07 - FACES IN YOUR MIND
CAPÍTULO SETE
❛rostos em sua mente❜
── ⋆⋅☆⋅⋆ ──
𝙻𝙰𝙶𝙾 𝙱𝚁𝙸𝙻𝙷𝙰𝙽𝚃𝙴
31 𝚍𝚒𝚊𝚜 𝚊𝚙𝚘́𝚜 𝚊 𝚍𝚎𝚛𝚛𝚘𝚝𝚊 𝚍𝚎 𝙼𝚘𝚞𝚝𝚑 𝚆𝚎𝚊𝚝𝚑𝚎𝚛
O lago estava silencioso, suas águas refletindo as estrelas em uma dança suave, como se o céu e a terra compartilhassem um segredo íntimo. Bellamy e Lyra estavam sentados próximos à margem, ambos distantes em pensamento, mas de alguma forma, compartilhando a mesma solidão silenciosa.
A quase uma semana, eles se encontravam todos os dias a beira daquele lago. Eles não tinham combinado nada, mas não era como uma coincidência constante, era mais como um acordo silencioso. Normalmente, Bellamy vinha a noite, Lyra estava pronta para ir embora quando ele chegava, então ela passou a ficar alí por mais tempo, e depois, a vir mais tarde. Eles ficavam falando sobre amenidades, sobre a diferença gritante entra a vida na terra e a vida na arca. Ou então, eles ficavam em silêncio, um silêncio confortável, bom para eles entenderem que não estavam sozinhos.
A lua brilhava suavemente sobre a água, iluminando os rostos dos dois, criando sombras sutis que realçavam as linhas cansadas nas expressões deles. Bellamy olhou para Lyra, observando como seus olhos estavam fixos na superfície do lago, como se procurassem alguma resposta ali.
— Você tem pesadelos também, não é? — Ela finalmente quebrou o silêncio, sua voz quebrando a quietude da noite com uma leveza quase dolorosa. — É por isso que você vem aqui a noite.
Bellamy apenas assentiu com a cabeça. Ele sempre foi acostumado com pesadelos, desde que era criança, mas eles deixaram de ser apenas imaginação juvenil e se tornaram coisas cada vez mais reais. Era um tormento, mas ele não se sentia confortável pra falar com ninguém de Arkadia sobre isso. Não queria sobrecarregar Octávia com seus problemas, e os outros também estavam se recuperando do trauma de estar em Mount Weather. Provavelmente ele falaria com Clarke, mas ela foi embora.
— As vezes parece que eu ainda estou lá, sabe? — Ele praticamente sussurrou. — Eu fechos olhos e parece que eles estão me afogando de novo. Eu quase consigo sentir as agulhas na minha pele, a água quente sobre mim, é... assustador.
Bellamy não soube porquê exatamente tinha confessado aquilo pra ela, sendo que eles mal se conheciam. Talvez fosse porque mais do que ninguém, ela provavelmente entenderia. Lyra estava lá, como ele, machucada e sozinha, por sei lá quanto tempo antes dele chegar. Havia uma espécie de conforto em conversar por alguém que tinha passado pelo mesmo trauma que ele.
— É, eu sei como é. — Ela suspirou, mexendo na água com os dedos, fazendo com que ela brilhasse.
O silêncio que se estendeu continuou confortável, Bellamy sentiu como se uma boa parte do peso tivesse sido tirada de seus ombros, mas Lyra parecia tensa ao lado dele, como se ela tivesse muito mais coisa a carregar do que aquilo — provavelmente tinha.
— Não foi a primeira vez que fiquei presa, sabe? — Ela disse, a palavra 'presa' soando como um peso em sua boca. Ela olhou para Bellamy, tentando ler a reação dele, mas ele apenas a observou em silêncio, esperando.
— Você não precisa contar se não quiser. — Ele disse, sua voz suave, mas cheia de compreensão. Bellamy sabia que havia algo por trás de suas palavras, algo que ela guardava em silêncio.
Mas Lyra não desviou o olhar. Ela respirou fundo e continuou, a história saindo lentamente, como se fosse difícil colocar as palavras em ordem.
— Eu confiei em alguém. Em uma pessoa que deveria estar ao meu lado. Achava que éramos... que éramos iguais, sabe? — Ela deu uma risada sem humor, forçada. — Mas, no final, ele me traiu. Não foi apenas uma traição de confiança, foi muito mais. Eu fui enganada, manipulada... e no fim, quem pagou fui eu.
Bellamy sentiu uma pontada de dor no peito ao ouvir aquelas palavras, mas não interrompeu. Ela precisava falar, e ele estava ali, ouvindo, sem pressa. Ele só queria entender, de alguma forma, quanto sofrimento mais aquela garota tinha passado.
Lyra olhou para o lago mais uma vez, como se as respostas estivessem lá, mas a água parecia imperturbável, sem revelar nada.
— Às vezes eu me sinto idiota, porque me disseram pra tomar cuidado com essa pessoa, mas eu ignorei. — Ela encolheu os ombros, ignorando a pergunta dele. — Ele teve os motivos dele, ou diz que teve, mas eu nunca vou entender eles, porque não vai trazer de volta o que eu perdi.
Havia uma amargura em suas palavras, uma dor que ela não tentava esconder, mas também não queria exibir completamente. Bellamy sentiu a tensão na sua voz e no corpo dela. Ele estendeu a mão, querendo oferecer algum conforto, mas hesitou, não queria forçar nada. Lyra não parecia pronta para ser tocada, ele também não estava, mas ele queria que ela soubesse que estava ali, se ela precisasse.
Ela olhou para ele, e por um momento, seus olhos se encontraram, um silêncio profundo entre eles, onde toda a dor parecia compartilhada. Lyra parecia ter se aberto mais do que jamais imaginou. Mas, então, ela se afastou novamente, virando-se para olhar a água, tentando recobrar a compostura.
— Eu não sou boa com isso... com... pessoas se importando. — Ela disse, a voz mais baixa agora.
Ele se aproximou um pouco mais, mas ainda mantendo uma distância respeitosa, sabendo que ela precisava de espaço. Lyra respirou fundo, olhando fixamente para a água.
— Eu não quero voltar a isso agora. Não mais.
Bellamy aceitou o silêncio como resposta, sabendo que ela estava fechando aquele capítulo, mas não era uma porta que se fechava completamente. Ele podia ver a dor que ela carregava, mas sabia que não tinha o direito de forçar mais. Eles haviam compartilhado algo que não fariam com mais ninguém. Era uma evolução, um progresso, e pela primeira vez, Bellamy teve esperança de que, talvez, eles conseguissem superar isso, se estivessem juntos.
[•••]
𝚃𝙴𝚁𝚁𝙸𝚃𝙾𝚁𝙸𝙾 𝚂𝙺𝙰𝙸𝙺𝚁𝚄
𝚊𝚝𝚞𝚊𝚕𝚖𝚎𝚗𝚝𝚎
Lyra nunca foi do tipo que se impressionava com a morte. Cresceu em um mundo brutal, moldada por uma criação que não permitia fraquezas. As estrelas em sua pele eram como mais uma prova do quão forte e ao mesmo tempo fraca ela era.
Mas, mesmo assim, ainda era humana. Descobriu isso ao sentir o peso esmagador da culpa por ter ajudado a tirar a vida de um homem que a havia mantido em uma jaula. Parecia absurdo, quase contraditório, mas a verdade era que matar, mesmo um inimigo, destrói sua alma. Mas Lyra acreditava que, depois de tanto sangue em suas mãos, ela já não tinha mais alma nenhuma.
Ela estava errada.
Não estava preparada para o que viu: corpos espalhados por todos os lados, mais de 300 pessoas mortas, largadas no chão como se fossem nada. O cheiro de carne queramada e podre era sufocante, as moscas voejavam sobre o massacre. Aquilo não era apenas uma matança, era um espetáculo de horror.
Saltando de seu cavalo, Lyra correu em direção aos corpos. O sangue cobria tudo, escorrendo em poças vermelhas que encharcavam o solo. Cada passo era mais pesado que o anterior.
— Todos mortos por armas de fogo. — murmurou Clarke atrás dela. Lyra mal ouviu, mas as palavras a atingiram. Apenas os Skaikru possuíam armas desse tipo.
Ao longe, alguém chamou. Lexa, Clarke e os guardas correram na direção da voz, mas Lyra ficou para trás, tentando reunir forças para se mover. Quando finalmente conseguiu, aproximou-se do grupo que se amontoava ao redor de uma figura caída. Era Indra, ferida, mas viva.
— Eles atacaram enquanto dormíamos. — Indra relatava, a voz fraca, mas firme. — Nossos guardas estavam ao norte, procurando por Azgeda. Eles mataram nossos arqueiros primeiro. Nossa infantaria foi abatida antes de reagir. Então, executaram os feridos.
— A cúpula foi há dois dias. Como Kane pôde fazer isso? — Clarke perguntou enquanto tratava os ferimentos de Indra. A guerreira a olhou com indignação.
— Não foi Kane, foi Pike!
Tá, e quem diabos é esse? Lyra não se sentiu confortável para perguntar, sentiu que não era o momento.
— Como você escapou? — Lexa perguntou.
— Bellamy. — O nome fez o coração de Lyra disparar.
— Bellamy estava com eles? — Sua voz soou pela primeira vez, mais alta do que pretendia.
— Ele queria poupar os feridos, mas eles não quiseram ouvir. Ele convenceu Pike a me deixar viver para que eu pudesse entregar uma mensagem.
— Que mensagem?
— Skaikru rejeita a coalizão. Esta é a terra deles agora. Podemos sair ou podemos morrer.
Não. Isso não podia ser verdade. Era algum tipo de pesadelo horrendo causado pelos traumas da guerra. Não tinha como aquilo ser real, não podia.
Bellamy não faria isso.
Faria?
— Enviem cavaleiros. Eu convoco os exércitos dos 12 clãs. Em um dia, devastaremos Arkadia e todos dentro de seus muros. — Lexa começou a ordenar. A cada palavra, Lyra sentiu seu peito afundando mais.
Parecia que tinha voltado aos 14 anos, de volta a guerra. De volta onde tudo que havia era sangue e morte. Onde as primeiras estrelas em seu corpo surgiram — e onde muitas outras nasceram.
— Espere. — Clarke exclamou em certo desespero. — Deixe-me concertar isso. — Ela se virou para ir, provavelmente em direção a Arkadia, mas Lexa ordenou que a parassem imediatamente. — O que você está fazendo?
— Não posso deixar você ir embora, Clarke.
— Então agora sou uma prisioneira, simples assim?
— Sim. — Lexa foi dura e firme.
— Lexa, deixe-me ir para Arkadia. — Clarke ainda tentou.
— Não. — Lyra revirou os olhos.
Estamos atrapalhando a discussão do casal? Lyra mordeu a língua para não ser ácida. Sabia que o momento era o pior de todos, e ela decidiu seguir a famosa frase: "Se não tiver nada útil a acrescentar, permaneça quieta."
Não era como ela tivesse estômago para falar qualquer coisa.
— Pelo menos deixe-me falar com Kane. Podemos trazê-lo aqui. — Clarke então se voltou para Indra. — Indra, na cúpula, Kane me disse que lhe deu um rádio. Uma maneira de sinalizar para ele. Faça isso. Por favor.
Indra olhou hesitante para a Heda, que apenas assentiu. Enquanto Indra tentava contato, Lyra desejou para todos os ancestrais que aquilo fosse apenas um mal entendido. Uma esperança inútil.
[•••]
O clima dentro da tenda estava tenso e carregado, Lexa permanecia em um canto, apenas observando o nada. Clarke cuidava de Indra, com as mãos ágeis e habilidosas de quem já fez isso mil vezes, e Lyra apenas auxiliava — ou tentava, já que estava perdida nos próprios pensamentos.
— O sangramento parou. Preciso de algo pra dor. — Lyra quase não ouviu Clarke informar, sua cabeça um turbilhão.
Como tudo virou de cabeça pra baixo daquele jeito? Como o novo chanceler simplesmente mata 300 soldados a sangue frio antes mesmo de saber qua a paz tinha sido selada. Como Bellamy participou disso? Por que?
Um farfalhar tirou Lyra de seus próprios pensamentos. Ela encarou a entrada da tenda, observando a garota de cabelos trançados, olhos verdes e postura rígida, ela era vagamente familiar, mas Lyra só a reconheceu quando Clarke a chamou pelo nome.
— Octávia? — A loira a encarou com dúvida. — Cadê o Kane?
Ah, então essa é a irmãzinha do Bellamy. Lyra a encarou de cima a baixo. Ombros retos, o corpo claramente tenso, os braços grudados ao lado do corpo. Ela se vestia como uma deles, não parecia que nada dela vinha do céu, exceto por uma aura de força que parecia emanar da garota.
— Ele me enviou. — Octávia correu direto para Indra, se abaixando ao lado dela. — Indra, graças a Deus.
— Como isso aconteceu? — Lexa se aproximou, praticamente rosnando. Sua irmã normalmente era fria e controlada, mas nesse momento, o ódio em seu olhar era impossível de esconder.
Octávia se levantou, meio hesitante, se virando para Lexa, parecendo tentar encontrar palavras para explicar.
— Kane perdeu a eleição para Pike. Tudo está... diferente.
Lyra tentou assimilar essa informação. Ela sabia que Skaikru tinha um sistema democrático de eleição, isso significava que o povo do céu votou no homem que promoveu um massacre aos Trikru. Que bela merda.
Clarke se levantou, e Lyra a acompanhou com o olhar, enquanto Lexa permanecia encarando a jovem Blake, o olhar mais ameaçador do que sua irmã mais nova já tinha visto.
— Seu povo votou por isso. — Lexa disse, o ódio claro nas palavras que ela praticamente cuspiu.
— Não. — Clarke negou, atraindo o olhar da Heda. — Não, eu não acredito nisso. — Ela se virou para Octávia.
— O que você sabe, Clarke? — A Blake se virou para Wanheda, lançando um olhar de puro ressentimento. — Você não 'tava aqui.
— Me escuta. — Clarke iniciou seu apelo. — O exército terrestre estará aqui em menos de um dia. Preciso ver o Bellamy.
— Bellamy foi parte disso. Ele 'tá com o Pike. Por que acha que ele vai nos ajudar?
— Ele salvou a vida da Indra. — Alguns segundos de silêncio se estenderam, enquanto Octávia levou seu olhar para Indra, Clarke se virou para Lexa. — Se o que Octávia diz for verdade, então Pike confia nele. Se eu convencê-lo, ele convence o Pike.
— Você não pode simplesmente atravessar os portões, Clarke. — A Heda deu dois passos a frente. — Você tem vivido com o inimigo deles. Se fosse eu, eu te mataria na hora.
— Posso fazê-la entrar. — Octávia argumentou. Longos segundos de silêncio se seguiram, Lexa parecia ponderar suas opções, mas claramente estava hesitante quanto a isso.
Sua preocupação era plausível, era um plano muito arriscado, se Clarke fosse pega, as coisas poderiam piorar. E honestamente, Lyra não achava que ela podia convencê-lo, não depois de tudo o que ele já disse em suas conversas a beira do lago. Bellamy nunca culpou a Griffin diretamente, mas o ressentimento ainda estava lá, o sentimento de abandono, o peso de ter que lidar com as consequências de ter puxado aquela alavanca sozinho.
— Eu vou. — A voz cortante de Lyra preencheu a tenda, atraindo todas as atenções para ela. — Eu vou falar com o Bellamy.
As palavras de Lyra ficaram suspensas no ar por um instante, surpreendendo a todos. Octávia a olhou com uma expressão misturada de confusão e desconfiança, enquanto Clarke parecia ponderar a ideia, e Lexa... Lexa a encarava com uma mistura de apreensão e ceticismo.
— Você? — Clarke foi a primeira a quebrar o silêncio, com uma leve dúvida na voz. — Por que você?
— Sem ofensas, Clarke. Mas você é a última pessoa que ele vai querer ouvir agora. — Lyra se colocou de pé, caminhando até as três mulheres. — Ele não vai te escutar, não depois que você o deixou.
— Até onde eu sei, você o deixou também. — A loira apontou, o resquício de magoa na voz apontando que Lyra tinha tocado num ponto sensível.
Não foi intencional, mas eram fatos. Tendo razões ou não, Clarke deixou Bellamy em Arkadia para enfrentar sozinho as consequências de algo que ambos tinham feito juntos, era óbvio que ela se culpava por isso também, mas não havia tempo para discutir de quem era a culpa. Clarke tentou atingí-la da mesma forma, provavelmente ciente da proximidade de Lyra e Bellamy pela forma como interagiram na cúpula.
— É, mas no meu caso não foi por vontade própria. — Lyra desviou os olhos para Lexa por um momento, para então voltar a encarar Clarke. — E ele sabe disso. Você ainda fez isso duas vezes: Uma a três meses e a outra quando se recusou a voltar com ele em Pólis.
— Isso é ainda mais arriscado. — Lexa argumentou, dura, mas Lyra pode identificar um toque de preocupação na voz. — Você não está só vivendo com o inimigo, você é o inimigo.
— Fui eu quem prometi ao Bellamy que iria resolver isso. — Ela foi direta, com firmeza em sua voz, como se sua palavra fosse a única coisa que restasse a fazer sentido naquele caos. — Sou eu que tenho que ir.
O silêncio pairou por alguns segundos, pesado, enquanto todos ponderavam as palavras de Lyra. Clarke, ainda com a expressão tensa, parecia lutar contra a ideia, mas sabia que não tinha mais muitas opções. Octávia, por outro lado, parecia ceder lentamente, seus olhos fixos em Lyra com uma mistura de incerteza e respeito.
— Você realmente acha que ele vai ouvir você? — Octávia perguntou, quase como se estivesse testando sua determinação.
Lyra respirou fundo, encarando as três mulheres com um olhar firme, determinado. Ela sabia que o risco era alto, mas a sensação de dever que carregava era mais forte. Bellamy era alguém que, apesar de tudo, ainda acreditava nela — talvez por um momento que já parecia distante, mas ainda real. Se ela pudesse alcançar esse Bellamy, eu podia ajudá-lo a ver o que estava errado.
— Eu vou tentar. — Lyra respondeu, como uma promessa. — Eu tenho que tentar.
[•••]
Nós fomos longe demais. As próprias palavras ecoavam na mente de Bellamy desde que ele constatou o óbvio.
Sua raiva e seu luto foram combustíveis suficientes na hora, como uma faísca sendo jogada num barril de pólvora, o queimando por inteiro. Mas então o calor passou, as chamas ainda estavam alí, mas agora ele pensava com clareza.
Tinha matado pessoas. Depois de jurar pra si mesmo que nunca mais faria isso, não depois de Mount Weather, porém, ele já sabia a um bom tempo que a vida não colabora muito com os planos dele. Mas agora não tinha mais volta, ele tinha que ir até o fim. Bellamy ajudou a começar isso, agora ele tinha que terminar. Era pelo seu povo.
Mas os fantasmas já começaram a assombrá-lo, o cheiro de sangue estava impregnado em suas narinas como se ele ainda estivesse lá. Pike disse pra que eles pensassem nas vidas que salvaram, e não nas que tiraram, mas ainda assim, toda a vez que ele fechava os olhos, mesmo que por milésimos apenas para piscar, as imagens do massacre vinham em sua mente.
Enquanto ele cruzava os corredores, tentando acompanhar o ritmo rápido de Octávia, um par de cabelos ruivos passou por ele. Bellamy não a conhecia, mas isso o fez lembrar de Reese. Você está fazendo isso por ela também. Ele se forçou a lembrar, ou então perderia o foco.
Ainda assim, tudo continuava parecendo errado a cada momento que passava. Internar os terrestres por exemplo, ele entendia que não podiam desperdiçar suprimentos, mas eles tinham prometido ajudar aquelas pessoas, quanto tempo eles ficariam alí? E se suas doenças piorassem? Ele não conseguia resposta pra nenhuma de suas perguntas e odiava isso com todas as forças.
— Você precisa ter cuidado, O. — Ele disse, em parte para espantar os próprios pensamentos, mas também para alertar sua irmã. — Se continuar assim, não vou conseguir te proteger.
— Valeu pelo aviso. — Ela sequer olhou para ele e isso o matava. É claro que na visão dela aquilo era um absurdo, mas ela precisava entender.
— Estou falando sério. — Bellamy argumentou. — Olha pra você. É hora de parar de brincar de terrestre antes que você se machuque.
— Eu não 'tô brincando de nada. Isso é quem eu sou! — Octávia parou e se virou para ele, o ressentimento na voz quase palpável. — Você é meu irmão, eu não devia ter que te dizer isso.
E então ela entrou na sala, e Bellamy deu um suspiro profundo antes de seguí-la.
Ele iria falar alguma coisa, até abriu a boca pra isso, mas então ele viu que tinha outra pessoa na sala e congelou. Seu coração disparou, parecendo que ia sair da caixa torácica. Bellamy se viu trêmulo, como se a visão dela tivesse arrancado a base de tudo o que ele achava que sabia.
Lyra.
Ela estava inquieta, andando de um lado para o outro, mexendo nos cabelos, mordendo os lábios, ela demorou um pouco pra notá-lo, mas quando o fez, pareceu congelar também, os olhos se arregalando. Por que ela estava aqui?
— Agora eu acabei. — Octávia falou atrás dele, mas ele demorou para registrar as palavras. Bellamy ouviu a irmã deixar a sala, fechando a porta, mas seus olhos permaneceram fixos em Lyra.
Bellamy esqueceu como respirar, como se o ar tivesse desaparecido por completo. Lyra parecia o mesmo, imóvel, engolindo a mesma tensão sufocante. O silêncio se arrastava, pesado, insuportável, como se o tempo tivesse parado. A garota o encarava de um jeito que Bellamy não reconhecia. Não havia ali raiva ou acusação, como Octávia tinha olhado pra ele momentos atrás. Tampouco era decepção, como Kane o tinha encarado mais cedo.
Era... dor.
Sempre que pensava nela, Bellamy se lembrava de olhos, verde acinzentados, mas que carregavam um fervor. Quentes, intensos, queimando qualquer máscara que ele tentasse usar. Mesmo que um pouco melancólicos, havia uma centelha de esperança contagiante alí. Mas agora.. agora eles eram diferentes. Havia algo mais suave neles, quase como um lamento silencioso, e aquilo o desarmava mais do que qualquer grito ou acusação poderia.
Lyra nunca tinha olhado pra ele daquele jeito.
— Sua irmã é bem legal. — Lyra finalmente quebrou o silêncio. O tom esquisito, mas Bellamy não soube identificar o porquê.
— O que você 'tá fazendo aqui? — Ele se recuperou, lembrando da situação em que estavam.
— Precisamos conversar.
Ela cruzou os braços, levantando o queixo, ajeitando a postura, estufando o peito, e Bellamy não conseguiu conter a leve risada irônica com o tom que ela usou. Elevado, duro, superior, como se estivesse exigindo que eles tivessem aquela conversa. Agora ela queria exigir?
Ele encarou o chão, negando com a cabeça, mordendo a bochecha em irritação. Lyra pareceu muito com Lexa nesse momento e ele não gostou da sensação. Percebendo que ele não ia dizer nada, ela resolveu continuar.
— Bellamy, o que você fez?
— O que eu fiz? — Ele levantou a cabeça rapidamente, indignado. — O que seu povo fez!
— Azgeda não é meu povo! — Lyra rosnou, para a surpresa de Bellamy. A forma como ela descruzou os braços, praticamente gritando, entredentes, como se qualquer associação com aquele nome fosse extremamente ofensivo, fez ele perceber que tinha desestabilizado ela. Tinha mexido em um ponto sensível.
Não era o que ele queria, mas não tinha o que fazer.
Lyra tinha falado pra ele sobre os 12 clãs, contando histórias sobre eles como eles viviam, ela compartilhou seus desejos, querendo conhecer todos eles, mas quase nunca podendo sair de casa por mais que algumas horas. Mas toda vez que ela falava sobre Azgeda, ela era curta e grossa, sua postura inteira mudava, como se ela estivesse falando um nome proibido, ou um nome que despertava muito ódio no coração. E Bellamy quase nunca tinha visto ela zangada.
Ela pareceu se dar conta da reação, piscando algumas vezes e respirando fundo, ajeitou a postura, mas permaneceu com os braços esticados ao lado do corpo.
— Foi a Rainha da Nação do Gelo que ordenou o ataque a montanha. — Lyra começou a explicar, usando um tom mais calmo e controlado, mesmo que ouvesse desdém quando ela citou a tal "rainha." — Ela queria dar um golpe. Lexa a matou, sangue foi pago com sangue, acabou.
Acabou? Era isso? Lexa matava uma mulher e acabou? 49 pessoas morreram naquela montanha, 49 pessoas inocentes que achavam que estavam seguras. Mães, pais, filhos, irmãos, amigos, todos que tiveram a sua vida arrancada por absolutamente nenhum motivo. Não, sangue não tinha sido pago. Não o bastante.
— Por que é você quem diz que acabou?
— Então é isso que você quer? Uma guerra?
— Estamos em guerra desde que pousamos. — O tom do Blake era calmo, mas venenoso. — O seu povo matou metade dos meus amigos antes de eu sequer te conhecer.
— Eu sei e sinto muito, você sabe disso. — É, ele sabia, ambos já tinham conversado sobre isso também. — Mas não há mais motivo para guerra.
— Você mesmo disse que atacar Mount Weather foi um ato de guerra. — Bellamy afirmou, não foi Skaikru que começou guerra nenhuma, eles só estavam se defendendo. — Você usou essas palavras, Lyra.
— Você sabia que minha irmã quase morreu? — Lyra proferiu, parecendo irritada com Bellamy por usar suas próprias palavras contra ela. — Para salvar o seu povo, ela arriscou a própria vida. Ela foi contra todos os outros clãs pra colocar vocês na coalizão!
— Justamente. Nenhum terrestre vai nos aceitar. Mount Weather foi obra de Azgeda, qual será o próximo? — Bellamy indagou. — E sim, sua irmã pode matar quantas rainhas e reis ela quiser, mas quantas pessoas do meu povo isso vai custar? De centena em centena, vão nos eliminar até não sobrar mais nada.
— E qual é o seu plano? Eliminar cada um deles? — Ela o encarou como se ele fosse uma criança burra fazendo algo estúpido. — Existem 12 clãs, Bellamy. Com números maiores e guerreiros treinados que nem quinhentas armas de fogo venceriam nem se tentassem. Eles já te odeiam por simplesmente existir, o que vão fazer quando vocês começarem a atacá-los?
— Pike está disposto a fazer que for preciso pelo nosso povo, e eu também.
— Pike. — Lyra estalou a língua. Proferindo o nome com desdém. — É, eu ouvi o nome. E se quer saber, me admira muito você cair nesse papinho.
— Que merda, Lyra! Por que você não me escuta? — Bellamy perdeu a paciência. Pike não era o ponto da conversa.
— Pike é um tirano. — Ela declarou. — E conquistador. Aposto que ele já até sugeriu planos para tomar alguma terra.
— Você nunca nem o viu.
— Não preciso de muito para identificar um. E você também não devia.
Bellamy ficou em silêncio, assimilando as palavras. Pike realmente tinha feito um plano para tomar terras Trikru, mas uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Ele estava prevenindo novos ataques, era isso.
Lyra resolveu voltar ao assunto principal.
— Você entende a gravidade do que você fez? Você matou um exército inteiro, Bellamy. Um exército que estava aqui para te proteger.
— E que garantia eu tinha de que eles não iam nos matar a qualquer momento?
— Eu! Eu era a garantia! — Lyra gritou com ele, o surpreendendo. Nos meses em que eles se conhecem, Bellamy e Lyra nunca tinham discutido. Eles nunca tinham sequer levantado a voz um para o outro, era uma experiência nova e Bellamy não gostou dela. — Eu te pedi pra fazer uma coisa por mim, pra acreditar em mim, para escolher o meu lado. — Ela fez uma pausa, o tom raivoso se tornando magoado. — Mas você não fez isso.
Ele não fez isso? Ela sequer se ouvia?
— Eu fiz! — Ele gritou com indignação e raiva. — Eu tenho feito isso a meses, Lyra. Eu acreditei em você, eu confiei em você. E olha o que eu ganhei em troca.
Lyra prometeu que eles estavam seguros, garantiu que, se fizessem parte da coalizão, nenhum dos clãs machucaria eles. Não foi o que aconteceu, e pessoas inocentes morreram por isso. Gina morreu. Sra. Lucy morreu. Deixando Reese, uma criança, completamente sozinha no mundo.
— Eu deixei você, Clarke, minha irmã e o Kane me convencerem de que dava pra confiar no seu povo, quando eles mostraram mais de uma vez quem eles realmente são. — Bellamy continuou, o ódio na voz tão tangível que ele quase podia tocar. — E eu não vou deixar mais ninguém morrer por esse erro.
A tristeza e a culpa passou pelos olhos de Lyra, e Bellamy foi transportado para a última vez que se viram, em Pólis. Era muito estranho comparar aquele momento com agora, porque mesmo que a noite tivesse terminado em desastre, eles tinham terminado bem. Caralho, Bellamy se despediu dela com um beijo na cabeça! E agora eles estavam alí, separados por um muro imenso coberto de sangue e podridão, dos lados opostos de uma guerra.
— Escuta, eu preciso da sua ajuda. — Lyra praticamente implorou. — Eu preciso do cara que salvou a minha vida em Mount Weather, que me tirou daquela maldita jaula, que me deu coragem quando eu ‘tava apavorada.
— O cara que a sua irmã deixou pra morrer, você quer dizer? O cara que você abandonou? — O tom frio que Bellamy usou surpreendeu até ele mesmo.
Lyra engoliu em seco, os olhos encheram de lágrimas, Bellamy nunca teve coragem de dizer pra ela que ele a tinha odiado por deixá-lo, mas agora seu sangue fervia, seu ódio era tanto que ele não controlava as palavras. Tudo que ele vinha guardando desde que saiu da montanha espirrando como uma mangueira de veneno, sem controle.
— Você me deixou. Você deixou todo mundo! Você nos deixou em Mount Weather pra morrer e nos forçou a matar todo mundo que nos ajudou! — Bellamy proferiu, aumentando o tom a cada palavra, até que terminou praticamente berrando. — Pessoas que confiaram em mim!
A postura dela mudou, os ombros dela caíram e ela o encarou com tanta culpa no olhar que Bellamy ficou tonto. Ele demorou alguns segundos pra perceber, mas então levou os dedos até a bochecha, sentindo sua pele molhada, ele tinha chorado no meio da discussão, que merda!
Ele se virou, ficando de costas para Lyra, sem poder olhar pra ela por nem mais um segundo ou então ele desmoronaria. Bellamy tinha se manter firme, tinha que pensar em seu povo, não podia se deixar levar pelo o que quer que ele sentisse por Lyra.
— Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. — Bellamy quase cambaleou ao ouvir a voz dela, baixa, quase um sussurro, mas quebrada.
Ele reuniu um pouco da coragem que restava pra se virar e olhar para ela por cima do ombro. A encontrando sentada na cadeira, olhando para o chão. Mas então ela levantou o olhar, o encarando, parecendo perdida e desorientada, as lágrimas caindo de seus olhos como cascatas, sem controle, Bellamy tremeu.
Ele sabia que tinha machucado ela, e a culpa por isso ameaçou afogá-lo. Bellamy sabia que ela não tinha forças para lutar contra Lexa naquele dia, tanto que ela desmaiou no meio do caminho. Ele sabia que ela não queria ter ido embora, que ela se sentia responsável por todas aquelas mortes tanto quanto ele. E ainda assim, ele jogou tudo isso na cara dela, e pior do que isso, ele a fez se sentir responsável por aquilo, desde a guerra até o tormento dele.
Bellamy jogou o rádio de Raven na água e foi responsável pelo abate que matou 320 pessoas; Bellamy ajudou a puxar aquela alavanca que irradiou o nível 5 e matou todos os montanheses com radiação; Bellamy assassinou um exército de 300 pessoas a sangue frio; mesmo com tudo isso, Bellamy nunca se sentiu tão monstruoso quanto agora.
Antes que pudesse conter o impulso do seu corpo, ele caminhou até ela, lentamente, hesitante. Ela não moveu um músculo, apenas continuou com os olhos nele, observando seus movimentos com atenção. Bellamy se aproximou o suficiente para se ajoelhar diante dela, querendo confortá-la, querendo pedir desculpas, mas sua garganta se fechou. Lyra pareceu conseguir encará-lo por muito mais tempo, abaixando o olhar e encarando os próprios joelhos.
— Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo. — Lyra chorou, balançando a cabeça e olhando para o chão. — Eu não queria machucar você.
Bellamy respirou fundo, baixando o olhar, tentando encontrar as palavras certas. Elas estavam lá, presas em sua garganta, mas não conseguiam sair. E a culpa o sufocava cada vez mais.
— Eu sinto muito também. — Ele conseguiu dizer, a voz grave, praticamente sussurrada. Era verdade, ele sentia, por tudo. Por ter gritado com ela, pela guerra, por Mouth Weather.
Bellamy hesitou, sua mão pairando no ar por um momento antes de se mover quase por conta própria, pousando no joelho de Lyra. Era a segunda vez que Bellamy se movia para um gesto tão íntimo. Em nenhuma dessas vezes ele soube exatamente porquê fez isso — talvez porque palavras não fossem suficientes ou porque algo dentro dele clamava por conexão, mesmo que pequena. Era estranho, ele não costumava sentir aquele tipo de coisa, nem com Gina, nem com nenhuma das outras pessoas que ele já ficou na vida, só com ela.
Lyra encarou a mão dele por um tempo, ele não conseguia dizer o que ela estava pensando e isso o deixou nervoso, mas ela não se moveu para afastá-lo, então Bellamy também não se moveu.
— As pessoas que você matou... — Ela começou, finalmente olhando nos olhos dele. — Você vai ver o rosto delas toda fez que fechar os olhos. Sabe disso, não é? — Ela deu uma pausa sufocante. — Elas nunca vão deixar você.
É, Bellamy sabia disso. Ele era atormentado por esses rostos a tempos, desde os rostos que sua mente inventou das pessoas do abate, às pessoas de Mount Weather, com bolhas no rosto e queimaduras na pele, e agora, ele estava com medo de dormir, pois sabia que haveriam outros rostos a serem vistos.
— Serão mais rostos para minha coleção. — Ele constatou amargamente.
Bellamy sentiu o peso da responsabilidade o esmagando a cada respiração, cada decisão que ele tomava parecia um passo mais perto de algo irreversível. Ele sabia o que precisava fazer. Tinha que prendê-la. Lyra era um risco, alguém que sabia demais sobre eles, pois Bellamy havia passado muitas informações para ela. Se ela tinha entrado em Arkadia sem que ninguém visse, outros mais entrariam. Era perigoso, Pike precisava saber daquilo.
Quando ele tirou a algema do bolso, o
movimento foi quase automático, mas ao mesmo tempo ele sentiu como se o peso daquela ação fosse mais do que ele podia suportar. Ele estava pronto para fazer o que fosse necessário pela sobrevivência do seu povo, como sempre fizera, mas agora, ao olhar para Lyra, a ideia de prendê-la parecia absurda, cruel.
Ele permaneceu com as algemas atrás do corpo, fora da visão dela, apertando o metal contra os dedos, hesitante. Lyra permanecia com os olhos nele, totalmente alheia a sua intenção. Ele se
perguntava se ela ainda o via como aquele cara que tinha arriscado sua vida para salvá-la, ou se agora ele era apenas mais um traidor.
Ele tinha libertado ela, para então prendê-la de novo?
Não! Bellamy não podia fazer aquilo com ela. Ele sabia como era a sensação de ser preso, ele estava naquela jaula ao lado dela, por menos tempo, mas ainda assim. Uma das coisas que eles mais conversaram foi sobre essa sensação sufocante de estar preso, a forma ambos viveram com essa sensação, no sentido figurado, a vida toda, mas estar lá literalmente era outra coisa.
Lyra colocou a mão sobre a dele que ainda estava no joelho dela, a apertando com força. O calor de sua pele o fazendo perder totalmente o foco. Ele se lembrou de uma das primeiras conversas que tiveram sobre o assunto. Quando ele falou com elas sobre pesadelos e ela disse que Mount Weather não era a primeira vez que ela foi presa. E então, ele se lembrou de uma coisa, Lyra não foi só presa, ela foi traída.
Bellamy não estaria apenas algemando ela, estaria a traindo também. E ele já tinha a machucado o bastante.
Ele bateu a algema em cima da mesa com tanta força, que metal contra metal fez um barulho estridente, tirando Lyra do que parecia ser algum transe. Bellamy se afastou rapidamente, se colocando de pé e voltando a olhar para a porta.
— Você devia ir embora por onde quer que tenha entrado. — Ele passou a mão pelo rosto, tentando soar o mais frio possível enquanto abria a porta. — Se Pike te vir, vai te prender com os outros.
Segundos de silêncio fizeram Bellamy se virar para encará-la novamente. Lyra tinha os olhos na algema em cima da mesa, como se fizesse algum tipo de conta complexa. Ela percebeu que ele estava olhando e se recuperou, piscando os olhos e se colocando de pé, limpando as lágrimas com os dedos.
— Você perguntou quantos do seu povo isso ia custar. — Lyra o encarou bem nos olhos, um olhar neutro, mas tão intenso que o deixou tonto. — E agora eu te pergunto, mesmo que Pike vença essa guerra, quantos do seu povo isso vai custar?
Bellamy engoliu em seco, mas não respondeu. Lyra se aproximou alguns passos, mas ao invés de passar por ele, parou ao seu lado, próxima o suficiente pra que ele ouvisse o que ela falou em um tom baixo.
— Você não é um monstro. Mas ninguém vai acreditar nisso se você não acreditar.
E então ela saiu, deixando apenas Bellamy e sua própria bagunça. A sala parecia pequena demais, sufocante. Ele fechou os olhos, tentando controlar a respiração que ameaçava sair de controle. Lyra sempre tinha sido uma presença complicada na sua vida, mas nunca assim. Nunca desse jeito, tão... excruciante. Ele queria odiá-la. Queria que fosse fácil, como pra com Pike, como era com todos os outros que ele culpava por tudo isso. Mas não era.
Ele pegou as algemas em cima da mesa, segurando o objeto como se ele fosse o elo que ainda o prendia à responsabilidade, mas o objeto parecia queimá-lo, um lembrete de tudo o que havia falhado. Bellamy olhou para as algemas em sua mão e, em um gesto de raiva, atirou-as contra a parede o som do metal ecoou pela sala, mas ele permaneceu imóvel, encarando o nada. Ele tinha feito escolhas difíceis antes, mas nenhuma parecia tão errada quanto essa.
Seu peito apertava de uma forma que ele não conseguia descrever. Como se os próprios pensamentos fossem uma corrente implacável, veio a lembrança do toque dela, a voz embargada, e aquelas palavras. Você vai ver o rosto delas toda vez que fechar os olhos. Ele já
sabia disso, claro, mas ouvi-la dizer em voz alta era como receber um golpe. Lyra não estava errada. Ela nunca estava.
Serão mais rostos para minha coleção. Sua própria voz zombava dele. Ele se virou, encarando a porta por onde Lyra havia saído. Ele sabia que precisava reportar isso a Pike, sabia que precisava fazer a coisa certa para proteger o seu povo. Porém, mais uma vez, Bellamy se perguntou se que ele vinha chamando de "o certo" era, de fato, o que ele acreditava.
6282 palavras.
QUEM É VIVA SEMPRE APARECE.
Eu sei que demorei muito para atualizar a fanfic, mas em minha defesa... eu não tenho uma. Só posso pedir desculpas pela demora exorbitante.
Saibam que foi tudo culpa do Bellamy, esse idiota confuso que faz muita merda (Mas eu amo ele mesmo assim).
Bom, de presente, esse é o capítulo mais longo dessa história até agora, ele exigiu certa força emocional pra escrever, e eu espero que vocês tenham gostado.
Gente, eu prometo que vou voltar com as atualizações o mais regularmente possível. Não tenho certeza se ainda esse ano, mas eu não abandonar essa história, eu juro.
Bom, provavelmente eu não vou atualizar antes do Natal, então já desejo boas festas a todos que comemoram. (Não vou falar feliz ano novo, porque acho que consigo soltar o capítulo 8 antes do dia 31, mas de qualquer forma).
Não se esqueçam de votar e comentar dizendo o que acharam, beijinhos.
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