8- favorite crime






capítulo oito:
but he never said,
'cause it wasnt love.









O silêncio era ensurdecedor.

Era como se todas as músicas do mundo berracem contra os tímpanos finos Mackenzell ao mesmo tempo em que tudo ao seu redor parecia calmo de mais. Sua pulsação era fraca e seus olhos buscavam o nada em específico.

Era como se o caos do festival ainda corresse por suas veias.

A garota piscou, e deixou que seus olhos se fechassem por tempo maior que o necessário.

Estava cansada.

Todos os seus ossos doíam e ela sabia que devia ter marcas roxas por seu antebraço, um presente ganhado quando caiu com o corpo na grama cortante.

Era como se sua mente tentasse ao máximo silenciar a voz ansiosa de Rafe Cameron, que ao seu lado, não tinha parado de falar desde que entraram naquele carro.

Ela não se lembrava de muita coisa, só de aceitar quando ele a puxou pela multidão e a enfiou no carro dele. Se lembrava de ele tentar tocar seu queixo ensanguentado mais de uma vez, tentando a ajudar, mas recusou seu toque, o mais rápido que pôde.

Ela não ouviu o que ele disse, mas quando se deu conta, estava encarando o garoto cheirando uma carreirinha contra o porta luvas.

——— Eu preciso que você me diga o que fazer, Kenzell. Porque eu não sei como te ajudar. — Rafe parecia desesperado pela primeira vez. Seus olhos estavam perdidos e seus cabelos desgrenhados. — Você quer? Isso ameniza dor. — Ele disse, apontando para o saquinho transparente que ele carregava.

Os olhos marejados de Mackenzell eram tristes quando ela deixou que uma risada fraca saísse de sua boca.

— Você tá me oferecendo coca? — Pela primeira vez, ela gritou e deixou que seus olhos chegassem nos dele.

— Me desculpa, me desculpa.

— Qual a porra do seu problema? — Ela não queria brigar, estava farta de qualquer coisa que tivesse a ver com ele, então ela se deixou explodir.

Ignorando seus protestos, ele pegou o pequeno pano que tinha no porta-luvas, insistindo em limpar os ferimentos em seu rosto, principalmente seu queixo. Ela tinha se afastado no segundo em que Rafe tentou limpa-la, e se encolheu contra a porta do carro. Como uma criança assustada.

— Me deixe limpar isso, Kenzell...

Relutante, Mackenzell deixou que ele se aproximasse e começasse a limpar o sangue seco de seu queixo, cuidadosamente. Enquanto lágrimas tímidas escorriam por suas bochechas.

— Me desculpa por ter sido tão bruto, eu estava tentando te proteger. — O sussuro dele quebrou o silêncio. Seus rostos estavam próximos, enquanto ela erguia o rosto, para que ele tivesse uma visão melhor do pequeno corte.

— Me leva pra casa, Rafe. Por favor. — Ela sentiu um nódulo grudar em sua garganta, desviando o olhar, sem querer deixar que nenhuma outra lágrima descesse.

— Não posso te levar pra casa e simplesmente te deixar machucada, a gente tem que fazer um curativo nisso.

— Você quem me machucou, Rafe.

— Não, eu tava te protegendo, estava te tirando de uma briga da qual você não devia ter se metido. Eu estava te protegendo daquele maldito Pogue.

— É? Tava mesmo? Não foi ele que me jogou na grama e abriu um buraco na porra do meu queixo! — Ela gritou, com o resquício de voz que lhe restava, deixando que seu punho cerrado encontrasse o air bag do carro com força.

— Ah, e o que queria que eu fizesse, ein? Porra! Você não devia ter ido atrás de mim, a culpa é sua! — O tom de voz dele era mais alto, e seus movimentos mais agressivos.

— A culpa é minha, Rafe? Você esta se ouvindo agora cara?

— Você não devia ter se metido, eu ia resolver, eu ia resolver o que aqueles Pogues tinham feito comigo e com Topper. Mas não, você é mesquinha de mais pra esperar cinco minutos.

— Cinco minu... Caralho, vai se foder, conversar com você é como conversar com uma criança.

— Ah, eu sou a criança? Eu sou a criança, você que não podia deixar esse seu lindo traseiro quieto e esperar por mim. Eu sou uma pessoa proativa, Mackenzell.

— Ia sentar e esperar enquanto você arrumava uma briga desnecessária e fodia com o feriado de todo mundo? — Ela disse, dessa vez desafivelando o cinto, e rindo em escárnio. — Você é ridículo.

—  Você se acha tão inocente, tão sensata, como se eu fosse um idiota que não tem ideia de todas as merdas que estão passando na sua cabeça agorinha, não é? Pensando em como eu sou o vilão, como se eu não soubesse que você estava toda soltinha lá, que no final das contas, não importaria se eu estava certo ou não, você tentaria fazer tudo aquilo parecer leve pra ele. Defenderia-o até do ataque de uma mosca, Mackenzell.  Admitia.  Eu sei exatamente o que você está fazendo, porque já fez isso antes, você tem a porra do seu ciclo de auto sabotagem. Só não venha atrás de mim de novo quando ele disser que não te ama.

Ela não sabia o que responder.  Mackenzell começou a soluçar enquanto procurava por uma resposta plausível para se defender, sua respiração estava desregulada, e simplesmente nenhuma palavra do alfabeto saberia se juntar em frases que a defendessem. Então ela abriu a porta do carro, e quando saiu, bateu com toda a força que tinha, apertando o paço o máximo que pôde, mas o pé de Rafe Cameron no acelerador foi mais rápido. E mesmo o andar da noite não a impediu de chorar compulsivamente.

Ela tinha os braços encolhidos e abraçados contra o próprio corpo, enquanto dava paços espaçados. Tentando fugir daquela conversa, fugir dele.

O estacionamento estava vazio. Os protestos de Rafe seriam audiveis a quem quisesse parar e desfrutar da cena, mas não tinha mais ninguém. Já devia ser tarde da noite, e o único confidente dos dois era o luar.

— Entre no carro! — Rafe gritou, com a janela aberta. Ela ignorou, continuou andando, sem dar ouvidos. — Entra na porra do carro, Mackenzell.

— Não! Eu vou pra casa. — Ela gritou de volta, pareciam dois malucos discutindo. Tudo em seu corpo doía, sua mente pesava, e só o que ela queria era um banho e chorar até cansar. Ela só queria paz.

— Você vai entrar nesse carro, vamos resolver isso e eu vou te levar pra casa. Só não testa a porra da minha paciência! — Sua voz foi mais agressiva dessa vez. Não era mais uma súplica, era uma ordem. — Mackenzell... Por favor. Você sabe que eu não quis dizer nada disso.

Ela queria que Rafe gritasse com ela, queria que ele voltasse a ser agressivo, que ele arremessasse coisas de dentro do carro, ou simplesmente a jogasse contra a grama de novo, tudo para que ela tivesse mais motivos para larga-lo sozinho, ou somente larga-lo e nunca mais fosse obrigada a olhar em seus olhos de novo.

Mas Rafe sabia usar as palavras, e ela não iria embora, a partir do momento que o ouvir suplicar para que ela parasse de andar uma única vez.

Mackenzell parou de andar no segundo que ouviu a voz de Rafe vacilar.

E foi nesse segundo que ele parou o carro no meio fio, saiu correndo de dentro dele e a abraçou, pedindo desculpas e ela desistiu de lutar.

— Eu nunca tocaria um dedo em você de propósito. — Foi o que ele disse.

— Eu sei... Eu nunca defenderia, — Ela parou de falar e fungou — você sabe. Eu só... Eu não consigo ver, eu... — Foi o que ela disse chorando compulsivamente.

— Tudo bem, me desculpa. Eu devia ter te dito o que aqueles Pogues fizeram, e não simplesmente te largar sozinha, me desculpa, amor. — As mãos de Rafe passavam pelo seu pequeno rosto, enquanto ela lutava contra o toque dele, sem querer que seus olhos se encontrassem. — Não vamos deixar isso estragar o que a gente tem, por favor...

— Tudo bem. — Ela sussurrou.

Foi nesse momento que ela pensou que ele diria que aquilo era amor, mas ele nunca disse.

Porque não era amor.





               A loja de Heyward era um ambiente claro e arejado, na parede, o quadro de Fresh Catch of the day, dizia os preços dos alimentos do dia, e no teto, teias de pesca eram a decoração. Com as paredes brancas manchadas cheias de quadros com trocadilhos, a loja estava praticamente vazia.

No canto direito, um cliente enchia um cooler de peixes para revenda, Kiara, atrás do balcão improvisado, recebia uma nota de dez de um pescador, e em seu lado contrário, JJ estava sentado em um banco de madeira, brincando com uma batata do hortefrute. Enquanto, concentrado, Pope riscava a lista de despesas sobre o balcão.

——— Não deixe isso subir a cabeça, eles eram três, e nós somente dois. — JJ disse, jogando o fruto pro alto. — Isso é bem típico de Kook.

— Ah, é? — Kie comentou, antes de voltar a atender outra pessoa.

— Como teve a ideia do fogo? — JJ disse, voltando sua atenção a Kiara.

— Eu não tive, estava ocupada de mais tentando socar a cara do Topper. — Ela disse, com um sorriso no rosto.

— Foi a Ambrie. — Pope suspirou contra o papel.

— Essa garota é insana. — JJ disse com um sorriso orgulhoso.

— Ela ainda não me disse o que fez com Rafe, e eu não sei se tô afim de saber. — Penou Pope. — Ela vem aí mais tarde.

— Ela é maluca.

— Então somos amigos de uma Kook agora? — Perguntou Kiara já sabendo a resposta. E Pope afirmou com a cabeça. — Eu odeio admitir isso, mas a irmã dela também foi bem legal. — Kiara disse, dando de ombros e andando em direção ao outro lado do balcão, onde os garotos estavam. — Ela te defendeu.

Seus olhos estavam em JJ.

— É, tanto faz. — Ele deu de ombros.

— Eu não acho que... — Kiara começou a falar, mas engoliu o que quer que fosse dizer quando Heyward apareceu, interrompendo a conversa.

— Pope, tem alguém aqui querendo te ver. — Heyward disse, com a voz trêmula no mesmo segundo que Shoupe adentrou o ambiente, com as mãos na cintura.

— Boa tarde, policial. — Pope disse, nervosamente.

— Eu tenho um mandado de prisão por destruição de propriedade. — O homem de meia idade disse, sem cerimônias.

Imediatamente, Pope virou para trás, procurando ajuda nos olhos de JJ, que somente nesse momento, fora perceptível todos os machucados que ele tinha no rosto, incluindo um lábio cortado.

— Como é que é? — Heyward disse, apavorado. — Shoupe, o que foi que ele fez?

— Só mantenha as mãos onde eu possa ver. — Shoupe aconcelhou, e Kiara foi a primeira a levantar os braços. — Mocinha, saia da frente.

Então Kiara deu um passo à trás, se afastando.

— Shoupe, está ouvindo? O que ele fez? — Suplicou, Heyward.

— Dê uma lida no contrato, Heyward. — Ele disse, pegando as algemas em seu bolso. — Vamos, mãos pra trás, garoto.

— Espera, tá prendendo ele? — Kiara disse, desesperada. — Não pode prender ele!

— Você tem alguma prova? — Reclamou JJ, apontando.

— Shoupe, tá machucando ele! Toma cuidado!

— Tem dinheiro envolvido, certeza. Shoupe quanto te pagaram hein? — JJ disse, se segurando para não iniciar uma briga.

— Nao queira ser preso junto, Maybank. — Ele disse, trancando as algemas em Pope. — Você tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal. Você tem direito a um advogado...

— Você vai prender meu filho? — Protestou, Heyward.

Enquanto saíam do estabelecimento, com Pope com os braços algemados atrás das costas, com JJ Maybank protestando, e todos vendo a cena, foi uma das primeiras vezes que Pope percebeu que o futuro que ele sempre quis, era só mais um sonho. E que não importasse o quanto ele se esforçaasse, ele sempre seria um Pogue.

— Que merda é essa? — A voz fina de Ambrie Kook o tirou de todo o transe. — Shoupe, o que tá fazendo? Não pode prender ele!

Suas mãos estavam vazias, e sua voz era alta e ávida, sua raiva era maior do que tudo, e toda aquela figura passiva e dócil que todos conheciam, sumia com o vento, no momento que via uma injustiça. Do mesmo jeito que havia acontecido quando riscou a moto de Rafe, mesmo quando colocou fogo no telão no feriado.

— Mocinha, da licença, preciso que saia da minha frente. — Shoupe disse, visivelmente cansado e nenhum pouco afim de ouvir o que ela tinha a dizer, quando Ambrie ficou prostrada contra a porta da viatura.

— Não, não pode levar ele. Ele não fez nada! Ele não... O Pope não fez.

— O mandado que eu tenho diz que o garoto afundou um barco e invadiu propriedade particular, riscando uma moto de valor. Eu não posso fazer nada. Nem seu pai pode comprar a lei, Senhorita.

Ambrie abriu a boca para falar mas a fechou instantes depois, sem saber como reagir. Ela queria contar, queria gritar que tinha sido ela a culpada, ela quem tinha enfiado cada besteira na cabeça de Pope, mas não conseguiu. Seus olhos encontraram os de Pope, que pareciam pedir para que ela saísse da frente, e simplesmente o deixasse. E foi o que ela fez, deixou-se ser empurrada para longe por Shoupe.

— Não foi ele! Fui eu. Ele foi contra, mas eu estava com raiva porque ele tinha levado uma surra. Eu estava tão de saco cheio dos babacas de Figure 8 que perdi a cabeça. — JJ disse, enquanto de aproximava da viatura. — Não posso deixar você levar a culpa por mim. Você tem muita coisa a perder.

— O que, não foi ele... — Grunhiu Ambrie, que foi silenciada por Kiara, que a segurou.

— É melhor a gente não se envolver. — A morena a abraçou por trás, e sussurou em seu ouvido.

— JJ o que tá fazendo? — Disse Pope, relutante.

— Estou contando a verdade, pela primeira vez na vida, estou contando a verdade. Também roubei o barco do coroa. — Ele deu de ombros, assumindo e Heyward revirou os olhos. Shoupe parecia entretido, parecia ter caído. — Ele é um bom garoto, qual é. Você sabe de onde eu venho.

Shoupe pareceu convencido. E isso machucou JJ de forma absurda, porque não importa o que ele fizesse, ele sabia que não tinha futuro de qualquer jeito.

— É verdade isso? — Shoupe perguntou, com os olhos diretos em Pope. Dando uma última chance para ouvir a verdade.

— Eu juro por Deus. — Mentiu JJ.

— Sei o que você pensa, eu perguntei pro Pope.

A verdade, era só dizer a verdade. Mas os olhos de JJ eram insistentes contra os de Pope.

— Sim, é o que ele disse. — Então Pope mentiu mais uma vez.

Então quando as algemas foram colocadas nos pulsos de JJ e a viatura deu partida, Pope surtou, jogando no chão seu boné.

— Merda! Mais que merda! — Ele reclamou, pisando forte e saindo correndo.




——— O que aconteceu com você? — Foi o que Reece Kook disse, ao se levantar da bancada americana preocupado quando viu a filha mais velha entrar pela porta dos fundos naquela manhã, com o intuito de não ser vista.

Suas roupas estavam desleixadas, de ter passado a noite no carro de Cameron, a bolsa quase caia de seus ombros, suas olheiras estavam altas, sua testa e bochecha tinham pequenos hematomas e o que antes tinha sido um corte no queixo se tornou uma pequena bola roxa e dolorida.

— Meu amor, o que aconteceu? — Sua voz estava mais emposta sobre Mackenzell, que não conseguiu falar nada, só começou a chorar nos braços do próprio pai, que a acolheu, e a levou em direção ao sofá, tentando acalentar sua dor.  — Kenzie, preciso que fale comigo, quem machucou você?

Ninguém tinha a machucado, esse era o problema, ela se envolvia com as coisas erradas, ela quem buscava pelo ruim, e ela recebia de volta apenas o que merecia.

Porém ela contou a ele tudo o que Rafe a tinha dito. Mackenzell começou a falar sobre o festival, contou a seu único confidente e a única pessoa que lhe restava, toda a confusão que tinha se metido e que no final tinha terminado tropeçando na grama, e que seu rosto arrastou na grama e ela acabou assim. Contou sobre o envolvimento de sua irmã mais nova com Pogues, e toda sua preocupação, disse sobre ela riscar a moto de Rafe, contou do fogo no parque. Deixou que tudo saísse.

— Eu acredito em você, acredito em você, meu amor.  — meu amor. — Mas se você me disser que o garoto Cameron quem tocou em você, eu vou até aquela casa, e arranco cada dente da boca dele e te faço um colar.

— Não foi ele, papai. Eu realmente cai. — Ela disse, o abraçando com mais força. Em busca de refúgio.

— Tudo bem. — Sua voz era firme. — Eu darei um jeito no resto, nenhum Pogue imundo tocará um dedo em nenhuma das minhas filhas. — As mãos dele passaram por seus fios lisos, a acalmando. — Dê um tempo para Briê, você ja passou por essa fase, sua mãe passou por essa fase. — Ele deu um sorriso fraco. — Deixa que eu resolvo.

Então naquela tarde, a polícia parou na loja de Heyward. Levando preso JJ Maybank, não Pope Heyward.





















3000 palavras
odiei esse cap, odiei a Ambrie largando a irmã pra trás, odeio o Rafe nessa temporada e odiei a Mackenzell fofoqueira, mas acontece, daq a pouco meus bebês acordam pra vida.

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