03 - PRIORITIES
CAPÍTULO TRÊS
❛prioridades❜
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𝙰𝚁𝙺𝙰𝙳𝙸𝙰
25 𝚍𝚒𝚊𝚜 𝚊𝚙𝚘́𝚜 𝚊 𝚍𝚎𝚛𝚛𝚘𝚝𝚊 𝚍𝚎
𝙼𝚘𝚞𝚗𝚝 𝚆𝚎𝚊𝚝𝚑𝚎𝚛
Parecia que a cada dia Arkadia ficava cada vez mais cinza, ou talvez fosse apenas ele mesmo.
Era noite, haviam poucas estrelas para iluminar o lugar, a única luz vinha do fogo que dançava no centro de Arkadia, haviam várias pessoas ao redor, algumas delas dançavam, outras estavam envolvidas em conversas, e outras estavam apenas em silêncio encarando a fogueira, como Bellamy nesse momento.
Era estranho, enquanto todo o redor se encontrava em paz, sua mente continuava uma bagunça. As dúvidas e os medos martelando nela fortemente, o deixando incapaz de relaxar nem por um segundo. Ele tinha até tentado beber um pouco do luar de Monty, só pra ver se a bebida desligava seus pensamentos pelo menos um pouco, mas até então, não tinha surtido efeito.
— Bellamy! Bellamy! — Ele se virou para o coro de vozes infantis correndo até ele e sorriu instantaneamente.
— Ei! — Bellamy acenou entusiasmado quando elas se aproximavam.
— Termina a história que você estava contando! — Um dos garotos, chamado Ethan, pediu.
— É! A gente quer saber quem Páris escolheu! — Um garotinha, Julie, deu pulinhos de alegria. Bellamy riu da empolgação.
Toda noite da fogueira, Bellamy contava uma história pras crianças, era algo que ele costumava fazer no módulo, mas continuou com a tradição em Arkadia. A última da vez foi "A Escolha de Páris", onde, depois de ser a única não convidada para o casamento de Peleu e Tétis, a deusa Éris apareceu, e jogou uma maçã de ouro no meio dos convidados, intitulada "para a mais bela". Incapaz de escolher entre Afrodite, Hera e Atena, que imediatamente reclamaram o direito a maçã, Zeus decide que Páris, príncipe de Troia, devia fazer a escolha.
Ele não conseguiu terminar a história, pois tinha ficado muito tarde para as crianças ficarem acordadas — O qur também era um pouco culpa dele, pois ele demorou muito pra voltar do lago brilhante —, e aparentemente, os pequenos tinham passado os últimos dois dias curiosos.
— Certo, sentem-se então crianças. É hora da história.
Elas se empolgaram, chamando outros amigos, em poucos minutos, Bellamy se viu cercado de crianças. Outras pessoas, como Monroe, Harper, Monty, até mesmo Octavia, Lincoln e Raven se juntaram a roda. Então, ele se colocou de pé, retomando a história.
— Onde eu estava? Ah sim. Depois que Zeus deu a missão a Páris para escolher qual deusa era a mais bela, todas elas seguiram até a Montanha de Kaz, onde ele morava... E então, o pediram para escolher.
Enquanto contava a história, seu olhar se desviou e, um pouco mais longe, ele pôde ver a garotinha de cabelos avermelhados os observando. Bellamy acenou para que ela se juntasse, e a menina se dirigiu para a mulher ao seu lado, parecendo implorar por algo.
— Mas Páris estava muito indeciso. Então, as deusas resolveram tentar suborná-lo para que ele as escolhesse.
Ele viu Reese se infiltrar entre as pessoas, se juntando a roda e se sentando no tronco para ouvi-lo, e então sorriu, continuando a história.
— A deusa Hera, ofereceu a ele poder e domínio sobre toda a Ásia. A deusa Atena, o prometeu sabedoria e habilidades militares inigualáveis. — Bellamy se aproximou de Reese e, simulando uma mágica, ele tirou de trás da orelha da garota a tão querida e procurada presilha dela, que ele tinha encontrado naquela manhã e estava apenas esperando a oportunidade para entregar a dona. A garotinha sorriu largamente, com os olhos brilhando enquanto pegava o objeto em mãos. — Já Afrodite, ofereceu a ele o amor da mulher mais bela do mundo, Helena de Esparta. Pergunta rápida, qual vocês escolheriam?
— Amor!
— Sabedoria!
— Poder!
— Qual é! Imagina você ter poder sobre um continente inteiro. — Raven argumentou.
— Sem sabedoria pra comandar tudo isso, não adianta de nada! — Monty retrucou.
— E além de sabedoria, ele ainda ia ganhar habilidades militares da Atena. Apenas lucros. — Octavia acrescentou, tendo ouvido aquela história mais de mil vezes, mas sempre com a mesma empolgação em todas elas.
As mais diversas respostas foram ouvidas, tanto pelas crianças quanto pelos mais velhos. Antes que as coisas saíssem do foco — E antes que os jovens entrassem em uma discussão mais acalorada que as crianças —, Bellamy continuou a história.
— Bom, Páris escolheu o amor. E imediatamente, Afrodite fez sua mágica e o levou até Helena, e ambos se apaixonaram a primeira vista e fugiram para Troia na calada da noite.
Ou Páris sequestrou Helena e a levou. Expulsando a própria mulher e o filho e os deixando na miséria.* Mas essa era uma parte que as crianças não precisavam saber.
— Mas havia um problema: Helena era casada. — Bellamy pôde ouvir algumas exclamações surpresas e risadas. — O marido dela era Menelau, o rei de Esparta. Que ficou furioso, e declarou uma guerra a Troia.
— É nessa guerra que tem o cavalo de Troia, não é? — Um dos garotinhos pergunta, Bellamy assente.
— O que o cavalo de Troia faz? — Outra criança pergunta, mas antes que Bellamy pudesse responder, ele é interrompido.
— Ele é feito de madeira. Foi por ele que os Espartas se infiltraram em Troia e mataram todo mundo.
Bellamy prendeu a respiração ao reconhecer a voz, embolada e um pouco baixa, todos se viraram na direção dela, encarando a pessoa que estava parada em pé, de braços cruzados, encarando a roda fixamente.
Jasper.
O clima ficou tenso de imediato, talvez não para as crianças, mas para os restantes dos 100, com certeza. Jasper foi andando calmamente, cambaleando um pouco, só então Bellamy notou que ele tinha um copo na mão.
— Eles entraram nas casas e mataram todos, sem distinção. Mataram os soldados, os inocentes, pais, mães, filhos, crianças. Não pouparam ninguém. — Ele olhava diretamente para Bellamy enquanto falava, e estava claro para quem sabia a história que ele não estava falando dos Espartanos.
Era sempre assim. Jasper não interagia com ninguém além de Raven, Octávia e às vezes, Abby ou Marcus. Isso sóbrio. Quando ele bebia — o que vinha se tornando hábito nos últimos dias — se ele não estava jogado em algum canto de Arkadia, completamente entorpecido, ele estava gritando a plenos pulmões o quanto Bellamy e Monty eram dois monstros assassinos para todos alí ouvirem. Eles tentaram ajudá-lo, tentaram mesmo e tentaram muito, mas chegou num ponto em que a maioria havia desistido.
Bellamy e Monty ainda tentavam, mas o ódio de Jasper por eles era tão intenso e genuíno, que Bellamy sentia o estômago esfriar toda vez que ele estava por perto.
— Cara, não faz isso. — Ele tentou apaziguar a situação, não querendo que as crianças vissem nenhuma cena, mas foi surpreendido por um líquido sendo jogado bem na sua cara, fazendo-o fechar os olhos por reflexo.
Ele jogou bebida em mim?
Bellamy passou as mãos pelo rosto, constatando que sim, Jasper tinha jogado bebida nele. Abrindo os olhos, ele respirou fundo, encarando o ódio puro nos olhos do amigo. Ou seria ex-amigo? Ele não tinha certeza.
Ele costumava sentir culpa por aquilo, ainda sentia, mas agora, o sentimento maior em seu coração quando viu aquilo foi cansaço.
Sim, Jasper tinha perdido alguém. Sim, ela não merecia morrer. Sim, nem todos naquela montanha mereciam morrer. Sim, foi cruel e desumano matar todas elas assim. Mas não, nada daquilo era justificativa para Jasper fazer a vida de Bellamy um inferno. Ele mesmo já fazia isso sozinho, muito obrigado.
— Acabou o show? — Bellamy foi seco, talvez até um pouco cruel. Todos ao redor estavam no mais completo silêncio.
— Jasper, vai embora! — Octávia se aproximou, tentando puxar o braço dele, mas ele nem se mexeu. Desviando o olhar, Bellamy pôde ver Lincoln e os outros tirando as crianças dali e as levando até seus responsáveis, e ele os agradeceu mentalmente por isso.
— Por que está tentando me afastar? — Jasper se virou para a garota. — Seu irmãozinho é o assassino aqui. Não tem medo de deixar ele perto dessas pobres crianças inocentes?
— Ah, Jasper. Cala essa merda de boca! — Bellamy se revoltou, sentindo as pessoas próximas prenderem a respiração. Ele nunca tinha falado daquele jeito com Jasper antes, sempre permanecendo calado e absorvendo toda a culpa que o garoto jogava sobre ele.
Não hoje. Bellamy tinha chegado ao seu limite.
— Ui. — Ele levantou os braços pra cima, em claro sinal de deboche. — Viu o que eu disse? Eu teria medo se eu fosse vocês.
— Jasper, chega! — Raven gritou, mas foi ignorada.
— É Jasper, chega! — Bellamy dá dois passos, ficando cara a cara com ele. — Por que não vai se dopar em outro canto e me deixa em paz?!
— Bell...
— Não, O! — Ele interrompe a irmã. — Já chega, mesmo! Porque eu 'tô cansado!
A essa altura, mais da metade do acampamento estava observando a confusão. Bellamy sabia que devia ficar quieto, voltar para o seu quarto e ignorar Jasper até a próxima manhã, como normalmente fazia. Mas as palavras estavam entalados na sua garganta, o sufocando, implorando desesperadamente para sair, então ele as deixou.
— Eu 'tô cansado de você; cansado desse lugar; cansado dos terrestres; cansado de não dormir; cansado de me sentir cansado; Parabéns Jasper, você conseguiu! Minha vida é um inferno e você só piora ela a cada dia.
Os arkadianos pareciam completamente chocados. Ninguém esperava aquela explosão de Bellamy, nem mesmo as pessoas que desceram com ele no módulo de transporte e acompanharam a ascensão do "O que diabos quisermos" bem de perto. Bellamy tinha sido muito mais calmo e ponderado desde que voltou de Mount Weather, obviamente guardando tudo pra si, não se achando digno de reclamar de nada, nem mesmo de Jasper.
Honestamente, nem Bellamy sabia exatamente porquê estava surtando. Talvez ele precisasse explodir, pôr pra fora tudo o que ele estava sentindo pra aliviar um pouco o peso no peito que ele carregava desde Mount Weather; Talvez fosse o efeito da bebida alterando seu humor; de qualquer forma, dessa vez, ele não se calou.
— Espero que esteja satisfeito. — Ele disse, mas Jasper continuou o encarando calado. — Não está, não é? Claro que não. Porque não importa o quanto você me odeie, o quanto você me atormente, fazer minha vida miserável não muda o fato de que a Maya continua morta!
Era isso, Bellamy tinha tocado no assunto proibido, dito com todas as letras, agora ele que arcasse com as consequências.
Ele mal tinha terminado de falar quando Jasper avançou sobre ele, lhe dando um soco no rosto. Bellamy cambaleou, tendo sido pego de surpresa, mas mesmo quando Jasper continuava a se lançar sobre ele, ele não revidou ou se mexeu, primeiro porque os golpes de Jasper não eram fortes ou certeiros, mas moles e tortos devido ao seu estado de embriaguez. Segundo, porque no final das contas, Bellamy merecia uns socos.
A comoção podia ser ouvida, como em toda a briga, haviam os assustados, os que tentavam controlar a situação e os empolgados. Não demorou muito para Jasper ser tirado de cima de Bellamy por Abby e Kane, sendo levado para longe por eles. Bellamy permaneceu parado no lugar, absorvendo a situação e as malditas palavras que saíram de sua boca.
Merda! Ele tinha estragado tudo, como sempre!
Bellamy olhou para o chão, colocou as mãos no bolsos da jaqueta e saiu andando em direção a saída de Arkadia. Ouviu muitas vozes chamando por ele, mas ignorou cada uma delas, saindo e se infiltrando nas sombras, dessa vez, sabendo exatamente o seu destino.
Talvez ele não devesse fugir toda vez que as coisas dão errado. Mas que se dane!
[•••]
O caminho não parecia tão longo agora que ele o fazia pela segunda vez. Talvez porque agora sua mente não estava tão entorpecida. Tendo decorado o caminho — graças a gentil garota das estrelas que o acompanhou até Arkadia a dois dias — ele seguia pelas árvores rapidamente, sem pensar em olhar para trás.
Não soube exatamente o que o motivou a ir para lá, mas era o único lugar além de Arkadia que ele tinha pensado. E talvez ficar fora de Arkadia ainda não fosse seguro, mas honestamente? Que se foda!
Que se foda Jasper, que se foda Lexa, que se foda Clarke, que se foda Arkadia, que se foda os terrestres, que se foda o caralho do planeta inteiro, ele não se importa.
Seu sangue borbulhava, o ódio nas véias e a exaustão mental o atingindo com força. Ele conteve a vontade de socar alguma árvore de novo, pois seus dedos ainda estavam doloridos da última vez.
Aos poucos, ele foi sendo guiado por uma luz que saia por entre as árvores. Ao entrar na clareira, foi agraciado por aquela visão majestosa novamente, ele parou, ainda com as mãos nos bolsos, admirirando. E no meio da paisagem, lá estava ela, com os cabelos soltos dessa vez e os pés descalços submersos na água, fazendo com que ela brilhasse.
— Você 'tá me seguindo de novo, garota das estrelas? — Bellamy disse suavemente. Ela não pareceu se surpreender ou se assustar com a presença dele, ao invés disso, permaneceu encarando o lago.
— "Te seguir" implica "Estar atrás". E eu cheguei aqui primeiro. — Lyra o encarou por cima do ombro. — Será que não é você que está me seguindo, garoto do céu?
Bellamy sorriu largamente, caminhando até a borda do lago se sentando ao lado dela. Ambos ficaram assim por alguns minutos, lado a lado nesse silêncio confortável, até Bellamy decidir quebrá-lo:
— Se você não está me seguindo, então por que está aqui?
Eles tinham se encontrado naquele lago a dois dias por pura coincidência, não tinham conversado muito e, se fosse honesto, Bellamy não esperava vê-la novamente, mas aqui estavam.
— Eu não sei. — Ela deu de ombros — Eu precisava de um tempo e... Esse foi o único lugar que eu pensei além da minha casa. — Bellamy suspirou, um pouco impressionado pelo fato de ambos terem o mesmo raciocínio. — E você, por que está aqui?
— Mesmo motivo da última vez. — Ele abraçou os joelhos contra o peito. — Arkadia é um inferno.
Lyra não sabia nem da metade, Bellamy não tinha ousado se abrir, eles não eram mais do que meros conhecidos a essa altura, então ele não tentou explicar nem nada, apenas permaneceu em silêncio, olhando para o lago, ela também não disse mais nada, e eles ficaram quietos por longos segundos até Bellamy perceber que ela olhava fixamente para ele, mais especificamente para o rosto dele.
— O que foi?
— Nada. — Ela deu de ombros. — Só estava olhando as estrelas. — Bellamy franziu o cenho. — No seu rosto. São bonitas.
Bellamy demorou um pouco para entender o que ela quis dizer, mas quando o fez, sentiu as bochechas esquentarem violentamente. Ninguém ligava pra suas sardas, na maioria das vezes, as pessoas nem reparavam, então ele não sabia como reagir com esse tipo de comentário.
— O nome disso são sardas. — Ele disse. — É coisa genética, eu acho.
— Gosto mais de pensar que são estrelas. Faz sentido, já que você veio do céu.
— Você é da terra e tem estrelas no corpo.
— Só que você nasceu com elas. Eu fiz as minhas. — Ela ergueu um pouco a manga da blusa, deixando a mostra as estrelas em seu antebraço para que ele visse. — São minhas marcas da morte.
Ele ficou um tanto surpreso com essa revelação, primeiro porque quando Clarke comentou sobre isso, ele achou marcas da morte eram apenas cicatrizes robustas, e segundo, já fazia algum tempo, mas ele ainda se lembrava meio por cima da quantidade de estrelas que tinha visto no corpo dela, e eram muitas. O perturbou um pouco que ela tivesse matado tantas pessoas, mas ela era uma terrestre, não devia ser nada incomum para ela.
De repente, ele sentiu uma súbita curiosidade sobre o que significava então aquela constelação na costela dela, mas ele não teve coragem pra perguntar, ao invés disso, optou apenas por um simples comentário.
— Nunca imaginaria. As marcas da morte que eu já vi são bem diferentes.
— O que eu posso fazer? Sou mais criativa. — Lyra sorriu.
Conversar com ela era fácil, Bellamy nunca se sentiu tão a vontade conversando com alguém quanto com Lyra. Ela sabia ouvir e também era divertida, não fazia ele se sentir desconfortável em nenhum momento. Quando Bellamy se deu conta, tinham ficado horas alí, ele voltou para Arkadia com um sorriso no rosto, e mesmo que não tivessem combinado nada, ele sentia que se veriam novamente e gostou daquilo.
Talvez ele tenha perdido um amigo, mas fez outra. Era algo bom, certo?
[•••]
𝙿𝙾́𝙻𝙸𝚂
𝚊𝚝𝚞𝚊𝚕𝚖𝚎𝚗𝚝𝚎
Voltar pra Polis não foi um desafio, Lyra já tinha feito aquele caminho milhares de vezes a vida toda. Desviando dos soldados, ela entrou na grande torre com uma facilidade impressionante, ela se dirigiu diretamente até a sala do trono, ensaiando a maior cara de sonsa que conseguia.
Ao chegar lá, viu Lexa sentada em seu trono de madeira conversando com Titus e revirou os olhos. Só ficar no mesmo ambiente do homem já fazia seu sangue ferver, mas ela não tinha muita escolha, já que ele era o Fleinkepa de Lexa e ocasionalmente treinava os natblidas — o que vez ou outra a incluía.
Assim que viu a irmã, Lexa o dispensou de imediato, e ele sequer olhou para Lyra quando passou por ela, mas ela não se importava.
— Dia difícil? — Ela perguntou ao ver a feição cansada da irmã — Como foi com Wanheda?
— Tão bom quanto eu esperava. — Lexa suspirou. — Ela cuspiu na minha cara.
Lyra não conseguiu evitar a risada totalmente honesta que soltou.
— Ok, eu definitivamente queria estar aqui pra ver isso.
— É, mas você não estava.
Ela encarou a mais velha, que ajeitou a postura. Lexa sabia, Lyra tinha certeza, ambas se conheciam o suficiente, ela já estava esperando por isso. Ao ver o silêncio da irmã, Lexa continuou.
— Roan me disse que você estava seguindo ele. — Lyra riu sem humor.
— Claro que disse. Exilado fofoqueiro.
— E por que?
— Não é óbvio? — Lexa levantou uma sobrancelha, Lyra suspirou. — Eu não confio nele.
— Eu o dei uma ordem direta.
— Nossa, isso faz dele totalmente digno de confiança agora. — A mais nova foi sarcástica.
Lexa passou a mão pelo rosto, respirando fundo. Lyra sabia que a irmã estava cansada dela. Ela falava demais, não tinha respeito por nenhum embaixador ou comandante de nenhum clã. Ela também fazia piadinhas frequentes e adorava provocar quem não devia na hora errada, além de estar sempre contradizendo ordens, palpitando ou interferindo em missões dos outros.
— Olha, não havia nada que impedisse ele de levá-la até Azgeda, então eu resolvi seguí-lo e garantir que ele cumprisse a missão como deveria. — Ela explicou. — E eu não queria falar nada, mas eu realmente acho que eu teria feito um trabalho melhor. Eles quase se mataram, tipo, dezenas de vezes no meio do caminho.
E eu torci pra Wanheda em todas. Ela pensou, não disse.
— Isso explica porque o seguiu, mas o que te fez simplesmente interferir na missão dele? — Lyra bufou com a pergunta de Lexa, até isso ele tinha contado?
— Acredite ou não, fiz isso pra te ajudar. — Lexa a lançou um olhar descrente. — Escuta, eu sei que o Roan tem um coração de gelo e é desprovido de emoções, e que você segue toda essa bobagem a risca de "amor é fraqueza". — A Heda se remexeu desconfortável ao ouvir a frase, mas não interrompeu. — Mas a Clarke não é assim. Aquele cara é amigo dela, e ela se importa com ele. Ela literalmente implorou ao Roan pela vida dele. Se ele o matasse, qualquer tipo de acordo que você pensaria em ter com ela ia cair por terra. Ela ia te odiar mais do que já odeia. Cuspir no seu rosto? Ela ia cortar sua garganta. E embora eu acredite que você possa muito bem se virar sozinha, você ainda teria que matá-la, e eu sei que não quer isso. Fiz isso pelo seu bem e pelo bem do nosso povo.
Ela ia dizer que seu povo é sua irmã foram as últimas coisas que pensou quando viu Bellamy no chão com uma espada na garganta, e aquela era só uma desculpa que ela tinha pensado no caminho? Não, ela não ia.
Mas mesmo com toda a sua incrivelmente plausível explicação, Lexa ainda encarava a irmã cética, e Lyra odiava como a Heda parecia conhecer cada mísero detalhe dela, mesmo que fosse mútuo.
— Eu sei que você o conhece, Lyra. Acha que eu não sei que você tem se encontrado com ele a meses? — Lyra prendeu a respiração. — Eu sou a comandante, nada passa por mim.
A mais nova passou a mão pelos cabelos, decidindo ser sincera.
— Ele salvou minha vida na montanha. — Ela deu de ombros como se não fosse nada. — Viramos amigos sim, e?
— Então você interferiu na missão do Roan para salvar seu amigo?
Lyra quis se jogar da janela daquela torre. Odiava a forma como sempre parecia totalmente transparente para Lexa, nada passava por aquela mulher.
E de qualquer forma, no que aquilo importava? Clarke tinha chegado a Polis. Com muito ódio no coração, compreensivelmente, mas viva. No que isso interferia exatamente?
— Ok. Talvez eu me importe com ele. E talvez eu não quisesse que o Roan fosse o responsável pela morte de outro amigo meu. — Ela viu Lexa enrijecer com a menção desse acontecimento. — Mas isso com certeza não faz diferença alguma agora.
— Nós já falamos sobre isso.
É, nós fizemos. Muitas vezes. Lyra pensou. E sempre acaba do mesmo jeito.
— Eu não sou como você, 'tá bom? — Lyra argumentou. — Sentimentos são humanos, Lexa, você não pode evitar sentí-los por mais que queira.
— É fraqueza. — Lexa afirmou.
— Sinto muito irmãzinha, mas somos todos fracos. Lide com isso.
A Heda se calou, Lyra não soube se ela se cansou de argumentar ou se ela não tinha mais argumentos. Por fim, Lexa apenas se levantou do trono e passou por Lyra.
— Eu espero que saiba o que está fazendo, Lyra. — A mais velha disse enquanto saia. — Lembre-se, a prioridade de um líder é seu povo.
Mas eu não sou a líder. Lyra quase disse, mas Lexa já tinha ido, deixando a irmã sozinha na sala. E se os ancestrais forem bons comigo, eu nunca serei.
3634 palavras
*Existem muitas versões dessa história (De todas as histórias gregas na verdade), optei por usar a mais leve porque o Bellamy certamente amenizaria a história para as crianças.
Bom, eu sei que todo mundo quer saber porque eu não atualizo a mais de um mês, certo?
Não é uma história mirabolante, é bem simples na real: Fiquei sem celular. Meu pocket que tava prometendo ir de vala desde o início do ano finalmente foi, e depois de ter que escrever em cadernos de escola, em guardanapos e até mesmo na minha própria mão pra não perder a ideia, finalmente consegui terminar os capítulos e passar pra cá.
Falando sobre o capítulo: Dá pra identificar que as duas primeiras cenas são flashbacks? Coloquei a data, mas não sei se ficou confuso.
Enfim, ainda hoje tem mais dois capítulos por vir, votem e comentem o que acharam, beijinhos.
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