028

"Não grite comigo, baby. Eu sou uma pessoa frágil e cheia de merda na cabeça."

Admito que fui um pouco chata em não ter deixado Vinnie comer um pedaço do bolo e nem ter trocado no brigadeiro, por isso guardei no pote do que sobrou pra ele. Jaden já havia chegado na reunião, automaticamente pensei que Vinnie já havia chegado também. Era um pouco tarde, eu e Nessa já havíamos jantado sem os dois.

Estou disposta a fazer as pazes com um potinho de brigadeiro, espero que ele aceite. Bato na porta de seu quarto, fico esperando alguns breves minutos mas ninguém abre, também não ouço barulho de chuveiro, passos, ou qualquer sinal de que há alguém lá dentro. Sei que Vinnie não gosta que entrem em seu quarto e tenho medo do porquê, porém eu só deixaria o potinho lá e sairia. Seria rápido.

Abro a porta e... Ufa! Parece que tudo é normal por aqui, nada de máquinas de torturas, objetos sexuais ou algum corpo. É apenas um quarto espaçoso, bem organizado, as cores passam uma vibe meio "deprê", tons de preto,cinza e só alguns detalhes brancos. Muito maior que qualquer quarto que já vi aqui na casa.

Ando pelo seu quarto e vejo em cima de sua escrivania algumas fotos de uma mulher, não tão jovem e não tão velha, eu daria uns cinquenta e sete pra ela. Cabelos loiros lisos, olhos castanhos e pele clara, muito parecida com Vinnie... Espere, será que a mãe dele?

Continuo andando pelo quarto e vejo um violão pendurado no canto da parede. Um violão? Essa com certeza foi a coisa mais aleatória que vi nessa casa. Vinnie toca violão? Nunca na face da terra eu imaginaria isso. É até estranho de pensar. Vejo duas portas, imagino que uma deve ser a do banheiro e outra a do closet, havia algumas poltronas bem confortáveis perto da fachada, uma televisão que parece mais uma tela de cinema, percebi que tinha alguns quadros de pinturas feitas a mão, era lindo

— Que merda você está fazendo no meu quarto? — Vinnie fala duro.

Eu estava tão distraída que nem percebi quando ele chegou, levei um susto daqueles, parecendo uma criança quando a mãe o pega fazendo arte.

— Eu vim... — ele corta

— Porra. Eu disse pra você que ninguém tinha permissão de entrar aqui. Por que diabos você não consegue prestar atenção no que eu digo e simplesmente obedecer? — ele aumenta seu tom de voz, fazendo-me murchar feito uma rosa que ficou muito tempo no sol

— Me desculpe, eu não quis... — ele me corta novamente.

— Será que você não entendeu? Sai da porra do meu quarto. Agora! — ele grita, eu me assusto.

Não vou permitir que ele fale dessa forma comigo, ninguém nunca gritou comigo assim, a não ser meu pai. Ele era o único que eu deixava por o dedo na minha cara e me humilhar. Mas Vinnie, ele nunca fez isso, até de manhã ele estava rindo, e agora me trata assim?

— Você é a merda de um bipolar! Qual é a porra do seu problema? — grito. — Eu vim com a toda boa vontade do mundo de trazer o chocolate que sobrou, vi que não tinha ninguém e entrei, mas só pra deixar esse ridículo potinho pra você. — coloco o objeto em um lugar qualquer. Ele fica em silêncio. — Não deveria ter entrado nesse caralho, mas não tinha necessidade de me tratar assim. Faça bom proveito do chocolate seu bipolar de merda! — saio do quarto irritada.

Não entendi porque ele foi tão grosso comigo, eu nem fiz nada de mal, eu tento ser legal e é assim que sou retribuída. Puta vida de merda que eu tenho. As pessoas nunca vão ser legais com você, eu sabia que estava tudo muito tranquilo. Eu deveria desconfiar que alguma hora Vinnie iria mostrar sua verdadeira face, e que ele esconde quando está perto de mim. Ele me assustou, gritou comigo, eu sentir vontade de dá um socão na cara dele e chorar ao mesmo tempo.

Desde de pequena nunca dei satisfação ao meu pai e minhas irmãs a verem minha fraqueza, eu chorando. E Vinnie não será diferente, ele nunca me verá chorar, nunca. Parecia mesmo que ele estava sendo legal de verdade, mas pelo visto foi tudo forçado, não foi nada verdadeiro. Que ele enfie aquele piano e toda merda que ele fez no cu!

Preciso tomar um banho, preciso relaxar e tirar toda essa merda de confusão da minha cabeça, será a primeira vez que irei estrear a banheira. Ela parece ser uma boa opção para eu conseguir o quero. Encho a banheira e fico lá deitada debaixo d'água por um bom tempo, longo tempo

Tentei dormir, mas era impossível, tentei ler um livro, porém não conseguir me concentrar. Que merda está acontecendo comigo? Eu acabei de tomar remédio pra dormir e por que caralhos não está funcionando?

Decidir me levantar e ir beber uma água ou talvez comer algo. Assim que pego meu copo de água e um pedacinho de bolo, vou para meu quarto. No caminho ouço um barulho estranho vindo da sala de estar. Eu já disse que sou curiosa, não é? Chego mais perto para saber o que era o barulho, então consigo ouvir barulhos de gritos, palmas e assobios. Espera. Deve ser a televisão ligada. Chego mais perto para saber o que está passando n televisão e quando vejo fico aterrorizada.

Oh, meu deus! O que é isso? Eu paraliso com a cena da tv que vejo. Vinnie está em algum tipo de ringue, amassando a cabeça de um homem na grade, ele já não tem força e está todo ensanguentado, assim como Vinnie, porém todo intacto. Ele ergue o cara no alto de sua cabeça como se o pobre homem não fosse nada, então o joga com toda força no chão, consigo até ouvir o barulho dos ossos quebrando, todas as pessoas aplaudem e gritam seu nome. Vinnie se aproxima do homem esparramado no chão, etão... Quebra seu pescoço.

Virei meu rosto na hora, que tipo de cena foi essa? Que tipo de mostro Vinnie é? Meu coração quase sai do peito, meu deus eu preciso sair daqui. Minhas pernas e minhas mãos começando a tremer, corro em direção a escada para voltar para meu quarto. Mas como eu não tenho sorte, porque eu tenho certeza que o universo me odeia de todas as maneiras, escorrego com o copo de vidro na mão, ele se estraçalha todo pelo chão, fazendo um barulho muito auditivo. Aposto que quem está lá fora deve ter escutado também. Não esperei que Vinnie viesse ao meu encontro e ficasse irritado, mas do que já  estava. Subi as pressas para o meu quarto e me tranquei lá.

Tenho meus motivos para não deixar que ninguém entre no meu quarto, um deles é a minha privacidade. Não deixo nem Jaden pisar o pé aqui, qual a razão de deixar Diana, alguém que conheci alguns meses? Eu a coloquei na minha casa por um simples motivo. Ela só é uma peça no meu jogo, daqui alguns dias começarei ele, e Diana será a rainha do meu jogo de xadrez.

Admito que agir mal em ter me alterado, não deveria ter gritado com Diana, porém ela não deveria ter entrado em meu quarto sem as minhas permissões. Não pedirei perdão, não faço isso, desculpas significam fraquezas ou erros. Eu não cometo erro. Elafez mal em gritar comigo, se a vida dela não fosse importante, eu teria rancado sua língua com um canivete e ter feito ela engolir. Ninguém levanta a voz para mim e sai vivo depois.

• • •

Já era duas da manhã, eu e meu irmão decidimos assistir uma de nossas lutas que foram gravadas. Começamos assistir a minha última luta, a que eu acabei com meu adversário, foi uma luta sangrenta e muito satisfatória agora vendo de perto. A minha luta acaba, assim que eu quebro o pescoço do homem, então decidimos colocar na luta de Jaden, mas um barulho nos impede. Olho para meu irmão com o cenho franzido e ele faz o mesmo.

— Que barulho foi esse? — ele pergunta.

— Parece de vidro quebrando. — presto atenção para ver se consigo ouvir algo mais. Porém, quieto.

Eu e Jaden sacamos nossas armas e nos levantamos do sofá quase que imediatamente, saímos pela casa procurando de onde veio o barulho, logo perto da escada vejo algo quebrado, com copo e um pedaço de bolo, há sangue lá também.

— Verei se Nessa está bem. — eu assinto com a cabeça, ele vai correndo para o quarto.

Eu logo penso em Diana. Subo as escadas vendo rastros de sangue lá também, vou até seu quarto bato na porta mas ninguém atende, tento entrar, mas está trancada.

— Diana! — a chamo batendo mais forte na porta.

— Vai embora. — ela diz simplesmente.

— Você se machucou?

— Eu estou bem.

— Então abre a porta para eu ver.

— Não vou.

— Vou contar até três, se não abrir a porta, eu vou arrombar ela.

— Eu já disse que estou bem! — ela grita. — Vai embora, estou dormindo. — ela mente, e feio.

— Você sabe que eu cumpro o que falo, não é mesmo. — silêncio. — Ok, eu avisei, um... Dois... — começo a contar, preste a arrombar a porta. — Três... — quando chego no terceiro número ela destranca a porta.

Assim que entro, vejo ela de pijama com um pouco de sangue e segurando uma toalha na mão esquerda. Sabia que tinha acontecido alguma coisa. E eu imagino o que seja, provavelmente ela viu a minha luta, e saiu correndo assustada.

— Deixa eu ver. — me aproximou para ver o que aconteceu com sua mão, ela se afasta para trás.

— Eu ja disse que estou bem, e agora que você viu com os seus próprios olhos, pode ir embora. — ela diz curta e grossa. Diana está muito puta comigo.

— Não é o que parece. Não vou sair daqui sem ver a merda que você fez na sua mão.

— Por que se importa? — ela pergunta.

— Não quero você sangrando pela minha casa. — ela força uma risada.

— Claro, egocêntrico do caralho. O que eu esperava de você? — ela revira os olhos, fiquei um pouco ofendido. — Pode deixar que eu dou conta disso. Não preciso da sua ajuda. — ela vai até o banheiro, tira a toalha encharcada de sangue e começa a lavar sua mão na pia. Seja lá o que ela fez naquela mão, mas tá sangrando pra caralho.

— O corte deve está muito profundo Diana. — vou em direção ao banheiro, ela tenta fechar a porta na minha cara mas impeço o seu ato, colocando o meu pé entre a porta para ela não conseguir fechar.

— O corte está em minha mão, então o problema é meu. — ela desiste de fechar a porta. — Vou repetir, não preciso da porra da sua ajuda! — ela me encara.

— Deixe-me ver como está. — a encaro de volta. — Não vou sair daqui Diana, você pode me deixar dá um jeito nisso, ou vou ficar aqui olhando para sua cara até você se cansar de mim. — ela abaixa seu olhar para minha mão que ainda segurava a arma.

— Guarde a arma primeiro. — Diana desiste de se fazer de durona quando percebe o quão sério estou falando. Guardo minha arma na cintura, depois pego sua mão para dá uma olhada.

— Precisa de ponto. — digo e ela não parece ligar muito, se fosse qualquer outra mulher, surtaria muito. — Irei pegar meu quite de primeiros socorros, não irei demorar muito. — ela dá de ombros.

Vou ao meu quarto, pego o quite no armário do banheiro e volto para o quarto de Diana, ela está encostada na pia olhando para sua mão. Separo o que vou usar e coloco em cima da pia, ela observa tudo em um silêncio profundo.

— Pode ser que isso doa, preciso que se sente em algum lugar. — ela revira os olhos antes de dá u impulso e subir em cima da pia.

Ela me dá sua mão, começo limpando seu ferimento antes de começar a custura-la. Diana se contorce um pouco enquanto faço os pontos, com a outra mão livre ela agarra a pia com força. Percebo o quanto ela luta para não resmungar ou fazer cara feia, Diana é tão orgulhosa quanto eu, é forte e muito, e teimosa.

— Você viu? — seu olhar se direciona a mim. — O vídeo. — termino a frase.

Vejo que não terei uma resposta, então entendo como um sim.

— Aquele sou eu de verdade. — falo concentrado em sua mão. — Sou daquele jeito a maior parte do tempo, aquele é meu lado escuro. — sinto a necessidade de dizer. — O que pensou quando me viu naquele vídeo? Medo?

— Medo não. — ela diz fria. — Não sei explicar, acho que... Nojo, foi nojento o que você fez com aquele homem. Fiquei assustada, mas não com medo.

— Você não tem medo de mim, Angel? — ela solta um riso, como se minha pergunta fosse engraçada.

— Todos lidam com sua escuridão com o seu próprio jeito. Fazer o que você faz, è a maneira que encontra lidar com a sua escuridão. — ela me deixa sem falas.

Odeio admitir, mas Diana tem razão.

— Não quis ter gritado com você. — disse simplesmente. Algo dentro de mim impulsiona a dizer isso.

— Eu que não deveria ter entrado no seu quarto. — ela admite.

— Nós dois erramos. — encaro seu olhar.

— Sim. — ela concorda.

— Pronto. Terminei.

— Obrigada. — ela tenta ver um jeito para descer da pia sem ter que usar a mão esquerda com os pontos.

— Eu ajudo. — seguro em sua cintura e a coloco no chão.

Nós dois trocamos olhares breves, mas depois ela desvia olhando para sua mão com pontos.

— Quanto tempo eu vou ficar com isso? — ela pergunta.

— Uns cinco dias. — respondo, guardando as coisas na maleta.

— Hum. — ela murmura. — Onde aprendeu a fazer isso? Parece um médico.

— Eu sou acostumado a fazer isso em meu irmão quando ele leva um tiro ou quando ele se mete em uma briga muito louca. Temos o médico da máfia, mas só usamos quando é muito urgente. — digo fechando a maleta. Ela assente. — Talvez você ganhe uma cicatriz.

— Mais uma pra coleção. — diz baixo. — Preciso limpar a bagunça que fiz.

— Não será nescessário. Eu mesmo farei isso, você pode se machucar novamente. — ando em direção a porta. Ela me segue.

— Obrigada, de novo. — ela solta um sorriso sem graça.

— Não tem de quê. Se cuida, Angel. — pisco pra ela e sigo para meu quarto. — Aliás obrigado pelo brigadeiro, estava muito bom. — ela finalmente sorri.

Quero agradecer pelos 500 seguidores! Muito obrigada e seja bem vindos ♡

Tô assim haha.

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