⸻ 𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐑𝐄𝐄






CAPÍTULO DOIS

"Poker Night"


















𝓐 garota se revirava no sofá, com o corpo e a mente inquietos. Estava presa em seu pesadelo, o mesmo que a assombrava desde os 7 anos. Era o pesadelo que não a deixava em paz nenhuma noite; um dos motivos pelos quais Zuri preferia estar em sua forma animal. Naquela forma, tinha mais energia e podia passar noites sem dormir — noites sem sonhar com aquilo.

Quando finalmente conseguiu se libertar do pesadelo, abriu os olhos com dificuldade, incomodada pela claridade que já inundava a sala. Levou alguns segundos para adaptar sua visão e reconhecer o ambiente. Então, as memórias do dia anterior a invadiram: onde estava e com quem estava.

Ao se levantar e sentar no sofá, assustou-se ao notar três rapazes sentados, observando-a. Paul, Quil e Embry tinham os olhos fixos nela, o que fez Zuri encará-los assustada.

— Você teve um pesadelo? — Paul foi o primeiro a se manifestar, recebendo um olhar afiado da garota.

— Não acho que isso seja da sua conta! — respondeu, ríspida.

— Você falou mais em uma frase do que durante todo o jantar de ontem — ele zombou, mordendo um pedaço de pão que segurava.

— Vai se foder! — Zuri murmurou as palavras enquanto se levantava, deixando os três surpresos.

— Você sabe falar palavrão? — perguntou Embry, genuinamente curioso.

— Não, seu besta. Ela acabou de inventar. — Quil zombou, dando um empurrão na cabeça do amigo.

Zuri escolheu ignorar a presença indesejada dos três e caminhou até a cozinha. Ainda achava estranho aquele lugar e aquelas pessoas. Eles a tratavam como se já a conhecessem, mesmo sendo uma completa estranha dormindo sob o teto deles. Se quisesse, poderia matá-los enquanto dormiam, pensou. Não que tivesse essa intenção, mas sabia que podia. A vida lhe ensinara que nem mesmo em sua própria sombra se podia confiar. A traição sempre vinha de quem mais amávamos, e de quem menos esperávamos.

— Bom dia, flor do dia! — a voz alegre de Emily a tirou de seus pensamentos.

— Bom dia, Emily — respondeu, forçando um sorriso.

— Espero que tenha dormido bem. O sofá não é dos mais confortáveis — comentou a mulher, enquanto colocava um prato cheio de panquecas à frente da garota.

— É o lugar mais confortável em que dormi nos últimos tempos — disse Zuri, enquanto enfiava um pedaço de panqueca na boca

Logo, a cozinha foi tomada pelos rapazes, que conversavam alto entre si. Zuri finalmente notou as estranhas semelhanças entre eles: todos eram altos, certamente com mais de 1,80m, morenos, mesmo vivendo em uma cidade onde o sol parecia raro, e extremamente fortes. Quem os visse de fora poderia jurar que tinham uma rotina rígida de treinos. O que mais intrigava Zuri era a semelhança deles com ela mesma.

Seus pensamentos foram interrompidos ao notar Emily discutindo com um dos rapazes.

— Jared, deixe panquecas para a Zuri! Você já comeu umas sete! — reclamou ela, dando um tapa na mão do rapaz, que tentava pegar mais uma.

— Eu patrulhei a madrugada toda, Em. Estou faminto! — respondeu Jared, com um bico infantil, tentando parecer triste.

— Vá comer na casa da Kim, então. Tem mais gente para comer aqui. — Emily não cedeu e trouxe o prato para frente de Zuri.

— Obrigada — sussurrou a mais nova, esboçando um sorriso tímido.

— Já não bastava ter que dividir comida com esses esfomeados, agora vou ter que dividir com essa garota? — Paul exclamou, deixando clara sua indignação.

Zuri encolheu-se no assento, sentindo o olhar penetrante de Paul sobre ela.

— Paul! — Sam o repreendeu em tom firme. — Não ligue para ele, Zuri. Você é mais do que bem-vinda e pode comer o quanto quiser. Até parece que eles passam fome! — brincou o mais velho, tentando aliviar o clima.

— Então, Zuri... - iniciou Quil — Quando você planeja ir embora?

Ela parou por um segundo para assimilar a pergunta, pois não havia pensado nisso. Estranhamente, não pensara em sua partida.

— Depois do café. - sibilou com desdém.

— Não vai ficar pro almoço? - Emily a fitou com a expectativa de convencê-la.

— Não posso... - voltou seus olhos para a mulher ao seu lado e notou que ela perdera o ânimo que antes brilhava em seus olhos. — Preciso voltar ao meu caminho.

— E aonde exatamente esse caminho vai te levar? - Sam perguntou, curioso pela resposta.

Zuri não sabia a resposta. Ela havia feito essa mesma pergunta a si mesma várias vezes nos últimos anos. Para onde estava indo? Ou melhor, o que estava procurando? A melhor resposta que encontrou para sua própria pergunta foi: estava tentando se encontrar. Encontrar a garota sorridente e alegre que se perdera aos 7 anos e nunca mais fora encontrada.

— Não sei ao certo ainda. - Zuri respondeu enquanto depositava sua xícara, antes cheia de café, sobre a mesa. — Vou descobrir ainda.

— Sabe, você poderia ficar. - Embry exclamou, chamando a atenção de Zuri. — Seria legal ter você no bando. - falou timidamente.

Paul soltou uma risada nasalada antes de falar:

— Não pôde ver uma fêmea que já ficou assim, Call? - brincou.

Zuri franziu o cenho com a fala do rapaz e pode ouvir Embry murmurar um "Cala a boca, Lahote". Não demorou muito para que toda a comida, que antes estava posta na mesa, acabasse. Os meninos foram lavar suas louças na pia; parecia algo tão metódico que Zuri poderia jurar que, depois de muita briga, isso fora incorporado à rotina deles. Zuri percebeu que Emily a encarava com um semblante que a garota não conseguia decifrar.

Ela se levantou, tentando não fazer barulho, e caminhou para o que supunha ser a saída da casa. Era melhor ir sem que eles notassem, sem despedidas, pois ela nunca se despedia. Ao sair para a varanda, notou que a casa de madeira ficava a poucos metros da floresta, e não parecia haver outras casas por perto. Ela poderia simplesmente se transformar e correr; nem notariam sua saída.

Caminhou tirando a regata que Emily lhe emprestara, não queria rasgar as roupas da mulher que a tratara tão bem. Zuri começou a se concentrar, tentando trazer à tona seu lado mais primitivo, o lado em que ela não era mais Zuri Labonair, mas sim uma grande e formosa loba com pelos longos e brancos como a neve. Percebeu que algo estava errado, pois não sentia nada, nenhum formigamento, nem mesmo uma leve cosquinha. Quando tentava trazer à tona a sensação da transformação, a única coisa que sentia era uma estranha sensação de vazio. Isso a estava deixando frustrada; ela não conseguira aperfeiçoar sua transformação. Só fizera isso uma vez, mas não imaginou que seria algo tão difícil. Deveria ser algo tão simples quanto respirar, já que era isso o que ela era.

— Tatuagem maneira. - ouviu uma voz atrás de si, fazendo-a virar assustada enquanto cobria seu corpo com o pedaço de pano que segurava. Viu Lahote encostado na batente da porta e, logo ao seu lado, o resto das pessoas.

— O que vocês fizeram comigo? - a garota rosnou.

— Do que você está falando? - Jared perguntou, confuso.

— Eu não consigo sentir... - exclamou, claramente irritada. — Não consigo me transformar. O que vocês fizeram comigo? - perguntou novamente, agora avançando para o grupo.

— É melhor você se acalmar, Zuri! - Sam disse, colocando a mão no ombro da garota e impedindo-a de dar mais um passo.

— Me acalmar? - ela disse, praticamente entre os gritos. — Primeiro, sou perseguida. Depois, descubro que fiquei dois dias desacordada no sofá de desconhecidos, que estranhamente parecem agir com naturalidade com o fato de, do nada, uma mulher que se transforma em lobo invadir o "território" deles. - fez gestos com as mãos, marcando aspas no ar. — E, coincidentemente, não consigo mais me transformar depois disso!

Ela terminou de falar ofegante e percebeu o olhar assustado de todos os presentes. Ela podia jurar que notou Emily dar um passo para trás. Ela estava com medo... medo de Zuri.

— Você ficou muito tempo em sua forma de lobo. Sinceramente, não sei como sua humanidade não se perdeu. - Sam disse, parecendo tão perdido quanto a garota. — Dê um tempo para ela. Depois de uma longa patrulha, parece que um caminhão passou por cima de mim. Imagina para você, que está há dois anos vagando.

Era isso: sua loba, ela, estava esgotada. Até sua outra metade estava cansada de todos os dramas de sua vida. Zuri realmente precisava desacelerar. No ritmo em que ia, não teria muito mais tempo.

Ela soltou um longo suspiro, deixando os ombros relaxarem. Zuri era como uma bomba-relógio: nunca se sabia exatamente quando explodiria, apenas que, inevitavelmente, aconteceria.

— Já se acalmou, esquentadinha? — Paul quebrou o silêncio com um sorriso sarcástico estampado no rosto.

— Acho que, no fim das contas, você vai realmente ficar — comentou Embry, com um sorriso discreto.

Zuri não respondeu, apenas direcionou o olhar para Emily. A mulher ainda mantinha uma expressão assustada, como se memórias enterradas tivessem vindo à tona. A cicatriz que marcava seu rosto parecia um lembrete constante do que podia acontecer quando alguém se colocava diante de um metamorfo tomado pela raiva. Zuri deu um passo hesitante à frente, disposta a pedir desculpas. Não queria magoar a única pessoa que a tratou bem em muito tempo. Contudo, antes que pudesse dizer qualquer palavra, Emily lhe lançou um sorriso sincero e disse:

— Acho que vamos precisar arrumar mais roupas para você. — A mais velha entrelaçou o braço no de Zuri e a puxou para dentro da casa.











Zuri não podia dizer que achava tudo aquilo normal. Não estava acostumada a ser tratada com tanta gentileza, o que lhe causava certa desconfiança. Ainda assim, não podia negar que estava gostando da sensação — uma rara e estranha sensação de pertencimento.

Emily a conduziu até a cozinha e entregou-lhe um avental. Zuri a olhou confusa.

— Precisamos fazer tortas — anunciou Emily, já pegando ingredientes e os colocando sobre a bancada. — Todas as sextas-feiras temos uma noite de jogos com Rachel, Kim e os rapazes.

— Rachel e Kim? — perguntou Zuri, arqueando uma sobrancelha.

— Rachel é namorada do Paul, e Kim e Jared têm algo que ainda não deram nome. — Emily sorriu enquanto organizava os itens. — As duas moram aqui na reserva. Acho que você vai gostar delas, são bem mais silenciosas que os meninos.

Zuri não conseguiu segurar a risada com o comentário. Conheceria mais pessoas, mas não sabia se estava pronta para isso. Provavelmente, não. No entanto, precisava se adaptar àquela nova realidade, mesmo que temporária. Sua vida, pelo menos por enquanto, seria barulhenta e cheia de gente.

As duas passaram um bom tempo na cozinha. Zuri perdeu a conta de quantas vezes riu dos comentários de Emily. A mulher era tão naturalmente carismática que o ambiente parecia leve. No final, haviam feito seis grandes tortas, mas Emily ainda estava preocupada se seriam suficientes para o apetite voraz do bando — e de Zuri.

Já estava escurecendo quando Emily apareceu com uma muda de roupa para Zuri. A garota entrou no banheiro e parou em frente ao espelho. As olheiras que vira na noite anterior haviam desaparecido, e ela podia jurar que seus olhos brilhavam de uma forma que não via há anos. Em um único dia, parecia estar mais saudável do que em toda a sua vida.

Tirou a regata emprestada e virou-se de costas para o espelho, fitando a "tatuagem" que cobria toda sua pele. Era enorme: seis grandes luas representando as fases e, no centro, um sol em destaque. Ela tinha aquilo desde que nascera. Ária havia lhe explicado que era algo geracional. "Seu pai tinha, seu avô tinha, e assim por diante. Para nossa tribo, é uma marca de liderança." E de fato, todos os seus antepassados haviam sido líderes. Mas, na vez de Zuri, não havia mais tribo para liderar.

Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Tirou o restante das roupas e entrou no chuveiro. Não demorou muito para que estivesse pronta. Vestia um short jeans de lavagem escura e uma blusa branca justa, que valorizava sua figura de uma forma sutil, mas marcante.

Ao sair do banheiro, deparou-se com Emily, que a encarava com um sorriso caloroso.

— Você está deslumbrante, Zuri — elogiou a mulher, os olhos passeando com admiração pelo visual da mais nova. — Pensei em fazer uma trança no seu cabelo, se você quiser, é claro.

Zuri apenas acenou com um sorriso discreto, permitindo que Emily a guiasse até o sofá. Não demorou muito para que os dedos habilidosos da mais velha estivessem trabalhando nos longos cabelos negros de Zuri.

Enquanto Emily trançava, a mente de Zuri foi tomada por uma lembrança. Ela sorriu, quase sem perceber.

— Sou tão engraçada assim? — perguntou Emily, curiosa.

— Me lembrei de um momento feliz — respondeu Zuri, ainda com o sorriso no rosto.

— Que bom — disse Emily, devolvendo o sorriso. — As memórias são as únicas coisas que nunca morrem.

Antes que Zuri pudesse responder, ouviu risadas e passos vindos do lado de fora da casa. Vozes femininas, que ela não reconhecia, chamaram sua atenção.

— Eles chegaram — murmurou Zuri, olhando para Emily.

— Como você sab... — Emily começou, mas não teve tempo de terminar. A porta se abriu, e um grupo entrou na casa com energia.

Em, chegamos! — gritou uma voz feminina.

Parados na ampla porta que separava a sala da cozinha, estava o grupo de pessoas. Os olhos de Zuri focaram nos dois rostos novos. Rachel, ao lado de Paul, era quase da mesma altura que Zuri. Sua pele morena era mais clara que a dos rapazes, seu corpo magro exibia bustos destacados, e seus cabelos escuros na altura dos ombros emolduravam olhos castanhos claros que agora fitavam Zuri. Ao lado de Jared, Kim se destacava por ser bem menor que os outros, com um sorriso largo e caloroso no rosto. Seus cabelos castanhos, caindo até a altura do peito, balançavam levemente enquanto encarava Zuri com curiosidade.

— Então essa é a famosa Zuri? — Rachel foi a primeira a quebrar o silêncio.

— Em carne e osso. — Emily respondeu, envolvendo os ombros de Zuri com os braços, mesmo com certa dificuldade devido à altura da jovem.

— Prazer em te conhecer. — Rachel aproximou-se, agora com um sorriso acolhedor. — Eu sou Rachel, e aquela é Kim. Melhor se acostumar com a gente, estamos sempre por aqui.

— Até demais. — Sam comentou com um tom brincalhão. — Mas, ao menos, vocês são convidadas, diferente de quatro garotos que não vou mencionar.

Enquanto risos tomavam conta do ambiente, Kim aproximou-se rapidamente.

— Finalmente alguém da minha idade que pode entender toda essa loucura! — disse animada, abraçando Zuri de forma repentina.

Zuri ficou estática, sem saber como reagir. Fazia tanto tempo que não era abraçada que não lembrava como retribuir. A sensação era estranha e desconcertante. Ainda assim, de forma hesitante, envolveu Kim com os braços e deu dois leves tapinhas em suas costas antes de se afastar.

— Oi. — Zuri disse, sem jeito.

— Kim é a mais calorosa do grupo. Melhor ir se acostumando. — Rachel comentou, aproximando-se das duas. — É bom ter mais uma garota por aqui. Quantos anos você tem?

— Dezesseis. — Zuri respondeu de forma breve.

— Uau, nem parece. Você é tão alta e... — Rachel a observou mais atentamente. — Bem desenvolvida.

— Acho que é coisa dos genes de lobo. — Zuri respondeu com um sorriso tímido.

— Não quero interromper a conversa de vocês, mas a noite de jogos não pode esperar. — Paul falou mais alto, exibindo um sorriso presunçoso em direção a Jared. — Estou pronto para derrotar alguns otários hoje.

— Que jogos vocês jogam? — Zuri cochichou para Kim.

— Pôquer. Paul sempre ganha e leva todas as fichas. Eles apostam os turnos das rondas. — Kim explicou.

— O pobre do Embry teve que cobrir quase todos os turnos da semana passada. — Emily comentou, cruzando os braços enquanto olhava com compaixão para Embry, que não parecia empolgado com o jogo. — Você sabe jogar, Zuri?

— Acho que já joguei antes, mas não lembro bem das regras.

— Melhor assim, Zuri. Eu odiaria colocar você na minha lista de derrotados. — Paul comentou, cheio de sarcasmo.

Zuri apenas revirou os olhos e seguiu o grupo até a cozinha.

A mesa redonda estava coberta com um pano verde aveludado. No centro, uma maleta de fichas e cartas aguardava o início do jogo. Paul, Rachel, Sam, Quil e Embry formaram o primeiro turno. Kim e Emily se sentaram no balcão, comendo fatias de torta e entretidas nas conversas.

As cartas foram distribuídas. Quase simultaneamente, os jogadores analisaram suas mãos. Embry suspirou, desapontado. Rachel mordia a bochecha de leve. Paul exibia seu habitual sorriso confiante. Quil parecia confuso, enquanto Sam mantinha sua expressão impassível.

— Eu pago. — Rachel começou, empurrando algumas fichas para o centro da mesa.

— Eu também. — Sam repetiu o gesto.

— Eu desisto. — Embry murmurou, cabisbaixo, abaixando suas cartas.

— Eu aumento. — Paul declarou, arrastando uma grande quantidade de fichas com confiança.

— Eu... — Quil, hesitou antes de decidir. — Pago.

Zuri, por sua vez, perdeu o interesse na partida e se dirigiu à cozinha para pegar uma fatia de torta. Voltando ao balcão, encontrou Kim e Emily rindo de uma calorosa discussão entre Jared e Paul.

— Impressionante como tudo sempre se repete. — Kim comentou entre risos. — Paul e Jared brigam, Embry fica cabisbaixo, Rachel ameaça terminar com Paul, e Sam tenta ensinar a Quil. Isso é toda sexta-feira.

— Vocês parecem uma família. — Zuri disse com um sorriso tímido.

— Somos uma. Família não precisa compartilhar o mesmo sangue. — Emily respondeu, pousando uma mão no ombro de Zuri. — Melhor ir se acostumando.

A noite passou rapidamente. Paul venceu no pôquer, como Kim havia previsto, e tudo o que ela descreveu realmente aconteceu. Depois disso, o grupo se dividiu para brincar de mímica, o que gerou ainda mais risadas. Paul, Rachel e Zuri destacaram-se pela competitividade, mas, no final, as duas garotas uniram forças para derrotá-lo, o que levou o rapaz a acusá-las, brincando, de trapaça.

Já era tarde quando começaram as despedidas. Rachel e Paul foram os últimos a sair.

— Foi bom te conhecer, Zuri. — Rachel falou, tirando a jovem de seus devaneios. — Meu pai pediu para que você fosse à nossa casa amanhã à noite. O conselho quer te conhecer.

— Conselho? — Zuri perguntou, confusa.

— São os representantes das famílias anciãs da reserva. — Sam explicou. — Eles só querem saber mais sobre a nova visita.

Zuri concordou com um aceno, ainda se sentindo estranha com a ideia. Após se despedir de Rachel e Paul, Emily a acompanhou até a sala, onde ficou conversando com ela por um tempo. Explicou mais sobre a reserva e o conselho, tentando acalmar a jovem.

Não demorou muito para que o cansaço as dominasse, e ambas foram se deitar.

Já acomodada no sofá, Zuri deixava sua mente vagar pelas memórias do dia. Tanta coisa havia acontecido em tão pouco tempo que parecia viver anos condensados em apenas alguns momentos. Era tudo tão intenso, tão vívido, que quase a sufocava. E, sem perceber, aqueles desconhecidos começavam a se tornar estranhamente familiares. Já identificava suas manias, suas expressões, seus tons de voz. Cada detalhe parecia se fixar na sua mente, como raízes se aprofundando silenciosamente.

Isso a apavorava.

Zuri não queria se prender a eles. Não podia. Criar laços era como plantar sementes em um solo fértil: quanto mais fortes as raízes, mais doloroso seria arrancá-las no momento inevitável da partida. E ela sabia que essa hora chegaria. Talvez não tão cedo, mas era certa como o nascer do sol.

A ideia de se despedir outra vez, de deixar para trás algo que começava a preencher as lacunas do vazio dentro dela, fazia seu peito apertar. Não podia deixar-se apegar, não podia permitir que essas pessoas cavassem espaço em seu coração. Porque, no fim, partiria — e partir doeria.















Capítulo não revisado

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Vejo vocês sexta que vem

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