2
Votem e comentem!
O relógio marcava o início da noite, e Ivy Belle chegava em casa exausta. Ainda sentia o peso da aula no corpo e na mente, mas o pequeno encontro com Mason havia trazido um alívio inesperado. Mesmo assim, ao atravessar a porta da frente, uma familiar ansiedade já começava a se instalar. A casa de Ivy, espaçosa e bem decorada, refletia o perfeccionismo de sua mãe. Tudo ali parecia cuidadosamente calculado, quase como se fizesse parte de um cenário meticulosamente planejado, assim como cada aspecto da vida de Ivy.
Logo que entrou, foi recebida pelo olhar atento de sua mãe, Claire. Elegante e rígida, ela carregava uma expressão de expectativa que deixava Ivy automaticamente em estado de alerta.
—Como foi o ensaio hoje?—perguntou Claire, com um olhar avaliador. A pergunta, mesmo simples, carregava um peso invisível.
—Foi bem,—Ivy respondeu, tentando soar casual enquanto guardava sua bolsa no hall. Ela sabia que qualquer hesitação, qualquer sinal de cansaço poderia desencadear mais cobranças.
Claire observou a filha de cima a baixo, como se estivesse em busca de alguma falha. —Você já está visivelmente mais magra, Ivy, mas ainda precisa de mais definição muscular. O balé exige perfeição, você sabe disso.
Ivy tentou acenar com a cabeça, escondendo o desconforto. Esse tipo de comentário já era rotina, mas isso não o tornava menos doloroso. Era como se cada palavra reforçasse a pressão de que ela nunca estava fazendo o suficiente, de que precisava sempre ser “mais” para agradar a mãe e, de certa forma, para alcançar a tão sonhada perfeição.
—Já jantou— Claire perguntou, caminhando em direção à cozinha e indicando com um gesto para que Ivy a seguisse.
Ivy hesitou. Sabia que a resposta certa era "não", e que sua mãe esperava que ela comesse de acordo com o rigoroso plano alimentar montado exclusivamente para que mantivesse o “corpo ideal” de bailarina. Contudo, só de pensar em comer na frente dela, sentia a ansiedade crescer.
“Não... ainda não,” respondeu, sua voz saindo quase como um sussurro.
Na cozinha, Claire abriu a geladeira e retirou uma refeição previamente organizada em um prato de vidro: uma pequena porção de salada verde, um pedaço de frango grelhado e algumas fatias de pepino. Era um prato quase sem cor, refletindo as restrições que Ivy conhecia tão bem.
— Coma isso. Vai manter você leve, mas nutrida. Lembre-se, Ivy, seu corpo é o seu instrumento. Você precisa cuidar dele como se fosse uma obra de arte, —instruiu Claire, com a voz levemente autoritária.
Ivy assentiu, forçando um sorriso enquanto se sentava à mesa. Ela encarava o prato, mas mal tinha vontade de comer. A sensação de cansaço e o peso das expectativas a faziam sentir como se o simples ato de mastigar fosse uma tarefa árdua. Sabia que qualquer hesitação ou relutância seria rapidamente notada e comentada.
—Você precisa se dedicar, Ivy,— continuou Claire, com os olhos fixos na filha. —O balé exige perfeição, foco absoluto. Não quero que você desperdice o talento que tem. Este é um mundo competitivo, e você está tão perto de se destacar. Mas só conseguirá isso se mantiver o comprometimento, se for forte.
Ivy engoliu em seco e, forçando um sorriso, respondeu: “Eu sei, mãe. Estou fazendo o meu melhor.” Ela tentou manter o tom de voz suave, mas sabia que sua resposta não aplacaria as expectativas de Claire. Cada palavra parecia mais uma rendição ao controle que sua mãe tinha sobre todos os aspectos de sua vida.
—Seu melhor precisa ser excelente,—disse Claire, seu tom se tornando mais incisivo. —Apenas o melhor não é suficiente. Você é talentosa, Ivy, mas precisa ser forte o bastante para superar seus próprios limites. Não é fácil, e exige sacrifício.
Essas palavras ecoaram na mente de Ivy, quase como uma sentença. Ela sabia o quanto estava se esforçando, o quanto seu corpo e mente estavam desgastados, mas cada dia que passava parecia menos suficiente. A pressão para alcançar um nível inalcançável de perfeição a consumia por dentro, mas ela tentava esconder isso o máximo possível, fingindo ser a filha dedicada que sua mãe esperava.
Entre uma garfada e outra, Ivy sentia a comida descer como se fosse uma rocha. Seus pensamentos começavam a se embaralhar, e o familiar nó de ansiedade em seu estômago apertava mais e mais. Tentava manter a compostura, tentando convencer a si mesma de que suportaria, de que poderia aguentar mais um dia. Mas, no fundo, a insegurança e a dúvida a consumiam.
Quando finalmente terminou a pequena refeição, Claire analisou o prato vazio com aprovação. Era um olhar que, em outro contexto, poderia ser de carinho, mas ali, parecia mais uma avaliação fria, um teste que Ivy precisava passar todos os dias.
—Ótimo, —disse Claire, com um sorriso satisfeito. — Agora, sugiro que você faça alguns alongamentos antes de dormir. Não queremos que seus músculos enrijeçam durante a noite, certo?
Ivy assentiu, sem forças para argumentar, já sabendo que discutir qualquer ponto seria inútil. Cada parte de sua rotina era planejada e supervisionada, sem espaço para que pudesse expressar suas próprias necessidades ou vontades. Ela subiu as escadas em direção ao quarto, sentindo o peso das expectativas de sua mãe como uma sombra que a acompanhava em cada passo.
Assim que fechou a porta, Ivy sentiu um misto de alívio e culpa. Estava sozinha, longe dos olhares avaliadores e da pressão constante, mas isso também a deixava vulnerável aos próprios pensamentos e inseguranças. Sentou-se no chão de seu quarto e começou os alongamentos de forma automática, sua mente ainda presa nas palavras da mãe.
A cada alongamento, Ivy sentia a dor nos músculos, a tensão acumulada do dia. Fechou os olhos e tentou se lembrar do encontro com Mason mais cedo, da leveza que ele transmitia, da forma como falava sobre erros com uma naturalidade que Ivy jamais sentira em sua própria vida. Por um momento, tentou imaginar como seria se pudesse encarar a dança de forma tão despreocupada, se pudesse dançar apenas pelo prazer de se expressar, sem a pressão da perfeição.
Mas o pensamento parecia irreal. Na vida que conhecia, a perfeição não era uma opção; era uma exigência.
Ivy terminou os alongamentos com um suspiro pesado. Seus músculos ainda doíam, mas, naquele momento, a dor era quase um alívio; era algo que ela entendia e controlava, diferente dos sentimentos e das pressões que enfrentava todos os dias. Sabendo que tinha que dormir cedo para enfrentar o dia seguinte, decidiu tomar um banho para relaxar e tentar aliviar o peso do cansaço acumulado.
No banheiro, enquanto a água quente caía, Ivy fechou os olhos e tentou esvaziar a mente. Ela desejava, ao menos naquele momento, poder desligar os pensamentos sobre balé, sobre o que sua mãe esperava dela e sobre as expectativas que sempre pareciam sufocá-la. Mas cada vez que tentava se acalmar, a ansiedade insistia em voltar, lembrando-a de que, no dia seguinte, a rotina e as cobranças seriam as mesmas.
Enquanto a água escorria, Ivy lembrou-se novamente de Mason, do olhar sincero que ele lhe lançara no estúdio e do jeito despreocupado com que falava sobre os próprios desafios. Ela se pegou sorrindo ao imaginar como ele lidava com a pressão no teatro, com a leveza de quem encontra satisfação na imperfeição. Mesmo com as dificuldades e inseguranças, havia algo em Mason que parecia libertador, e Ivy percebeu que ansiava por essa sensação de liberdade, por poder ser ela mesma sem o medo de falhar.
Ao sair do banho, vestiu um pijama confortável e seguiu para o quarto. Olhando para a cama, sentiu o peso do dia finalmente cair sobre si, e sabia que precisava descansar para enfrentar a escola e os ensaios do dia seguinte. Deitou-se e puxou o cobertor até os ombros, permitindo-se um último pensamento reconfortante: que, talvez, as pequenas interações com Mason trouxessem um pouco de leveza para os dias que estavam por vir.
Fechando os olhos, Ivy tentou relaxar e deixar o cansaço a levar ao sono.
⭑◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦◦⭑
1335 palavras
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top