10 - BLOCKADE

CAPÍTULO DEZ
❛bloqueio❜

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O dia de ascensão era um dia sagrado. Um dia para celebrar os comandantes, suas vidas e sacrifícios, honrando a linhagem dos comandantes que vieram antes. A chama carregava as memórias de todos eles, e o ritual era uma forma de reafirmar a continuidade de sua sabedoria através da Heda atual.

A cerimônia era discreta, reservada apenas para os Natblidas e aqueles que a Heda julgava dignos de participar. Não havia grandes festas ou multidões, apenas um ritual marcado pelo respeito e pela conexão com os espíritos dos antigos líderes.

Ainda assim, mesmo aqueles que não estavam presentes compreendiam a importância do dia. Era um lembrete do sacrifício e da força que sustentavam a liderança dos comandantes, um momento de reverência que atravessava gerações, mantendo viva a tradição dos comandantes.

Embora não fosse uma celebração aberta a todos, o respeito pelo dia de ascensão era universal. Clãs inteiros faziam preces em silêncio, e até os mais céticos reconheciam a importância da data. Para os Natblidas, porém, era mais que uma lembrança: era um momento de conexão com os espíritos dos comandantes, uma reafirmação do peso que carregavam no sangue.

Lyra não costumava gostar desse tipo de evento, mas esse em específico era uma exceção. Ela não era obrigada a estar alí, ou a socializar com estranhos não confiáveis, ou a usar roupas extravagantes. Era uma forma dela esquecer o medo que sentia constantemente sobre o homem da montanha que tinha sido banido no dia anterior. Ela não tinha conseguido dormir direito depois da execução que não aconteceu, então querendo ou não, era uma forma de distração também.

Era apenas uma cerimônia simples e confortável para honrar suas origens, um momento sagrado que ninguém ousava interromper.

Pelo menos até hoje.

Lexa estava fazendo seu discurso de introdução da cerimônia, quando gritos puderam ser ouvidos do lado de fora. O som cortou o silêncio respeitoso da cerimônia como uma lâmina afiada, fazendo com que todos os presentes se enrijecessem instantaneamente.

Lyra trocou um olhar rápido com Lexa, que manteve a postura firme, mas seus olhos demonstravam alerta. Sem hesitar, a Comandante ergueu uma mão, sinalizando para que o ritual fosse pausado. Os Natblidas ao redor se entreolharam inseguros sobre o que fazer diante da interrupção inesperada.

Os gritos se intensificaram, seguidos pelo barulho de passos apressados e o som característico de espadas sendo desembainhadas. Lyra sentiu um arrepio subir por sua espinha. Ela conseguiu distinguir um "O Guardião da Chama prometeu que seríamos ouvidos!" Em Trig, enquanto alguns homens entravam na sala do trono.

— Titus, o que é isso? — Lexa perguntou ao conselheiro, confusa e um pouco ultrajada.

— Algo que você precisa ouvir, Heda.

Lyra o fuzilou com o olhar. É claro que era obra daquela cabeça de pista de pouso pra moscas. Apenas ele teria a audácia de interromper um momento sagrado como aquele.

Os homens entraram. O que pareceu o líder deles usava um galho de árvore como bengala e parecia mancar. Ele se ajoelhou imediatamente em reverência, mas Lyra tinha atenção total nos outros, que traziam com eles uma pessoa amarrada. Uma pessoa com tranças e olhos claros extremamente familiares.

Octávia Blake levantou o olhar imediatamente para Clarke, que arregalou os olhos, murmurando o nome dela. Lyra sentiu o estômago revirar, o que estava acontecendo?

Widog ai op hashta min klin ona disha presh sintain, Heda. — O líder começou a falar, parecendo cansado, pedindo desculpas por interromper aquele dia sagrado. — Ai laik Semet Kom Trikru, em ai kom op hashta raitnes.

Lyra estava estática, tentando assimilar as palavras do homem. "Eu sou Semet do povo das árvores, e vim a procura de justiça." Justiça de que? Ela encarou a garota amarrada, ela parecia machucada, lutando para se manter de pé. Lyra não pensou, apenas deu um passo a frente.

— Led em au! — Todos os olhares foram para ela, quando ela pediu para que soltassem Octávia, mas ninguém mexeu um músculo.

Lyra não devia esperar por menos, não era como se uma ordem dela fosse ser ouvida. Ela não tinha nenhuma relevância alí, os Natblidas não eram reconhecidos por rosto, então ela era uma completa estranha. E pra aqueles que a conheciam, uma traidora de sangue, uma covarde.

— Yumi hakop em. Led em au! — Lexa ordenou firmemente atrás dela. "Vocês a ouviram. Soltem-na."

Os homens levaram isso muito no literal, praticamente jogando Octávia no chão. Lyra não pensou enquanto corria até ela, a ajudando a se sentar, imediatamente tirando o pano que tampava sua boca e a desamarrando as cordas que prendiam seus pulsos.

Gouva yu klin. Chomouda yu don sis up Okteivia kom skaikru gon honon? — Lexa continuou, pedindo por explicações. "Se explique. Por que você mantém Octávia do povo do céu como prisioneira?"

Em laik honon kom wor, Heda, — Semet começou a explicar. — don ge lid hir na sin in kripon-de kom omon kru!

Ele aumentou o tom de voz quando gritou a última parte, fazendo Lyra estremecer, mas ela ainda não parou de desamarrar Octávia. "Ela é uma prisioneira de guerra, comandante, trazida aqui para testemunhar os crimes de seu povo!" Guerra? Skaikru entrou em guerra? Que merda eles fizeram dessa vez?

— Que crimes? — Clarke verbalizou a pergunta mental de Lyra, caminhando até o homem. — O que aconteceu?

— Skaikru atacou a aldeia deles. — Titus começou a explicar. — Como seus guerreiros morreram quando seu povo massacrou o exército que enviámos para protegê-los, sua aldeia estava indefesa.

Lyra engoliu aquela constatação em seco, enquanto Semet implorava para Heda vingá-los e a multidão começava a exigir o sangue, enquanto gritava "morte aos Skaikru". Ela sentiu vontade de vomitar. Ela sabia, ela tinha dito a Bellamy que isso não acabaria, fosse prevenção de ataque ou tomada de terra, não importava, porque eles ainda derramaram sangue, e ele obviamente seria exigido.

Ela encarou Octávia, que tinha os olhos em algo na multidão, mas quando olhou na mesma direção, não viu ninguém.

Lexa saiu da sala do trono, com Titus e Clarke em seu encalço, provavelmente para discutir o que fariam a seguir. Os Natblidas foram conduzidos para fora da sala por guardas, Lyra junto deles. Entretanto, ela se desviou do caminho sem que os guardas notassem e se moveu até o próprio quarto, pegando todos os materiais de curandeiro que ela sempre tinha guardado na mochila, se movendo em direção a sala do trono.

Quando entrou no cômodo novamente, os olhares foram todos para ela, mas ela não se importou, se movendo em direção a Octávia, se sentando ao lado da garota no chão, ela começou a analisar seus ferimentos. Ela tinha um olho roxo e alguns cortes no rosto, que ela limpou e cuidou rapidamente com água e algumas ervas que sempre levava consigo.

Semet e seus homens permaneciam alí, aguardando a sentença da comandante. Lyra sentiu várias vezes os olhares nelas, como se as julgassem, mas ela tentou não ligar para isso, focando nos cortes de Octávia. Que por sua vez, não disse uma palavra, apenas a encarava como se ela fosse uma incógnita. Um quebra cabeça que ela não conseguia decifrar.

Depois de algum tempo, quando Lyra já tinha cuidado de todos os ferimentos de Octávia, Lexa voltou para sala. Sua entrada fazendo os murmúrios aumentarem, sussurros que ela calou com um gesto da mão, enquanto caminhava até a frente do trono.

— Hoje eu convoco os exércitos dos 12 Clãs para marchar sobre Arkadia. — A Heda começou a proclamar, recebendo falas de aprovação da maioria dos presentes, fazendo Lyra sentir o estômago revirar. — Não para atacar, mas para conter. Bloquearemos o 13º Clã. Nós os manteremos longe das terras que eles desejam possuir. Nós lhes daremos tempo para tirar seus líderes de dentro. Uma vez que eles se levantem contra eles, então os receberemos de volta como um de nós.

Isso provocou ainda mais sussurros da pequena multidão, muitos deles chocados e confusos com a decisão da Heda. Até mesmo Octávia parecia ligeiramente confusa, mas não Lyra. Ela conhecia a irmã, sabia que ela não se entregaria tão fácil. Ela estava persistente naquela ideia de paz, e não ia desistir daquilo tão fácil. Jus drein jus daun tinha perdurado por muito tempo, e agora que Lexa tinha decidido acabar com aquilo e trazer a paz, ela ia até o fim.

Porém, naquele ponto, até Lyra que sempre quis paz, não acreditava que era uma grande ideia. Não que ela achasse a paz um erro, mas talvez aquela fosse a forma errada de fazer isso.

— Você ouviu o Comandante. Envie cavaleiros. — Titus parecia contrariado, mas seguiu as ordens da comandante de qualquer forma. — Diga aos seus exércitos para estabelecer uma zona de proteção ao redor de Arkadia. 8 quilômetros devem ser o suficiente para mantê-los longe de nossas vilas. Quais são as ordens deles, heda?

Houve alguns segundos de silêncio, e Lexa levou o olhar para Clarke antes de responder.

— Qualquer Skaikru pego cruzando a linha estará sujeito a pena de morte.

As pessoas pareceram surpresas, chocadas e até ultrajadas com aquilo. Octávia e Clarke claramente estavam preocupadas com o próprio povo, mas os outros pareciam revoltados. Alguns murmúrios de "só isso?" Foram ouvidos. Todos eles esperavam por sangue, por guerra, e todos pareciam contrariados, mas principalmente Semet.

— Heda, não consigo entender. — O homem deu um passo a frente. — Como isso é vingança?

— Isso não é vingança, meu irmão. É justiça.

— Skaikru matou meu filho, meu irmão e minha esposa! — Semet se revoltou, começando a gritar, Lyra se colocou na defensiva imediatamente, levando a mão a adaga em seu cinto. — Se o espírito do Comandante não nos protegerá, então o que o fará? — Ele se dirigiu a multidão.

— Baixe a voz, Semet. — Titus ordenou.

Ele recuou um passo, e Lyra sentiu seu corpo relaxar um pouco, mas não tirou a mão da adaga. Algo parecia errado. O ar estava pesado, carregado de tensão, e os murmúrios na sala começaram a se acalmar, como se todos estivessem esperando pela próxima ação.

Então, tudo aconteceu rápido demais.

Semet ergueu a bengala com um movimento brusco, e uma lâmina oculta deslizou para fora da madeira. Ele avançou em direção a Lexa com um grito de raiva.

Wamplei gon Heda! — Ele gritou em plenos pulmões, fazendo Lyra perder o ar. "Morte a comandante!"

Ela reagiu antes de pensar.

Titus tentou se colocar no caminho, mas Semet girou a lâmina, cortando seu braço e o derrubando no chão. Lyra puxou sua adaga no mesmo instante e avançou, bloqueando a lâmina de Semet antes que ele pudesse atingir Lexa. O impacto fez um arrepio subir por seu braço.

Ele cambaleou, mas ainda segurava a lâmina. Titus tentava se levantar, sangue escorrendo do corte em seu braço, e Lexa já havia sacado sua própria lâmina, mas Lyra sabia que não podiam hesitar.

Semet avançou outra vez, mirando seu próximo golpe na garganta de Lyra. Ela girou rapidamente para o lado, sentindo o fio da lâmina roçar sua pele. O instinto tomou conta. Com um movimento rápido, ela fincou sua adaga em seu pescoço.

O homem engasgou com o próprio sangue, olhos arregalados em choque, antes de cair de joelhos. Lyra puxou a lâmina de volta e deu um passo para trás, ofegante, enquanto Semet tombava no chão.

O silêncio na sala era absoluto.

Lyra olhou para sua mão, suja de sangue, e depois para Lexa, que a observava com uma expressão indecifrável. Titus pressionava o ferimento em seu braço, encarando-a com uma mistura de surpresa e aprovação silenciosa.

— Guardas. — Lexa finalmente quebrou o silêncio, sua voz firme. — Levem os homens de Semet para fora e avisem seus clãs que a Comandante não será desafiada.

Os guardas se moveram de imediato, arrastando os aliados de Semet para fora. Lyra permaneceu imóvel por alguns segundos, sentindo o peso do que acabara de fazer.

— Jus drein, jus daun — alguém murmurou em meio a multidão.

Mas Lyra não sentiu nenhuma vitória. Apenas o gosto amargo de mais um sangue derramado. O homem que perdeu tudo e que achava que vingança o traria paz de espírito. Ela levou os olhos para o pulso, onde a última estrela estava localizada, a estrela do montanhês que ajudou Bellamy a matar na jaulas. Ainda era recente, tendo feito a menos de um mês, mas ela já teria que adicionar outra.

Ela nem sentiu Clarke se aproximar, estava apática e congelada, enquanto a loira lhe fazia perguntas, checando se ela estava ferida.

— Eu 'tô bem. — Lyra murmurou quando recuperou a consciência, mas Clarke não pareceu escutá-la. — Clarke, eu 'tô bem! — Ela aumentou o tom de voz, fazendo os olhos azuis da garota finalmente encontarem os dela.

As duas ficaram em silêncio, Clarke parecia procurar palavras, mas Lyra se viu cansada de todas as formas, então ela apenas se afastou, sem olhar para ninguém, saindo da sala do trono, a cabeça uma bagunça que cada vez ficava maior.

[•••]


Tirar vidas não era algo que a assustava. Nem algo que a enchia de orgulho. Era apenas parte do mundo em que vivia. Um ciclo que nunca terminava. Sangue derramado em nome de uma causa que sempre parecia justa para quem empunhava a lâmina. Ela já tinha matado antes. Já tinha sentido o calor do sangue em suas mãos, já tinha visto a vida se esvair dos olhos de alguém mais vezes do que conseguia contar.

E ainda assim, toda vez parecia diferente.

Lyra esfregava as mãos com força, mas o sangue parecia ter se entranhado em sua pele. A água no recipiente à sua frente já estava tingida de vermelho, e seus dedos começavam a doer de tanto esfregar. Seu reflexo na superfície trêmula da água a encarava de volta, os olhos cansados e vazios.

Ela suspirou, tentando acalmar os pensamentos que se atropelavam dentro de sua cabeça. Seu peito subia e descia em um ritmo pesado, e ela sentia o eco do último olhar de Semet grudado em sua mente.

Lyra conhecia aquela expressão. Já tinha visto em tantas outras pessoas antes. Não era medo. Nem ódio. Era um tipo de resignação. Um entendimento tardio de que a vingança nunca lhe traria paz.

E no fim, quem ele era senão mais uma peça no tabuleiro de guerra? Um homem que perdeu tudo e que acreditava que sangue pagava sangue. Lyra já acreditou nisso também, uma vez, a muito tempo. Mas desde que parou de acreditar, o peso ficava cada vez maior.

Respirou fundo, apoiando as mãos na beirada da mesa. O cheiro de ferro ainda estava lá, impregnado, como se fizesse parte dela.

Talvez sempre fizesse.

Ela se forçou a erguer o olhar para o espelho improvisado no canto do quarto. Seus olhos estavam fundos, vazios de algo que antes costumava estar ali. Tinha sido uma vida, ela sabia, mas não conseguia sentir nada além do cansaço arrastado pelo peso das mortes anteriores. Um peso que não diminuía, apenas acumulava.

Se Semet estivesse no seu lugar, ele teria hesitado? Teria sentido culpa? Ou apenas teria visto mais um inimigo caído diante de si?

Ela não tinha respostas. Nunca tinha.

A porta rangeu ao se abrir, mas Lyra não se moveu. Ainda encarava o reflexo no espelho quando ouviu os passos hesitantes atrás dela.

— Merda — Octávia murmurou, a respiração ainda irregular, claramente vinda de algum lugar às pressas. — Eu… esse não é o quarto de Clarke.

Lyra fechou os olhos por um instante antes de virar a cabeça na direção da garota. Octávia ainda tinha marcas dos cortes que Lyra limpou mais cedo, o olho roxo ficou verde e sua postura era tensa, como se estivesse pronta para lutar ou fugir.

Octávia hesitou na porta, parecendo incerta se deveria sair ou não. Seus olhos pousaram nas mãos de Lyra, ainda úmidas da água misturada com os últimos vestígios de sangue.

— Você precisa de ajuda com isso? — ela perguntou, a voz mais suave do que Lyra esperava.

Lyra piscou, surpresa pela pergunta. Octávia apontou para um pano próximo à bacia, como se oferecesse ajuda para limpar o que restava.

Lyra olhou para o pano, depois para as próprias mãos, e por um momento quase recusou. Mas, no fim, apenas estendeu a mão sem dizer nada.

Octávia fechou a porta atrás de si e se aproximou. Pegou um pano limpo ao lado da bacia, o molhou na água e começou a esfregar delicadamente as manchas de sangue nos dedos de Lyra. As duas ficaram em silêncio por um tempo. O pano encharcado ficou vermelho conforme Octávia continuava, os movimentos cuidadosos, quase hesitantes. Parecidos com os de Lincoln. Lyra não pôde deixar de relacionar.

— Eu não queria fazer isso. — Lyra murmurou, sem saber ao certo porque estava se justificando para uma completa desconhecida.

Quer dizer, Octávia não era uma completa desconhecida. Bellamy tinha falado muito dela, aliás. Entretanto, Lyra não conseguia associar a garotinha doce que gostava de ver borboletas brilhantes que ele descrevia com a garota na sua frente agora.

— Ele não te deu escolha. — Octávia respondeu, sem tirar atenção do que fazia.

— Sempre há uma escolha.

— Não quando alguém tenta matar sua irmã. — Octávia rebateu, firme. — Se você não tivesse feito nada, ele teria matado a Heda. Você salvou a vida dela.

Lyra desviou o olhar, engolindo em seco. O peso daquela verdade não a confortava, mas Octávia parecia convencida do que dizia. O silêncio se estendeu por mais alguns segundos, até Lyra decidir quebrá-lo novamente.

— Você acha que Skaikru tem salvação? — Octávia hesitou por um instante, Lyra instantâneamente ficou com medo de ter dito a coisa errada.

— Por que acha que eu saberia?

— São o seu povo. — Lyra disse. — Bellamy é seu irmão. Você com certeza o conhece melhor do que eu.

Octávia a encarou por alguns segundos, foi a primeira vez que Lyra viu qualquer tipo de vulnerabilidade neles. Ela parecia cansada, ou traída, ou ambos, de qualquer forma, ela pareceu ignorar os próprios pensamentos, molhando o pano na bacia novamente, então levando-o até o pescoço de Lyra — que por sua vez tinha esquecido completamente que estava machucado também — para limpar o resto de sangue que tinha ficado alí.

— Honestamente? Eu sinto que não o conheço mais.

Lyra prendeu a respiração por um momento, os dedos se fechando ao lado do corpo. Ela entendia o que Octávia queria dizer. Era difícil reconhecer alguém quando o mundo os moldava de formas que nunca imaginaram. Bellamy, Skaikru, até mesmo ela mesma… ninguém era quem costumava ser.

— Ele mudou. — Lyra disse, a voz baixa. Não era uma pergunta, era uma constatação que ela mesma tinha tido quando saiu daquela sala em Arkadia. Ou era no que ela queria acreditar.

Octávia parou, tirando o pano do pescoço e Lyra e a encarando por um tempo, como se a analisasse, como se quisesse entendê-la.

— O que alguém como você viu em alguém como ele? — Lyra franziu o cenho, confusa. — Eu sei sobre o lago. Bell nunca me contou, mas ele sempre acabava sumindo quando a noite chegava, então um dia eu o segui e eu vi... Vocês.

Lyra ficou em silêncio por um instante, a surpresa misturada a um incômodo que não sabia nomear. As noites no lago pareciam pertencer a outra vida, a outra versão dela, uma que ainda podia se permitir acreditar em algo que não fosse guerra e sangue derramado.

— E o que exatamente você viu? — Lyra perguntou, a voz mais firme do que se sentia.

— O suficiente. — Octávia apertou os lábios, jogando o pano encharcado de sangue de lado. — Vi meu irmão sendo alguém que ele não era perto de mais ninguém. Vi ele abaixar a guarda, mesmo que por pouco tempo. Eu vi como ele olhava para você. Como você olhava para ele.

Lyra desviou o olhar, as lembranças pesando sobre seus ombros. No escuro, na água fria do lago, não havia guerra. Não havia linhagens ou juramentos. Só eles.

Mas aquela pessoa — aquela garota que se permitiu algumas noites de paz ao lado do garoto do céu com estrelas no rosto — já não existia mais. Talvez nunca tivesse existido de verdade.

— Isso foi há muito tempo. — Lyra disse, o tom quase cortante.

— Não tanto assim. — Octávia rebateu, analisando-a com um olhar que Lyra não gostava. Como se estivesse tentando decifrá-la.

O silêncio se instalou entre as duas novamente, apenas o som da água gotejando do pano para a bacia preenchendo o espaço. Até que Octávia suspirou, cruzando os braços.

— Você ainda se importa com ele?

Lyra apertou os dedos contra a madeira da mesa. Se importava? O problema era exatamente esse.

— Se importasse, faria alguma diferença? — Dessa vez, Octávia não hesitou.

— Faria para ele.

Lyra fechou os olhos por um instante, sentindo o peso daquelas palavras. Ela queria dizer que não, que nada disso importava mais, que tudo o que existia agora era guerra e sobrevivência. Mas mentir para Octávia não mudaria a verdade.

— Você parece ter muitas certezas sobre alguém que disse que não o conhece mais.

Octávia apertou os lábios.

— Eu não conheço. Mas sei o que ele sente sobre você. — A frase pegou Lyra desprevenida.

— E o que isso quer dizer? — Octávia suspirou, passando a mão pelo cabelo.

— Quer dizer que, mesmo depois de tudo, ele ainda não conseguiu te enterrar. E, conhecendo meu irmão, isso significa alguma coisa.

E com isso, ela se foi, deixando Lyra sozinha com o silêncio e a sensação incômoda de que Octávia Blake sabia mais sobre ela do que deveria. Lyra desviou o olhar. Não queria pensar nisso. Não queria sentir nada disso. Mas as palavras de Octávia ficaram presas em sua mente, se enraizando ali como uma lembrança incômoda.

[•••]

Toda vez que Lyra entrava nos aposentos de Lexa, ela sempre estava quieta. Às vezes lendo um livro, às vezes meditando no chão, mas era sempre silenciosa, como se o peso do comando exigisse dela uma introspecção constante. Havia algo solene naquele silêncio, algo que fazia Lyra hesitar antes de falar, como se quebrar aquela paz fosse um sacrilégio.

Mas dessa vez era diferente.

Lyra parou na porta, franzindo a testa. Lexa estava sentada no chão, com os olhos fechados, as pernas dobradas e as mãos apoiadas nos joelhos. Sua voz preenchia o aposento em um tom sério e firme, mas não havia mais ninguém ali.

— Não foi isso que eu disse. Você está distorcendo minhas palavras. — Lexa pausou, como se escutasse uma resposta invisível, e então rebateu: — Isso não muda o que precisa ser feito.

Lyra ficou parada, observando Lexa por mais alguns segundos. Sua irmã estava ali, mas ao mesmo tempo parecia em outro lugar, perdida em uma conversa unilateral que Lyra não conseguia ouvir.

— Se eu hesitasse toda vez que vocês discordam de mim, nada nunca seria feito. — Lexa disse, impaciente. — Meu dever não é agradá-los.

Silêncio. A Heda inclinou a cabeça levemente, como se estivesse ouvindo uma réplica, e então soltou um suspiro pesado

— Isso não é sobre fraqueza. É estratégia. — Lexa rebateu, a mandíbula travada. — Liderar exige sacrifícios, mas não cegueira.

Ela ficou em silêncio por um instante, como se escutasse a resposta invisível, e então fechou os olhos, inspirando profundamente. Lyra franziu o cenho. Isso era... estranho.

Claro, ela sabia da chama. Sabia que Lexa carregava dentro de si as memórias de todos os comandantes anteriores, que eles falavam com ela. Mas ver isso ao vivo? Ver sua irmã, que sempre parecia tão centrada, discutindo sozinha no chão como se estivesse brigando com fantasmas?

Era esquisito. Muito esquisito.

Ela cruzou os braços, inclinando a cabeça, julgando em silêncio. Lexa soltou um suspiro curto.

— Você insiste nisso, mas não enxerga a realidade. — Sua voz ficou mais baixa, mais contida, quase frustrada. — O mundo não é mais como na sua época.

Ela pausou de novo, ouvindo. Seus dedos se fecharam em punho sobre os joelhos.

— Eu decido.

Aquilo soou definitivo. Um peso no ar, como se estivesse encerrando uma disputa. Lyra estreitou os olhos, hesitante, mas acabou dando um passo à frente.

— Você sempre fala com eles desse jeito? — Sua voz quebrou o silêncio que se seguiu, carregada de curiosidade e um toque de ceticismo.

Lexa abriu os olhos, demorando um segundo para focá-los em Lyra, como se estivesse voltando à realidade.

— Sim.

— E eles sempre te irritam assim? —Lexa piscou, depois soltou um riso curto e sem humor.

— Sempre.

Lyra balançou a cabeça devagar.

— Parece exaustivo. — Lexa desviou o olhar.

— É.

O silêncio se prolongou entre elas. Lyra ainda não sabia se deveria se aproximar mais. Algo na expressão de Lexa parecia distante, mas não exatamente frágil. Apenas... carregado.

— E então? — Lyra quebrou o silêncio de novo. — Eles estão te dando bons conselhos ou só enchendo o saco?

Lexa suspirou, inclinando a cabeça para trás, fitando o teto.

— Um pouco dos dois. — Assim que terminou a fala, ela fechou os olhos novamente, como se ouvisse alguém falar por cima dela. Lyra tamborilou os dedos contra o próprio braço, observando-a com um misto de curiosidade e desconforto.

— Eles acabaram de te xingar, não foi?

Lexa abriu os olhos, lançando-lhe um olhar breve, mas não negou.

— Você realmente acredita que eles sabem mais do que você?

Lexa ficou em silêncio por um momento. Quando respondeu, sua voz tinha uma nota de cansaço.

— Eles já viveram isso antes. — Lyra estreitou os olhos.

— E todos eles morreram. Então, talvez não sejam os melhores conselheiros.

A sombra de um sorriso puxou o canto dos lábios de Lexa, mas desapareceu rápido.

— Eles fazem parte de mim.

— E te deixam louca no processo. — Lyra bufou.

Lexa fechou os olhos por um instante, inspirando fundo.

— Você não entenderia.

— Não mesmo. — Lyra concordou
prontamente. — Porque eu não tenho uma multidão de fantasmas opinando sobre cada decisão da minha vida.

— Você veio aqui por alguma razão específica, ou só para me julgar?

Lyra ergueu as mãos em um gesto inocente.

— Bom, eu sou uma pessoa viva com quem você pode conversar sobre isso. — Ela deu de ombros. — E considerando que as outras duas opções são totalmente parciais e completamente opostas, eu devo ser sua melhor aposta.

Lexa desviou o olhar, parecendo realmente ponderar aquilo por alguns segundos, então voltou a encarar a mais nova, que permanecia de pé.

— Diga logo o que quer dizer.

Lyra piscou algumas vezes, surpresa. Ela imaginou que Lexa iria desviar do assunto, ou dispensá-la, ou mudar de assunto, como sempre fazia. Mas não foi o que aconteceu dessa vez, foi uma resposta cansada, mas cheia de expectativa. Ela realmente queria ouvir o que a irmã tinha a dizer.

O que eu faço? Nunca cheguei nessa parte. Lyra coçou a garganta.

— Você realmente acha que um bloqueio é a melhor solução?

— Sim. — A comandante foi convicta. — Não vai durar pra sempre, apenas até que eles entreguem o chanceler.

— Não acho que isso vai funcionar. — Lexa franziu o cenho.

— Não vamos punir todo o povo pelo ato de um líder. Só há um culpado, só uma vida a ser tirada.

— Só que você já fez isso, lembra? Com aquele garoto que massacrou Tondc. Qual era o nome dele? Finn?

O nome pareceu despertar alguma coisa em Lexa, mesmo que mínima. Lyra sabia de toda a história e isso vinha martelando em sua cabeça desde que ouviu a ideia. Os livros diziam que "Um povo que não conhece sua história está fadado a repetí-la." Então Lyra quis saber tudo que tinha acontecido enquanto estava presa, principalmente como exatamente os homens da montanha foram derrotados definitivamente.

Talvez ela não tenha sido muito sútil ao interrogar Bellamy sobre isso, mas ele não pareceu se importar em contar a ela de qualquer maneira.

— Você fez com que entregassem ele, disse que a morte dele selaria a paz entre vocês, e o que você fez depois? Você deixou todos eles pra morrer. — Lyra continuou, sem acusação no tom, apenas constatação. — Acha mesmo que eles vão acreditar que você vai cumprir a promessa dessa vez?

Era lógica básica. Quando alguém promete algo a você e não cumpre, sua confiança nela fica abalada. Você não vai confiar em nenhuma outra promessa dela — ainda mais se for a mesma promessa. — Os Skaikru não iriam confiar tão facilmente na comandante após traí-los. Bellamy não ia confiar.

Talvez fosse idiota da parte de Lyra basear Skaikru inteiro em uma única pessoa. Mas se o que Octávia disse estivesse certa e Bellamy fosse tão parceiro de Pike quanto ela disse, ele com certeza teria influência nas decisões que o chanceler com certeza tomaria. Lexa bufou antes de responder.

— E devo presumir que quem te contou isso foi seu grande amigo, Bellamy?

Lyra revirou os olhos.

— E como mais eu saberia? Não é como se você me contasse qualquer coisa.

Lexa manteve o olhar firme em Lyra por um momento, a expressão indecifrável. Então, expirou lentamente, como se estivesse tentando conter a impaciência.

— O que aconteceu com Finn foi necessário. — Sua voz era fria, controlada. — Ele quebrou nossas leis, massacrou nosso povo. Você realmente acha que eu deveria ter poupado ele?

— Não é sobre isso. — Lyra cruzou os braços. — É sobre como você usou isso como moeda de troca. Você prometeu que a morte dele traria paz. E depois...

— E depois, os homens da montanha continuaram sendo uma ameaça ao nosso povo. — Lexa interrompeu, impassível. — Eu fiz o que precisava ser feito.

Lyra estreitou os olhos, avaliando a irmã. Ela sabia que não adiantava insistir na moralidade daquilo, Lexa justificaria tudo com estratégia, dever, sobrevivência. Mas isso não significava que não fosse um problema agora.

— Isso não muda o fato de que eles vão lembrar. — Ela disse, medindo as palavras. — E não vão confiar em você.

Lexa permaneceu em silêncio por um momento. Parecia que os fantasmas em sua cabeça estavam opinando novamente, mas dessa vez, ela os ignorou.

— Então, o que você sugere? — Sua voz carregava um tom de desafio, mas também de curiosidade genuína. Lyra hesitou por um segundo, percebendo que não esperava que Lexa realmente perguntasse sua opinião.

Mas agora que tinha espaço para falar, não ia desperdiçar.

— Você precisa dar a eles uma escolha. — Ela disse, com convicção. — Um bloqueio com pena de morte não é uma escolha, é uma sentença. Eles precisam acreditar que podem sair dessa vivos, ou vão lutar até o fim. E você não quer uma guerra.

Lexa se colocou de pé, parecendo que ia dizer algo, mas então fechou os olhos novamente, bufando.

— E o que eles acham que você deveria fazer? — Lyra perguntou, tentando manter a voz neutra. Lexa passou a língua pelos lábios antes de responder.

— Alguns dizem que devo agir sem hesitação. Outros... acreditam que eu deveria encontrar outro caminho.

Lyra revirou os olhos

— Ah, claro. Conselhos vagos e contraditórios. Eles são inúteis.

— São a minha responsabilidade.

— São chatos pra caralho.

— Lyra... — Lexa disse, mas surpreendentemente, não tinha repreensão em seu tom. Por incrível que pareça, Lyra pôde até ouvir um pouco de diversão na voz dela, erguendo as mãos na defensiva.

— Só dizendo.

Lexa manteve os olhos fixos em Lyra, sua expressão endurecendo gradualmente. Se ela fosse chutar, diria que os comandantes disseram algo que a fez mudar totalmente.

— Você está pendendo para o lado de Skaikru. — Sua voz saiu baixa, mas afiada. Lyra franziu a testa.

— O quê?

— Você disse que seria imparcial, mas defende a causa deles como se fosse sua. — Lexa cruzou os braços. — Porque Bellamy Blake te contou uma história? Porque ele te fez acreditar que são vítimas?

— 'Tá de sacanagem, né? — Lexa cruzou os braços, seus olhos estreitando levemente enquanto avaliava Lyra com mais atenção. — Agora eu estou pendendo para o lado deles porque resolvi usar lógica?

— Não se trata de lógica. — Lexa rebateu. — Você os defende como se fossem parte do nosso povo. Como se fosse um deles. Isso é claramente influência de alguém, que nós duas sabemos quem é.

Lyra descruzou os braços, revirando os olhos e bufando. De novo esse papo? Sempre que algo acontecia, qualquer coisa mesmo, Lexa trazia o ponto de que Lyra era influenciada pelas emoções. Ela era mesmo, não mentiria sobre isso, mas porque Lexa sempre tinha que bater na mesma tecla? Era massante, exaustivo.

— Bellamy é meu amigo. — Lyra justificou. — E ele é um Skaikru. Bem influente no novo regime, aliás. Estou usando o que eu sei.

— Seus sentimentos por ele estão nublando seu julgamento.

— Vem cá, a gente vai mesmo falar sobre sentimentos influenciando as pessoas? — Lyra bufou. — Porque se vamos, você não pode continuar sendo hipócrita. Já que você trouxe a Clarke para a torre e quer manter ela aqui.

O nome fez Lexa endurecer, mas sua expressão permaneceu fechada. Lyra tinha ouvido guardas fofocarem no corredor sobre Clarke ter que ir embora, mas Lexa querer que ela permanecesse alí. E a mais nova sabia exatamente a razão.

— Isso é diferente.

— É mesmo? — Lyra cruzou os braços. — Você acha que eu estou do lado deles por causa de Bellamy, mas e você? Você realmente acha que está sendo imparcial? Porque pra mim parece que a Clarke tem mais influência sobre você do que qualquer fantasma nessa sua cabeça.

Lexa respirou fundo, seu rosto traindo um lampejo de irritação.

— Clarke é uma líder. Ela entende o peso das decisões que precisamos tomar.

— Ah, claro. Porque matar centenas de pessoas na montanha foi um fardo tão grande para ela, né? — Lyra ironizou. — Você fala como se ela fosse a única que sabe o que é liderar, mas ela também erra, Lexa. Ela também age por emoção. E você sabe disso.

— Você está distorcendo as coisas.

— Estou? — Lyra inclinou a cabeça. — Você acha que ninguém percebe? Como você hesita sempre que o assunto é Clarke? Como sua diplomacia com Skaikru é diferente de qualquer outra?

Lexa manteve a postura rígida, mas sua mandíbula travou por um breve instante.

— Eu sou a Comandante. Meus sentimentos não interferem nas minhas decisões.

— Ah, por favor. — Lyra bufou. — Se fosse qualquer outro povo, você já teria acabado com isso sem hesitar. Mas Clarke fala sobre paz e você corre para ouvir.

— Não é você que acha que a paz é o melhor caminho? — Lexa levantou uma sobrancelha.

— Acho. Mas eu também acho que você não quer admitir que isso também é pessoal. — Lyra manteve a voz firme. — Que você está tentando ser racional, mas no fundo, já tomou sua decisão porque não quer perder Clarke.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Lexa fechou os olhos por um segundo, inspirando profundamente, mas quando falou novamente, sua voz estava baixa e controlada.

— Está desviando do foco. — A Comandante piscou. — Você pode não achar que o povo do céu merece morrer, mas não estaria os defendendo com tanto afinco se não sentisse por aquele homem o que sente.

— Nunca neguei isso. — Lyra deu de ombros, ignorando a clara insinuação de Lexa. — Mas meus valores não tem nada a ver com ele. Estou defendendo o que eu acho que é certo.

Lexa apertou a mandíbula, seus olhos estreitando ligeiramente.

— Seus sentimentos te tornam fraca.

Lyra soltou uma risada curta e incrédula.

— Ah, pronto. Voltamos pra isso. — Ela cruzou os braços. — Você seguiu essa ideia como se fosse lei, como se fosse a única forma possível de governar, mas não pode me obrigar a fazer o mesmo.

Lexa manteve o olhar fixo nela, impassível.

— Se você não aprender a separar o que sente do que precisa ser feito, vai se tornar um peso.

— Como se você conseguisse fazer isso. — Lyra ironizou.

— Eu sou mais do que capaz de separar sentimentos de dever! — Lexa gritou, tão alto que fez os pelos de Lyra de arrepiarem.

A Heda dava ordens, discursos, até mesmo evitava Lyra quando lhe e era conveniente. Mas ela nunca, em anos, sendo comandante ou não, tinha levantado a voz para a irmã.

Ela girou alguma chave, sabia disso. Mas não era a intenção, ela só queria que Lexa admitisse. Lyra jamais a julgaria por ser influenciada por seus sentimentos — ela própria era —, apenas a verdade. Lexa e Clarke sentiam algo uma pela outra, algo a mais do que estratégia e política, todo mundo via. E Lyra estava cansada de se sentir como uma simples peça inconveniente de um tabuleiro.

Se Lexa sentisse algo por Clarke, significava que ela não era só fria como gelo, ou dura como pedra, a comandante e o que todos esperam dela. Significava que ela ainda amava a irmã também, mesmo que minimamente.

Mas Lexa não cederia tão fácil. Toda essa ideia doentia de "amor é fraqueza" tinha ficado com ela por muito tempo, e honestamente, Lyra estava cansada de tentar convencê-la do contrário.

— Continue dizendo isso a si mesma. — Lyra sorriu ironicamente, saindo do quarto sem esperar nenhuma resposta, esbarrando em Clarke na entrada, mas a ignorando completamente enquanto corria para o próprio quarto.

Lyra claramente não era importante o bastante para influenciar ou despertar qualquer sentimento em Lexa. E se ela queria continuar sendo uma comandante de pedra sem emoções, então o problema era todo dela. Não era sua responsabilidade.

6137 palavras.

Muitas emoções ein? Lyra matando um homem, interação das futuras cunhadinhas, discussão de irmãs, não tá fácil.

Acho muito triste que a Lyra nunca tem espaço pra falar, e quando tem ela não é ouvida... Lexa por que?

Bem, gostaram da capa nova? Foi a diva da sftwonkru que fez e ficou PERFEITA! (Obrigada linda, eu amei muito❤️)

Enfim, estamos a 0 capítulos de vocês sabem o que, então já deixo avisado para preparem os lencinhos que o próximo vai ser pedrada. Beijinhos.

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