𝟶𝟷𝟽
Hoje é um dia muito legal. Tipo, muito! Teremos a viajem da escola. A primeira que eu vou. Ano passado inventei mil e uma desculpas para ficar em casa. Minha mãe insistiu tanto em me levar à escola e eu nem sei o porquê, ela nunca me levou por vontade própria antes, só quando eu implorava, para não chegar atrasada.
— Pra que você precisa de duas malas? — Minha mãe perguntou destravando o porta malas.
— Eu só to levando o essencial. — Dei de ombros.
Talvez só um pouquinho a mais que o essencial. Nunca se sabe o que vai acontecer, por isso to levando de tudo. Duas malas enormes lotadas. Foi um sufoco para fechar, mas pelo menos não vai me faltar nada.
— Lembre-se: sem fritura, sem doces e nem processados. Vou te pesar quando chegar em casa.
— Ta bom, mãe. — Revirei os olhos já impaciente.
— Na verdade... pode comer um docinho sim. — Ela esticou um potinho na minha direção. — Eu sei que você gosta, então eu fiz. É de chocolate. É bem calórico então não coma tudo de uma vez.
— Obrigada. — Sorri dando um pulinho de felicidade.
Bolo de chocolate é a coisa mais perfeita e maravilhosa do mundo.
— Eu tenho que ir. — Olhei o horário. — Obrigado mãe! Até mais.
O que será que deu nela? Minha mãe quase nunca cozinha para mim, ainda mais algo assim. Enviei uma mensagem para Min-soo perguntando se aconteceu alguma coisa com ela e continuei meu caminho até o ônibus que já estava estacionado em frente à escola.
Guardei minhas malas e comecei a procurar o rosto de alguém próximo.
— Na-yeon! — Me virei quando escutei meu nome ser chamado.
Soo-ah corria na minha direção enquanto o namorado dela estava parado um pouco mais atrás. Assim que ela se aproximou mais, colou nossos corpos em um abraço.
— O que foi? — Perguntei rindo enquanto retribuía o abraço.
— Achei que não ia vir. Por que demorou tanto? Já guardou suas malas? Vem, o resto do pessoal ta ali. — A garota saiu me puxando sem que eu pudesse responder.
Cumprimentei o resto do pessoal e eles começaram a decidir com quem iria se sentar durante a viagem.
— Tira uma foto da gente. — Soo-ah esticou o celular na direção da Ju-kyung.
Só então eu percebi que eles estavam com a mesma jaqueta xadrez vermelha.
— Que fofos. — Ju-kyung comentou ainda tirando as fotos.
— Que brega. — Disse ao mesmo tempo que ela. — Pra que usar roupa combinando. Vocês tem quantos anos? Quarenta?
— Para de ser chata. Já falei para o Hoonzinho arrumar alguém pra você. — Soo-ah veio até mim entrelaçando nossos braços.
— Pois avise pro Hoozinho que eu não quero. — Sorri forçado.
Seo-jun chegou por trás de Ju-kyung e a cutucou.
— Ah não! Vocês estão namorando também? — Ahn Hyu-kyu questionou.
— Estão até com a roupa combinando. Quando vão contar pra gente que tão namorando? — Soo-ah deu pulinhos de felicidade.
— Lim Ju-kyung isso é culpa sua. Quer namorar comigo tanto assim? — Seo-jun empurrou ela com os ombros. Vamos namorar então.
— Qual é a sua? — Ju-kyung empurrou ele, consequente fazendo ele me empurrar também. — Coloca essa jaqueta. Ta frio.
— Mal começaram a namorar e você já ta mandando nele? — Comentei rindo.
— Até você? — Ju-kyung me lançou um olhar mortal.
A garota saiu andando de lá e Kang Soo-jin foi com ela.
— Olha, to usando o blush que você me deu. — Me virei para o Han Seo-jun.
— Ficou fofo. — Ele apertou os olhos para ver melhor, por causa da claridade.
— Pessoal, vamos entrar. — Senhor Han Nos chamou.
Todos se reunimos em fila. Fiquei atrás de Ju-kyung na esperança de poder sentar com ela durante a viajem.
Antes de colocar meu pé na escada, meu corpo foi empurrado levemente e Han Seo-jun entrou na minha frente.
— Ei! — Subi no ônibus de pressa, já sabendo que a o intençãondele era se sentar junto com Ju-kyung. — Não. Não.
Tarde de mais. Perdi meu lugar.
Terei que ir com outra pessoa, já que Soo-ah vai com o namorado dela, estranhamente Soo-jin estava com Su-ho, e mesmo que não estivesse, não quero ir com ele.
Não sei porque ela tem que se sentar justo com o Lee Su-ho. Eles podem ser amigos á mais tempo. Mas será que ele já apareceu na casa dela quase de madrugada pra pedir ajuda? Eu acho que não.
Acabei me sentando no único assento vago, atrás de Ju-kyung e do lado de um garoto que eu sequer sei o nome.
Olhei para o pote que estava em minhas mãos. O precioso bolo me aguarda. Destampei e senti o cheiro de chocolate invadir minhas narinas.
— Espera aí. — Hyu-kyu que estava atrás de mim, se levantou. — Quem tá sentando um do lado do outro é tipo um casal?
— Não tem nada a ver. — Ju-kyung gritou irritada.
Me senti observada, virei para o lado lentamente e o garoto desconhecido me olhava.
— Tá olhando o que? — Resmunguei colocando uma garfada de bolo na boca.
— É que você sentou do meu lado, então eu pensei que a gente devesse...
— Você não faz o tipo dela. — Seo-jun interrompeu o garoto, ficando de joelhos no banco e olhando para mim com um sorriso sínico.
— E com é o tipo dela? — O garoto olhou para Seo-jun esperançoso.
— E eu ainda to aqui. — Comentei em um tom de voz baixo.
— O tipo dela? Vamos ver... — Seo-jun fez uma cara de pensativo e eu revirei os olhos. — Caras tipo o...
O calei enfiando o garfo cheio de bolo na boca dele. Do jeito que esse menino é sem noção, capaz de gritar para ônibus inteiro ouvir de quem eu gosto. Claro que eu vou negar até minha morte, até porque eu não disse nada, ele concluiu isso sozinho.
— Nossa... ta muito bom. — Seo-jun comentou após alguns segundo de silêncio. — Me dá mais.
— Vê se cala essa boca. — Coloquei mais um pedaço na boca dele, que se virou para frente novamente.
Eu sabia que iríamos para um lugar mais afastado da civilização. Mas não imaginei que fosse tanto. Meu celular não estava pegando nem um pouco de sinal e a estrada de terra mal havia começado.
Assim que o ônibus parou respirei aliviada. Fui a viagem pensando que seria melhor se eu tivesse ficado na minha casa. Não consegui nem cochilar, com medo desse menino fazer alguma coisa.
— Finalmente! — Me levantei. — Aí, motoqueiro fantasma, você roubou meu lugar. — Apontei para Han Seo-jun.
— Na volta você vai comigo. — Ju-kyung se levantou e agarrou meu braço. — Ele veio dormindo o caminho todo, só faltou ele roncar.
— Era só você acordar ele. — Ri saindo o ônibus. — Se você precisar de ajuda para esconder seu rosto me avisa. — Sussurrei para a Ju-kyung, que fez joinhas com as mãos como resposta.
O professor Han mandou a gente desfazer as malas nas barracas designada a cada grupo, por sorte fiquei no grupo da Soo-ah.
Decidi que vou tentar socializar com a Kang Soo-jin novamente. Mas não vou pedir para conversamos sobre o que aconteceu, só vou fingir que não aconteceu nada. Da pra evitar ela na escola por semanas, mas agora em uma barraca durante o final de semana inteiro? Não tem copo.
Soo-ah foi a primeira que desarrumou a mala. Ao invés de fazer isso, não vou tirar nada. Depois vou ter que guardar de novo e o espaço que me deram não cabe nada.
— Qual é a disso aí? — Ju-kyung perguntou quando Soo-ah pegou um microfone.
— Comprei pra animar a festa. — Soo-ah respondeu animada. Namorar é diversão. Casar é opção. Amor fati. — Cantarolou e eu ri pegando o microfone da mão dela.
— E a senhora vai fazer quando ganhar o prêmio de melhor artista. — Perguntei colocando o microfone na frente dela, como se fosse uma entrevista.
— Vou agradecer aos meus amigos do colégio e vou te contratar para ser minha dançarina.
— Ok. Estarei esperando então. — Ri desligando o microfone e devolvendo para ela.
— Eu nunca dormi em uma barraca antes.
— Nem eu. — Concordei com Ju-kyung.
— Eu já. Mas tem tempo. — Soo-jin falou. — Última vez foi quando eu acampei com a família do Lee Su-ho.
Tinha que ser. Nasceu com ele também?
— Você era próxima do Su-ho desde de pequena? — Ju-kyung perguntou a fazendo abaixar a cabeça.
— Ta bom. Ta bom. — Soo-ah deu batidinhas na mala imitando tambores. — O Lee Su-ho deu fora em uma menina, por que ele gosta de alguém.
— Sério? De quem? — Perguntei realmente curiosa.
— Ninguém sabe. Mas eu chuto ser você, Kansu.
Meu sorriso foi embora no mesmo instante.
— Talvez foi só uma desculpa pra não sair com a menina. — Dei de ombros e Ju-kyung concordou.
— Para de arranjar os outros. — Soo-jin reclamou, falando assim até parece que ela não ta gostando.
— Ah, qual é? Tem vários rumores de que vocês saem desde de o primeiro ano. — Soo-ah continuou insistindo nesse assunto. — Vocês são perfeitos um pro outro. Como vocês só são amigos depois de dois anos? Conta aí, Kansu, você nunca pensou nele como mais que um amigo.
— Para com isso. — Ri cortando o assunto. — Ta deixando ela desconfortável. Já passou meia hora. O senhor Han ta esperando a gente lá fora.
Saímos da barraca e Ju-kyung começou a tirar fotos novamente.
— Todo mundo de careta menos eu. — Soo-ah pediu e assim fizemos.
— Pessoal, se reúnam. Vou tirar um foto de vocês. —Professor Han pediu.
A maioria que estava ali se juntou. Eu quase não estava aparecendo.
— Um. Dois. Três. Quatro. — O senhor Han contou e todo mundo reclamstou.
Tenho quase certeza de que sai de olho fechado.
— Professor, tira uma foto do casal. — Soo-ah empurrou Ju-kyung até Seo-jun.
— Quem tá namorando na escola? — O coordenador se intrometeu.
Os alunos começaram a vaiar os dois, Seo-jun tentava disfarçar a felicidade enquanto Ju-kyung estava reclamando e eu... to no grupo que está vaiando. Su-ho parecia um psicopata observando tudo de longe, confesso que se não fosse ele, eu ficaria com medo.
— Tira essa camisa. — Ju-kyung reclamou puxando a blusa do Seo-jun.
— Você ta tentando me despir? Você é rápida, né? — O garoto olhou para ela espantado e começou a correr.
— Você é mais safadinha do que eu pensei, Ju-kyung. — Gritei antes de cair no riso.
— Pessoal, parem com isso. — O professor Han pediu. — Se reúnam em frente a última barraca.
— Vem aqui, Soo-ah. — Puxei ela, fazendo-a se soltar de Tae-hoon.
— Amor, você ta me traindo? — O garoto choramingou me fazendo revirar os olhos.
— Sou amante dela. — Falei para Tae-hoon.
— Não. — Soo-ah negou rapidamente. — Pensei em algo melhor ainda. Você é minha namorada reserva.
— Fechado. — Entrelacei nossos braços, a garota mandou um beijo ao namorado e começamos correr.
— Serei seu anfitrião de hoje. — Um homem desconhecido falava no microfone. — O MC senhor sagaz. Bem vindos. O jogo do jornal. Vocês conhecem, né? Vocês vão formar grupos de quatro. Escolham pessoas boas nisso e pessoas que vocês gotem. Agora, montem seus grupos!
— Nana, você vai ficar comigo. — Soo-ah agarrou meu braço e eu ri por causa do apelido.
Acho que ninguém nunca me deu um apelido fofo assim.
Tae-hoon agarrou o Su-ho e Ju-kyung se juntou com a gente. Quatro pessoas não são cinco...
— Vai. Pode ir... vai. — Tae-hoon se afastou fazendo o maior drama.
— Pode ficar com o seu amorzinho, Tae-hoon. Eu acho outro. — Sai de perto deles e empurrei o namorado da Soo-ah.
— Fica aí com eles. — Meu corpo foi empurrado por Seo-jun e Soo-ah me segurou. — Vem aqui. — Ele puxou Ju-kyung até o grupo dele.
Por isso que eu adoro esse garoto! Se ele e o Lee Su-ho ainda fossem amigos, daria pra gente sair em vários encontros de casais. Nossa, agora sonhei alto de mais.
— Que safadinhos. — Soo-ah comentou olhando para o Seo-jun.
— Agora vou explicar o jogo do jornal, pessoal. — O apresentador voltou a falar. — Depois que o jornal estiver dobrado, todos tem que ficar no jornal. Se ficarem cinco segundos se classificam. Subam todos.
— A gente precisa ganhar. — Soo-ah falou se segurando no meu ombro.
Pisei no jornal e suspirei. Não pode ser tão difícil assim.
Acabo de retirar o que disse. Quando o braço de Su-ho tocou minha cintura, toda a concentração foi pro ralo. Ele só queria se segurar, ou me segurar, já que eu não me apoiei em ninguém.
Respirei fundo tentando pensar que não era ele, só a Soo-ah se apoiando.
— Um. Dois. Que isso, gente. se segurem aí. — O apresentador falou no microfone enquanto algumas equipes iam caindo. — Três. Quatro. Cinco. Muito bem. Só sobraram três equipes.
Olhei ao redor, só estava a minha, a do Seo-jun e por mais incrível que pareça, a do Cho-rong, não sei como essa mini gangue de idiotas conseguiu se segurar por tanto tempo.
— É o seguinte, como essas três equipes são muito boas, vou atualizar o jogo, tá bom? — O MC Sagaz anunciou. — Agora vocês vão dobrar o jornal de vocês no meio.
— Esse querido não quer que eu fiquei de ponta cabeça também? — Reclamei enquanto pensava em um jeito de ganhar isso.
— Eita. Eita. O que é isso? — Todos começaram a gritar.
Olhei na mesma direção que todos e Seo-jun tinha simplesmente pegado Ju-kyung no colo. Esse menino é mais rápido do que eu imaginei.
Su-ho tentou ir até eles, mas Tae-hoon o segurou.
— Já sei... — Me virei para o Su-ho. — Eu pego a Soo-ah no colo e você pega o... Espera. O que você ta fazendo? — Meu coração disparou quando meus pés descolaram do chão.
Su-ho me pegou no colo.
Senti uma pontada de surpresa com animação. Meu rosto queimou de vergonha. Tenho quase certeza de que ficou vermelho.
— Agora a gente vai ganhar. — Gritei passando meu braço pelo pescoço dele para ficar mais confortável.
— É isso aí. — Soo-ah também gritou subindo nas costas do Tae-hoon.
Olhei para Su-ho. Percebi que ele olhava para alguém. E eu sabia exatamente quem era. Esse momento seria fofo se ele não tivesse me usando pra causar ciúmes na Ju-kyung.
Mas tentei não deixar isso me abalar, pode ser só coisa da minha cabeça.
— Contagem regressiva. Cinco, quatro, três, dois... Fora! — O MC gritou quando o grupo do Cho-rong caiu. — A equipe dos meninos já era! Sobraram duas equipes. Vamos lá galera, precisamos de um vencedor. Agora os meninos vão levantar uma perna. Só uma perna.
Espero que o Su-ho seja forte. Muito forte. Já sou pesada, agora o coitado vai ter que levantar uma perna ainda? Espero que ele aguente. Não quero cair nesse chão sujo.
— Não me derruba, por favor. — Sussurrei.
Su-ho levantou uma perna e apertou minha cintura.
Para a minha sorte e o azar do Seo-jun, o Hyu-kyu se distraiu com algo e acabou caindo.
— Não vai me por no chão não? A gente já ganhou. — Perguntei quando percebi que Su-ho não estava me soltando.
Começamos a pular em comemoração, menos o Su-ho é claro. Abracei Soo-ah e começamos a gritar.
Fui até Han Seo-jun dando alguns pulinhos de felicidade.
Eu sei que é infantil, mas eu preciso...
— Eu ganhei! — Me gabei logo em seguida mostrando a língua à ele.
— Ah, é? — Ele se aproximou de mim com um sorriso travesso e puxou minha língua.
— Que isso seu maluco. Que nojo! Onde você tava com essa sua mão antes? Que nojo! — Surtei tentando evitar uma ânsia.
Sai correndo atrás de uma água.
*****
O professor Han chamou todos para comer. Tenho que confessar que não estou com fome. Não consigo comer em lugares que eu não conheço. Mas me sentei junto com as meninas apenas para ter companhia.
— Aí, Kim Si-hyun. — Hyun-kyu se aproximou da nossa mesa com dois pedaços de carne de porco e as colocou no prato dela. — Eu tava fedendo antes? Eu acabei de lavar. Bom apetite.
— Nossa, Si-hyun arrasando corações. — Gritei assim como as outras garotas.
— Para com isso, você arrasa corações mais do que eu. — A garota me olhou tentando esconder um sorriso bobo.
— Você ta vendo alguém aqui me dando carne de porco? — Brinquei fazendo uma cara triste.
— Ta tudo bem, eu te dou a minha. — Soo-ah colocou um hashi na frente e eu ri antes de aceitar.
— Vocês jovem estão com os hormônios à flor da pele hoje, né? — Comentei bebendo um pouco de água.
— Desculpa aí, senhora de oitenta anos. — Soo-jin falou e eu até tentei rir, mas não consegui.
— É que hoje todos estão meio... tarados!? A Ju-kyung tava tentando deixar o Seo-jun pelado...
— Não foi bem isso não. — Ju-kyung me interrompeu e eu ignorei.
— Depois o Seo-jun até pegou ela no colo e agora o Hyu-kyu deu a comida dele para a Si-hyun que até ontem só se estranhavam...
— Você fala isso como se o Su-ho não tivesse te pegado no colo também. — As meninas me deram leves empurrões me fazendo rir.
— Foi só pra gente poder ganhar o jogo. — Dei de ombros e me levantei. — Eu vou dar uma volta, aproveitem aí.
— Mas você nem comeu. — Soo-ah segurou meu pulso.
— Não to com fome não, vim comendo o caminho inteiro. — Menti um pouco. Me soltei e comecei a andar para sair da tenda.
— Eu acho que não tenho escolha. Mas já aviso que é só um conto antigo. — Meus ouvidos involuntariamente.
Eu simplesmente amo ouvir esses contos. Posso passar horas ouvindo e depois ficar pensando se é verdade ou não... Foi inevitável não parar para ouvir.
— Vai para lá. — Peguei uma cadeira e disse para Seo-jun que estava na mesa com seus amigos.
Os garotos abriram um espaço e eu coloquei minha cadeira no meio deles. O coordenador também chegou para ouvir e o velinho dono do lugar se sentou para começar a contar.
— Prestem atenção. Antigamente, bem naquela floresta ali existia um poço d'água e perto dele morava um casal recém casado. Mas tinha um problema, a mulher até então nunca havia revelado o rosto para o marido. — O senhor começou fazendo longas pausas dramáticas. — Como todos recém casados... eles precisam consumar o casamento.
— O que é isso aí? — Cho-rong interrompeu. — Cosmunar, consumar, sei lá.
— Ela tem que dá pra ele. — Respondi simplesmente esperando o Senhor voltar a contar a história, mas ao invés disso recebi vários olhares.
— Kim Na-yeon! — O coordenador me repreendeu.
— Como assim? Ela tem que dar o que? — Cho-rong insistiu no assunto.
— Uma hora você descobre. — Respondi dando tapinhas no braço dele. — Por favor, senhor, continue. — Sorri animada.
— O marido indignado, resolveu questionar o motivo de sua esposa nunca ter se revelado e calmamente ela o perguntou " O que achas do damasco que agrada a vista mas é amargo?" " Por mais que seja belo, não da para saboerar. " O marido respondeu já cansado dessa situação. Então abriu os braços e falou " Venha até mim. Não se acanhe. Mostre o seu rosto. A esposa retirou o tecido que a cobria calmamente. O homem se assustou com a imagem à sua frente, desesperado ele fugiu a abandonando. Desvatada, a esposa caminhou até um poço que havia por perto. " Com este rosto infeliz eu nunca cheguei a provar o abraço do meu marido" Choramingou vendo o reflexo na água. Decidida a acabar com o sofrimento, ela se jogou...
— Ela se matou? — Alguns meninos perguntaram chocados.
Enquanto eu estou adorando. Consigo imaginar perfeitamente cada pessoa.
— Dias depois, um jovem caminhava pela floresta acompanhado de duas donzelas. Quando pararam em frente ao posso, se depararam com uma figura que não era humana. A mulher que no ressentimento tornou-se o fantasma feio e vaga pela noite até que encontre alguém e então... — O dono do local gritou fazendo todos gritarem também. — Ela arranca seu rosto.
Cobri meus olhos assustada e minha respiração acelerou.
— Ta com medinho? — Seo-jun brincou tirando a minha mão de meus olhos.
— Até parece. — Dei de ombro fingindo indiferença. Mas confesso que fiquei um pouco assustada, mas tudo por conta do grito. Se o homem não tivesse gritado nada disso teria acontecido.
— Há tempos as pessoas não se atrevem a ir la a noite. Algumas pessoas desapareceram, então nós chamamos um xamã para tentar acalmar o fantasma.
— Um fantasma feio que rouba rosto? Qual é? — Um garoto zombou da história.
— Continuando... ela só rouba rostos de pessoas bonitas. Então tenham bom senso e não andem por aí sozinhos, entederam? E logo será noite. — O senhor se levantou e saiu.
— Vocês não precisam se preocupa, amiguinhos. —Sorri falso para eles. — Com essas caras, é o fantasma que vai ter medo de vocês.
— Até parece. — Han Seo-jun soltou um riso irônico. — Menos eu. E você... o fantasma vai ficar em dúvida se quer roubar seu rosto. — Seo-jun me olhou de cima a baixo.
— E ela vai te olhar e falar " Finalmente encontrei alguém mais feio que eu. Agora posso descansar em paz." — Algumas pessoas riram da minha fala.
— Na-yeon, você deveria tomar cuidado. Se quiser ir na floresta de noite eu... — Um garoto que estava ao meu lado começou a falar mas o interrompi.
— O que?
— Nem te conto o que ele quer te mostrar na floresta. — Seo-jun colocou o braço por cima do meu ombro e sussurrou no meu ouvido.
— Que isso? Ta doido? — Me afastei um pouco dele. —Vocês todos são um bando de pervertidos. — Me levantei.
O que deu no Han Seo-jun? Ele anda esquisito esses últimos dias. Mas sei que ainda gosta da Ju-kyung, se não ele não teria a pegado no colo.
— Na-yeon! — Soo-ah veio até mim e agarrou meu braço. — Eu vim te chamar. A gente vai jogar. Já ta todo mundo lá. Alguém aí quer jogar? — Perguntou para os meninos.
— A Ju-kyung ta lá? — Seo-jun perguntou curioso.
— Claro que tá. — Soo-ah respondeu com um tom óbvio.
— Então eu vou.
Nos sentamos em uma pequena rodinha e o brinquedo que iremos utilizar é um meio círculo com o formato de uma mão no meio e martelos de borracha.
-- É o seguinte: Uma pessoa vai fazer uma pergunta e mandar outra responder, se a resposta estiver correta vai ascender uma luz verde, mas se estiver errado, quem estiver com a mão no brinquedo levará um choque. -- Tae-hoon explicou e eu prestei muita atenção. — Quem errar, leva martelada nos outros.
— Vamos começar. — Soo-ah gritou animada levantando os braços para cima. — Eu começo. Si-hyun, é verdade que você presta atenção em todas aulas de história só porque acha o professor bonito?
Que pergunta mais... sem graça, eu esperava que seriam perguntas mais emocionantes, digamos assim. Não que iríamos falar sobre escola.
— Não é não. — A garota respondeu. O brinquedo fez um barulho e logo piscou uma luz vermelha, indicando que a resposta estava errada. — Droga. — Abaixou a cabeça apenas recebendo a punição. — Soo-jin, você já tentou matar aula? — Jogou o aparelho para ela.
— Não. — A garota respondeu e a luz verde ascendeu.
Algumas outras perguntas desse mesmo tipo rolaram e na minha humilde opinião estava um tédio. Não estava nem me levantando para bater nas outras pessoas de novo. Até que o brinquedo voltou para as mãos de Soo-jin.
— Han Seo-jun, é verdade que a Na-yeon te passou cola e se não tivesse passado você reprovaria na prova?
— É... — Ele concordou seu ânimo. — Odeia a professora de ciências? — O brinquedo parou na minha direção e eu o encarei.
Na última aula que tivemos com ela, eu me sentei com o Seo-jun e qualquer gesto que ela fazia me incomodava. Não a odeio, mas também não sou sua maior fã.
— Odeio. — Resmunguei colocando a mão no aparelho e por sorte sinalizou verde. — Mas gente... isso tá meio chatinho, não tá não? A gente podia fazer umas perguntas meio interessantes... — Sorri e olhei para os outros que me encaravam com um sorriso travesso. — Eu começo né? Deixa pensar... — Fiz uma cara de pensativa enquanto realmente tentava pensar em algo. Vou dar uma de cupido. — Si-hyun, acha o Hyu-kyu bonito?
— Não... — Ela respondeu depois de um longo tempo. E infelizmente ou felizmente, ela estava errada. Batemos nela enquanto riamos.
— Para de mentir, menina. — Falei enquanto ria.
— Tae-hoon, você trocaria a Soo-ah por uma modelo famosa? — Si-hyun empurrou o brinquedo e sua direção. Soo-ah já lhe lançou um olhar curioso.
— Mas é claro que não. — Falou confiante e para sua sorte a luz que ascendeu foi verde.
— Que bom, meu amorzinho. — A garota de cabelos curtos o abraçou de lado.
— Hyu-kyu, já cagou nas calças? — Tae-hoon jogou o brinquedo para o garoto enquanto ríamos. Que tipo de pergunta é essa?
— Lógico que não, né, cara. — Respondeu como se fosse óbvio, mas a luz que se ascendeu foi vermelha.
— Que nojo! — Algumas pessoas reclamaram entre risos.
— Você acha que é uma deusa? — O garoto de óculos fez a pergunta para Si-hyun novamente.
— Não acho. — Ela respondeu, mas estava errado novamente. — Su-ho, você já beijou?
Todo mundo ficou em silêncio aguardando. Eu realmente não me importo com a resposta, sendo sim ou não, não será um problema se algum dia ela começar a gostar de mim. Afinal, sou ótima em dar aulas.
— Três, dois, um. Bate nele. — Hyu-kyu gritou e assim fizemos.
— Amor ou amizade? — Su-ho falou algo pela primeira vez desde de que o jogo começou e a pergunta foi direcionada ao Seo-jun.
— Amor. — Respondeu sem ânimo novamente. Se fosse para ficar desse jeito era melhor ele ter ficado lá com os amigos dele. Depois de alguns segundos o aparelho apitou indicando se verdade.
— Ah, metido. — Soo-ah resmungou. — Vamos bater nele.
Todos demos marteladas nele, menos Su-ho. Que estranhamente não bateu em ninguém, apenas observava tudo sério.
— Parem com isso. — Seo-jun gritava enquanto tentava revidar e isso gerou várias martelas na minha cabeça.
— Delinquente... — Resmunguei baixo, mas não o suficiente para ele deixar de escutar.
— Você me acha bonito? — Seo-jun apontou com o martelo de borracha na direção da Soo-jin, me fazendo revirar os olhos levemente.
— Sim. — A garota respondeu sem muito animação. Não sei se dou graças a Deus ou não pela resposta estar errada.
Confesso que descontei um pouco do meu ódio enquanto tava marteladas nela. Ela nunca irá saber mesmo.
— Tá querendo saber por quê, em? — Empurrei Seo-jun de leve com o ombro parando de prestar atenção na conversa. — Tá querendo pegar ela também?
— Tá com ciúmes? — O garoto me olhou com um sorriso de quanto.
— Aí, prestem atenção. — Soo-ah bateu com o martelo na minha cabeça, me fazendo prestar atenção na conversa novamente. — Quem você gosta tá aqui? — Jogou o brinquedo para Ju-kyung.
— Tá sim! — Ela respondeu confiante, mas por incrível que pareça, a luz ficou vermelha. Até eu fiquei confusa com isso.
Percebi que ficou um clima tenso entre os garotos, tirando o Hyu-kyu. Empurrei Seo-jun com os ombros novamente, dando a entender que ele precisava disfarçar pelo menos um pouco.
— Na-yeon, quer beijar alguém que tá aqui? — Ju-kyung me perguntou.
Me deparei com o brinquedo na minha frente. Finalmente alguém tinha me perguntado alguma coisa, mas não esperava que fosse algo assim. Mas o máximo que pode acontecer é eu apanhar, então respirei fundo pelo o que eu acho ser a quinta vez e coloquei a mão no aparelho.
— Não. — Respondi com o tom mais confiante possível. Fechei os olhos apenas esperando a resposta.
Que droga. Tirei a mão assim que senti um leve choque.
— Pra que isso? Todo mundo já sabe. — Soo-ah brincou enquanto me batia, assim como todos.
— Tenho certeza que sou eu. — Seo-jun sorriu confiante arrumando a gola da jaqueta e eu arrumava meus fios de cabelo que estavam todos bagunçados.
— Já falei que isso é só nos seus sonhos. — Pisquei para ele enquanto tocava a ponta de seu nariz com o meu indicador.
— E eu já te disse o que acontece... — Ele piscou pra mim de volta.
— Acho que vocês tinham que dar pelo menos um beijinho. — Não consegui identificar quem falou.
Me deparei com Seo-jun me encarando enquanto erguia as sobrancelhas repetidamente. Empurrei seu rosto para o lado oposto.
— Já quis terminar com a Soo-ah? — Joguei o brinquedo para o Tae-hoon, tentando tirar toda a atenção de mim.
— Nunca. — O garoto respondeu confiante enquanto a namorada olhava para ele com um sorriso e seus dedos formavam um coração. Mas para a surpresa de todos, incluindo a de Tae-hoon, a luz ficou vermelha. — Próximo! — Tentou empurrar o brinquedo mas Soo-ah impediu.
— De novo. Você já quis terminar comigo antes? — Soo-ah perguntou enquanto segurava a mão do namorado no brinquedo e sem o sorriso que estava antes.
— Não, não. Eu já disse que não. — Tae-hoon insistiu na resposta, mas o aparelho não concordava nem um pouco.
— De novo! — Soo-ah aumentou o tom de voz dessa vez. — Já quis terminar comigo.
A maioria assistia tudo sem nenhum tipo de expressão facial, eu não sabia o que pensar e muito menos o que fazer enquanto observava a mão do Tae-hoon sair fumaça.
— Acabou. — Soo-ah gritou se levantando e pisando na mão do, agora, ex-namorado.
— Eita... — Comentei quando a Soo-ah saiu correndo e as outras garotas foram atrás.
— Não vai atrás dela? — Seo-jun me perguntou.
— Agora não. Tenho medo dela arrancar minha cabeça... Isso foi meio que minha culpa. — Abaixei a cabeça e comecei a roer as unhas de nervosismo. Mas parei assim que lembrei que minha mão esteve em lugares de higiene duvidosa. — Que saco. — Me joguei para trás soltando um longo suspiro.
Esperei que alguns minutos se passassem encarando o céu azul. Comecei a me sentir culpada por ter praticamente arruinado o relacionamento de uma das minhas melhores amigas. Se eu não tivesse tirado o foco das pessoas de mim com uma pergunta idiota, nada disso teria acontecido. Tae-hoon foi arrastado de lá à força por Hyu-kyu. Ele chorava, mas não sei dizer se era pelo término ou pela mão.
Su-ho saiu de lá sem dar nenhum tipo de aviso. Só sobrou eu e o Seo-jun que está em silêncio.
Vou retirar o que acabei de falar. Ele estava em silêncio. Me levantei rapidamente quando escutei barulho de flash.
— O que você ta fazendo? — Olhei séria para ele.
— Tava tirando fotos, olha. Você ficou parecendo um cadáver. — O garoto colocou o celular na minha frente e passou as fotos. Algumas ele fazia caretas, outras sorria e tinha algumas séria também, enquanto eu estava na mesma posição em todas, jogada no chão com os braços largados para trás.
— Apaga isso, se não seu telefone vai parar sem querer dentro do rio. — Resmunguei enquanto me levantava. Seo-jun imitou minha fala com uma voz diferente e engraçada, me tirando uma risada fraca.
Caminhei até a minha barraca. Na intenção de conversar e me desculpar com Soo-ah e tomar um banho bem quentinho. Abri a porta e me deparei com ela quase vazia, a única presente lá era Soo-ah que chorava debaixo das cobertas.
— Soo-ah... — Caminhei até ela com calma até ela e me sentei no chão.
— O que foi? — A garota colocou o rosto para fora e me encarou com os olhos inchados.
— Você ta bem? — Tentei começar uma conversa, mas ela me encarou como se fosse óbvio, é realmente é. —Pergunta idiota. Desculpa. Eu quero me desculpar por ter perguntado aquilo pro Tae-hoon. Não era minha intenção fazer vocês terminarem...
— Não foi sua culpa. — Soo-ah abraçou a minha cintura. — Ele já queria terminar comigo. Ele não me ama
— Ama sim. Aquele treco deve estar quebrado. — Falei enquanto colocava minha mão delicadamente em seu cabelo e fazia carinho.
*****
Agora já tomada banho e bem alimentada, me sentei em um banco perto das barracas e repassei toda a história que o dono contou hoje mais cedo. Minhas pernas estão formigando para dar uma voltinha na floresta.
O professor Han não disse nada sobre ser proibido sair a noite. Então não tem nenhum problema.
Me levantei decidida e caminhei em direção a floresta. Não costumo acreditar em fantasma, só quando vejo um filme de terror e fico dias sem dormir, mas também prefiro não duvidar.
Passei pelo aviso que dizia ser proibido entrar e o ignorei. Respirei fundo e me afundei na floresta. Não espero trombar com o fantasma feio, apenas dar uma volta. Mas se caso tudo der errado, eu me encontrar com ela e ela roubar meu rosto vou saber que era bonita e que morri bonita.
— Isso aqui devia ser mais iluminado. — Falei sozinha vendo meu celular com um porcento de bateria. — Não. Não. Não desliga não. Droga! — Tarde de mais. Minha bateria já era.
Mas ainda tem algo dentro de mim que me impede de simplesmente dar a volta a voltar para o acampamento, afinal eu nem estou tão longe assim. Mas a curiosidade fala mais alto, ela grita dentro da minha cabeça.
Forcei a vista algumas vezes parar me acostumar com a falta de iluminação e voltei a seguir o caminho.
Cada passo que eu dava era incerto, e então, como se essa fantasma maldita estivesse brincando comigo, esbarrei em algo. Antes que meu corpo caísse no chão, eu fui segurada.
Me coloquei de pé e comecei a gritar com todas as minhas forças. Me arrepiei inteira como se o medo percorresse pelas minhas veias.
— Na-yeon! Fica quieta. Sou. — Uma mão cobriu minha boca me impedindo de gritar. Forcei a visão e consegui enxergar Han Seo-jun. — Você ta bem? —Perguntou tirando a mão.
— Seu idiota! Não me assusta assim! — Me afastei dele levando à mão ao peito.
— Você que me assustou, andando por aí sem nenhum sinal de vida.
— Como se você tivesse com um poste de luz agarrado com você. — Retruquei e cobri os olhos quando uma luz atingiu meu olhos. — Uma lanterna? E por que tava desligada?
— Eu tava amarrando meu cadarço. — Deu de ombros. — Não me diga que veio procurar o fantasma.
— Claro que não. — Menti na cara dura. — Só vim dar uma voltinha para esclarecer. Sabe como é, né, lá tava bem lotado... mas e você?
— Vim provar pro Cho-rong que é tudo mentira. — Seo-jun respondeu ligando a lanterna novamente.
— Ótimo. Vou com você. — Comecei a segui-lo. — E depois você vai me levar até a barraca, não volto nessa escuridão nem que me paguem. — Sorri para ele enquanto caminhávamos, mesmo que ele nunca fosse ver.
— Vou ter que te levar na porta até no meio do mato? — Reclamou iluminando meu rosto.
— Das últimas vezes foi você que se ofereceu, eu não pedi nada.
— Tanto faz. — Deu de ombros. — Olha, o tal do poço. Kim Cho-rong, cade você? O poço ta aqui. — Falou mais alto mas não tinha sinal de ninguém.
Tirei a lanterna de sua mão e caminhei até a beira do poço torcendo para não ver nada estranho.
— Que estranho. Não tem nem água. — Olhei no fundo do poço. — Muito menos um fantasma.
Ouvi um barulho de notificação de celular, me virei para o garoto esperando que fosse dele, mas ele olhava espantado para um lugar um pouco a cima da minha cabeça. Olhei para a direção que ele olhava.
Sem pensar duas vezes, corri na direção de Han Seo-jun quando me deparei com uma figura agarrada na árvore. Me joguei para cima do garoto que me agarrou sem pensar duas vezes.
Olhei bem nos olhos do Seo-jun imaginando o quão constrangedor isso seria se não fosse uma cena trágica. Estava literalmente em seu colo, agarrada em seu pescoço, enquanto ele segurava minhas coxas.
A coisa caiu da árvore e passou por nós correndo. Seo-jun entrou em estado de choque e caiu para trás me levando junto.
— Han Seo-jun! — O chamei. — Você não desmaiou não né? — Dei algum tapinhas em seu rosto, mas nada dele voltar ao normal. — Han Seo-jun... Revivi ai, na moral. Han Seo-jun! — Dei um tapa, dessa vez forte em seu rosto, o fazendo abrir os olhos arregalados e soltar um longo suspiro. — Ta vivo? Ta bem?
— O que aconteceu? — Ele ainda parecia desnorteado.
O garoto me encarou por inteira, só assim me fazendo perceber que ainda estava em cima dele. Me levantei rapidamente sentindo meu rosto queimar de vergonha.
— Levanta logo. Vamos voltar para as barracas. —Iluminei o rosto dele com a lanterna.
*****
Mal dormi essa noite. Fiquei morrendo de medo por causa do fantasma... bem que minha avó sempre me avisou para nunca duvidar...
Soo-ah acho que foi a única que dormiu bem. Quer dizer, a única que não me atrapalhou. Ju-kyung fez barulho a noite toda e posso jurar que escutei Soo-jin roncar.
— A gente precisa ir tomar café. — Soo-ah resmungou me abraçando.
— Não quero. — Resmunguei de volta enfiando o rosto no travesseiro, apenas desejando um pouco de silêncio.
As garotas se começaram a se arrumar, enquanto eu continuei deitada. Me recusei a ir tomar café da manhã e quando elas finalmente saíram da barraca, sorri contente por ter mais alguns minutos de sono.
Mas duraram bem pouco já que mais ou menos quinze minutos depois o senhor Han anunciou nos altos-falantes que era para todos se reunirem perto das árvores.
Me arrumei da forma mais lenta possível e fui para o local praticamente arrastada. Assim que cheguei me escorei em uma árvore.
— Pessoal, qual é o ponto alto de uma viagem escolar? — Senhor Han perguntou e as pessoas responderam coisas variadas, como conversar com os professores, a comida, verdade ou desafio... — O destaque de uma viagem escolar é a caça ao tesouro. — Alguns alunos reclamaram. — Eu fiz questão de esconder tudo bem direitinho, então procurem bem e boa caçada.
— Professor, isso aí é coisa de fundamental. — Hyu-kyu reclamou, seria bem fácil se ele simplesmente ficasse quieto, assim acabaria mais rápido.
— Parem com isso. O grande prêmio: Um vale presente de cinquenta mil wones.
O pessoal começou a se animar para procurar. Eu me sentei, ainda escorada na árvore e tente tirar um breve cochilo.
Sabe aquele momento em que você esta quase pegando no sono, o corpo ta todo mole e só com mais um respiração você dorme de vez? Então, eu amo essa sensação, mas odeio quando a interrompem.
— Eu achei. — Soo-ah praticamente gritou no meu ouvido. Suspirei fundo, muito fundo, tentando não surtar, levando em conta que ela terminou o namoro recentemente. — É só depois da separação que se conhece a profundidade do amor. — Leu em voz alta e eu abri meus olhos para observar, a garota encarava o ex-namorado.
Basicamente: Só da valor depois que perde.
Os ex-casal correu na direção um do outro e se abraçaram. Tae-hoon estava até com a mão enfaixada por causa da minha simples pergunta de ontem.
— Que saco, me preocupei atoa. — Resmunguei fechando os olhos novamente.
O resto dia se passou bem rápido, mas do que eu esperava. Depois do almoço eu tirei uma longa e feliz soneca da tarde. Sei que fiquei parecendo uma idosa que só come e dorme enquanto os outros se divertiam, mas não posso fazer nada, é a melhor coisa do mundo.
A noite, eu e os outros jantamos e no direcionamos ao local onde do show de talentos.
Fiquei animada para ver o grande show de horrores que seria. Quando eu cheguei já havia começado, então a partir do momento que eu comecei a ver a primeira apresentação foi de algumas garotas que dançavam de saia, legais até.
O segundo grupo na minha humilde opinião foi o melhor. Eles só fizeram graça em cima do palco e eu ri muito. Já o último grupo parecia várias cópias da minha falecida avó em cima do palco, Mas o pessoal gostou, então apenas fui na onda deles.
— Vocês tem um idol. — O MC sagaz falou no microfone assim que as outras meninas desceram do palco. — É o seguinte, ele estava treinando para entrar em uma boyband. Vamos todo mundo levantar a mão aí. — Todos apontaram para Seo-jun, inclusive eu, que recebi um empurrão com os ombros como resposta. —Um cara bonitão, boa pinta. Eu não posso deixar de falar isso.
— Vai logo. — Cutuquei Seo-jun para incentiva-lo. —Vai lá, todo mundo quer te ouvir cantar.
— Por que você não vai lá dançar, em? — Resmungou me olhando com uma feição séria.
—Por que não tem nada a ver uma coisa com a outra. — Dei de ombros com indiferença. Soo-ah me implorou para ir dançar, mas nem que me pagem. — Para de ser chato.
— Você não vai mesmo? — A feição de Seo-jun até mudou quando ouvir a pergunta de Ju-kyung. — Já que ele sabe, deixa eu te ouvir cantando.
— Aproveita e canta olhando pra ela. — Sussurrei no ouvido do garoto e pisquei.
— Você quer ouvir? — Han Seo-jun perguntou para Ju-kyung que concordou com a cabeça. — Então eu quero um desejo.
— Ta bom, Aladin. Vai logo. — O empurrei, fazendo o garoto se levantar.
Seo-jun subiu no palco e pegou um violão que tinha ali. Além de cantar ele sabe tocar? A música era linda e de certa forma reconfortante, falava sobre duas pessoas sob uma noite estrelada. Me mexia de um lado para o outro devagar apenas aproveitando.
O garoto intercalava os olhares entre eu e Ju-kyung, mas não me importei nem um pouco de tão entretida que estava. Seu olhar focou apenas em mim quando a outra garota se levantou e saiu andando. Eu olhava para o palco com um sorriso bobo estampado no rosto enquanto o encarava.
Quando a música acabou, Seo-jun desceu do palco e se sentou do meu lado novamente.
— O que achou? — Perguntou animado com um sorriso de lado.
— Gostei, você até que você canta bem. — Falei sem muito ânimo, mas fiz um joia para animá-lo.
— O que deu em você hoje? Nem brigou comigo. — O garoto bagunçou meus cabelos.
— Não dormi direito. — Me virei para ele. — Por culpa sua, inclusive.
— O que? -- Fez uma cara confusa. — Você que se jogou no meu colo e fez eu cair para trás. — Apontou o dedo para mim, me fazendo revirar os olhos.
— Fracote.
O show de talentos finalmente acabou. Entrelacei meu braço com o de Soo-ah para voltarmos para as barracas. Enquanto caminhávamos, jogávamos conversa fora.
— Olha, ele ta ali. O fantasma! — Um menino gritou.
— Vamos atrás dele! — Antes que eu pudesse responder, Soo-ah saiu me arrastando.
Corri até a beira de um penhasco sem ter muita escolha. O tão misterioso fantasma, agora não passava de um lençol sendo carregado pelo vento.
Todos desceram do penhasco indo até o riacho, mas eu fiquei na beira tentando recuperar um pouco do fôlego. Caminhei próxima a uma pedra enorme que tinha ali, tentando achar uma forma melhor de descer junto com os outros.
Mas sabe quando parece que seu coração foi esfaqueado, massacrado e torturado até ficar em pedacinhos? Bom, é como o meu coração se sentia nesse exato momento, quando me deparei com Lee Su-ho e Lim Ju-kyung se beijando.
Talvez se jogar desse penhasco seja a melhor forma de doer.
Respirei fundo, tentando colocar alguns pensamentos positivos na minha cabeça enquanto me afastada sem fazer nenhum tipo de barulho. Já foi humilhante o suficiente para mim ver isso e seria ainda mais se eles me vissem.
— Calma, Na-yeon, você não pode chorar aqui. — Disse baixinho à mim mesma.
Tentei ao máximo ignorar a vontade de chorar que me consumia. Desci o penhasco e me juntei com os outros.
Observei alguns dos amigos de Seo-jun tentar bater no lençol com um cabo de vassoura. Para melhorar mais ainda minha infelicidade, correu um vento forte pelos ares fazendo o lençol voar. Os meninos correram na mesma direção que o lençol, que era a mesma que a minha. Um dos garotos esbarrou em mim, me derrubando na beira do riacho.
A vontade de chorar me consumiu ainda mais, junto com a água que penetrava cada centímetro. Abaixei minha cabeça, deixando a água molhar totalmente meu cabelo, se estivesse morrendo de frio, não teria tempo para pensar em nada. Me levantei sem ânimo e comecei a caminhar em passos arrastados enquanto tremia de frio. Só quero esquecer tudo isso e tomar um banho quente, e mais que tudo eu quero voltar para a minha casa.
— Kim Na-yeon. — Ignorei o chamado de Han Seo-jun e passei reto por ele. — Ei. O que foi? To falando com você. Acredita que a Ju-kyung estava aqui agora pouco chorando enquanto me perguntava porque o Su-ho não gosta dela? — Soltou um riso irônico, mas triste. Parei de andar e me virei para ele.
— Como que ela pode falar isso se estava agora nos braços dele? — Praticamente gritei. — Eles estavam se beijando! — Deixei única lágrima escapar.
Seo-jun caminhou até mim e segurou meu rosto com uma feição preocupada, evitei encará-lo de todas as formas.
— Você ta gelada. O que aconteceu? — Perguntou ignorando o que eu acabai de falar.— Ta toda molhada.
— Me derrubaram no rio... — Soltei no tom mais baixo possível. — Sem querer...
— Quem foi? — Perguntou mas eu não respondi.
Seo-jun me arrastou até uma pedra e me fez sentar. Não consegui evitar que minhas lágrimas começassem a cair uma atrás da outras sem emitir nenhum barulho enquanto o garoto puxava o zíper da meu casaco rosa claro.
Com todo o cuidado do mundo, como se eu fosse quebrar, ele tirou meu casaco, logo em seguida tirou sua jaqueta de couro e me fez vestir e me vestir.
— Seo-jun... — O chamei finalmente criando coragem para encara-lo. — Me desculpa...
— Ta pedindo desculpas porquê? — Soltou um riso nasalado. — Eu que tenho que te pedir desculpas, tá bom? Eu só não sei o que fiz, mas me desculpas.
— Eu não devia ter te contado sobre o beijo, eu sei que você gosta dela. — Falei antes de libertar todo o choro que estava preso na minha garganta. — Me desculpa...
— Não me peça desculpas, você não fez nada. — Passou a mão pelo meus fios de cabelo, os arrumando, diferente do habitual.
— Eu achei que não fosse doer... Mas ta doendo, ta doendo muito. — Coloquei a mão no peito sentindo meu coração apertar, enquanto Seo-jun passava a mão embaixo dos meus olhos para secar minhas lágrimas. — Eu sempre ajudei ele quando ele precisava, mesmo que fosse para ele se resolver com a Ju-kyung. Eu sempre tratei ele bem, sempre tratei todos bem e sempre me trataram de qualquer jeito. Eu deixei ele me usar como animalzinho de teste sem falar nada. Por que... por que o Su-ho não consegue gostar de mim? — Eu me sentia uma completa idiota por tudo que eu já fiz. — Por que?
— Ele é um idiota... — Seo-jun comentou colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. —Esquece ele...
— Eu não consigo. Eu já tentei de todas as formas. — Coloquei a mão nos olhos, sentindo um pouco de tudo, vergonha, raiva, medo, tristeza.
— Ele não sabe o que ta perdendo.
Senti os braços fortes de Seo-jun se entrelaçar no meu pescoço, juntando nossos corpos em um abraço, envolvo meus braços em sua cintura e me aconcheguei. Um pouco do que eu sentia simplesmente desapareceu, incluindo o frio.
Eu sei que no fundo ele está igual a mim. Sentindo a mesma coisa. Mas não quer mostrar isso. Não quer deixar que ninguém veja esse lado "fraco" dele. Eu queria ser assim também, mas dessas vez eu falhei.
— Vai ficar tudo bem. Se você quiser eu quebro a cara dele. — Seo-jun acariciava meus cabelos com uma de suas mãos. E ali eu me perti chorar, chorar de verdade, uma coisa que não fazia a muito tempo por puro medo. — Não acredito que perdi as duas meninas mais lindas do colégio pro idiota do Lee Su-ho. — Falou baixo me apertando ainda mais no abraço.
*****
Oioi gente, como vão?
Esse é o maior capítulo que eu já escrevi na minha vida socorro. Fiquei uma semana escrevendo de madrugada sem parar, mas um pouco é pq eu digito devagar
E eu passei o dia inteiro revisando, pq eu sou muito lerda pra essas coisas
Junto com esse capítulo postei um edit no ttk relacionado, então quem puder vai dar uma olhada para me tirar do flop 🙏🏻
Me digam o que acharam do capítulo...
Espero que tenham tido uma boa leitura
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