desse corte na sua testa.

Eu não tinha notado o corte até então. Quando ele mencionou, toquei a testa e senti uma leve dor. Havia um pequeno corte que eu não tinha percebido na confusão do momento. Seguimos para dentro da farmácia e Seo-jun rapidamente pegou alguns itens para limpar e cobrir, mesmo que não fosse necessário tudo isso.

Ele me guiou até uma cadeira no canto da farmácia e começou a abrir os pacotes com gazes e antisséptico.

— Você não muda mesmo. — disse ele,  suspirando, enquanto começava a limpar o corte. Senti uma leve ardência, mas sua expressão concentrada me distraiu da dor. — Você ainda usa isso. — Ele comentou, tocando no colar que eu usava. Era um presente dele, dado um pouco antes de eu ir embora. Olhei para baixo, tocando o pingente e sentindo a culpa me consumir de novo.

— Talvez. — Saiu mais como um sussurro enquanto eu colocava o colar para dentro do vestido, na tentativa de esconde-lo.

— Pronto, acho que isso deve resolver por agora, — Ele disse, terminando de guardar os curativos. — A Che-ni é maluca. Ela implora pra Ju-kyung arrumar um encontro comigo, mas odeio o tipo dela.

Assim que saímos da farmácias começando a andar em direção a minha casa. A maioria no trajeto foi um silêncio confortável, mas alguns pequenos comentários eram feitos ao longo do caminho.

Quando paramos em frente à minha casa, ele me abraçou, e eu demorei um momento para reagir. Quando ele estava prestes a me soltar, eu o abracei de volta, sentindo uma sensação de paz.

— Você tem algum rancor por eu ter terminado do nada? — Perguntei pelo que parecia ser a milésima vez, enquanto nós soltavamos.

— Eu já disse que não. — Ele respondeu com um sorriso de canto enquanto colocava a mão no meu pescoço.

Antes que eu pudesse responder, ele se aproximou lentamente, seus olhos fixos nos meus. Senti seu hálito quente, e o mundo ao nosso redor pareceu desaparecer.

Seo-jun inclinou-se, seus lábios tocaram os meus.

Seu beijo começou suave, mas logo se aprofundou, tornando-se mais urgente e apaixonado. Suas mãos seguraram meu rosto com firmeza, enquanto as minhas encontraram o caminho para seus ombros, puxando-o para mais perto. Era como se todos os sentimentos não ditos e as palavras reprimidas fossem expressos naquele único momento.

Como eu senti falta disso.


















*****

Oioi gente, como vão?

Primeiramente eu me empenhei bastante e espero que gostem

Oq a Nay falou sobre n conseguir dizer exatamente oq é sente é tudo culpa minha, pq eu nn consigo escrever uma declaração sem achar extremamente brega e eu também não consigo verbalizar meus sentimentos, então me perdoem. Eu gostei muito da conversa dela com o Min-soo. eu estava super ansiosa enquanto escrevia, então eu meio que joguei tudo que eu tava sentindo.

Uma pergunta MUITO importante: Vocês gostam de hot? pq se vocês quiserem eu posso trazer para a história. Comentem aqui, preciso realmente saber!!!

Eu queria agradecer a todos vocês pelos 100k de leitura, quando eu comecei a escrever eu não coloquei fé que iria tão longe, mas olha só onde a gente já ta. AAAAAAAAAAAAAA. amo cada um de vocês e espero que a gente consiga alcançar muito mais.

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