08 - THE GHOST
CAPÍTULO OITO
❛o fantasma❜
── ⋆⋅☆⋅⋆ ──
𝙿𝙾́𝙻𝙸𝚂
11 𝚍𝚒𝚊𝚜 𝚊𝚙𝚘́𝚜 𝚊 𝚍𝚎𝚛𝚛𝚘𝚝𝚊 𝚍𝚎
𝙼𝚘𝚞𝚝𝚑 𝚆𝚎𝚊𝚝𝚑𝚎𝚛
A jaula era fria, o ferro manchado de ferrugem e sangue. Lyra estava encolhida, os joelhos contra o peito magro, enquanto seus pulsos, marcados por cortes, ardiam a cada movimento. Lá fora, os gritos dos outros prisioneiros ecoavam como um lamento interminável. Parecendo engolí-la a cada respiração.
Os olhos de Lyra vagaram, cansados, até a jaula ao lado. O vazio a fitava de volta,
preenchido apenas por manchas de sangue seco, endurecido como cicatrizes. Havia algo de insuportável naquele silêncio, como se ecoasse a ausência dele com mais força que qualquer som.
"Ele não está alí." murmurou a voz fria em sua mente, afiada como uma lâmina. "Ele está morto, se lembra? Você o deixou pra morrer."
Ela engoliu em seco, o gosto amargo da
culpa queimando sua garganta. Suas unhas cravaram nos braços, um gesto inútil contra a dor mais profunda que a carne. Os gritos lá fora cresceram, uma sinfonia de desespero que a envolvia como uma onda negra, carregando-a para o fundo.
Lyra tentou se encolher ainda mais, como se pudesse desaparecer entre as grades ou se fundir a elas, mas a voz sussurrava em cada canto escuro de sua mente. "Isso é sua culpa."
E ela acreditava.
Lyra acordou com um sobressalto, o peito arfando enquanto as imagens do pesadelo ainda queimavam em sua mente. A respiração ofegante era o único som no quarto sombrio, e por um momento, ela permaneceu ali, paralisada, tentando distinguir o que era real e o que havia sido apenas um eco de sua mente torturada.
11 dias. 11 malditos dias em que ela tinha deixado aquela maldita jaula. Mas as imagens daquele lugar jamais a deixaram, nunca, em nenhum desses dias.
Os dedos tremeram enquanto ela tocava a testa, sentindo o suor frio que escorria pela pele. O quarto estava quieto, a luz suave da lua entrando pelas cortinas. Nada da escuridão da jaula. Nada dos gritos. Nada da culpa.
Mas a voz ainda estava lá, distante, como uma lembrança. "Você o deixou morrer."
Ela fechou os olhos por um segundo, tentando afastar o peso do passado. O vazio dentro dela, o vazio que se alastrava por todo o corpo, parecia engolir sua força. Ela apertou os olhos e se levantou, um movimento brusco. As mãos trêmulas, mas firmes, tocaram a borda da cama, se agarrando à realidade.
Com um esforço, ela se levantou, os pés descalços tocando o chão frio do quarto. As sombras dançavam nas paredes à medida que a luz da lua se movia, mas tudo parecia distante, irrelevante. Ela caminhou até a "janela", um pouco mais distante para que não houvesse risco de queda, mas ainda perto o suficiente para que ela pudesse enxergar com clareza toda Pólis. O caminho normalmente movimentado estava em completo silêncio aquela hora da noite, quase completamente deserto.
Lyra fechou os olhos, respirando profundamente. A decisão de sua irmã a assombrava mais do que devia, a impotência de não conseguir fazer nada deixava tudo ainda pior. Ela estava muito fraca, muito assustada, a escuridão a tomou e quando ela finalmente tomou consciência, já estava em Pólis.
Ela sabia logicamente que não poderia fazer nada nem se quisesse, mesmo que estivesse forte o bastante para argumentar contra a Heda, haviam grandes chances de que ela fosse banida novamente, algo que ela não poderia arriscar. Ainda assim, a culpa de ir embora deixando todos os Skaikru, deixando Bellamy, a atormentava com frequência.
E se ele não tiver sobrevivido? E se ele nunca me perdoar?
Lyra apertou os olhos, tentando afastar as perguntas que se formavam como fantasmas em sua mente. Cada uma delas era uma lâmina, afiada e incessante, cavando mais fundo em seu peito. A lua, fria e distante, lançava um brilho prateado sobre a cidade, mas não conseguia aquecer o vazio que a consumia. Ela se sentia como uma estranha naquele mundo, como se as ruas de Pólis fossem feitas para outras pessoas, não para ela.
Ela tinha ficado presa alí, naquela maldita torre, a maior parte da sua vida, foi por isso que ela tentou fugir em primeiro lugar. E olha o que aconteceu, os maun a capturaram, ela foi torturada e presa mais uma vez. Lyra tinha sido resgatada, mas não estava livre de forma alguma, ela só tinha voltado para a prisão anterior.
Num impulso, ela se afastou da janela, dando passos rápidos até a porta. Ela não sabia para onde estava indo, mas precisava se mover. Precisava de algo que a impedisse de afundar mais uma vez.
Lyra hesitou por um momento ao ver os guardas à porta. Seus olhos cansados encontraram os deles, mas nenhum deles a deteve. Apenas abriram caminho silenciosamente, como se soubessem que não valia a pena tentar impedi-la. Eles a observavam com uma indiferença familiar, como se já estivessem acostumados com os comportamentos erráticos daqueles que, como ela, estavam presos entre paredes invisíveis.
Os passos descalços de Lyra ecoaram suavemente pelos corredores, como sussurros em meio à quietude da noite. Quando percebeu, estava diante dos aposentos da Heda. Ela não tinha planejado ir até lá, mas seus pés a levaram como se soubessem algo que sua mente ainda não compreendia.
Lyra parou diante da porta, o coração martelando no peito como se quisesse anunciar sua chegada antes mesmo de suas palavras. Os guardas, como estátuas vivas, observaram-na sem expressão, mas não impediram sua passagem. Era um gesto quase compassivo, considerando que Lyra nunca parecia pertencer a lugar algum.
Ela respirou fundo antes de empurrar a porta, entrando silenciosamente. O ambiente era iluminado por velas que lançavam sombras dançantes nas paredes. Lexa estava sentada, imóvel, com um papel nas mãos. A luz de uma vela tremulava ao lado dela, projetando sombras suaves em seu rosto, que parecia tão severo quanto cansado. Os olhos da comandante estavam fixos na folha, mas havia algo em sua postura que parecia menos inquebrável do que o habitual.
Por um momento, Lyra hesitou. Sua mente girava com as palavras que sempre engasgavam quando tentava falar com Lexa. A líder imponente, a irmã que parecia carregar o peso do mundo nos ombros sem jamais vacilar. Mas ali, naquele instante, Lexa parecia... humana.
A mais nova caminhou lentamente até o lado da irmã, que não tinha olhada para ela, mas pela forma que sua postura ficou rígida, já tinha notado sua presença, ela se sentou no sofá, tendo uma visão melhor do papel que Lexa tinha em mãos. Era um desenho, os traços grossos e grotescos, robustos, mesmo assim, se podia ver uma mulher.
Lyra franziu o cenho ao analisar o papel.
— Essa é Clarke. — Lexa respondeu a pergunta muda da irmã.
Klork Kom Skaikru. Lexa tinha dito meio por cima sobre o que tinha acontecido, mas basicamente, esse era o nome da líder do povo do céu, a representante deles, a garota e Lexa tinha deixado para trás. Ela não falou muito sobre o que aconteceu desde que chegaram a Pólis, mas Lyra conhecia a própria irmã, o jeito que ela falava da garota era muito diferente da maneira como ela falava de qualquer outra pessoa. Tinha algo mais alí.
— Azgeda está procurando por ela. — A mais velha continuou. — A matadora da montanha. Eles a chamam de "Wanheda."
A comandante da morte. Certo, era um nome bem aterrorizante, que com certeza cabia na imagem no papel. Mas certamente não cabia na forma que Lexa falava sobre ela, havia uma certa admiração dentre suas poucas palavras, e também um certo carinho e cuidado que Lyra não estava acostumada.
— Como os Azgeda poderiam saber disso?
— Não sei. — A Heda respirou profundamente. — O que importa é que eles sabem, e não vai demorar muito pra que isso se espalhe para os outros clãs.
Lyra permaneceu em silêncio, observando Lexa enquanto a mais velha desviava o olhar do desenho e o dobrava cuidadosamente, quase com reverência. Havia algo no gesto que revelou o que as palavras não diziam: uma vulnerabilidade que Lexa se esforçava para esconder.
Lyra apertou os lábios, sentindo o peso daquela revelação. Lexa, a Heda, a invencível, carregava um fardo que ninguém parecia enxergar. Mas ali, na quietude do aposento, estava claro. O papel entre seus dedos era mais do que um simples retrato; era um símbolo de arrependimento.
— Você sente culpa, não sente? — A pergunta de Lyra foi direta, sua voz um pouco rouca. Ela não tinha intenção de confrontá-la, mas as palavras escaparam antes que pudesse se conter.
Lexa ergueu os olhos, encarando-a com a intensidade que sempre a caracterizava. Havia algo nos olhos verdes que parecia querer negar, mas ao mesmo tempo, a honestidade de Lyra a desarmava.
— A culpa não pertence a uma comandante. — Lexa respondeu, sua voz firme, mas baixa, como se estivesse tentando convencer a si mesma mais do que à irmã.
— Isso é besteira. — Lyra retrucou, cruzando os braços. — É claro que pertence. Você a deixou lá, não deixou?
Lexa não respondeu de imediato. Seus olhos voltaram ao desenho, agora fechado e repousando na mesa. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor, quebrado apenas pelo som distante do vento lá fora.
— Eu fiz o que era necessário para o meu povo. — Lexa finalmente disse, mas sua voz vacilou, um tom raro nela. — Foi a escolha certa.
— Mas não foi o que você queria. — Lyra rebateu, inclinando-se para a frente. — Eu vejo isso nos seus olhos toda vez que você fala dela.
Lexa novamente ergueu os olhos do desenho, encarando a irmã com um misto de surpresa e irritação.
— Isso não importa. O que importa é que Clarke está em perigo e que minha prioridade é manter a paz entre os clãs.
— Não importa? — Lyra arqueou as sobrancelhas. — Você sabe tão bem quanto eu que isso importa, Lexa. Você a deixou lá, e agora estão caçando ela. Você acha que não tem nada a ver com isso?
Lexa desviou o olhar, o que para Lyra era confirmação suficiente. A comandante raramente fugia de um confronto verbal, mas a culpa a desarmava de um jeito que nada mais conseguia.
— Eu fiz o que precisava fazer. — A voz de Lexa saiu baixa, quase inaudível. — Foi uma escolha difícil, mas eu não tinha outra opção.
— Você sempre tem uma opção. — Lyra rebateu, a frustração crescendo em sua voz. — E eu sei que essa decisão ainda pesa em você. Não tente me convencer do contrário.
Lexa fechou os olhos por um momento, os ombros rígidos como se carregassem o peso de um mundo inteiro. Quando voltou a encarar Lyra, havia uma sombra de vulnerabilidade em seu olhar, algo que a irmã mais nova raramente via.
— Eu a traí. — Lexa admitiu finalmente, sua voz quebrando em um sussurro. — E agora, ela está pagando o preço por isso.
Lyra respirou fundo, sentindo a dor crua nas palavras da irmã. Por mais que Lexa tentasse carregar o mundo nas costas, Lyra sabia que ninguém era invulnerável, nem mesmo a Heda. Ela se levantou, aproximando-se de Lexa e colocando uma mão hesitante sobre o ombro dela.
— Lexa... — Lyra começou, hesitando. — Você pode proteger Clarke agora. Azgeda não vai parar até encontrá-la, mas você pode chegar antes.
A Heda olhou para Lyra, sua expressão endurecendo, mas os olhos não conseguiam esconder o conflito. Era como se as palavras da irmã tivessem ativado algo dentro dela, uma centelha de determinação misturada com medo.
— A questão não é apenas chegar antes. — Lexa respondeu, sua voz agora mais firme. — É se ela vai querer ser salva por mim.
[•••]
𝙿𝙾́𝙻𝙸𝚂
𝚊𝚝𝚞𝚊𝚕𝚖𝚎𝚗𝚝𝚎
O silêncio nos aposentos de Lexa era de certa forma pertubador. Lyra normalmente gostava de silêncio, mas a tensão que a rodeava desde que ela saiu de Arkadia não a abandonava de forma alguma, fazendo o silêncio não ser nada mais do que desconcertante.
Ela ainda se lembra dos olhos raivosos de Octávia quando Lyra a informou que o irmão dela não as ajudaria. Ela ainda se lembrava dos olhos de Clarke quando as duas voltaram para as tendas, o desespero presente neles. Ela também se lembrava da determinação de Lexa quando anunciou que "Sangue não se pagaria com sangue."
Por anos, Lyra sonhou com um mundo onde a violência não fosse a única resposta. Onde as pessoas pudessem respirar sem o peso constante de vinganças e perdas. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de que a violência pudesse parar sem uma retaliação parecia... frágil. Ingênua, até. Como uma promessa bonita feita em um campo de batalha cheio de mortos.
E se ela estivesse errada? E se Lexa estivesse errada? O que aconteceria se, ao poupar sangue, as consequências fossem ainda mais desastrosas?
Só porque eles recuaram, não significava que Skaikru recuaria também.
Lyra fechou os olhos por um momento, tentando sufocar o medo que rastejava por dentro dela. Era isso que a aterrorizava: a possibilidade de que sonhar com paz fosse apenas isso, um sonho. Ela queria acreditar em Lexa, queria mesmo, mas a dúvida corroía suas certezas.
Ela não conhecia Pike, agradecia algumas vezes por isso, mas outras, ela desejava ter visto ele pelo menos uma vez, para ter noção do que esperar. Ela não achava que estava errada no que disse a Bellamy, Charles Pike era um tirano, um conquistador, uma ameaça, mas ela queria ter a mínima noção do quão cruel ele poderia ser.
Bellamy. O nome rodava em sua mente, trazendo consigo uma dor familiar e um turbilhão de emoções que Lyra tentava reprimir. O rosto dele estava gravado em sua memória, os olhos escuros que, mesmo quando cheios de raiva, carregavam uma intensidade que ela não conseguia esquecer.
Ele a machucou, as palavras dele ainda estavam tatuadas em sua mente. Você me deixou. Você deixou todo mundo! Eles nunca falaram sobre nada disso enquanto se encontravam no lago, eles falavam sobre seus traumas, seus sentimentos sobre o que aconteceu em Mount Weather. Bellamy e Lyra nunca conversaram sobre seus sentimentos em relação ao outro, nunca falaram sobre muitas coisas. Eles provavelmente deviam ter feito.
Lyra queria pensar que aquele não era Bellamy, que ele não faria isso, mas será que não? Ele fez, e conforme sua postura, não negou que faria de novo. Talvez ela estivesse errada sobre ele, talvez estivesse muito encantada pela ideia do "salvador", e nunca tivesse visto quem ele era de verdade.
Ela sabia que não aguentaria ser presa novamente, ser traída de novo, ter a liberdade arrancada de si mais uma vez por alguém em quem ela confiou. Mas Bellamy não a prendeu. As algemas na mesa indicavam que talvez ele tivesse a intenção, mas ele não o fez. Aquilo significava alguma coisa, não é? Tinha que significar.
Lyra, deitada na cama de Lexa, desviou os olhos do teto para focar na irmã, que estava imersa em seu sono enquanto estava deitada no sofá, Clarke em uma poltrona ao seu lado, concentrada em desenhar algo no papel, vez ou outra encarando a Heda adormecida. Desde que voltaram, Lexa não tinha dormido bem, estava exausta e acabou adormecendo enquanto lia um livro. Essa é a primeira vez que ela tem um sono "tranquilo", e tanto Clarke quanto Lyra acharam melhor deixá-la descansar.
Lyra não sabia como se portar perto da irmã, elas não eram tão próximas desde que Lexa se tornou a Heda e concedeu perdão a Lyra após ela lutar na guerra. Tão envolvida em seu dever, a mais velha não tinha muito tempo para dar atenção a Lyra, e elas se distanciaram ainda mais após a morte de Costia. Mas agora, Lexa parecia querer a irmã mais nova por perto sempre que podia. Talvez quase perdê-la na montanha tenha girado algum tipo de chave, mas Lyra não sabia lidar muito bem com isso.
Seus pensamentos foram cortados quando Lexa começou a se mexer, fazendo com que Lyra se sentasse, os olhos atentos. Lexa acordou bruscamente, ofegante e com os olhos arregalados. Clarke largou o carvão se moveu rapidamente, se sentando ao lado dela.
— Ei, ei, está tudo bem. Você está bem — disse Clarke, com a voz baixa e reconfortante. Lexa respirou profundamente, tentando se acalmar, enquanto colocava as mãos na cabeça. — Sobre o que você estava sonhando?
Lexa levou um momento para se recuperar antes de responder, a voz carregada de inquietação.
— Comandantes antes de mim... eles falam comigo em meu sono. Eu vi suas mortes na guerra, nas mãos de um assassino.
— Foi apenas um pesadelo — Clarke tentou tranquilizá-la.
— Não. Não, é um aviso. — Lexa balançou a cabeça, os olhos desfocados. — Eles acham que estou traindo o legado deles. — Ela foca os olhos em Clarke. — Jus drein jus daun... sempre foi o jeito do nosso povo.
Clarke segurou o olhar de Lexa, sua voz firme, mas cheia de ternura.
— Escute-me. Um cessar-fogo não é uma traição. O que você fez naquele campo de batalha parou uma guerra. Seu legado será a paz.
Lyra não se moveu, apenas manteve os ohos nas duas mulheres, que pareciam totalmente alheias a presença dela. Lexa não respondeu, mas levantou-se, parecendo querer se afastar daquela conversa. Foi então que seus olhos caíram sobre a folha onde Clarke estivera desenhando. Ela a pegou delicadamente, e Clarke, nervosa, deu um passo à frente.
— Ah, hum... isso ainda não está terminado — disse Clarke, um pouco sem jeito.
Lexa não respondeu de imediato, apenas olhou para o desenho. Depois, seus olhos subiram para encontrar os de Clarke. O silêncio entre elas era intenso, carregado de algo que nenhuma das duas ousava dizer.
Lyra observava em silêncio, sentindo o ar pesado como se estivesse testemunhando algo que não era para ela. O modo como Lexa olhava para Clarke... Não era a usual serenidade calculada ou o olhar severo que ela usava com aliados ou inimigos. Não. Havia algo mais suave, mais... humano. Era o tipo de olhar que Lyra lembrava de ter visto apenas uma vez antes: quando Lexa estava com Costia.
A percepção caiu sobre Lyra como um golpe, e ela não soube ao certo o que sentir. Era diferente, claro. Lexa havia mudado tanto desde então, endurecida pelas perdas e responsabilidades, mas aquela expressão vulnerável era inconfundível. Lyra desviou os olhos, sentindo-se desconfortável por estar presenciando um momento tão íntimo, mesmo que silencioso.
Uma parte dela queria se alegrar por Lexa. Queria acreditar que sua irmã merecia um pouco de felicidade depois de tudo que suportara, que, talvez, Clarke pudesse ser isso para ela. Mas outra parte... outra parte estava apavorada. Sua irmã sempre
fora um muro inabalável, uma força fria e controlada. Mas ali estava ela, desarmada, na frente de Clarke.
Desarmada. A palavra ecoou na mente de Lyra. Era perigoso.
Lyra sabia o que Costia representava para Lexa. Sabia o quanto sua perda havia devastado a irmã, a transformando na comandante inabalável que era agora. E, se Costia já fora um ponto fraco explorado por inimigos, Clarke era um alvo ainda mais evidente. Já queriam matá-la por si só para absorverem seu poder, o que fariam se soubessem que a própria Heda estava apaixonada por ela?
A tensão foi quebrada por uma batida na porta.
— Entrem — disse Lexa, sua postura voltando a ser autoritária.
A porta se abriu, revelando Titus e dois guardas que carregavam uma caixa enorme.
— Desculpe-me, Heda. Não percebi que você estava ocupada — disse Titus, lançando um olhar sutil para Clarke. Lyra já o conhecia o bastante pra saber que havia julgamento em seus olhos.
Enquanto os guardas se aproximavam, Lyra se colocou de pé, no mesmo momento os guardas colocaram a caixa enorme e que parecia bem pesada no chão.
— Você vai me dizer o que tem na caixa ou não? — perguntou Lexa. Sua postura vacilou, foi sutil, quase imperceptível, mas o bastante para deixar Lyra em alerta, se colocando do lado da irmã.
— Perdoe-me. — Titus inclinou a cabeça em respeito. — Este é um presente do Rei Roan de Azgeda para Wanheda. O mensageiro disse que isso é tanto uma prova da lealdade de Azgeda à coalizão quanto uma resposta a uma pergunta ainda não respondida. Posso?
Lexa assentiu com um movimento breve, e Titus se afastou, dando a ordem para os guardas, que avançaram, abrindo a caixa com cuidado. Clarke se aproximou alguns passos e, quando a tampa foi removida, o que estava dentro fez Clarke congelar, o choque estampado em seu rosto.
— Emerson. — Murmurou ela.
Lyra arregalou os olhos ao reconhecer o homem. Era difícil de enxergar qualquer fisionomia por trás daquelas máscaras estranhas e aquelas roupas cheias de ar que as pessoas da montanha usavam, mas ela reconheceria aqueles olhos azuis gélidos de qualquer lugar: foi aquele homem que a capturou e a levou para Mount Weather.
Amarrado e amordaçado, o homem soltou um grito abafado, saltando da caixa com uma fúria desesperada, jogando Clarke no chão. Seus gritos ecoam por toda a sala, enquanto todos ficavam sem reação por um momento.
— Parem ele! — ordenou Lexa imediatamente.
Antes que os guardas pudessem, Lyra avança sobre ele, o puxando pelos cabelos com certo esforço, o tirando de cima de Clarke. Ela pode vê-lo com clareza agora, havia sangue em seu rosto, bolsas roxas em seus olhos, mas definitivamente era ele. O homem que a jogou no inferno. Ele pareceu reconhecê-la também, pois arregalou os olhos, a encarando fixamente.
— Tirem ele daqui! — Lexa gritou novamente, enquanto corria até Clarke. — Coloquem-no numa masmorra, agora.
Os guardas avançaram e o agarraram, arrastando-o para fora da sala enquanto ele se debatia inutilmente. Voltando a gritar a plenos pulmões enquanto levava o olhar rapidamente entre Lyra e Clarke.
— Estou bem — respondeu Clarke, afastando-se rapidamente da comandante e dando alguns passos a frente.
Lexa ficou em silêncio, observando-a por um momento antes de desviar o olhar para Lyra, que apenas assentiu antes que ela perguntasse qualquer coisa, enquanto o som dos passos dos guardas desaparecia ao longe. Levando consigo um fantasma que Lyra sequer lembrava que existia, mas que tinha voltado pra assombrá-la.
3650 palavras.
Eu realmente trouxe capítulo no dia que eu disse que ia trazer, seria esse um milagre?
Na verdade, eu ia postar esse capítulo ontem, mas fiquei muito envolvida assistindo Natal Macabro e não deu, hehehe.
Enfim, capítulo curtinho. Mas tá ótimo, finalmente tivemos mais interação das irmãzinhas. (*fogos de artifício*)
Ainda não é meia noite, mas já quero desejar a todos um FELIZ ANO NOVO! E que 2025 seja repleto e alegria, amor e paz e que seja muito melhor que 2024 pelo amor de Deus.
Não se esqueçam de votar e comentar o que acharam e bom, vejo vocês ano que vem. Beijinhos.
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