7
Mason esperava ansioso perto da saída do estúdio de balé. Ele tinha planejado cada detalhe do passeio com muito carinho, pensando em como proporcionar a Ivy uma tarde leve e divertida. A cada passo, conferia a mochila, ajeitava o pano de piquenique e olhava para a entrada do estúdio, atento ao momento em que Ivy finalmente aparecesse.
Quando ela saiu, exausta após um longo dia de ensaios, mal notou Mason até ele dar alguns passos em sua direção. Ivy parou, surpresa, e piscou algumas vezes, como se precisasse de um segundo para assimilar o que estava acontecendo. Mason abriu um sorriso largo e acenou, chamando-a para perto.
— Oi, Ivy! — ele disse, empolgado, enquanto ela ainda processava a situação. — Estava pensando… quer dar uma volta comigo hoje? Tenho uma surpresa para você.
Ivy hesitou, olhando para ele com uma mistura de cansaço e curiosidade. A rotina extenuante e as cobranças do balé pesavam sobre ela como uma sombra constante. Parte dela queria ir direto para casa e descansar, mas havia algo na maneira como Mason a olhava — tão gentil, tão caloroso — que a fez reconsiderar.
— Uma surpresa? — ela perguntou, com um meio sorriso, tentando esconder a insegurança e o cansaço.
— Isso mesmo! Só uma tarde para relaxar, sem balé, sem preocupações… só diversão — ele disse, em um tom leve, esperando convencê-la. — Você não precisa pensar em nada. Eu cuido de tudo.
Depois de mais um instante de hesitação, Ivy assentiu. Havia uma espontaneidade naquele convite que ela raramente permitia a si mesma, e, por mais assustador que fosse, parecia certo naquele momento.
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Eles andaram lado a lado até um parque afastado, com trilhas cobertas por árvores e uma grama verde e macia, onde o som da cidade parecia distante. Ivy seguia Mason com passos cuidadosos, observando o ambiente ao redor e se surpreendendo com a tranquilidade do lugar. Cada passo parecia uma transição para um mundo diferente, um mundo onde o barulho e as cobranças do estúdio de balé não podiam alcançá-la.
Mason a guiou por uma trilha sinuosa e, finalmente, parou em um canto recluso, onde abriu sua mochila e tirou uma toalha colorida, estendendo-a sobre a grama. Ivy o observava em silêncio, intrigada com a dedicação dele para preparar aquilo. Quando ele começou a tirar as comidas da mochila — frutas frescas, biscoitos e até alguns sanduíches — ela sentiu uma pontada de apreensão. Ela amava o gesto, mas a ideia de comer era algo com o qual ela sempre lutava.
— Você trouxe tudo isso só para nós? — ela perguntou, tentando disfarçar o desconforto com um sorriso.
— Claro! Achei que a gente podia aproveitar uma tarde diferente… você merece isso, Ivy — ele respondeu, com o mesmo sorriso confiante.
Sentados na grama, Mason começou a contar histórias engraçadas, histórias do colégio e de amigos que tinham em comum. Ivy ria, sentindo-se leve, mesmo que por alguns momentos. Era uma sensação que ela raramente experimentava, como se estivesse num espaço onde ninguém esperava nada dela, onde ela podia apenas existir.
Conforme Mason falava, ele foi pegando pedaços de fruta e os sanduíches, comendo com gosto. Ivy, no entanto, olhava para a comida com cautela, mantendo-se quieta. Pegou uma maçã e a segurou nas mãos, mas seus dedos permaneciam imóveis, incapazes de levá-la à boca. Ela sentia uma onda de culpa se formando, lembrando-se das palavras da mãe sobre manter o peso, sobre como o balé exigia disciplina extrema. Ivy hesitava, segurando a maçã apenas como um disfarce, enquanto tentava sorrir e focar no que Mason dizia.
Ele percebeu. Embora evitasse comentar no início, Mason via que Ivy não dava uma única mordida, mantendo a fruta em mãos como se fosse apenas um acessório. Ele tentou continuar leve, mas o desconforto de Ivy parecia impossível de ignorar.
— Ivy… você está bem? — ele perguntou, finalmente, em um tom calmo. — Percebi que você ainda não comeu nada.
Ela hesitou, desviando o olhar e fingindo que estava distraída com uma folha próxima. Tentou forçar um sorriso, mas sabia que não conseguiria disfarçar para ele.
— Sim, está tudo bem… só não estou com muita fome agora — respondeu, na defensiva, encolhendo os ombros.
Mason olhou para ela com preocupação evidente. Ele tinha notado alguns comportamentos de Ivy que o incomodavam, e, mesmo sem entender completamente, ele se preocupava profundamente.
— Ivy… você quase não come. Isso não é bom. Precisamos de energia, de nutrientes. Mesmo sendo uma bailarina incrível, seu corpo precisa de força — disse ele, tentando manter o tom leve, mas sua preocupação era óbvia.
Ela forçou um sorriso, ainda tentando evitar o assunto, mas algo na fala dele a abalou. Ela sentia um aperto no peito, um conflito entre a voz da mãe que exigia perfeição e a gentileza de Mason, que parecia realmente se importar.
— É que… — começou, hesitando. — Eu só… preciso ser perfeita, sabe? Não posso relaxar… nem nisso.
Mason ficou em silêncio, absorvendo a dor nas palavras dela. Ele não a interrompeu, esperando que ela continuasse, torcendo para que ela se sentisse segura para abrir um pouco daquele peso que carregava.
— Minha mãe sempre diz que, para ser a melhor, preciso de disciplina em tudo. E eu… fico com medo de decepcioná-la — confessou, a voz baixa, quase um sussurro. — Às vezes, parece que qualquer deslize pode arruinar tudo.
Ele estendeu a mão, segurando a dela de maneira firme, mas delicada.
— Ivy… você não precisa ser perfeita para mim. Nem para o mundo. Você já é incrível só por ser você — disse ele, com sinceridade. — E é importante cuidar de você, de verdade.
Ela sentiu os olhos arderem, tentando conter as lágrimas. O toque de Mason, tão sincero, parecia quebrar uma barreira que ela tinha construído em torno de si mesma, uma barreira que a fazia acreditar que fraqueza era algo a ser escondido. Por um breve momento, ela sentiu o peso daquelas cobranças se esvaindo.
Mas, instantes depois, a insegurança retornou, e ela recuou, afastando-se levemente.
— É fácil falar… mas eu não sei como fazer isso, Mason. Estou sempre tão focada, tão… sozinha — admitiu ela, com uma vulnerabilidade que raramente mostrava a alguém.
Mason olhou para ela, mantendo o olhar fixo e sereno.
— Eu estou aqui. E, sempre que você precisar, estarei aqui para lembrar você de quem realmente é. Você é muito mais do que o que os outros esperam, Ivy.
Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, aproveitando a paz ao redor. Aos poucos, Ivy se permitiu relaxar novamente, encostando-se no ombro dele, sentindo-se mais acolhida do que jamais imaginou. Ali, naquela tarde simples no parque, Ivy entendeu que havia alguém que a via além das pressões, alguém que a aceitava exatamente como era. E, por um breve momento, ela deixou de lado suas preocupações, abraçando aquela sensação de liberdade e de ser apenas… Ivy.
...
Ivy passou a tarde com Mason como se fosse um pequeno refúgio, um pedaço de paz no meio do caos que ela chamava de vida. O parque, com seu verde tranquilo e o sol suave se pondo, fez com que se sentisse, mesmo que por um momento, longe das expectativas sufocantes de sua mãe. A sensação de liberdade era boa, mas sabia que, quando voltasse para casa, tudo voltaria a ser como antes.
Quando ela se aproximou da porta, uma sensação de desconforto tomou conta de seu peito. O silêncio da casa parecia antecipar a tempestade que se aproximava. Ela respirou fundo e entrou, tentando não fazer barulho, mas, assim que cruzou o limiar da sala, sua mãe apareceu na porta da cozinha, com os braços cruzados e o rosto marcado pela preocupação e raiva.
— Onde você estava, Ivy? — a mãe disse, a voz carregada de irritação, sem sequer fazer uma pausa para um "olá". — Sabe que horas são?
Ivy hesitou por um momento, tentando esconder a irritação que se formava dentro de si, mas, ao mesmo tempo, se forçando a manter a calma.
— Eu estava com um amigo, mãe — disse, com a voz suave, tentando evitar uma discussão logo de cara. — Eu precisava de um tempo para respirar.
A mãe a olhou com desdém, o olhar crítico, como se aquelas palavras fossem algo completamente inaceitável.
— Ah, claro, "um tempo para respirar", como se você não tivesse o suficiente com a sua rotina de balé. Eu trabalho o dia inteiro para te dar tudo o que você precisa, e você sai para "respirar"? — a mãe soltou uma risada irônica, os olhos se estreitando. — As meninas da sua idade não têm tempo para relaxar, Ivy. Elas têm que se dedicar, têm que trabalhar duro. Você já se esqueceu disso?
Ivy tentou manter a postura, mas o peso das palavras da mãe estava começando a ser demais. Em sua mente, ela tentava se afastar daquela realidade, mas não conseguia. A pressão que sentia era esmagadora, e, por mais que tentasse esconder isso, sentia-se cada vez mais pequena diante daquelas acusações.
A mãe, aparentemente, não estava disposta a ouvir explicações. Ela continuou, seu tom agora mais alto, mais cortante:
— Não sei por que ainda insisto. Você tem tudo em suas mãos, Ivy, e não faz nada com isso. Você não percebe o quanto eu estou sacrificando para que você tenha o melhor, e você simplesmente age como se isso fosse pouco. Eu não aguento mais essa falta de respeito!
Ivy queria gritar, queria dizer que não aguentava mais a pressão, que precisava de mais do que a rigidez da mãe, mas as palavras pareciam presas na garganta. Ela sentia o peito apertado, o desejo de explodir, mas ao mesmo tempo, sabia que isso não levaria a lugar algum. A mãe nunca ouviria. A mãe nunca entenderia.
Em silêncio, Ivy olhou para o chão, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Sua mãe estava tão imersa em seu próprio furor que não parecia notar o quanto aquelas palavras a machucavam.
A mãe dela, aparentemente, não se cansava. Ela continuava a despejar seu desagrado, como se estivesse despejando todas as frustrações do dia em Ivy, sem dar espaço para uma resposta, uma reação.
— Você acha que está sendo forte, não é? Mas está apenas fugindo, Ivy. Você está fugindo de tudo o que poderia ser. E sabe o que vai acontecer se continuar assim? Vai se arrepender. Vai se arrepender quando perceber o que perdeu por ser tão… tão fraca!
Aquelas palavras, "tão fraca", atingiram Ivy com uma força inesperada. Ela sentiu uma onda de calor subir em seu rosto, mas não deixou as lágrimas caírem. Tentava, de todas as maneiras, segurar tudo o que sentia, mas o peso estava insuportável.
Ela queria gritar de volta. Queria explicar que não estava fugindo, que estava apenas tentando sobreviver a um sistema que nunca parecia suficiente para ela. Mas, ao olhar para a mãe, parecia que qualquer tentativa de diálogo seria em vão. A mãe estava irredutível, imersa em suas próprias expectativas e frustrações. Ivy sabia que qualquer resposta sua só faria a situação piorar.
Silenciosamente, ela se virou e caminhou até o quarto. O som do calçado batendo contra o chão ecoou pelo corredor, mas, apesar da pressa, ela não conseguia afastar os ecos da voz da mãe que ainda a acompanhavam. Quando entrou no quarto e fechou a porta, a sensação de alívio foi momentânea. A dor do conflito continuava ali, pesada, em sua mente.
Ivy se jogou na cama e cobriu os olhos com as mãos, sentindo as lágrimas finalmente escorrerem pelo seu rosto. Não sabia mais o que fazer, nem como lidar com aquilo. Ela sabia que sua mãe não era mal-intencionada, mas sentia como se sua mãe fosse incapaz de enxergar a dor real que ela carregava. A pressão não era só no balé; era em tudo. Cada passo que dava, cada movimento que fazia, parecia ser acompanhado pela expectativa de que fosse mais, fosse melhor, fosse perfeita. E ela não conseguia ser perfeita. Ela só queria ser alguém que podia respirar, alguém que não fosse constantemente julgada.
Ela olhou para o celular, a tela iluminada pelo reflexo das lágrimas, e sentiu o impulso de enviar uma mensagem para Mason. Mas o que ela diria? Como poderia explicar tudo isso para ele? Como poderia pedir ajuda sem ser julgada por ser fraca demais para lidar com tudo?
Em vez disso, ela se enrolou nas cobertas, tentando afastar as vozes da mãe, tentando se convencer de que aquele silêncio ao seu redor não era uma confirmação da sua inadequação. Ela tentou se acalmar, mas a dor persistia, como uma sombra que ela não conseguia afastar. E, enquanto o relógio marcava as horas, Ivy se perguntou se algum dia conseguiria se livrar daquela sensação de nunca ser o suficiente.
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2111 palavras
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