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𖹭⠀࣭⠀ֹ capítulo 03 ⊹ㅤ ㅤ゜★
❛ eu sou a empregada. ❜
❛ postado em 06/12/2024
5.591 palavras | não revisado.
O CARRO VELHO DE RIO SACOLEJAVA LEVEMENTE ENQUANTO ELA DIRIGIA PELAS ESTRADAS SINUOSAS E CERCADAS DE ÁRVORES. Elle, sentada no banco do passageiro, olhava pela janela, claramente tentando absorver o cenário. Ela estava acostumada com o luxo de Londres e as luzes brilhantes da cidade, mas o lugar para onde estavam indo era algo completamente diferente. Até agora, tudo parecia tirado de um filme velho: árvores, cercas de madeira desgastadas, vacas pastando ao longe. E absolutamente nada que lembrasse as ruas movimentadas de Londres ou as mansões que costumava viver com Agatha.
─── Não sabia que você tinha se mudado, mami.
Elle comentou, o tom levemente provocador, mas seus olhos não disfarçavam a curiosidade. Rio sorriu de canto, uma das mãos no volante enquanto a outra ajustava o velho chapéu de palha que repousava no painel.
─── Bem, eu precisava de um recomeço, e isso aqui é mais tranquilo do que a cidade. Menos barulho, mais verde, mais... tempo para pensar.
Elle arqueou uma sobrancelha.
─── Tempo pra pensar? Isso parece o tipo de coisa que adultos dizem quando querem fugir de algo.
Rio deu uma risada curta, mas não respondeu.
─── É como se tivéssemos viajado para o século passado.
Rio lançou um olhar de soslaio para a filha, claramente se divertindo.
─── Ah, não seja dramática. Ainda temos Wi-Fi.
Elle fez uma careta, afundando no banco.
─── Não acredito que eu cruzei o oceano pra isso.
Rio ignorou a provocação, apontando para frente.
─── Ali está.
Elle seguiu o dedo da mãe e arregalou os olhos. Uma pequena casa de madeira surgiu no horizonte, cercada por uma cerca branca torta e acompanhada de um celeiro vermelho que parecia prestes a desmoronar.
─── Isso é... ─── Elle procurou as palavras. ─── Pequeno.
─── A palavra é "aconchegante". ─── Rio corrigiu, estacionando o carro em frente à casa. ─── E antes que você pergunte, sim, eu sei que isso não é um palácio, mas funciona.
Elle saiu do carro devagar, quase como se esperasse que o chão afundasse debaixo dela. Olhou para a varanda da casa, onde um par de botas sujas estava largado ao lado de um balde cheio de ferramentas.
─── Você realmente mora aqui?
Rio suspirou, pegando a mochila de Elle do porta-malas.
─── Sim, Elle. E, acredite ou não, eu gosto daqui.
─── Mas você morava em um loft em Nova York. Com elevador privativo. E banheira de mármore!
Elle se inclinou para frente, tentando ter uma visão melhor.
─── Isso é… pequeno.
─── Pequeno, mas aconchegante. ─── Rio respondeu. ─── E, antes que você diga, sim, eu sei que isso não é o Hilton.
Elle saiu do carro, olhando ao redor. O lugar era simples, mas tinha um charme rústico. Uma cerca branca cercava o pequeno terreno, e alguns potes de plantas estavam empilhados perto da varanda. No fundo, havia um celeiro vermelho que parecia tão velho quanto o próprio rancho.
─── Você tem cavalos?
Elle perguntou, tentando parecer desinteressada, mas falhando miseravelmente.
─── Mais ou menos, mas tem um cachorro que às vezes aparece. E um gambá que insiste em morar no celeiro. Considero eles da família.
Rio respondeu, pegando a mochila de Elle do banco de trás. Elle revirou os olhos, mas um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. Rio abriu a porta da casa e gesticulou para que Elle entrasse.
─── Bem-vinda ao meu palácio, princesa.
Elle entrou hesitante, seus olhos varrendo o espaço. A casa era pequena, mas tinha uma vibe acolhedora. O chão de madeira rangia levemente, e o cheiro de café velho misturado com terra era o primeiro a receber qualquer visitante. A sala tinha um sofá velho coberto por um cobertor colorido, uma lareira apagada e pilhas de livros espalhadas por todos os cantos.
O lugar era... simples. O piso de madeira rangia com cada passo, as paredes eram decoradas com quadros de paisagens e fotos antigas. Uma lareira apagada ocupava o centro da sala, cercada por um sofá surrado coberto por um cobertor de tricô. Havia uma mesa de jantar pequena, com cadeiras que não combinavam entre si, e prateleiras cheias de livros, ferramentas e o que parecia ser uma coleção desorganizada de canecas.
─── Isso é... rústico. ─── Elle disse finalmente.
─── "Rústico" é exatamente o que eu ia dizer. ─── Rio respondeu, jogando as chaves do carro sobre a mesa. ─── Bem-vinda ao meu rancho, princesa.
Elle soltou a mochila no chão e olhou para a cozinha, onde uma pilha de louça esperava por alguém corajoso o suficiente para encará-la.
─── Não tem uma empregada?
Rio bufou, indo até a chaleira no fogão.
─── Eu sou a empregada. Quer chá?
─── Chá? ─── Elle repetiu, ainda tentando absorver tudo. ─── Chá é a solução para essa situação?
Rio virou-se para ela, apoiando as mãos na cintura.
─── Escuta, Elle, não é o Hilton, mas é o que temos. Você vai sobreviver.
Elle observou enquanto Rio se movimentava pela cozinha. Por mais caótica que a mãe fosse, havia algo reconfortante na forma como ela parecia fazer tudo de um jeito meio desajeitado, mas eficiente.
─── Mamãe?
─── Hmm?
─── Você acha que a mamãe Agatha tá muito brava?
Rio parou por um momento, olhando para a chaleira como se ela tivesse a resposta.
─── Ah, com certeza. Mas ela vai superar. Ela sempre supera, mesmo que me faça sofrer no processo.
Elle sorriu levemente, mas havia uma preocupação em seus olhos.
─── E você? Tá brava comigo?
Rio olhou para ela e sorriu suavemente.
─── Eu tô brava porque você não me disse nada. Mas não porque você quis vir me ver.
Elle pareceu relaxar um pouco, mas ainda havia uma pontada de culpa em sua expressão. Rio, percebendo isso, se aproximou e sentou ao lado dela.
─── Ei, nós vamos resolver isso, tá bom? Juntas. Você tá aqui agora, e é isso que importa.
Elle assentiu, finalmente deixando que um pouco do peso que carregava nos ombros desaparecesse. Por mais que ela tivesse fugido para o outro lado do oceano, ali, naquele pequeno rancho com sua mãe meio louca, ela finalmente se sentia segura.
(...)
O AEROPORTO ESTAVA UM CAOS. Agatha mal conseguia ouvir os próprios pensamentos, enquanto tentava equilibrar uma pilha de malas que parecia desafiá-la a qualquer momento. Nicky caminhava ao lado dela, carregando apenas uma pequena mochila, mas mesmo assim, parecia prestes a desmoronar.
─── Isso é um absurdo. Um ultraje. ─── Agatha resmungou pela vigésima vez, ajustando a alça de sua bolsa que teimava em escorregar do ombro. ─── Como é que eles não tinham assentos disponíveis na primeira classe? Estamos em 2024, não em 1624!
─── Talvez a primeira classe estivesse cheia... ─── Nicky sugeriu, a voz tímida, enquanto seguia a mãe em direção à fila de táxis.
─── Cheia de quê? Pessoas que deveriam saber o lugar delas, provavelmente. ─── Agatha respondeu, lançando um olhar cortante para o vazio, como se ainda estivesse mentalmente brigando com a equipe da companhia aérea.
─── O voo não foi tão ruim. ─── Nicky arriscou.
Agatha parou abruptamente e se virou para ele, com os olhos arregalados.
─── Não foi tão ruim? Nicky, eu passei oito horas presa no que parecia ser um campo de refugiados com asas. Havia uma criança chutando meu assento e uma senhora que insistiu em me contar toda a história da sua cirurgia de quadril!
─── Pelo menos o sanduíche era bom... ─── Nicky murmurou.
─── Sanduíche? Aquilo não era um sanduíche, era uma tentativa de homicídio por pão seco.
Quando finalmente chegaram ao táxi, Agatha abriu a porta com um gesto dramático e praticamente jogou as malas dentro do porta-malas. O motorista, um homem de meia-idade com uma expressão de quem já viu de tudo, observou em silêncio até que Agatha se acomodou no banco traseiro, com Nicky ao lado.
─── Para onde vão? ─── perguntou o motorista, casualmente, enquanto ligava o taxímetro.
─── Aqui
Agatha respondeu entregando um papel para o motorista com um aceno de mão impaciente. O motorista franziu a testa e digitou algo no GPS. Quando os detalhes apareceram na tela, ele soltou um assobio baixo.
─── Uau, isso vai ser caro.
Agatha franziu o cenho, inclinando-se para frente.
─── Caro? Por quê?
─── Bem, porque fica no meio do nada. Literalmente. É um rancho a umas boas horas daqui.
Agatha piscou, atordoada.
─── Desculpe, você disse "rancho"?
─── Isso mesmo, senhora. ─── O motorista respondeu, olhando pelo retrovisor. ─── Vai querer ir mesmo assim?
Agatha recostou-se no banco, apertando o nariz entre os dedos.
─── Rancho... é claro que ela foi morar num rancho.
Nicky mordeu o lábio, tentando esconder o sorriso.
─── Bem, pelo menos o lugar deve ser... tranquilo?
Agatha soltou um suspiro exasperado, inclinando a cabeça para trás e fechando os olhos.
─── Tranquilo? Estou prestes a encarar a minha ex-esposa num rancho no meio do nada, enquanto minha filha fugitiva provavelmente já está planejando como me arruinar ainda mais. "Tranquilo" não é a palavra que eu usaria.
Enquanto o táxi começava sua longa jornada, Agatha olhou pela janela, perdida em pensamentos. Ela não conseguia tirar da cabeça as palavras de Elle no jantar. Será que ela realmente tinha falhado como mãe? E agora, com Elle fugindo para Rio, tudo o que podia fazer era se perguntar se sua filha a via apenas como uma sombra de quem Rio era.
Nicky, percebendo o peso nos ombros da mãe, tocou sua mão suavemente.
─── Mamãe, vai ficar tudo bem. A Elle só está... perdida. Mas ela ama você, você sabe disso, né?
Agatha apertou a mão dele, mas não respondeu. Em vez disso, lançou um olhar rápido para o GPS, que mostrava várias horas de viagem pela frente. Ela só podia esperar que Rio não tivesse colocado Elle em um cavalo para se esconder em algum cânion no meio do deserto.
(...)
O TÁXI PAROU EM FRENTE A UM PORTÃO ENFERRUJADO, com uma placa desbotada que dizia "Rancho Vidal". Agatha olhou pela janela, com os olhos arregalados, absorvendo o cenário que parecia saído de um filme sobre sobrevivência na natureza. A estrada de terra se estendia até uma casinha simples, rodeada por cercas e alguns cavalos pastando ao longe. Nada de luxo. Nada de glamour. Apenas... poeira.
─── É uma pegadinha, não é?
Agatha murmurou, olhando para Nicky.
─── Acho que não. ─── Nicky respondeu, já abrindo a porta do táxi. ─── Parece legal, na verdade.
Agatha olhou para ele como se ele tivesse acabado de sugerir morar em Marte.
─── Legal? Tem um celeiro maior que a casa!
Ela saiu do carro com cuidado, equilibrando-se em seus saltos finos, que afundaram imediatamente na terra fofa. Soltando um som indignado, Agatha agarrou a porta do táxi como se fosse cair em um abismo.
─── Mas é claro... ─── ela resmungou. ─── De todas as coisas que essa mulher poderia fazer, ela escolhe isso. Um rancho. Um rancho!
─── Mamãe, talvez seja melhor tirar os saltos…
Nicky sugeriu, claramente tentando não rir.
─── Tirar os saltos? ─── Agatha repetiu, horrorizada. ─── E o que eu faço? Ando descalça? Pego uma vara e começo a guiar gado?
O motorista, observando a cena, abriu o porta-malas e retirou as muitas malas.
─── Boa sorte, senhora. Vai precisar.
Agatha lançou-lhe um olhar mortal antes de segurar sua bolsa e caminhar, ou melhor, tropeçar em direção à casa. Cada passo era uma batalha contra a gravidade e o terreno traiçoeiro.
Nicky, por outro lado, parecia animado, correndo até a varanda de madeira e batendo na porta. Ela abriu com um rangido, revelando Rio, que estava parada com as mãos nos quadris e um sorriso metade divertido, metade exasperado no rosto.
─── E então, Londres? Gostou do meu pedacinho de paraíso?
Agatha parou no meio da caminhada, ofegante, olhando para Rio como se fosse estrangulá-la ali mesmo.
─── Você me trouxe... aqui? ─── Ela gesticulou para o rancho, o cercado, e, finalmente, para o par de galinhas que bicavam casualmente no jardim. ─── Isso é algum tipo de vingança por eu ter ficado com a máquina de café no divórcio?
Rio soltou uma risada, descendo os degraus da varanda e se aproximando para a ajudar.
─── Não é tão ruim assim. Você só está fora da sua zona de conforto, como sempre.
─── Fora da minha zona de conforto? Rio, estou a um salto quebrado de virar comida de galinha!
Nicky, ignorando completamente o drama entre as duas, correu para abraçar Rio, que o recebeu com um sorriso caloroso.
─── Ei, campeão! Como foi a viagem?
─── Longa. Mas acho que mamãe está odiando mais do que eu.
Rio olhou para Agatha, que agora estava parada no portão, olhando para o chão como se ele a tivesse traído.
─── Vamos, Agatha. Não pode ser tão ruim assim.
─── Você morava comigo numa casa com vista para o Tâmisa. Agora você... tem galinhas.
─── E não trocaria isso. ─── Rio rebateu, com um brilho nos olhos. ─── Venha, temos uma filha para resolver antes que ela decida fugir para o Alasca.
Resmungando algo ininteligível, Agatha continuou sua caminhada desajeitada, determinada a não mostrar o quanto estava incomodada. Mas enquanto atravessava o terreno e ouvia o som do vento nas árvores, não conseguiu evitar um pensamento teimoso: "O que aconteceu com a Rio que eu conhecia?"
Agatha finalmente chegou à porta da casa, e foi então que percebeu o quão longe estava da realidade que costumava conhecer. A casa, pequena e simples, tinha paredes de madeira, com uma fachada que parecia ter sido pintada há anos. A decoração interna, quando Rio abriu a porta, estava longe da sofisticação e elegância que Agatha estava acostumada. No lugar de estofados caros e tapetes persas, havia móveis de madeira simples, algumas plantas e uma lareira que parecia ser o coração da casa.
Rio estava ali, sorrindo com aquele ar de quem estava em seu elemento, enquanto Agatha se sentia como um peixe fora d'água.
─── Então, esta é a sua grande transformação, hein? ─── Agatha comentou, olhando ao redor, tentando não parecer tão desorientada. ─── Quando você disse que queria algo diferente, achei que estivesse se referindo a um apartamento minimalista, não a... a uma fazenda com galinhas e... bem, tudo isso.
Rio deu de ombros e abriu a porta um pouco mais, convidando Agatha para entrar.
─── Aqui é tranquilo. E tem uma vista incrível. ─── Rio sorriu, quase com um toque de orgulho. ─── Mas o que importa mesmo é que vocês estão aqui.
Agatha fez uma careta, removendo os saltos de forma desconfortável e colocando-os de lado.
─── Eu preciso de um banho. E, por favor, por favor, me diga que tem wi-fi. Eu não sou capaz de sobreviver sem ele.
─── Claro que tem wi-fi. ─── Rio respondeu, visivelmente divertida com a inquietação de Agatha. ─── E a vista... bem, você vai me agradecer quando vir o pôr do sol daqui.
Agatha olhou para a janela, onde a luz da tarde começava a dourar a paisagem ao redor da casa. Uma parte dela sabia que Rio estava certa. Era bonito. Mas ainda assim, a sensação de desconforto a dominava.
─── Rio, você não acha que está fugindo demais da realidade? ─── Agatha perguntou, a preocupação em sua voz. ─── Esta... "fuga" toda, com as galinhas e os cavalos, não está te afastando de tudo? Do trabalho, da vida que você conhecia?
Rio deu uma risada baixa, se aproximando de Agatha enquanto ajeitava a cadeira que estava na sala.
─── Fugindo? Eu não estou fugindo. Eu estou... reconectando comigo mesma. ─── Ela olhou diretamente para Agatha. ─── E talvez, apenas talvez, você também precise disso.
Agatha não respondeu imediatamente. Ela sabia que Rio estava certa em parte, mas aquilo ainda parecia surreal demais.
─── Você está me dizendo que de todos os lugares possíveis, você escolheu se enfiar aqui, em um lugar onde as vacas conhecem mais o caminho do que você?
─── Esse rancho me deu paz, Agatha. ─── Rio disse suavemente. ─── E se você me permitisse, talvez pudesse descobrir a mesma coisa.
O silêncio se instalou entre elas, e Agatha olhou para Nicky, que parecia muito mais relaxado ali do que ela jamais imaginaria. Talvez houvesse algo nesse lugar, afinal. Agatha cruzou os braços, suspirando com uma mistura de frustração e resignação.
─── Vou precisar de uma xícara de café. Muito forte. E espero que você tenha pelo menos biscoitos.
Rio sorriu.
─── Eu vou providenciar. Mas vamos começar pelo mais importante: vamos dar um tempo para Elle. Ela não vai sair correndo para a próxima viagem até resolver as coisas aqui. E quando você se acalmar, podemos conversar sobre como tudo isso aconteceu.
Agatha a olhou com um sorriso irônico, como se dissesse que ela não estava realmente preparada para o que estava por vir.
─── Vamos ver.
(...)
RIO ABRIU A PORTA DO QUARTO, onde a cama era simples, mas confortável, com lençóis brancos e uma manta de lã jogada no final. As paredes eram decoradas com fotos de paisagens tranquilas e uma grande janela que deixava o sol da tarde entrar suavemente, criando uma atmosfera acolhedora e serena.
─── Aqui está, Agatha. ─── Rio disse com um sorriso maroto, apontando para a cama. ─── Eu sei que você provavelmente esperava um quarto com mais, digamos, glamour... mas eu juro que vou te deixar confortável.
Agatha olhou em volta, fazendo uma careta ao notar a falta de um espelho de corpo inteiro e qualquer tipo de mobiliário que fosse "elegante" o suficiente para suas expectativas. Ela caminhou até a cama, sentindo a textura do edredom com a ponta dos dedos, antes de soltar um suspiro.
─── Não é que eu não aprecie o... charme rústico, Rio. ─── Agatha respondeu, sem muita empolgação. ─── Mas você tem certeza de que não pode, sei lá, me arranjar uma suíte em um hotel por aí? Um travesseiro de pena de ganso? Não custa tentar...
Rio riu, sem perder a compostura, e se aproximou da porta, com um brilho nos olhos.
─── Ah, Agatha, você me conhece. Eu sempre preferi as coisas simples. E aqui, pelo menos, você vai ter uma cama para descansar e um pouco de silêncio. Não é que eu não adorasse aquele seu penthouse com vista para a cidade... mas aqui o único barulho é o canto dos passarinhos e o som dos cavalos no campo. Mais "calmo", sabe?
Agatha fez uma expressão de desgosto, como se tivesse sido fisicamente atingida pela ideia de viver longe de toda aquela “movimentação” que estava acostumada. Ela se virou para Rio, decidida a fazer um comentário ácido, mas a expressão descontraída de Rio a fez engolir as palavras.
─── Mas não se preocupe. ─── Rio continuou, com uma gargalhada de canto. ─── Eu vou dormir no sofá. Já fiz isso mil vezes quando estávamos casadas. Não vai ser muito diferente.
Agatha parou no meio do movimento, com os braços cruzados, e a olhou, incrédula.
─── Espera, o quê? Você vai dormir no sofá? Como se não tivesse onde dormir?
─── Ah, não, claro que não. ─── Rio disse com um sorriso travesso. ─── Eu só vou te deixar aproveitar a cama. Afinal, alguém precisa cuidar de você e da sua... impecável postura de diva, não é?
Agatha arqueou uma sobrancelha, sem saber se deveria rir ou jogar um travesseiro na cara de Rio, mas, no final, um sorriso involuntário escapou.
─── Você não muda, não é? ─── Agatha resmungou, já se sentando na beira da cama. ─── Agora eu me lembro por que nos casamos. Porque você é impossível e eu sou teimosa.
─── Exatamente. E eu sou encantadora. ─── Rio completou, piscando. ─── Não precisa agradecer, você só está vendo o óbvio.
Agatha suspirou, jogando os braços para trás na cama com um toque de dramatismo.
─── Eu juro, Rio, que você vai me fazer perder os nervos.
─── E você vai se acalmar, porque amanhã o dia vai ser longo. ─── Rio respondeu com uma suavidade inesperada, tocando de leve no ombro de Agatha. ─── Mas agora, descanse. Eu volto para te dar um banho de água fria, se necessário.
Com uma última piscadela, Rio saiu, deixando Agatha sozinha no quarto, com um sorriso irritado no rosto, mas uma leve sensação de nostalgia se arrastando pelos seus pensamentos.
(...)
NA MANHÃ SEGUINTE, O SOM DE GALOS CANTANDO – algo que Agatha nunca tinha ouvido na vida fora de um documentário – a despertou com um susto. Por um momento, ela não sabia onde estava, até lembrar que estava no rancho de Rio. A cama simples, a decoração modesta... tudo gritava "Vidal", e isso a fez revirar os olhos antes de se levantar, ajeitando o robe de seda que tinha trazido com ela — porque, é claro, ela nunca viajaria sem ele.
Descendo as escadas, Agatha encontrou Elle sentada na varanda, abraçada aos joelhos enquanto olhava para o horizonte. O sol da manhã dourava o campo, e a cena quase fez Agatha esquecer o caos do dia anterior.
─── Aí está você. ─── Agatha disse, cruzando os braços enquanto se apoiava na moldura da porta. ─── Planejando fugir para outro estado ou está só aproveitando o ar fresco?
Elle não respondeu de imediato. Ela continuou olhando para o horizonte, seus dedos mexendo distraidamente no tecido da calça do pijama.
─── Não sabia que você acordava tão cedo.
Elle finalmente disse, sua voz mais suave do que Agatha esperava.
─── Ah, sim, eu também não sabia. ─── Agatha respondeu, tentando suavizar o momento com sarcasmo. ─── Mas, aparentemente, a vida no campo começa com o nascer do sol e termina com uma dor de cabeça.
Elle deu uma risada curta, mas ainda não olhou para a mãe. Agatha suspirou, sentando-se ao lado da filha, mantendo uma pequena distância, como se estivesse medindo cada movimento.
─── Olha, eu sei que você está chateada. ─── Agatha começou, escolhendo as palavras com cuidado. ─── Comigo. Com tudo. E, honestamente, eu provavelmente mereço uma parte disso.
Elle finalmente virou o rosto para olhar para a mãe, seus olhos brilhando com emoções que ela claramente estava tentando esconder.
─── Eu não odeio você, se é isso que você acha. ─── Elle disse, sua voz carregada de um peso que parecia maior do que seus 12 anos. ─── Eu só...
Agatha esperou, pacientemente, enquanto Elle lutava para encontrar as palavras. A garota mordeu o lábio, desviando o olhar de novo, como se o horizonte oferecesse mais conforto do que o rosto da mãe.
─── Eu só queria que as coisas fossem... normais. ─── Elle finalmente continuou, a voz quase um sussurro. ─── Que você e a mami não fossem tão... complicadas.
Agatha engoliu em seco. Era uma daquelas frases que acertavam no peito, porque ela sabia que, para Elle, "normal" significava um lar onde os pais estavam juntos, onde as brigas não eram seguidas por portas batendo e onde ninguém tinha que escolher entre Londres e os Estados Unidos.
─── Eu sei. ─── Agatha respondeu suavemente. ─── E, se eu pudesse mudar as coisas...
─── Mas você pode. ─── Elle interrompeu, olhando para a mãe com uma intensidade que parecia quase adulta. ─── Você só não quer.
Agatha piscou, surpresa.
─── Não é tão simples assim, Elle.
Ela começou, mas a filha a cortou de novo.
─── Você sempre diz isso! ─── explodiu Elle, a frustração e a mágoa transbordando. ─── Nada é simples. Nada é fácil. Mas você nunca tenta! Você só... você só finge que está tudo bem, quando não está!
Agatha sentiu o peito apertar. Ela sabia que Elle tinha razão, pelo menos em parte.
─── Eu não estou fingindo, Elle. ─── Ela disse, com firmeza, tentando manter a calma. ─── Eu estou tentando fazer o meu melhor. E, às vezes, isso significa tomar decisões difíceis.
─── Difíceis pra quem? ─── Elle rebateu. ─── Porque parece que só eu e o Nicky é que sofremos com elas.
Aquilo doeu mais do que Agatha queria admitir.
─── Elle... ─── começou, mas sua voz falhou. Ela respirou fundo, tentando se recompor. ─── Eu sei que não é fácil. Eu sei que você sente falta de como as coisas eram antes. Mas algumas coisas não podem ser consertadas.
─── Então você desistiu. ─── Elle disse, com um tom desafiador que escondia a dor por trás das palavras. ─── Você desistiu de nós.
Agatha sentiu como se o ar tivesse sido arrancado dos pulmões.
─── Nunca. ─── Ela respondeu, sua voz baixa, mas firme. ─── Eu nunca desisti de vocês. Você e o Nicky são tudo pra mim.
Elle ficou em silêncio por um momento, claramente processando as palavras da mãe.
─── Então prove.
Agatha ficou encarando Elle, a frase pairando no ar como um desafio impossível. Ela sabia que a filha tinha muito mais a dizer, mas Elle apenas cruzou os braços, os olhos brilhando de determinação.
─── Prove. ─── Elle repetiu, com mais ênfase. ─── Fique aqui. Por um tempo. Comigo, com o Nicky... e com a mami Rio.
A boca de Agatha se abriu e fechou várias vezes, sem emitir som. Ela não tinha previsto essa reviravolta.
─── Você quer que eu... fique? Aqui? ─── perguntou, incrédula. ─── Neste... rancho?
─── Por que não? ─── Elle rebateu.
Agatha respirou fundo, pressionando os dedos contra as têmporas.
─── Elle, querida, você entende que eu tenho um trabalho? Uma casa? Uma vida... com wi-fi?
─── E uma namorada. ─── Elle respondeu com um tom desafiador, cruzando os braços.
Agatha quase engasgou.
─── Não estamos falando disso agora.
─── Estamos, sim. ─── Elle insistiu. ─── Porque você está sempre pensando no que é mais conveniente pra você, mas nunca no que é melhor pra gente. E eu acho que o melhor pra gente é você aqui. Com a gente.
Agatha piscou várias vezes, o rosto incrivelmente sério.
─── Você acha que isso vai resolver as coisas? Que, de repente, morar no mesmo lugar que sua mãe Rio vai trazer toda a felicidade do mundo?
─── Não sei. ─── Elle respondeu, com honestidade. ─── Mas pelo menos vai mostrar que você se importa de verdade.
Agatha sentiu o peso das palavras de Elle. Ela queria dizer algo, argumentar, mas percebeu que não tinha uma resposta boa o suficiente. Antes que pudesse continuar, a porta rangeu, revelando Nicky, que tinha obviamente escutado a conversa.
─── Acho que ela está certa, mamãe. ─── disse ele, hesitante. ─── Seria bom ter todo mundo junto... só por um tempo.
Agatha passou as mãos pelo rosto, sentindo o peso de dois pares de olhos ansiosos sobre ela.
─── Eu não acredito que estou considerando isso. ─── murmurou. ─── Tudo bem. ─── Ela ergueu uma mão antes que os dois começassem a comemorar. ─── Mas só por um tempo. E só porque eu amo vocês mais do que a minha sanidade.
Elle sorriu, triunfante, enquanto Nicky soltava um suspiro de alívio.
─── Obrigada, mamãe. ─── Elle disse, genuinamente emocionada, antes de sair da varanda.
Depois que Elle saiu, Agatha continuou sentada na varanda, olhando para o horizonte do rancho. Ela suspirou, massageando as têmporas, tentando organizar seus pensamentos. Antes que pudesse se perder completamente, sentiu um peso leve no ombro.
Era Nicky, com aquele sorriso tímido e um olhar que parecia sempre saber quando ela precisava de um pouco de apoio. Ele puxou uma cadeira ao lado dela e se sentou, apertando o braço dela gentilmente.
─── Você tá bem, mamãe?
A pergunta simples carregava tanto cuidado que Agatha sentiu os olhos marejarem, mas ela disfarçou com um sorriso.
─── Não exatamente. ─── Ela respondeu, dando uma risada fraca. ─── Mas estou melhor agora que você está aqui.
Nicky sorriu, mas parecia um pouco inquieto.
─── Eu só queria dizer que... eu sei que você tá tentando. Tipo, de verdade. E eu sei que Elle nem sempre facilita...
Agatha balançou a cabeça, interrompendo-o.
─── Ei, ela é só uma criança. Ela tem o direito de estar chateada.
─── Mas você também tem o direito de estar, mamãe. ─── Nicky disse, sério, o tom de voz surpreendentemente maduro. ─── Eu sei que não é fácil pra você, dividir a gente, viver longe...
Agatha sentiu um nó na garganta, mas conseguiu manter o tom leve.
─── Quem te deu licença para ser tão esperto assim, hein?
Nicky deu uma risadinha, encolhendo os ombros.
─── Acho que herdei isso da minha mãe.
Ele piscou para ela, e Agatha finalmente soltou uma risada genuína. Harkness balançou a cabeça, sorrindo ao ver o pequeno lampejo de travessura nos olhos de Nicky. Ele pode ter 12 anos, mas ainda tinha aquele jeito doce e inocente que fazia seu coração se apertar de amor.
─── Herdou isso de mim, é?
Agatha brincou, puxando o filho para mais perto e bagunçando seus cabelos.
─── Mãe! ─── Nicky protestou, rindo, tentando ajeitar os fios rebeldes. ─── Já falei pra você não fazer isso!
─── É, mas eu sou a mamãe, então posso tudo.
Ele bufou, cruzando os braços como fazia quando era menor, e Agatha riu da expressão indignada no rosto dele.
─── Tá bom, pequeno gênio, se você herdou o cérebro da sua mãe, por que não inventa um jeito de me ajudar com a Elle?
Nicky ficou em silêncio por um segundo, parecendo considerar a pergunta seriamente.
─── Acho que... talvez ela só queria você aqui mais tempo, sabe? A gente sente sua falta quando você tá longe.
A honestidade na voz dele quase fez Agatha derreter. Ele parecia tão vulnerável, como se tivesse acabado de confessar algo que vinha guardando há muito tempo.
─── Ah, meu anjo. ─── Ela puxou Nicky para um abraço apertado, encostando o queixo no topo da cabeça dele. ─── Eu sei. Eu sinto falta de vocês também, mais do que vocês imaginam.
─── Então fica com a gente aqui. ─── Ele sugeriu, com uma simplicidade que só uma criança poderia ter. ─── A casa da mami é meio... sabe, diferente, mas dá pra gente fazer cabanas de lençol na sala como antes.
Agatha riu, sentindo um calorzinho no peito ao se lembrar das noites em que construíam cabanas com almofadas e ficavam horas lendo histórias.
─── Não sei se a mamãe vai gostar de perder a cama dela para mim.
─── Ela vai. ─── Nicky afirmou com confiança. ─── Ela gosta de fazer a gente feliz.
Agatha o encarou, emocionada com a simplicidade daquele comentário. Por um momento, desejou que a vida fosse tão simples quanto Nicky fazia parecer.
(...)
MAIS TARDE, naquela mesma manhã, Rio estava na varanda, encostada no batente da porta, observando a paisagem tranquila do rancho. A brisa leve da manhã trazia um cheiro de terra e grama molhada, mas ela mal notava — sua cabeça estava cheia de pensamentos sobre o caos que era ter Agatha Harkness de volta, mesmo que temporariamente. De repente, os gêmeos apareceram, atravessando a varanda com olhares brilhantes e sorrisos travessos. Rio ergueu uma sobrancelha, desconfiada.
─── O que foi agora? ─── Ela perguntou, colocando as mãos nos quadris. ─── Vocês não têm essa cara de ‘planos secretos’ sem motivo.
Nicky foi o primeiro a falar, claro, com sua doçura característica e uma expressão quase apologética, como se já soubesse que estava prestes a explodir uma bomba.
─── Mamãe vai ficar com a gente por um tempo!
Rio piscou, surpresa, e depois riu, meio incrédula.
─── Agatha Harkness? Aqui? Nesse rancho?
─── É sério! ─── Elle confirmou, cruzando os braços e balançando a cabeça com um sorriso de vitória. ─── Nós convencemos ela. Eu convenci. Nicky ajudou, eu acho.
─── Eu ajudei muito! ─── Nicky rebateu, indignado, antes de olhar para Rio com um sorriso radiante. ─── Ela vai ficar!
Rio olhou para os filhos, tentando absorver a informação. A ideia de Agatha vivendo ali, no meio de sua bagunça, seus hábitos simples, e longe de todo o luxo a que estava acostumada... era quase surreal.
─── Bem, isso vai ser... interessante.
Ela disse finalmente, lutando para esconder o sorriso que ameaçava se formar.
─── Você não tá feliz?
Elle perguntou, estreitando os olhos.
─── Não, claro que estou! ─── Rio respondeu rapidamente, levantando as mãos em rendição. ─── Só estou surpresa. Tipo, muito surpresa.
Nicky puxou a manga da camisa de Rio e olhou para ela com olhos cheios de expectativa.
─── A gente sabe que vocês brigam às vezes, mas... eu acho que vai ser bom. Pra todo mundo.
O comentário do menino deixou Rio sem palavras por um momento. Ele tinha razão. Apesar das diferenças, apesar das discussões e do histórico complicado, ter Agatha por perto de novo, mesmo que por pouco tempo, parecia... certo.
─── É, talvez seja bom. ─── Rio admitiu, finalmente deixando um sorriso genuíno aparecer. ─── Afinal, o que pode dar errado?
Elle riu, dando um tapinha no braço de Rio.
─── Mamãe Harkness tá vindo morar no meio do nada. Aposto que a lista de coisas que podem dar errado é bem longa.
Rio soltou uma gargalhada com o comentário de Elle, sacudindo a cabeça como se tentasse afastar a ideia das confusões que certamente viriam com a presença de Agatha.
─── Você tem razão, Elle. Ela provavelmente vai surtar quando perceber que o Wi-Fi aqui cai toda vez que chove.
─── Wi-Fi? ─── Elle arregalou os olhos, em pânico. ─── Por favor, me diga que isso é uma piada.
─── Não, senhorita Harkness. Aqui é vida no campo. Se você quer internet, talvez precise aprender a subir em árvores e ajustar a antena. ─── Rio piscou para ela, claramente se divertindo.
Nicky, sempre o pacificador, tentou mudar o tom para algo mais otimista.
─── A mamãe vai se acostumar, vocês vão ver. Ela consegue fazer qualquer coisa.
Rio arqueou uma sobrancelha, olhando para o filho.
─── Você tá falando da mesma Agatha que surtou porque encontrou uma aranha no carro?
─── Era uma aranha enorme! ─── Nicky defendeu, como se estivesse protegendo a honra da mãe. ─── E eu acho que ela vai gostar daqui. Quer dizer, você tá aqui.
Rio ficou em silêncio por um momento, o sorriso diminuindo enquanto olhava para o garoto. Ele tinha aquela inocência que fazia tudo parecer tão simples. Para ele, o mundo ainda era um lugar onde amor e presença resolviam tudo.
─── A gente vai tentar fazer isso funcionar, Nicky. ─── Rio finalmente respondeu, bagunçando o cabelo dele com uma expressão carinhosa. ─── Por vocês dois.
─── E pela mamãe também?
Nicky perguntou, quase num sussurro. Rio hesitou, mas Elle, percebendo o momento carregado, deu um passo à frente e mudou o foco, como sempre fazia quando sentia que a conversa estava ficando emocional demais.
─── Ok, o que importa é que ela vai ficar. E eu quero pipoca e uma cadeira confortável pra assistir o show.
Rio riu, balançando a cabeça.
─── Você é terrível, sabia?
─── Eu sei. ─── Elle respondeu, orgulhosa, e então olhou para Nicky. ─── Vamos ajudar a mamãe a desarrumar as malas?
─── Claro.
Enquanto os dois corriam para dentro da casa, Rio ficou na varanda por mais um instante, olhando para o céu já alaranjado pelo pôr do sol. Agatha no rancho. Ela ainda não sabia o que pensar sobre isso. Mas, no fundo, uma pequena parte dela estava ansiosa. Não só por Agatha, mas pelo que essa convivência inesperada poderia trazer.
─── Que os céus nos ajudem...
Rio murmurou, sorrindo sozinha antes de entrar na casa.
• 💗 . . OO1 ❜ Eu ri TANTO escrevendo isso! Espero que tenham se divertido tanto quanto eu
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