18 - Ward Cameron



Capítulo dezoito,
Ward Cameron tried to kill me














Mackenzell despertou devagar, o corpo ainda mole pela exaustão emocional da noite anterior. Seus olhos se ajustaram à penumbra do quarto enquanto ela tentava se situar. JJ estava ali, deitado ao lado dela, respirando suavemente. Eles tinham passado a noite juntos, abraçados, depois dele chorar mais um pouco, como se o contato físico fosse a única coisa capaz de manter ambos inteiros.

Ela ainda sentia o braço dele em volta de sua cintura, pesado, como se ele tivesse medo de soltá-la. Cada vez que ela tentava se mexer, JJ murmurava baixinho no sono e a puxava mais para perto, como se ainda estivesse fugindo dos pesadelos que o perseguiam. O quarto de hóspedes do castelo estava silencioso, e o amanhecer trazia uma luz pálida pelas frestas da janela, tornando tudo meio irreal.

Kiara não tinha entendido muito bem o que havia acontecido entre os dois. Mackenzell sabia que JJ tinha passado por muita coisa, mas ainda assim... Aquilo era estranho. Estranho pra eles também. Ela nunca imaginou que fosse acabar dormindo daquele jeito com ele — não por algo romântico, mas pela necessidade desesperada de estar perto. E ainda mais estranho era o modo como JJ tinha deixado que ela ficasse, sem resistir, sem empurrá-la para longe, como ele costumava fazer.

Enquanto Kiara observava aquilo de longe, tentando entender, decidiu que ia relevar. Eles estavam todos exaustos demais para se preocupar com quem dormiu com quem, e Pope, por sua vez, parecia mais focado em outra coisa: ficar perto da Ambrie.

A verdade é que ele sabia há muito tempo que havia algo entre Mackenzell e JJ, mas naquela noite não tinha energia para lidar com isso.

Depois da confusão e das revelações, o grupo tinha se espalhado pelo castelo para dormir onde conseguissem. Kiara ficou na sala, Pope e Ambrie em outro canto. Havia um cansaço palpável no ar, como se, por algumas horas, todos tivessem se permitido apenas respirar e esquecer da pressão do ouro, das dívidas e dos perigos que os rondavam.

JJ tinha ido direto para o quarto de hóspedes, como se nada tivesse acontecido, fingindo que estava tudo bem. Ele sempre fazia isso: se escondia atrás de uma fachada de normalidade, como se não carregasse marcas por dentro e por fora. Mas Mackenzell não acreditava mais nisso. Quando os outros começaram a se recolher para descansar, ela se esgueirou silenciosamente até o quarto dele. Ela sabia que ele precisava de alguém, mesmo que nunca admitisse.

Assim que entrou, JJ levantou os olhos para ela, cansado, sem dizer nada. E sem pensar muito, Mackenzell se deitou ao lado dele, passando um braço por cima de seu corpo. Ele não protestou. Pelo contrário, a abraçou como se precisasse daquilo mais do que ar e começou a chorar de novo, envergonhado.

Agora, enquanto a luz da manhã entrava pelo quarto, Mackenzell continuava ali, sentindo o coração de JJ bater devagar contra seu peito. O silêncio entre eles era pesado, mas não desconfortável. Ela sabia que, em algum momento, ele precisaria falar. Explicar o que tinha acontecido com o pai dele, o que tinha levado às marcas e à dor que ele escondia tão mal. Mas não iria apressá-lo. Ela ficaria ali o tempo que fosse necessário, até que ele estivesse pronto. Seus olhos passaram por seus hematomas, pensando em como deveriam estar doloridos por agora, que a adrenalina havia baixado.

Do lado de fora, o castelo começava a despertar lentamente. Kiara e Pope conversavam em sussurros, já fazendo planos sobre o que precisavam organizar para tirar o ouro do poço.

Mackenzell passou os dedos suavemente pelos cabelos de JJ, sentindo ele relaxar um pouco mais sob seu toque. Era um pequeno gesto, mas, de algum modo, parecia importante. Talvez fosse a única coisa que JJ precisava naquele momento — alguém que ficasse ao seu lado sem fazer perguntas.

Ela inclinou a cabeça, estudando o rosto dele com cuidado, como se quisesse decifrar os pensamentos que ele mantinha escondidos até enquanto dormia. JJ umedeceu os lábios, quase sem perceber, num gesto automático. E foi ali que o pensamento a atingiu em cheio: o quanto queria beijá-lo.

Por um segundo, Mackenzell parou. O ar ficou mais pesado. Sua mão hesitou sobre o lençol, como se o mundo se suspendesse naqueles milésimos de segundo. Ela podia simplesmente inclinar o rosto e selar seus lábios aos dele... Mas não. Em vez disso, respirou fundo, afundando o desejo. Não era certo,
aquilo só complicaria mais as coisas.

Com cuidado, ela se inclinou e pressionou um beijo leve na clavícula dele, sentindo o cheiro sutil da pele de JJ, misturado com aquele perfume salgado que era só dele.

— Bom dia — sussurrou, a voz quase como um segredo.

JJ abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes enquanto lutava para sair do sono profundo. A voz saiu arrastada e preguiçosa.

— Dia...

Ela sorriu. Aquele estado vulnerável e sonolento dele era desconcertantemente atraente.

— Vou fazer um café da manhã — avisou, se afastando com relutância, ainda sentindo o calor dele na ponta dos dedos.

JJ gemeu baixinho, um sorriso cansado surgindo nos cantos da boca.

— John B não tem nada decente pra comer por aqui.

Mackenzell deu um leve sorriso provocador.

— Eu me viro.

Antes que ela pudesse se afastar por completo, JJ a puxou de volta com um movimento rápido e seguro, envolvendo a cintura dela com o braço. Seu corpo colou ao dela, e a proximidade fez o coração de Mackenzell disparar.

— Obrigado — murmurou ele contra o pescoço dela, os lábios roçando a pele como uma promessa que ele nunca terminaria de cumprir.

O toque dele fez seu corpo estremecer. Ela fechou os olhos por um momento, tentando controlar a tempestade dentro dela.

— Tudo bem — sussurrou, a voz quase falhando.

JJ a apertou mais uma vez, a expressão se suavizando numa gratidão que ele não sabia como colocar em palavras.

— Não... sério... obrigado, Ell.

Ela acenou com a cabeça, engolindo a enxurrada de sentimentos que ameaçava transbordar. Os olhos dele, mesmo inchados e pesados de sono, carregavam uma dor e uma vulnerabilidade que ele jamais admitiria em voz alta.

Com um último olhar, Mackenzell escapou dos braços dele e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si com cuidado.

Na sala, encontrou Kiara encolhida no sofá, enrolada em uma manta fina, a cabeça caída para o lado. Seus olhos semicerrados se abriram lentamente quando ouviu o som dos passos de Mackenzell.

— Bom dia... — disse Mackenzell, forçando um sorriso leve enquanto passava por ela.

— Bom dia... — respondeu Kiara, a voz carregada de sono.

Kiara acompanhou Mackenzell com o olhar, franzindo as sobrancelhas. Desde quando Mackenzell se levantava cedo e ia para a cozinha? Aquilo não fazia sentido. Até onde Kiara sabia, a garota mal sabia cozinhar.

Pope também espiou da poltrona onde estava deitado, coçando a cabeça com preguiça.

— O que você tá fazendo? — murmurou ele, curioso.

Mackenzell não respondeu e foi direto para a cozinha. Começou a abrir e fechar armários, tentando encontrar alguma coisa que prestasse. A cozinha estava uma bagunça, cheia de copos espalhados e embalagens de salgadinhos amassadas. Ela abriu a geladeira e encontrou apenas leite e ovos. Revirou mais algumas prateleiras até achar um pacote de pão esquecido no fundo de um armário.

Com um suspiro esperançoso, pegou o pacote, mas ao abrir... pão mofado. Ela ergueu o saco perto do rosto, fazendo uma careta evidente.

— Ah, que nojo... — murmurou, afastando o pão de si como se ele fosse tóxico.

Kiara, agora mais desperta, se levantou e espiou pela porta da cozinha, segurando o riso.

— Tá mofado. JJ tentou morder uma fatia outro dia.

Mackenzell fechou o pacote com um suspiro frustrado e o jogou no lixo, tapando o nariz.

— Credo... — reclamou, enojada.

Kiara e Pope riram, e Mackenzell lançou um olhar de canto, sem conseguir esconder um pequeno sorriso. Era uma cena estranhamente comum. Algo que ela não estava acostumada a vivenciar, mas que, de alguma forma, parecia certo.

Ela balançou a cabeça e pegou os ovos. Em poucos minutos, fez um prato grande de ovos mexidos cremosos e colocou na mesa de centro da sala. A mesa estava cheia de papéis amassados, garrafas vazias e restos de embalagens, mas ela empurrou tudo para o lado, fazendo espaço.

— Fiz ovo, se alguém quiser comer — anunciou ela, com uma gentileza inesperada.

Kiara olhou para ela, ainda mais confusa. Desde quando Mackenzell era gentil? Até então, a imagem que tinha dela era a de uma garota arrogante e difícil de lidar. Mas, naquela manhã, ela parecia... normal. Até doce, de um jeito estranho.

Pope deu de ombros, pegando um prato e enchendo com os ovos, como se a mudança de Mackenzell não fosse nada demais. Kiara, porém, continuou observando-a, tentando decifrar o que havia de diferente.

Mackenzell se sentou no sofá, parecendo tranquila, quase como se já pertencesse àquele ambiente bagunçado e caótico.

E, pela primeira vez, Kiara percebeu que talvez ela não fosse nada do que imaginava. Parecia estar com a mesma garota que a tinha convidado a ver o nascimento de tartarugas, a mesma que bateu em sua porta pra se desculpar. E aquilo era bom.





Lá fora, o sol matinal já aquecia a brisa salgada que vinha do mar. JJ estava no jardim do castelo, sentado na beirada de uma banheira antiga que haviam comprado de segunda mão, com as pernas mergulhadas na água gelada. Ele usava uma regata branca justa ao corpo, a barra amassada de leve onde ele a segurava preguiçosamente. O HMS Pogue estava atracado no pequeno cais, balançando suavemente com as marolas, pronto para qualquer emergência improvisada.

JJ inclinou a cabeça para trás, os olhos entreabertos, deixando o sol bater em seu rosto. O calor era reconfortante, como se fosse a única coisa sólida e confiável naquele caos todo. Ele balançava os pés dentro da água, distraído, com um cigarro pendendo entre os dedos, mas nem se preocupava em acendê-lo. Um momento de calmaria antes do plano começar.

Mais ao fundo, Kiara e Pope estavam embaixo de uma árvore, ocupados com uma operação improvisada. Um barril grande pendia da ponta de uma corda, presa a um galho grosso, e dentro dele estava Mackenzell, encolhida com um olhar de falsa confiança enquanto se ajeitava da melhor forma que podia.

— Você acha que tá firme? — perguntou Pope, segurando a corda com força e ajustando o nó enquanto Kiara dava apoio do outro lado.

Mackenzell se segurou nas laterais do barril, testando o equilíbrio com uma leve sacudida. O barril balançou, mas aguentou. Ela soltou uma risadinha nervosa.

— Bom... bem mais confortável do que descer presa na cintura — brincou ela, lançando um olhar zombeteiro para Kiara, que rolou os olhos.

O plano era simples na teoria, mas na prática, como tudo que envolvia aquele grupo, parecia mais uma confusão prestes a dar errado. Eles iam descer Mackenzell no barril até o fundo do poço, onde ela encheria o recipiente com ouro. Depois, subiriam-na aos poucos, descarregando o ouro direto na caminhonete, que estaria estacionada perto do cais. Não era exatamente um plano perfeito, mas era o melhor que tinham.

Pope estalou os dedos, como se aquilo lhe desse confiança.

— Tá, bora testar isso logo — disse ele, erguendo o corpo de Mackenzell mais para dentro do barril.

Ela se ajeitou, puxando as pernas para dentro e segurando firme na borda. A corda rangeu, mas o barril se manteve suspenso, balançando ligeiramente. Kiara observou tudo com um olhar calculista, avaliando os nós.

— Só não deixem eu morrer esmagada no fundo do poço, tá? — disse Mackenzell, lançando um olhar desconfiado para Pope.

— Relaxa — ele respondeu com um sorriso torto. — Se você morrer, a gente te empurra de volta e diz que nem te viu hoje.

Kiara deu uma risada curta, e Mackenzell balançou a cabeça, mas o sorriso dela escapou antes que conseguisse evitar. Era caótico, mas era o jeito deles — e, de certa forma, fazia sentido.

JJ observava a cena de longe, ainda com os pés balançando dentro da água da banheira. Por mais que gostasse de parecer desligado, ele mantinha os olhos atentos em Mackenzell. Uma parte dele, bem lá no fundo, odiava a ideia dela ser a única a descer no poço. Mas, claro, ele não ia admitir isso — era mais fácil fingir que não se importava.

— Vocês vão acabar deixando ela cair e quebrar o pescoço, sabiam? — JJ provocou, a voz arrastada e preguiçosa. Ele tirou os pés da água, sacudindo-os no ar para secar.

— Fica quieto aí, JJ — Kiara retrucou, ajustando a corda no tronco da árvore. — Se quiser ajudar, a gente aceita.

JJ soltou uma risadinha.

— Não tô nem aí pra ajudar, só quero ver a bagunça.

Mackenzell o encarou do barril, cruzando os braços como se tentasse manter a compostura.

— Se eu cair, a culpa é sua — provocou ela, lançando-lhe um olhar afiado.

JJ piscou lentamente, um sorriso preguiçoso aparecendo nos lábios.

— Se você cair, eu pulo atrás — respondeu ele, sem hesitar.

O comentário fez Mackenzell virar o rosto rapidamente, tentando disfarçar a expressão surpresa. Kiara olhou de relance para JJ, com uma sobrancelha erguida, mas não comentou nada. Todos sabiam que havia algo entre ele e Mackenzell, mas ninguém se atrevia a falar abertamente sobre isso.

Com tudo pronto, Pope puxou a corda um pouco mais, testando a resistência uma última vez.

— Beleza. Tá firme. Pronta, Mack?

Ela respirou fundo e deu um pequeno aceno.

— Pronta.

E assim, aos poucos, eles começaram a baixar Mackenzell pelo barril, cada movimento cuidadoso enquanto a corda deslizava pelas mãos de Pope. A árvore rangeu um pouco sob o peso, mas tudo parecia sob controle — por enquanto. JJ, com os braços cruzados, observava a cena de perto, pronto para intervir se algo desse errado.

O barril desceu suavemente até o chão, Mackenzell saiu com agilidade, segurando-se na corda para se apoiar no chão firme. Ela se esticou, os músculos agradecendo pela liberdade, e acenou para os dois.

— Tranquilo. — ela disse, agradecendo e ajeitando o cabelo desalinhado.

Kiara e Pope trocaram sorrisos aliviados, mas antes que pudessem relaxar completamente, um som inesperado de folhas e galhos se quebrando ecoou ao longe. Os três se viraram rapidamente, os olhos atentos à figura que emergia do mangue.

Era John B. E ele não parecia nada bem.

— John B! — Kiara gritou, estreitando os olhos para entender o que estava acontecendo. — Tá tudo bem?

Mas John B não respondeu. Ele vinha correndo em direção ao castelo, os pés batendo com força contra o chão irregular, uma expressão de pura fúria no rosto.

— John B! — Pope também tentou, a voz carregada de preocupação. — Que porra aconteceu?

Nada. John B os ignorava por completo, avançando com passos rápidos e determinados. O vento bagunçava seus cabelos molhados, e seus olhos ardiam de raiva, como se estivesse à beira de explodir. O silêncio entre eles era tenso, carregado por uma sensação de que algo tinha dado muito errado.

JJ se levantou lentamente, sentindo a mudança no ar. Ele sabia reconhecer quando alguém estava prestes a fazer uma merda. E naquele momento, John B parecia prestes a fazer exatamente isso.

— Merda... — JJ murmurou para si mesmo, seguindo atrás dele. Kiara e Pope vieram logo em seguida, os rostos tensos enquanto acompanhavam a cena.

John B entrou na casa como um furacão, jogando a porta com força para trás. Seus olhos vasculharam a sala freneticamente, ignorado a bagunça espalhada pelo chão e pelos móveis. Ele mal parecia ouvir as perguntas desesperadas dos amigos atrás dele.

— O que foi, cara? — JJ tentou, aproximando-se com cuidado. — O que tá acontecendo?

John B não respondeu. Ele se jogou no sofá, empurrando as almofadas para todos os lados, como se estivesse à procura de alguma coisa importante. O som das almofadas caindo e das molas rangendo preenchia a sala abafada.

E então, ele encontrou o que procurava.

A arma de JJ.

Os dedos de John B a agarraram com firmeza, e por um segundo, ele apenas a encarou, os olhos cheios de uma raiva quase irracional. JJ percebeu tarde demais o que ele estava prestes a fazer.

— John B, calma aí! — JJ gritou, avançando rapidamente, tentando tirar a arma da mão dele.

Mas John B não cedeu. Ele segurou o revólver com mais força, o maxilar travado, como se aquilo fosse a única coisa que ainda fazia sentido no meio do caos.

Os dois se atracaram ali mesmo no meio da sala, tropeçando sobre o sofá e derrubando almofadas pelo chão. JJ tentou arrancar a arma da mão dele, os músculos tensos, mas John B estava fora de si, resistindo com tudo que tinha.

— Solta essa merda, John B! — JJ rugiu, empurrando o amigo contra o encosto do sofá.

— Você não entende! — John B gritou de volta, a voz embargada de raiva e frustração, enquanto lutava para manter o controle da arma. — O Ward tentou me matar. Ele matou o meu pai!

O ar na sala parecia denso, como se cada respiração fosse um esforço exaustivo. JJ estava jogado no sofá, os músculos ainda tensos, enquanto John B, possuído por uma fúria incontida, mantinha os olhos fixos em Mackenzell. Ela estava ofegante, o corpo pressionado contra a parede, sentindo o mundo desmoronar à sua volta. O olhar dele era selvagem, injetado de dor e raiva, como se cada palavra fosse uma lâmina.

John B avançou de novo, ignorando o grito de alerta de JJ.

— Você sabia! — ele rosnou, agarrando Mackenzell pelo pescoço e a empurrando com força contra a parede. O impacto fez o ar fugir dos pulmões dela. — Você falou do ouro pro seu pai!

Mackenzell tentou puxar os dedos dele para aliviar o aperto, mas o pânico a paralisava.

— John B... não...Eu não falei nada! — A voz dela saiu entrecortada, o desespero crescendo enquanto ele apertava mais.

JJ se levantou num salto, o coração batendo na garganta.

— Solta ela! Caralho, solta agora! — ele gritou, avançando, mas hesitou ao ver o brilho insano nos olhos de John B.

John B ignorava tudo ao redor, focado apenas nela.
— Você sumiu, desapareceu com parte do ouro... Foi tudo de propósito, não foi? — A voz dele era cortante, cheia de rancor e incredulidade. — Você e ele estavam juntos nisso o tempo todo? Me distrair pra tirar tudo de lá?

Os olhos dela se encheram de lágrimas, a garganta queimando pelo aperto cruel.

— Eu não sei do que você tá falando! — ela arfava, a voz embargada, desesperada para que ele acreditasse. — John B, você ta me assustando...

Mas John B não estava ouvindo. Ele estava cego, afogado no ódio que borbulhava em seu peito.

— Seu pai e Ward... Eles mataram meu pai. — As palavras saíram como um veneno, cada sílaba carregada de amargura. — Você sabia disso, não sabia? Desde o começo!

Ela balançou a cabeça freneticamente, soluçando.

— Não... não sabia! Eu juro, John B!

O peso das palavras dele fazia cada batida do coração dela parecer uma punhalada. Ela tentava respirar, mas o aperto dele não dava trégua.

JJ avançou de novo, empurrando John B pelos ombros.

— Deixa ela, cara! Tá louco?!

John B finalmente soltou Mackenzell, que deslizou pela parede, caindo no chão enquanto segurava o pescoço e lutava para respirar. A tosse violenta a fazia tremer, e JJ se ajoelhou ao lado dela, segurando-a com firmeza.

— Você sabia? — JJ sussurrou, a voz dura, mas baixa, como se tivesse medo da resposta.

Mackenzell balançou a cabeça, os olhos marejados e confusos.

— Eu não... — Ela soluçava, abraçando os joelhos enquanto tentava se proteger do mundo ao seu redor.

John B caminhava de um lado para o outro, passando a mão pelo cabelo e bufando de raiva, como se as respostas que ele procurava estivessem presas dentro dele, mas não conseguisse alcançá-las.

— Ela sabia! — ele cuspiu, encarando Mackenzell novamente, o desprezo cuspindo de seus lábios. — Seu pai, sua mãe... Vocês todos juntos nessa merda, não é?

Mackenzell o encarou com os olhos arregalados.
— Minha mãe? — A voz dela era um fio fraco, incapaz de acreditar no que ouvia. — Não... — ela afirmou as sentindo acusada e acoada — Ela não tinha nada a ver com isso... Ela...

John B soltou uma risada amarga, carregada de rancor e dor.

— Conveniente, né? Dois desaparecimentos no mar... bem na mesma época. — Ele deu um passo à frente, os olhos queimando com suspeita. E ela abriu os lábios completamente chocada com a ideia absurda que ele propunha — Você nunca achou isso estranho? Nunca parou pra pensar? Era óbvio, Kook!

Mackenzell tremia, o peito subindo e descendo descontroladamente enquanto ela tentava negar o que ele dizia, mas a dúvida se infiltrava em sua mente como um veneno.

— Isso não faz sentido... não pode ser...

John B se aproximou ainda mais, encurralando-a com sua presença intensa.

— Que foi? A vida fora da bolha te assusta? — Ele a encarava como se cada palavra fosse uma sentença. — Ela sabia sobre o ouro, não sabia? A música, tudo isso. Era conveniente demais.

— Não! — Mackenzell gritou, as lágrimas agora escorrendo livremente por seu rosto. — Ela não sabia de nada! A gente não tem nada a ver com isso.

— Jura? — ele riu a encarando nos olhos — Então onde a Ambrie está?

JJ puxou John B para trás com um empurrão firme.
— Chega! — ele rosnou. — Sai daqui, John B. Vai embora, cara.

John B ficou parado por um segundo, os punhos cerrados e o peito arfando, como se estivesse à beira de explodir. Então, sem outra palavra, virou-se e saiu correndo pela porta, os passos ecoando pesadamente na casa. Levando a arma com ele.

O silêncio que ficou para trás era insuportável, pesado como chumbo. Kiara e Pope se aproximaram devagar, atordoados, sem saber o que dizer. JJ ainda segurava Mackenzell com força, enquanto ela soluçava baixinho, como se cada respiração fosse uma batalha.






Mackenzell estava sentada no sofá velho da sala de John B, os braços ao redor das pernas, e o olhar perdido num vazio de emoções confusas. A lembrança da mão dele em seu pescoço, apertando com raiva, ainda estava gravada em sua pele, e cada vez que fechava os olhos, a cena se repetia. John B. não só a acusara, mas a humilhara, ferindo-a de um jeito que ia além do físico. Era como se tudo que havia entre eles tivesse sido destruído com uma única ação.

Os Pogues estavam ao seu redor, trocando olhares entre si, divididos entre tentar entender o que havia acabado de acontecer e o choque de ver Mackenzell tão vulnerável. JJ estava ao seu lado, silencioso, mas sua proximidade era um apoio não dito, quase palpável. Ao lado dele, Kiara tentou quebrar o silêncio, lançando um olhar decidido aos amigos.

— Escutem, é o John B. Ele não ia aparecer assim e dizer essas coisas do nada. Ele deve ter motivos pra isso, algo ruim aconteceu. Não seria à toa.

Pope parecia incerto, as mãos inquietas sobre os joelhos, como se tentasse pensar logicamente, embora estivesse tão confuso quanto os outros.

— Talvez, Kie, mas isso foi... demais. — Ele lançou um olhar para Mackenzell, que parecia retraída, como se tentasse se proteger de qualquer coisa que pudesse atingi-la. — Ambrie voltou mais cedo hoje, lembra? Ela sabia que o pai dela questionaria o fato de Mackenzell não ter dormido em casa. Não significa que ela esteja envolvida.

Mackenzell ergueu os olhos lentamente, o olhar um pouco desfocado, ainda perdido entre as palavras de John B. e a dor em seu pescoço. Sua voz saiu baixa, quase hesitante, mas com uma determinação que nem ela sabia de onde vinha.

— Como podemos ter certeza? Eu preciso saber... Eu preciso ir pra casa, falar com ele. Vocês não entendem, ele é o meu pai.

JJ, ao lado dela, endireitou-se, determinado, a expressão firme enquanto falava.

— Então eu vou com você. Não vou te deixar você ir até lá sozinha. Isso é loucura.

O coração de Mackenzell deu um salto estranho, ao mesmo tempo em que a imagem do rosto furioso do pai voltou à mente. Ela sabia o que aquilo poderia significar. Lembrou-se do último confronto com o pai, de quando ele a descobrira com alguém, e mesmo que o rosto de JJ fosse desconhecido, ele entenderia na hora se visse os dois juntos. Se JJ a acompanhasse até lá, o pai ligaria os pontos — entenderia com quem ela havia estado naquela noite. Ele saberia que era o Pogue que a deflorara no verão anterior. O sangue dela gelou ao pensar nisso, e ela segurou o braço de JJ, com um olhar que dizia mais que as palavras.

— JJ, não. Não é uma boa ideia. A gente...eu sei onde isso pode dar.

Kiara lançou um olhar apreensivo para ela, quase como se estivesse falando com uma criança teimosa que insistia em fazer algo perigoso.

— Kenzell, talvez você devesse esperar. Não vai... Pensa bem.

Mackenzell suspirou, o nó na garganta apertando, e uma lembrança amarga do aperto de John B. em seu pescoço voltou com força total. Ela sentiu uma humilhação profunda, algo que nunca imaginaria vindo dele. E, enquanto tentava convencer seus amigos, também tentava convencer a si mesma. Sua voz saiu trêmula, quase vulnerável.

— Meu pai... ele não é como o John B disse, ta legal? Ele nunca faria algo assim. Nunca me machucaria. Ele não machucaria ninguém! Deus, ele... ele doa bolsas de caridade, resgata animais... Gente, ele é meu pai...

JJ, que estava ao lado dela, franziu a testa, ainda resoluto, mas respeitando a decisão dela. Ele se levantou junto dela, e juntos caminharam até a caminhonete de Mason, estacionada na entrada. Kiara e Pope os seguiram, trocando olhares de preocupação, como se soubessem que algo mais profundo estava em jogo. Quando chegaram à caminhonete, Pope observou a situação, o olhar carregado de uma desilusão visível.

— Então vai levar a caminhonete? — ele murmurou, tentando disfarçar o desapontamento com um tom amargo. O plano meticuloso que haviam traçado para conseguir o ouro de forma cuidadosa parecia ter se esvaído com uma única ação de John B.

Mackenzell o olhou, uma tristeza palpável em seu rosto, e balançou a cabeça, os olhos brilhando.

— Pope... olha o que o John B fez. Esse plano já era.

Pope desviou o olhar, a mágoa evidente. Ele murmurou, quase para si mesmo, a voz baixa.

— Quer dizer que nossa parceria acabou?

Kiara, observando a troca, sentiu um aperto no peito e, um tanto relutante, arriscou uma pergunta, quase temendo a resposta.

Mackenzell respirou fundo, sentindo o peso de cada palavra. Ela forçou um sorriso fraco, a voz embargada.

— Não... claro que não.

Ela deu um último olhar aos amigos, carregado de uma mistura de tristeza e esperança, antes de entrar na caminhonete ao lado de JJ, que a acompanhava, em silêncio, mas com uma determinação inabalável, enquanto Kiara e Pope ficaram ali, observando, com um vazio que parecia crescer a cada passo dela em direção à verdade



O carro deslizava pela estrada em silêncio, com Mackenzell concentrada no caminho e o JJ observando a estrada estreitar enquanto se aproximavam do bairro mais rico de Outer Banks. As luzes da rua iluminavam o rosto dela, revelando uma expressão tensa, decidida. Quando eles estavam quase chegando na parte mais familiar para ele, ela desviou subitamente, pegando uma curva em direção contrária. JJ franziu o cenho, confuso.

— O que você tá fazendo? — perguntou, com uma ponta de irritação na voz, olhando pra ela como se esperasse uma resposta rápida.

Ela respirou fundo, mantendo os olhos fixos na estrada.
— Vou te deixar em casa, JJ.

Ele piscou, claramente incomodado. Ela sabia o quanto ele odiava sentir que estava sendo deixado de fora, ainda mais agora, com tudo o que estava acontecendo.
— Você tá falando sério? Mackenzell, eu não vou pra casa. Você acha que eu vou deixar você ir sozinha falar com seu pai?

Ela parou o carro próximo ao Mang, o velho restaurante que eles conheciam bem, e virou-se pra ele, tentando manter a firmeza na voz.
— JJ, eu preciso fazer isso sozinha. Preciso falar com ele... só eu e ele. Não faz sentido você ir comigo.

Ele bufou, inclinando-se na direção dela, o olhar fixo, impaciente.
— Isso é loucura. Se o John B tá errado e não tem nada pra se preocupar, então me deixa ir com você. Eu tô aqui pra te ajudar, Mackenzell. Só me deixa ajudar.

Ela apertou o volante, desviando o olhar para evitar a intensidade dos olhos dele, que brilhavam com aquela mistura de preocupação e raiva.
— JJ, não. É... o meu pai. Ele nunca machucaria ninguém, muito menos faria o que o John B tá dizendo. Só me deixa resolver isso.

Ele cruzou os braços, o rosto agora tenso, claramente frustrado. Mackenzell notou o músculo em sua mandíbula se contrair, um sinal claro de que ele estava segurando algo maior dentro de si.
— Você acha mesmo que eu vou ficar aqui, vendo você ir sozinha pra algo assim? Eu sei como isso termina. — A voz dele saiu fria, cheia de uma dor que ela reconhecia bem. Ele estava pensando na última vez que o pai dela havia interferido entre eles, na última vez que tudo foi desmoronando sem que pudessem fazer nada.

Ela sentiu um aperto no peito ao lembrar também, mas precisava que ele entendesse. Tentando manter o tom calmo, quase implorando para que ele visse seu lado, disse:
— Não vai acontecer de novo, JJ. Eu só... vou conversar com ele. Depois eu vou atrás de vocês. Eu prometo.

Ele a olhou por um momento, como se tentasse decifrar algo em seu rosto. A tensão ainda estava lá, mas havia uma tristeza profunda nos olhos dele, misturada com a dúvida. Ele já tinha ouvido promessas como essa antes, e as cicatrizes disso ainda estavam em seu coração. Sem dizer nada, ele começou a abrir a porta do carro, prestes a sair. Mackenzell segurou o braço dele suavemente, tentando não deixar a ansiedade transparecer.

— Ei... depois que eu conversar com ele, eu te ligo. Prometo. — A voz dela saiu quase em um sussurro, mas ela sabia que ele entenderia a seriedade em suas palavras.

Ele hesitou por um segundo, olhando para ela com aquela expressão de descrença misturada com algo mais profundo, algo que ela sabia que não se expressava facilmente em palavras. Ele soltou um suspiro pesado, assentindo levemente.

— Tá bom... vou esperar. Mas é sério, Mackenzell. Me liga.

Ela acenou com a cabeça, observando enquanto ele saía do carro, fechando a porta com uma mistura de relutância e resignação. Por um momento, ela ficou ali, encarando o lugar vazio onde ele estava, sentindo o peso do que tinha que fazer. Com um último olhar, ela arrancou o carro e seguiu em direção à casa de seu pai, com o coração batendo rápido e uma determinação crescente.








A manhã estava clara, mas o ar ao redor de Mackenzell parecia denso e sufocante quando ela parou diante da porta imponente da mansão da sua família. Seu coração batia num ritmo tenso, como se soubesse, de algum modo, que a verdade aguardava do outro lado. Quando bateu na porta, o eco reverberou em seu peito, e em segundos a entrada foi aberta, revelando Mason, seu irmão mais velho.

Mason parecia mais imponente do que ela se lembrava, com os ombros largos e um olhar frio que remetia à mãe deles. Ao ver o sorriso controlado nos lábios dele, um arrepio percorreu sua espinha.

— Olha quem resolveu aparecer — ele saudou, com uma casualidade que soava falsa. Antes que Mackenzell pudesse responder, ele fechou a porta atrás dela, o som ecoando pela sala, quase como o clique de uma armadilha.

— Mason?

Ela deu alguns passos para dentro, o estômago revirando, e quase se chocou com o pai, que apareceu de repente, pousando uma mão no ombro dela com uma animação inquietante. — Querida, que bom que está aqui! — Sua voz era calorosa demais, os olhos brilhando com um entusiasmo que a deixou ainda mais desconfiada.

— Pai... o que está acontecendo? — A confusão transpareceu em seu rosto, mas ele apenas sorriu, guiando-a para dentro da sala.

Assim que entraram, Mackenzell viu Ambrie descendo as escadas, arrastando uma mala com uma expressão visivelmente contrariada.

— Para onde vocês estão indo? — Mackenzell perguntou, tentando manter a voz neutra, mas incapaz de mascarar completamente o desconforto.

O pai trocou um olhar cúmplice com Mason, antes de sorrir para ela. — Vamos para as Bahamas, querida. Organizei tudo para a nossa família.

Ela piscou, surpresa, e uma onda de animação começou a se misturar com a desconfiança. Mas algo ainda a incomodava, como uma peça do quebra-cabeça que não se encaixava.

— Eu... — hesitou, sem saber como reagir, quando Ambrie, com um tom levemente irritado, murmurou: — Ele ia te contar ontem à noite, mas eu disse que você estava na casa dos Cameron.

— Ah... é... — Mackenzell tentou esconder o desconforto, desviando o olhar. Apesar da empolgação com a viagem, a inquietação era impossível de ignorar.

Enquanto seguiam para o corredor principal, ela aproveitou o momento para encarar o pai. — Mas... por que agora? E por que trazer Mason? — Havia uma ponta de desconfiança em sua voz, que ele pareceu ignorar.

Ele riu suavemente, mas seu olhar endureceu levemente. — Porque eu quero uma viagem em família, ja que consegui um novo acordo de terra com o Ward. Algo que nunca tivemos, e... é uma boa oportunidade para estarmos juntos.

Ela franziu o cenho, questionando o verdadeiro motivo. — Pai, você e o Ward saíram com o John B hoje cedo? — A pergunta saiu sem pensar, mas a intensidade do olhar do pai a fez perceber que talvez estivesse se aproximando de algo perigoso.

Ele pareceu ofendido, recuando um passo. — Do que está falando? — Sua voz continha um tom defensivo, e ele respirou fundo, como se estivesse se preparando para revelar algo que preferia esconder. — Não queria estragar este momento falando daquilo...

— Aquilo o quê? — Mackenzell o pressionou, sentindo a tensão entre eles aumentar a cada segundo. — O que aconteceu? — A voz dela era quase um sussurro, os olhos fixos nele.

Ele suspirou, balançando a cabeça. — O garoto Routledge... completamente descontrolado. Ele atacou o Ward, Mackenzell. Não queria te contar dessa forma, mas...

Sem responder de imediato, ele puxou o celular do bolso, seu rosto se fechando em uma expressão dura enquanto lhe mostrava uma foto. Mackenzell arregalou os olhos ao ver o braço de Ward envolto em bandagens, um curativo que parecia grosseiro, como se tivesse sido feito às pressas.

— Não pode ser... — Mackenzell murmurou, confusa, uma leve sensação de incredulidade se formando.

Ele inclinou a cabeça, parecendo resignado, mas havia um brilho astuto em seus olhos. — Ele vem espalhando mentiras, Kenzell. Dizendo coisas absurdas sobre o Ward e sobre a nossa família... — Ele balançou a cabeça, como se tentasse afastar uma ideia ridícula.

Ela o encarou, a mente fervilhando. — Mas o que... o que o John B tem a ver com tudo isso? Por que ele iria querer te atacar?

O pai segurou o riso, passando a mão pela boca antes de responder. — É uma longa história. Tem a ver com o pai dele... e um tesouro. — aquilo fez Mackenzell gelar. Como ele sabia do ouro? — Um absurdo, na verdade. Uma história pra dormir, como sua mãe costumava dizer. O Big John sempre teve essa obsessão com um tesouro imaginário, e... bom, sua mãe vendeu um barco para ele uma vez. Isso foi o suficiente para que essa loucura se espalhasse.

Ele não acreditava no ouro. Pra ele não existia.
Aquilo era bom, certo? Ell não sabia dizer.

Ele suspirou dramaticamente, colocando uma mão no ombro dela. — É triste, mas... o garoto está descontrolado, Kenzell. E precisamos nos afastar de tudo isso.

Ela observou o rosto dele, buscando alguma centelha de sinceridade, mas tudo parecia uma performance meticulosa. O chão parecia tremer sob seus pés enquanto começava a processar as implicações, como se, naquele momento, algo tivesse se rompido para sempre.

Mackenzell segurou o celular, observando a foto que seu pai lhe mostrara, mas a confusão em sua mente parecia só crescer. Ela olhou para a tela, tentando encontrar algo que pudesse fazer sentido ali, uma pista que explicasse tudo. O rosto de Ward, com as bandagens visíveis, parecia tão real... mas e o que John B. tinha dito? Aquela história do tesouro e a forma como ele parecia enfurecido, como se soubesse de algo que ninguém mais sabia.

Ela respirou fundo e, impulsivamente, desbloqueou o celular, buscando o número de Sarah. Talvez ela soubesse o que pensar. Talvez ela fosse a única que entendesse alguma coisa disso tudo. Mas, enquanto os números digitavam, ela hesitou. Sarah, sim, mas e JJ? Ela havia prometido que ligaria para ele, e, honestamente, ela não sabia o que mais fazer. Estava perdida, em dúvida sobre quem estava dizendo a verdade. John B. parecia tão insano quanto o pai dela queria fazer parecer, mas por que ela duvidaria dele? Por que duvidaria de tudo isso?

Foi então que ela se virou para sair do corredor, ainda com o celular em mãos, quando, de repente, Mason passou por ela. Num movimento brusco, ele a empurrou sem querer. O celular de Mackenzell voou de suas mãos e caiu no chão com um som surdo. PÁ! O impacto foi forte, e o celular se espatifou, rachando a tela ao meio.

— Mason, porra! — ela gritou, irritada, sentindo a frustração tomar conta de cada fibra do seu corpo. — Você mal chegou e já tá fazendo merda!

Mason imediatamente se virou, apavorado, e rapidamente se agachou para pegar o celular. Ele o entregou para ela, o olhar contrito.

— Desculpa, não foi minha intenção. — Ele falou, com um tom forçado de arrependimento.

Ela pegou o celular das mãos dele, olhando para a tela rachada com um misto de raiva e desgosto. O celular estava completamente inutilizado.

— Que ótimo, agora... — ela começou, com a voz tremendo de frustração, mas foi interrompida pelo pai, que apareceu na esquina do corredor com um sorriso leve.

— Vai fazer suas malas, querida, saímos amanhã de manhã. — O pai falou, a suavidade em sua voz não escondia o tom autoritário. — Te arranjamos outro na viajem.

Mackenzell sentiu um nó no estômago, querendo protestar, mas não conseguia encontrar palavras. Ela olhou para ele, depois para Ambrie, que apareceu por trás dele, com os braços cruzados, olhando para a cena de forma entediada.

— Eu não quero ir. — Ambrie falou, quase com uma indiferença desconcertante.

O pai dela virou-se para Ambrie com um olhar sério, quase feroz.

— Ambrie, você não tem escolha. — A voz dele foi firme, e a expressão nos seus olhos fez com que Ambrie engolisse em seco, como se fosse uma ordem de vida ou morte. Ela não teve mais o que dizer.

Mackenzell observou a cena, sentindo uma raiva crescente, mas decidiu que não valia a pena confrontar o pai agora. Ela olhou para Ambrie, depois para o pai, e forçou um sorriso forçado.

— Não, tudo bem. Eu vou lá para cima. Me chama quando a gente tiver que sair. — Ela disse, tentando esconder o desconforto, como se estivesse aceitando o que estava acontecendo, mas algo dentro dela gritava para que ela não se deixasse levar.

O pai sorriu para ela, mas o sorriso era superficial, não havia alegria real ali. Era mais um sorriso de controle.

— Vai lá aprontar suas coisas. — Ele disse, quase com um tom de ordem. E Mackenzell se virou, indo para o seu quarto.

Ela entrou no seu quarto e trancou a porta atrás de si, sentindo a pressão aumentando em seu peito. Ela não sabia o que fazer. Não sabia em quem acreditar. O que John B. havia dito... o que o pai havia contado. As imagens se chocavam em sua mente. A raiva de John B. parecia real, mas e a foto do celular? E Ward? O que havia acontecido com ele?

Ela se sentou na cama, o celular quebrado em sua mão, olhando para a tela rachada e tentando processar tudo. Mas, no fundo, uma sensação desconfortável a consumia. O pai dela estava agindo de forma estranha, como se estivesse escondendo algo. Mas o que poderia ser? Por que inventaria uma história tão absurda sobre John B.? E John B., ele poderia estar realmente enlouquecendo, ou havia algo mais que ela ainda não entendia?

Ela fechou os olhos, tentando afastar os pensamentos, mas não conseguia. Ela não sabia no que acreditar, não sabia em quem confiar. As palavras de seu pai, a raiva de John B., tudo parecia uma grande mentira. Ou talvez fosse a verdade. Mas qual delas? Ela não sabia. E a única coisa que sabia era que, naquele momento, estava completamente perdida, sem saber para onde ir ou em quem acreditar.



A noite estava silenciosa, o tipo de silêncio pesado, abafado, como se o mundo estivesse suspenso, aguardando algo acontecer. Mackenzell estava deitada na cama, os olhos fechados, dormindo, mas a mente ainda inquieta. Ela revirava os pensamentos, tentando organizar tudo o que havia acontecido. Mas o descanso parecia distante.

De repente, um som suave, mas insistentemente repetido, fez seu corpo se tensar. Era como se pedrinhas estivessem sendo atiradas contra a janela. Ela se mexeu na cama, confusa, achando que era apenas a chuva, o som abafado que sempre acontecia quando o tempo estava instável. Mas, conforme o barulho se repetia, uma sensação estranha a invadiu. Aquilo não era chuva.

Ela se sentou na cama, o coração disparado, e foi até a janela, a respiração ficando mais pesada à medida que se aproximava. O som continuava, mais claro agora, e Mackenzell percebeu que o que estava lá fora não era uma tempestade. Algo – ou alguém – estava batendo contra o vidro. Ela franziu a testa, com um pressentimento ruim tomando conta dela.

Quando chegou mais perto, olhou para fora, e seu olhar fixou-se na figura que estava abaixo da janela. Lá estava ele, no escuro da noite, com as mãos levantadas, quase pedindo silêncio. JJ. Ela engoliu em seco, surpresa e, ao mesmo tempo, irritada, ao ver o rosto dele iluminado pela luz suave da lua. Seu rosto ainda estava marcado pelos hematomas, as cicatrizes que ela sabia que Mason não deixaria de causar.

Mackenzell não acreditava no que estava vendo. Ele tinha insistido para não fazer aquilo, ela tinha avisado, tinha pedido, gritado até para que ele não se metesse em mais confusão. Mas ali estava ele, desafiando todos os riscos. Ela queria gritar, mas a visão dele, ali, tão desesperado quanto sempre, fez com que algo em seu peito se apertasse.

Ela puxou a janela com pressa, sem dar muita atenção ao barulho. Não queria que ele fosse visto. Não queria que ninguém soubesse que ele estava ali, especialmente Mason, ou qualquer outra pessoa que pudesse causar mais problemas.

— Você não devia estar aqui — ela sussurrou, olhando para ele com a respiração ofegante. Seus olhos estavam fixos nos hematomas de JJ, e a raiva misturada com preocupação era difícil de controlar.

Ele apenas balançou a cabeça, um pequeno sorriso forçado cruzando seu rosto machucado, como se dissesse que não podia mais voltar atrás. Ela sentiu a raiva se transformar em um desejo de ajudá-lo, de tirá-lo dali o mais rápido possível.

— Suba pela escada de incêndio — ela disse, em um tom baixo e urgente, enquanto olhava ao redor, verificando se alguém estava por perto. — Ninguém pode te pegar aqui.

JJ assentiu, sem hesitar. Ele sabia o risco, mas estava ali, e isso era o suficiente para ela. Quando ele começou a se afastar da janela para se posicionar na escada, Mackenzell fechou a janela com cuidado, trancando-a novamente, sentindo o peso da situação apertando seu peito. Ela sabia que ele estava arriscando muito, e ela, por sua vez, também estava se arriscando ao deixar que ele fizesse aquilo.

Mas era JJ. E, mesmo quando ela queria odiá-lo por ser tão impulsivo, tão perigoso, havia algo em seu coração que a fazia querer protegê-lo, querer manter ele seguro, mesmo que soubesse que isso provavelmente traria mais complicações para ela.

Mackenzell olhou para JJ, a expressão entre raiva e surpresa, enquanto ele ficava ali, na frente dela, como se nada tivesse acontecido. O que ele estava fazendo ali, no meio da noite, depois de tudo o que ela lhe dissera? A voz dela saiu num tom baixo e irritado, mal acreditando no que estava vendo.

— Você está maluco? O que está fazendo aqui? — ela perguntou, os olhos se estreitando de incompreensão.

JJ, por sua vez, não parecia surpreso com a pergunta. Ele apenas deu de ombros e falou de maneira quase calma, como se a situação fosse algo corriqueiro.

— Esperei a sua ligação. Fiquei preocupado — ele disse, o olhar vagando entre os olhos dela e o quarto. Ela sentiu um nó na garganta, mas tentou manter a calma.

— Mason derrubou meu celular... — ela murmurou, virando a cabeça para evitar olhar para ele, mas a dúvida crescente em sua mente começava a tomar conta dela. — Não ta mais funcionando direito...

JJ, como se não se importasse com a frieza dela, continuou, insistindo com algo que parecia mais urgente do que o que ela queria ouvir.

— Pope e Kiara estão no cais esperando por nós. — Ele disse, a voz um pouco mais baixa, mas com um tom de preocupação. Mackenzell olhou para as malas no canto do quarto, tentando se concentrar, mas sua mente estava turva com tantas perguntas não respondidas.

Ela mordeu o lábio, indecisa. Ela não sabia o que fazer, nem em quem confiar. John B apareceu? A pergunta saiu da boca dela sem que ela percebesse, como se fosse uma súplica.

— Ele apareceu? — Ela se aproximou dele, os olhos pedindo uma resposta que ela nem sabia se queria ouvir.

JJ tirou o boné vermelho da cabeça, passando as mãos pelo cabelo bagunçado enquanto balançava a cabeça.

— Não. — A resposta dele foi direta, sem hesitação, mas Mackenzell sentiu uma dor pequena, como se uma parte dela esperasse que ele dissesse algo diferente.

Ela olhou para ele, sentindo o peso da situação, mas foi mais forte do que ela. A negação foi imediata.

— Meu pai não fez aquilo, JJ. — Ela falou, a voz carregada de certeza, mas também de frustração. Ele parecia não entender, ou não querer entender. — O John B... ele atacou o Ward...

Ele a olhou, com um olhar que a magoou mais do que deveria, e a resposta veio rápida, com uma frieza que ela não estava esperando.

— O que? Não. — A forma como ele disse isso, como se ela fosse inocente e sem visão das coisas, cortou algo dentro dela. Ela queria gritar, contradizer, mas ele já estava cortando o assunto. — Ele não fez isso.

— É sério, JJ — ela retrucou, tentando manter a calma. — Ele disse que não saiu de casa. Ele não encontrou o Ward pela manhã... Ele ligou pra ele logo depois de o John B o atacar...

Mas JJ não quis ouvir. Ele interrompeu, já parecendo cansado do assunto, como se não quisesse se prender a mais uma conversa sem fim.

— Vai viajar? — Ele perguntou, apontando para as malas mal arrumadas no canto do quarto. Era estranho ele ali, estranho demais. Ela não conseguia acreditar que JJ estava ali, naquele quarto cor-de-rosa e verde menta, no lado da ilha onde nunca tinha imaginado que ele entraria.

Ela desviou o olhar, tentando se recompor, e falou com um tom mais suave, mas ainda com um certo distanciamento.

— É... meu pai conseguiu um acordo novo com o Ward... Nas Bahamas. — Ela balançou a cabeça em negação, tentando não soar presunçosa, mas não conseguindo esconder a ansiedade que a engolia.

JJ sentiu uma pontada no peito ao ouvir isso. Era como se fosse um déjà vu doloroso, a mesma sensação de estar preso em um ciclo que ele não queria repetir. Ele não queria acreditar nisso, mas as palavras dela estavam começando a irritá-lo.

— E você me diz que ele não saiu com o Ward hoje de manhã? — Ele perguntou, quase ofendido, mas o ressentimento estava claro em sua voz. Ele lembrava muito bem de quando foi manipulado da última vez, e isso o fazia sentir uma raiva silenciosa crescer. — O John B não é agressivo, não é. Isso é palhaçada. Ele ta mentindo.

Ela deu um suspiro, mas JJ não estava mais disposto a ouvir.

— Ele me atacou hoje de manhã! — ela disse, brigando com ele, como se fosse um absurdo ele não ficar do lado dela — Se ele tinha um motivo, ou se ele realmente se descontrolou...

— Você não ta dizendo isso. — ele revirou os olhos, girando metade do tronco junto como se estivesse desacreditado

— Ele me atacou, ele me segurou pelo pescoço, JJ! Ele não tava normal... E se ele realmente fez aquilo com o Ward.... Ele precisa de ajuda, ele...

— Não acredito que pensei que você fosse ficar do nosso lado. — Ele colocou o boné na cabeça outra vez, como se quisesse encerrar a conversa ali.

— O que? Eu estou, JJ... — ela disse procurando o rosto dele com o olhar, procurando qualquer sinal de que compreensão — Eu só não acredito que... JJ, é o meu pai!

— Não sei porque insisti em vir aqui. — Ele se afastou para a janela, com passos rápidos, já se preparando para sair pela escada de incêndio. — Esquece.

— O quê? JJ, espera! A gente ainda ta conversando... — Mackenzell o seguiu, sua voz elevando-se. — Maybank!

Ela desceu as escadas atrás dele, fazendo mais barulho do que o necessário, seu corpo tenso com a frustração de não conseguir alcançar o que ela queria. JJ estava indo embora, e ela não sabia o que fazer. Ela não sabia o que queria. Ela só sabia que não podia deixar ele partir sem mais nem menos, sem entender o que realmente estava acontecendo.

Ele parou lá fora, na beirada do jardim, olhando para a escada de incêndio. Ela chegou até ele, ainda chamando.

— JJ!

JJ parou abruptamente no meio do jardim, virando-se para encará-la com o rosto entre a surpresa e o cansaço. Ele ergueu a mão num gesto para que ela falasse mais baixo, mas o tom da voz de Mackenzell já começava a se quebrar, como se ela estivesse a um passo de perder o controle sobre as próprias emoções.

— Ele não faria isso. Ele não fez! A gente precisa achar o John B, tá legal? — Ela olhou nos olhos dele, o rosto iluminado pela fraca luz da varanda. — Ele tem que explicar isso, explicar o que aconteceu direito. Explicar porque ele atacaria o Ward.

JJ respirou fundo, o olhar dele se suavizando momentaneamente, mas logo a frustração tomou conta. Ele esfregou o rosto, uma expressão de dor e decepção marcando suas feições.

— Isso não importa agora, Ell! — Ele quase gritou, antes de abaixar o tom, tentando controlar o próprio impulso. — Porque você vai fugir do mesmo jeito. Bahamas, sério? Não tem como não achar essa merda suspeita... Você sequer tinha motivo pra entrar nessa com a gente. Era só pensar um pouco...

Aquela última frase, lançada com a voz meio tremida e cheia de uma decepção que ele mal conseguia disfarçar, feriu mais do que Mackenzell poderia admitir. Ela sentiu o peito apertar, e uma onda de raiva e algo mais doloroso se misturaram em suas palavras.

— É claro que eu tinha motivo. — A resposta saiu como um desafio. Ela avançou para ele, empurrando-o para trás, a proximidade criando uma eletricidade que ela tentava ignorar. — Não me trate como uma estranha, JJ. Eu tinha um motivo! Eu nunca faria

Ele balançou a cabeça, parecendo ainda mais frustrado, o olhar fixo nos dela, como se não quisesse acreditar.

— Não tinha... — ele sussurrou, a voz carregada com o peso do que parecia ser uma verdade inescapável para ele.

— É claro que eu tinha! — Mackenzell rebateu, sua voz falhando um pouco, e então, sem pensar, ela o puxou para mais perto, encurtando a distância que os separava. Suas mãos agarraram a camisa dele e, antes que ele pudesse processar, ela o beijou, os lábios pressionando-se contra os dele com urgência, como se aquele fosse o único jeito de acalmar o turbilhão que estava dentro dela.

JJ ficou imóvel por um segundo, pego de surpresa, mas logo as mãos dele a seguraram pela cintura, respondendo ao beijo com uma intensidade que ele nem sabia que estava guardando. A frustração e a raiva que permeavam entre eles derreteram naquele instante, dando lugar a algo mais profundo e escondido.

Ele a puxou mais para perto, os braços a envolvendo, como se tivesse medo de que ela escapasse a qualquer momento. O beijo foi se tornando mais lento, mas não menos intenso, os dois se entregando àquele momento como se o resto do mundo tivesse parado. Quando se afastaram, ambos respiravam rápido, os olhos dela fixos nos dele, ainda confusa, mas agora com uma nova camada de algo que ela não sabia como lidar.

JJ passou o polegar pelo rosto dela, como se quisesse capturar aquele momento, seus olhos carregando uma vulnerabilidade que ele tentava esconder, mas que agora estava exposta.

— Ell... — ele sussurrou, a voz carregada de uma preocupação que ele não sabia mais como disfarçar. Mas antes que pudesse dizer mais, ela pressionou a testa contra a dele, e por um instante, eles ficaram ali, respirando juntos, em silêncio.

Mackenzell sentia o coração pulsar forte, e por mais confusa que estivesse, naquele instante, ela soube que ele era o único em quem ela realmente queria confiar.

Mackenzell olhou JJ com uma determinação que escondia o tumulto em seu peito. Ela sorriu para ele, mas seus olhos ainda estavam tomados por uma mistura de medo e convicção.

— Eu não vou para as Bahamas, tá bom? — ela disse, com uma leveza que tentava quebrar a tensão entre eles. JJ desviou o olhar por um segundo, como se a certeza dela o deixasse sem jeito.

— Eu vou falar com meu pai... e você vai atrás do JB.  — ela acrescentou, segurando no braço dele, como se quisesse que ele acreditasse tanto quanto ela.

Mas, de repente, uma voz ecoou pelo jardim. Era o pai dela, soando desesperado e apreensivo, chamando seu nome junto com Mason. Mackenzell congelou, os olhos se arregalando. Ela olhou ao redor rapidamente, o coração disparado.

— Ell, eles estão te procurando — JJ sussurrou, a voz carregada de preocupação, enquanto ele olhava para os lados, já se preparando para correr.

Ela empurrou JJ suavemente para longe, os olhos pedindo que ele fosse embora.

— Vai, JJ. Agora. Antes que eles te vejam aqui. — A urgência em sua voz misturava-se com o receio de que ele fosse pego.

JJ hesitou, a expressão protetora que ele usava fazendo com que ele lutasse contra a ideia de deixá-la ali.

— Mas e se ele...? — ele começou, os olhos refletindo um medo que ele tentava não demonstrar.

Ela mordeu o lábio, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair, e se aproximou mais uma vez, segurando o rosto dele com as duas mãos.

— Confia em mim, por favor, Jay... — A voz dela era quase um sussurro desesperado, e JJ sentiu o peso daquela súplica. — Ele não é um assassino.

Ele a olhou com um nó na garganta, mas finalmente assentiu, mordendo o lábio inferior e desviando o olhar antes de dar um último passo para trás. Ele se virou, correndo silenciosamente pelo jardim, sumindo entre as sombras enquanto tentava se afastar sem ser notado. Mackenzell o observou até ele desaparecer, o peito apertado.

Com uma última olhada para onde JJ havia ido, ela respirou fundo, limpou o rosto e tentou retomar a postura. A noite ao seu redor parecia mais pesada, mas ela ergueu o rosto ao ouvir a voz do pai mais próxima, e começou a caminhar de volta, como se nada tivesse acontecido.

— Já tô indo! — ela respondeu, tentando soar relaxada. A voz cortou o ar, mas por dentro ela sentia o peito apertado, aquela sensação de ser observada, julgada.

Ao vê-la finalmente, o pai a fitou com uma expressão carregada de alívio misturado à irritação. Os ombros tensos e a forma como ele crispava os lábios deixavam claro que sua tranquilidade era superficial. Mason, ao lado, estreitou os olhos com aquele olhar avaliador, o desprezo visível.

— Com quem você estava falando aqui fora? — a voz do pai saiu firme, quase acusadora, o olhar fixo nela como se procurasse um traço de mentira.

Mason, com um toque de sarcasmo, reforçou:

— Tava falando com quem? — perguntou, o tom carregado de desdém.

— Com ninguém — Mackenzell respondeu, mantendo a voz calma, mas sentindo um calor subir pelo pescoço. — Eu só queria tomar um pouco de ar. Preciso de permissão pra isso agora? — Seu olhar desafiador o encarou diretamente, sem desviar.

O pai, insatisfeito com a resposta, deu um passo à frente e segurou o braço dela com firmeza, numa tentativa de mostrar autoridade, como se o toque pudesse extrair a verdade. Ela, porém, rapidamente puxou o braço, o olhar dela agora carregado de irritação.

— O que foi? Eu não posso mais tomar um ar? — rebateu, a voz carregada de uma mistura de raiva e ironia.

Ambos mantinham uma relação tensa, mas Mackenzell fingia que estava tudo bem, algo que sempre fizera para preservar a imagem de uma família perfeita. No entanto, com Mason, era impossível manter as aparências. Cada vez que olhava para ele, era como reviver o momento em que ele quase a afogou na infância ou os anos em que ele a tratou com crueldade enquanto moravam juntos. Mason, por sua vez, a considerava uma "mimada de merda", sem esconder o desdém que sentia por ela.

— Com quem você estava falando? — o pai repetiu, desta vez com mais firmeza, tentando intimidá-la ao apoiar-se na pergunta de Mason.

Ela cruzou os braços e ergueu o queixo, olhando ao redor com uma expressão que os desafiava a encontrar outra resposta.

— Eu já disse que não tava falando com ninguém! Tá vendo alguém aqui? — Ela girou os braços, gesticulando para o vazio ao redor, com sarcasmo evidente.

O pai respirou fundo, os lábios pressionados em uma linha rígida. O controle que ele costumava exibir parecia falhar à medida que a irritação se acumulava. Com um movimento brusco, apontou para a casa.

— Precisamos conversar — declarou, a voz baixa e perigosa.

Mackenzell relutou, mas seguiu o pai até o escritório. Atravessaram a casa em silêncio, com o peso da tensão preenchendo o ar, até que ele abriu a porta, indicando para que ela entrasse.

Lá dentro, ele fechou a porta atrás dela, e os dois ficaram em pé por um momento, se encarando. O rosto dele suavizou um pouco, mas ainda mostrava a intensidade de alguém que não aceitaria respostas vazias.

No escritório, o ambiente pesado parecia comprimir o ar ao redor, enquanto o pai de Mackenzell a fitava com uma intensidade que a fazia sentir-se cada vez menor. Mason permanecia em silêncio na porta, braços cruzados, olhos fixos na cena como se estivesse avaliando cada reação dela, uma presença silenciosa que adicionava ainda mais pressão.

O pai lançou um olhar incisivo, a voz dura e carregada de suspeita.

— Com quem você estava falando? Com o John B? Ele veio atrás de você? — O tom frio e acusador fez Mackenzell recuar ligeiramente, sentindo o coração disparar.

Ela apertou os lábios, tentando se controlar, mas o nó em sua garganta tornava difícil até respirar. A acusação implícita a fazia se sentir acuada, encurralada.

— O quê? Não! Ele não veio... — murmurou, a voz falhando, o choro tentando escapar.

— Não? — ele insistiu, inclinando-se ligeiramente para frente, o olhar dele mais penetrante. — Querida, por favor, não minta pra mim.

Ela engoliu em seco, sentindo o peso das palavras dele como uma ameaça. A vontade de desabar era grande, mas ela sabia que não podia ceder.

— Tá, então não mente pra mim — respondeu, a voz saindo num sussurro cortante, a frustração refletida em cada palavra.

Ele respirou fundo, irritado pela aparente insolência dela.

— Eu não minto — rebateu, como se estivesse reafirmando sua autoridade, sua voz agora mais ríspida.

Ela o encarou, com o rosto molhado de lágrimas, mas sem desviar o olhar.

— Então me diz o que aconteceu no barco! — a voz dela saiu trêmula, beirando o desespero, as lágrimas agora escorrendo livremente, e ela quase soluçava.

O pai parecia impassível, mas algo nele se alterou. Ele hesitou antes de responder, elevando a voz para se impor.

— Eu já te disse. Eu não saí com eles, eu não... — interrompeu-se, sentindo a intensidade crescente da conversa e o desconforto de ser confrontado.

Nesse momento, Mackenzell percebeu algo. O olhar dela desceu até a gola da camisa polo do pai, onde um hematoma começava a se revelar, escuro e recente. Não estava lá ontem. A constatação a atingiu como um soco. Por que ele mentiria? A possibilidade de estar escondendo algo a fez sentir-se traída.

O aperto em seu peito aumentou, as lágrimas agora se intensificavam, e ela abaixou o olhar, sentindo-se completamente desamparada. As contradições, as pressões, as acusações... tudo parecia se acumular sobre ela.

Ela fechou os olhos, apenas desejando que aquele interrogatório acabasse.

— Pai, por favor...

O pai de Mackenzell ajustou-se na cadeira, o olhar pesado e cansado, enquanto tentava suavizar o tom de voz, mas a tensão ainda transparecia em cada palavra. Ele respirou fundo antes de começar.

— O Ward tentou levar o garoto pra pescar. Você lembra disso, não é? Ele fez isso porque ele precisa de uma figura paterna. — Ele manteve o olhar fixo nela, esperando que ela compreendesse suas intenções. — Então, eles saíram, e foi ótimo... até que ele começou a beber. E, em um dado momento, começou a acusar o Ward de... cada coisa surreal... Eu te disse!

Mackenzell se encolheu na cadeira, as mãos se fechando em torno do próprio corpo. O pai continuou, a voz agora mais fria, quase mecânica, como se estivesse revivendo algo que não queria contar.

— Quanto mais o Ward tentava acalmá-lo, mais raiva ele sentia. Então ele me ligou, Mackenzell. — As palavras dele soaram como um peso que caiu sobre ela. — Ele pediu minha ajuda porque o garoto estava fora de si. Era isso que você queria tanto saber? Hein? Se eu estive lá? Eu estive! — Ele se levantou de repente, a voz explodindo em um grito que ecoou pelo escritório.

Ela piscou, o susto fazendo-a perder o fôlego, e as lágrimas começaram a escorrer. Ele respirou fundo, as narinas infladas, e ergueu a manga da camisa, revelando a marca escura e inchada no braço.

— Até que, finalmente, ele me atacou — ele disse, a voz carregada de rancor, os olhos fixos nela.

Mackenzell observou o hematoma, sua mente tentando processar tudo o que estava ouvindo. Mas o choque a impedia de reagir.

— O John B não faria isso... — murmurou num sussurro quase inaudível, mais para si mesma do que para os outros.

Mason, que observava tudo em silêncio até então, soltou uma risada áspera, com irritação ardendo em seus olhos.

— É claro que aquele Pogue faria isso — disparou com desdém. — Ele tava planejando roubar o Druthers.

Mackenzell piscou rapidamente, confusa, ainda absorvendo a informação enquanto Mason a olhava com superioridade.

— Não acredita nisso? Quer ver outra vez? — Ele deu um passo à frente, quase ameaçador. — Quer ver a foto de como ficou o braço do Ward onde ele o atacou com uma lança? Quer ver o que ficou no deck do Druthers? Quer ver o meu braço? — ele gritou, levando a camiseta para que ela visse.

Ela ergueu as mãos, a voz saindo tremida, desesperada enquanto as lágrimas escorriam pelos olhos. Agora tudo parecia mais real. Mais real do que tudo que haviam dito, agora ela estava vendo. Sentindo.

— Para! Por favor, sério, para de gritar...

A intensidade do pedido pareceu atingi-los como um golpe. O pai dela respirou fundo, baixando o tom, a culpa sutilmente surgindo em sua expressão.

— Desculpa, filha — disse, finalmente, num tom mais baixo, com as palavras carregando um peso de arrependimento. — Eu... eu não queria gritar.

— Mas talvez devesse — provocou Mason, dando um passo em direção a Mackenzell. O olhar de Reece Kook se desviou imediatamente para ele, a expressão séria e impenetrável, fazendo o irmão recuar levemente, assustado.

— Fora, Mason — ordenou Reece com firmeza.

Mason hesitou, a raiva reluzindo em seus olhos.

— O quê? Por que eu? — questionou, a voz impregnada de irritação. Reece cruzou os braços, impaciente, pronto para reafirmar sua autoridade, mas Mason continuou, com um sorriso irônico.

— Vai mesmo me expulsar? Talvez sua preciosidade aqui — ele lançou um olhar mordaz para Mackenzell — não seja tão perfeita quanto você pensa. Sabia que ela voltou a se encontrar com o JJ Maybank? Aquele Pogue medíocre que você já proibiu de chegar perto dela?

As palavras caíram como uma lâmina, e Mackenzell sentiu o sangue ferver. Ela avançou um passo, encarando o irmão.

— Quem te disse isso, Mason? — perguntou, a voz carregada de indignação, embora já soubesse a resposta. Ele apenas deu de ombros, o sorriso desdenhoso voltando.

— A Ambrie. — ele disse dando de ombros.

Ela respirou fundo, tentando controlar a revolta. Ambrie era uma traidora de merda. Mas o pai dela já havia se voltado para ela, seu olhar gelado e duro. Ele ignorava suas lágrimas, como se nada pudesse amenizar a traição que ele via refletida ali.

— Mason, fora — repetiu, a voz agora carregada de irritação. Mason hesitou, mas acabou saindo do escritório com um resmungo e uma batida pesada da porta.

O pai de Mackenzell suspirou, voltando a se sentar à frente dela no sofá do escritório. Ela manteve os olhos fixos no chão, o rosto quente de constrangimento e raiva contida. Reece observou-a em silêncio por um instante antes de finalmente romper o silêncio, a voz baixa, mas carregada de desaprovação.

— É verdade? Depois do Rafe, você voltou a se envolver com aquele Pogue? — Ele perguntou com um tom ameaçador, ignorando completamente o fato de que ela já estava aos prantos. — Merda. Eu te perguntei ontem e você mentiu na minha cara.

Ela sentiu as lágrimas escorrerem, um nó formando-se em sua garganta, enquanto tentava encontrar uma resposta que pudesse aplacar a decepção e a raiva do pai.

Envergonhada, Mackenzell assentiu com a cabeça, o olhar preso ao chão, incapaz de encará-lo. Ela tinha medo do pai. Ambrie costumava acreditar que era a única na casa que sentia medo dele. Para ela, Mackenzell era a favorita, a filha sem defeitos, sempre exaltada. Mas não era bem assim. Mackenzell também tinha que ser perfeita. E ali, naquele instante, com os olhos duros do pai sobre ela, sentia-se longe disso.

Uma vergonha insuportável tomou conta dela, alimentada pelo olhar frio de Reece e pela sua própria confusão de sentimentos. Ela gostava de JJ. E, ainda que só tivessem se beijado uma vez, a mente dela girava em busca de maneiras de terminar com ele sem magoá-lo, tudo para não ter que encarar novamente o desprezo no rosto do pai.

Reece, após um longo silêncio, finalmente quebrou o ar pesado entre eles.

— Então não era o John B. Era esse garoto que esteve aqui — ele disse, com uma ponta de desgosto.

— É... — ela sussurrou quase inaudível, a voz marcada por constrangimento.

Reece suspirou, passando a mão pelos cabelos dela com uma mistura de desprezo e piedade.

— Eu te disse, querida... — ele murmurou, as palavras impregnadas de uma frieza cortante. — Não pode ser uma vadia.

As palavras dele atingiram Mackenzell como um soco, tão cruéis e diretas, como se ele estivesse dizendo algo absolutamente normal. Como se ela tivesse cometido o pior dos pecados.

—... nada aconteceu, eu prometo... — ela respondeu apressadamente, afirmando com a cabeça, desesperada para que ele acreditasse. As palavras saíram atropeladas, enquanto ela tentava se justificar, como se aquilo fosse salvá-la do peso da vergonha.

Reece a observou em silêncio por um longo momento, cada detalhe de sua expressão transbordando desprezo, como se ele estivesse olhando algo que o enojasse. A frieza nos olhos dele parecia congelar o ar ao redor, o espaço entre eles se tornando um campo de tensão insuportável.

— Você realmente não tem limites, não é? — ele disse, sua voz cortante como uma lâmina bem afiada. Cada palavra caía sobre ela como um golpe calculado, planejado para machucá-la. — Depois de tudo o que fiz, de tudo o que sacrifiquei... e é assim que você escolhe me retribuir? — Ele fez uma pausa, os olhos presos aos dela, como se quisesse se assegurar de que cada sílaba estava penetrando fundo. — Se rebaixando a esse ponto? Se misturando com alguém... como ele?

A voz dele tinha um desprezo que parecia queimá-la, cada sílaba pontuada por um desgosto que ela nunca tinha sentido com tanta intensidade. Mackenzell engoliu em seco, sentindo as lágrimas se acumularem, as mãos trêmulas tentando se agarrar ao próprio colo. Mas Reece não parecia notar, ou talvez ele apenas não se importasse. Ele continuou, cada palavra uma pedra a mais em seu fardo de humilhação.

— Você sequer entende o que isso significa para a nossa família? — Ele riu, uma risada amarga e fria, sem traços de humor. — Acha que é fácil pra mim lidar com seus erros constantes? Que eu não estou exausto de sempre ter que limpar a sujeira que você deixa? De ter que arrastar você pro médico, de resolver as suas crises e ainda assim manter essa família intacta?

Mackenzell sentiu o rosto arder de vergonha, como se a culpa que ele lhe atribuía tivesse um peso físico, esmagando-a. Ela quis dizer algo, qualquer coisa, mas a voz dela parecia ter desaparecido, engolida pela culpa e pela vergonha. Mas ele não terminou.

— Eu estou cansado, Mackenzell. Cansado de precisar salvar você das suas próprias escolhas... erradas. — Ele se inclinou levemente, os olhos cravando nela como se estivesse a analisando e encontrando um erro atrás do outro. — E o pior é que, mesmo depois de tudo isso, você ainda se envolve com alguém... Um Pogue. — Ele disse isso como se fosse a maior ofensa, cada palavra carregada de desprezo. — É isso que você quer ser? Uma vadia que joga fora a própria dignidade?

As palavras caíram como um soco no estômago dela, deixando-a sem ar, cada palavra impregnada de crueldade e nojo. A humilhação a envolveu, penetrando cada pedaço de sua autoconfiança, fragmentando-a. Ela sentiu o peito apertar, a mente gritar para que ela fugisse dali, mas a vergonha a prendia no lugar. Tudo que ela queria era desaparecer, mas estava ali, congelada sob o olhar impiedoso do pai.

Por dentro, uma raiva silenciosa fervia. Por que, então, com Rafe era diferente? Rafe, o filho que ele tanto incentivava, o garoto perfeito aos olhos do Ward. Rafe era um Kook, ele tinha um status, um sobrenome. E com ele, ela nunca foi chamada de vadia. O pai não só aceitava, como incentivava. Ele até conversava com ela sobre o relacionamento, como se fosse algo a ser celebrado.

E então, veio o pensamento que queimou ainda mais: o pai dela, outrora um Pogue também. A hipocrisia dele era insuportável, ele só tinha se tornado quem era pelo dinheiro que sua mãe deixou, mas mesmo assim, a humilhação era maior do que a raiva. Mackenzell mordeu os lábios, engolindo o grito de protesto que ficou preso na garganta. Ela sabia que nada que dissesse mudaria o que ele pensava dela. Ele já havia decidido que ela era uma decepção.

Ela sentiu o rosto queimar de vergonha e as lágrimas finalmente escorrerem silenciosamente, uma última tentativa de controlar o que sentia. Ela abaixou a cabeça, a voz mal passando de um sussurro envergonhado.

— Sinto muito — foi tudo o que ela conseguiu dizer, cada palavra impregnada com o peso da humilhação, uma submissão silenciosa que a esmagava. Ela concordou com tudo o que ele disse, porque sabia que, para o pai, ela nunca seria perfeita

Mackenzell engoliu em seco, o peso das palavras de seu pai esmagando ainda mais sua alma. O choro a consumia, soluços incontroláveis escapando de sua garganta enquanto ela tentava, sem sucesso, segurar as lágrimas. Ela não podia mais esconder a dor que a envolvia, não podia mais mascarar a vergonha que transbordava de seu ser. Seu corpo estava tenso, os ombros se sacudindo com cada choro abafado, e ela mal conseguiu emitir as palavras.

— Eu... prometo que não... não... — Ela tentou falar, mas as palavras pareciam falhar nela, a humilhação a deixando paralisada. Ela queria que ele acreditasse nela, queria que ele soubesse que nada havia acontecido entre ela e JJ, mas ele não parecia disposto a ouvir. E, no fundo, ela sabia que, para ele, a verdade já estava decidida.

— Eu sinto muito... — Ela disse finalmente, a voz quebrada, mal conseguindo manter a compostura. Cada palavra soava vazia, como se ela estivesse repetindo a frase apenas para se livrar daquele olhar.

Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Reece a puxou contra seu peito, abraçando-a com força, como um urso, sufocando-a em um gesto que deveria ser de consolo, mas que só a fez sentir-se ainda menor. O calor de seu corpo, o cheiro de colônia que ele sempre usava, tudo era esmagador e abafado. Ela ficou ali, imóvel, sem conseguir se soltar.

— Eu te perdoo, querida — ele murmurou, sua voz tensa, mas carregada de uma frieza que ela não conseguia entender. — Sinto muito por ter gritado com você... é difícil, quando você é burra demais para entender o que está acontecendo.

Aquelas palavras cortaram como facas. Burra demais para entender. Ela queria chorar ainda mais, mas o som do choro de Dafe ecoou em sua mente, a lembrança do mesmo sentimento de humilhação que ele lhe impusera. Ele também a chamara de burra. A dor era quase insuportável, mas, como sempre, ela concordou. Concordou com ele, porque sentia que era isso que ele queria, que era o que ela devia fazer para parar de ser uma decepção.

— Eu entendo... — ela sussurrou, ainda soluçando, enquanto os olhos de Reece fixavam-se nela, cansados, como se ele já tivesse se cansado daquele jogo. Ela notava a expressão de exasperação no rosto dele, o olhar vazio, cansado de ver ela ali, fazendo aquela cena.

Ele fez uma pausa, como se estivesse ponderando o que dizer, e então, finalmente, falou de maneira mais calma, mas sem perder o tom autoritário.

— Quando voltarmos da viagem, vou levá-la ao médico de novo. — Ele disse, sua voz mais suave, mas ainda assim carregada de um certo peso, como se fosse um favor a ser feito. — Só pra garantirmos que nada de ruim aconteceu.

Mackenzell, ainda chorando, apenas concordou com a cabeça. Não tinha mais forças para lutar ou protestar. Tudo o que ela queria era que ele a deixasse em paz. Ela sentia como se estivesse perdendo algo importante, como se sua dignidade estivesse sendo arrancada, pedaço por pedaço, a cada palavra, a cada olhar de reprovação. Mesmo que ela não tivesse feito nada.

A ideia de mais uma consulta médica fazia Mackenzell se sentir completamente invadida, uma sensação de desconforto que ela não conseguia afastar, não importa o quanto tentasse. Seu corpo estremecia só de imaginar o momento em que teria que se deitar naquelas salas brancas e frias, onde estranhos a examinariam, tocariam sua pele de maneira impessoal, buscando respostas para algo que ela nem sequer tinha feito.

Ela se lembrou de sua primeira vez, a tensão daquele momento, e de como se sentiu ao ser analisada daquela maneira, como se sua dignidade fosse uma moeda barata sendo trocada entre mãos impessoais. Ela tinha certeza de que não estava grávida, não dessa vez, mas a possibilidade ainda a torturava. Mesmo que tudo o que ela tivesse feito fosse se envolver em algo que nunca deveria ter acontecido com um Pogue, isso era o que seu pai dizia e o que o mundo parecia acreditar.

Não era um Pogue. Era o JJ.

"Mas era pro bem dela", ela pensou, repetindo a frase em sua mente, como uma mantra, tentando convencer a si mesma de que essas consultas e exames, esses momentos de invasão, eram necessários. Para o bem dela. Para corrigir os erros que ela nem mesmo sabia que estava cometendo. A cada consulta, ela se sentia mais exposta, mais humilhada, mas talvez fosse isso que ela precisasse para ser "corrigida". Isso fazia parte de ser a filha certa, a filha obediente que seu pai esperava.

Mackenzell desejava, em algum lugar profundo dentro de si, que não precisasse mais passar por aquilo. Que os médicos parassem de invadir seu corpo, que ninguém mais tocasse nas coisas dela sem permissão, sem que ela tivesse controle. Mas, por enquanto, isso não importava.

O pai dela olhou-a com uma mistura de frustração e desespero, como se tentasse entender o que tinha acontecido para chegar àquele ponto. Mas para Mackenzell, tudo parecia claro agora: as palavras dele, a manipulação, o controle que ele tentava exercer sobre ela. Ela não era mais a garota inocente que ele poderia moldar à sua maneira.

"Não é quem você pensa que é," ele insistiu, tentando ainda se agarrar a uma última tentativa de convencê-la. Sua voz suave, sedosa, parecia tão distante das palavras duras que ele havia dito momentos antes. Mas era tudo parte do jogo dele. Ele estava tentando suavizar a ferida, mas Mackenzell não se enganava mais.

Ela o encarou, os olhos cheios de dor, mas também de um cansaço profundo. Não podia mais se deixar dominar por aquilo.

— Se você ouvisse... as loucuras que ele falou lá no barco...

— Tipo o quê? — ela questionou, com o resquício de coragem que tinha

— Que eu matei o pai dele. Tipo isso. — Ele riu de forma amarga, mas Mackenzell não se moveu. As palavras dele soavam vazias agora.

— Ele te falou isso? — Ela balançou a cabeça, não acreditando no que ouvia, mas ao mesmo tempo, vendo que ele estava tão desesperado por controlar a situação que até mentir para ela parecia ser uma opção. Ou era verdade. Ela
não sabia de mais nada.

— Sei que você gosta do John B. E sei como isso... pode ser forte. Principalmente na sua idade, dando em vista o que você fez. — ele a acusou com nojo, se referindo à JJ. — Mas querida, ele tá perigoso agora. Eu não sei o que ele faria com você se irritasse ele. — Ele parecia realmente preocupado, ou ao menos tentava passar essa impressão.

Ele estava distorcendo tudo, distorcendo até o que ela sentia. Ela queria gritar que John B não era assim, que ele jamais faria o que ele estava sugerindo, mas sabia que isso não mudaria nada. O pai dela já tinha decidido no que acreditar.

A sensação de ser tratada como um fardo, como se ela fosse fraca ou ingênua demais para entender, se apoderou dela. A dor que isso causava era sufocante, mas ela engoliu o grito. Era patético, ela pensou. Patético como ele conseguia se fazer de vítima enquanto a pressionava e a humilhava.

A voz dele, aveludada como se não tivesse acabado de gritar com ela, parecia mais uma tentativa de abafar a culpa. Como se aquela suavidade fosse apagar o veneno que ele havia injetado nas palavras anteriores.

— Eu não posso aceitar isso. Eu preciso que me prometa que não vai chegar perto dele... e que vai ficar aqui... até essa loucura toda passar. Que vamos viajar e que vai ficar tudo bem.

A dor que ela sentiu ao ouvir isso foi quase física. Ele queria que ela ficasse ali, presa nesse inferno, enquanto ele ditava suas regras.

— Não. — Ela falou firme, recusando o toque dele no rosto, a mão fria tentando acalmá-la. Sua postura, antes submissa, agora era cheia de coragem. Finalmente, ela se levantou, não queria mais ouvir aquele monólogo.

— Eu preciso ficar sozinha. — As palavras saíram mais baixas, mas firmes, e a sensação de que ela estava fazendo a coisa certa se instalou dentro dela. Não importava o que ele pensava, não importava o que ele queria. Ela não ia mais se submeter. Ela não era mais a criança que ele podia manipular com palavras doces e promessas vazias.

Mesmo com os olhos vermelhos de tanto chorar, Mackenzell se levantou, forçando o corpo a se mover, a ignorar a sensação de fraqueza que quase a aniquilava. Ela olhou uma última vez para o pai, as palavras ainda pesando no ar. Ela não podia mais suportar o olhar dele, aquele olhar que dizia tanto sem falar nada, aquele olhar que a fazia se sentir pequena.

— Você faz bem,— ele disse, a voz baixa e carregada de uma suavidade que parecia mais uma ameaça disfarçada. — Eu te amo, filha.

As palavras pareciam leves demais para o peso que ele colocava sobre ela. Ela respirou fundo, as palavras saindo de sua boca como se fossem forçadas. — Eu te amo — ela respondeu, mas a frase soou vazia, uma mentira que ela não sabia se conseguia mais acreditar. A voz dela não tinha firmeza, era apenas um eco do que ela achava que deveria sentir.

E então, sem olhar para trás, ela fechou a porta atrás de si, o som abafado ecoando na quietude do corredor. O peso da culpa a esmagou mais uma vez, e ela se sentiu como a pior pessoa do mundo.








O sol da manhã brilhava forte sobre o campus da faculdade. Pope estava em frente ao prédio onde faria sua entrevista para a bolsa, o coração batendo acelerado, mas ele tentava manter a calma. Seu pai, Heyward, estava a seu lado, com uma expressão descontraída, mas sabia que ele estava apreensivo. O sorriso do pai era um pouco forçado, mas Pope apreciava a presença dele, apesar de tudo.

— Boa sorte, filho. — Heyward disse, apertando o braço de Pope com um gesto afetuoso, mas prático, antes de dar meia volta. — Vou ter que dar uma ajeitada na pista dos Cameron e dos Kook, tem duas palmeiras atrapalhando a pista e precisam que ela aumente. Eles não sabem, mas se eu resolver isso antes da tarde, ganho um extra. O trabalho era do Gruff, mas ele passou pra mim. E a grana é boa. — Ele sorriu, como se fosse apenas mais um trabalho qualquer.

— O Ward é um ladrão. — Pope disse indignado

— Um ladrão mas a grana é boa. Olha, filho, vai dar certo. Eu sei que não adianta fazer discurso. Só não estraga tudo, tá? Vai em frente.

Pope, sem saber exatamente como responder, apenas assentiu, tentando disfarçar o nervosismo. Sabia que o pai tinha suas prioridades, e que, de alguma forma, ele queria que Pope seguisse em frente e ganhasse sua bolsa, que ele merecia.

— Tá, eu vou tentar, pai.

Ele observou o pai se afastando em direção ao seu trabalho, já colocando a mente no que teria de fazer. Pope se virou para a porta da faculdade, pronto para encarar o que viria pela frente. No entanto, antes que pudesse dar mais um passo, uma figura conhecida apareceu à sua frente. Ambrie, com o sorriso ligeiramente tímido e uma expressão que ele não conseguia ler direito, se aproximou dele.

— Boa sorte, Pope. — Ela disse, sua voz doce, mas com algo ali que Pope não conseguia identificar.

Pope se surpreendeu, mas se esforçou para sorrir de volta.

— Valeu, Ambrie. — Ele respondeu, um pouco surpreso com a presença dela.

Ela deu um passo à frente, olhando-o com mais atenção antes de olhar rapidamente para o pai dele, que estava um pouco afastado.

— Ah, esse é o seu pai, né? — Ela perguntou, como se estivesse fazendo uma observação, mas não escondendo o desconforto.

Pope não perdeu tempo.

— É, esse é ele. — Ambrie, ainda sorrindo de maneira um pouco forçada, olhou para Pope novamente, e então perguntou, como se quisesse aliviar a tensão.

— Vai viajar, Ambrie? — Pope perguntou, sem esconder a desconfiança que ainda estava em sua mente, fruto das últimas conversas com John B. Ele estava tentando não ficar paranoico, mas a inquietação era maior do que ele imaginava.

Ambrie hesitou um pouco, mas logo respondeu, tentando manter a calma.

— Sim, é... — Ela disse, com uma expressão cansada. — O meu pai está nos obrigando a ir para as Bahamas com os Cameron. Uma viagem de família.

Pope não sabia como reagir. A resposta dela soou estranha. Ele olhou para o pai dela, agora distante, e então olhou de volta para Ambrie, com uma expressão desconfiada.

— Bahamas? — Ele perguntou, em tom cético. — Isso não parece... estranho, não?

Ambrie se deu conta do olhar desconfiado de Pope e fez uma careta, tentando esconder o desconforto.

— Eu não sei, Pope. — Ela disse, com um suspiro. — Não tem muito o que eu possa fazer... Fugi hoje de manhã pra poder me despedir de você...

Pope ainda estava confuso, tentando entender se havia algo mais ali, mas tentou mudar de assunto.

— E a Mackenzell? Como ela está? — Ele perguntou, querendo desviar do desconforto que pairava no ar.

Ambrie não hesitou nem um segundo, sua expressão fechada agora.

— Quem se importa? — Ela disse, com uma voz cortante. — Ela está insuportável.

Pope franziu a testa, sentindo que algo estava errado, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Ambrie tentou dar a volta por cima, com um sorriso.

— Eu sei que você se importa, Pope... Mas ela é minha irmã, então acho que é normal não nos darmos bem... — Ela disse, em tom mais suave. — Mas olha, a bolsa já é sua, tá bom? Vai se dar bem...

Pope olhou para ela, ainda com um sentimento de estranheza no ar, mas disse, tentando se concentrar em algo mais positivo.

— É... Eu sei. Obrigado, Brie.

Ela olhou para ele por um momento, como se pensasse em mais alguma coisa, mas logo desviou os olhos. Pope, então, olhou para o pai, que já estava se afastando, e pensou mais uma vez sobre o que havia ouvido. Algo não estava certo, mas ele não sabia o quê. De repente, uma questão passou pela sua mente, e ele sentiu necessidade de perguntar.

— Ambrie, seu pai... — Ele começou, com um olhar mais sério. — O que você acha? Por que ele precisaria de mais espaço na pista? Aumentar a lista de pessoas... não faz sentido.

Ambrie o encarou, desconfortável, mas logo respondeu com um tom mais calmo, tentando disfarçar a ansiedade.

— Não sei... Talvez seja pelo tempo. — Ela disse, sem muita convicção. — A Kenzell tem problemas com isso, você sabe. Ela tem medo de voar na chuva.

Pope parou por um momento, refletindo. Algo não estava certo, e agora ele começava a perceber que as peças do quebra-cabeça estavam se encaixando, mas ele não sabia o que fazer com isso.

— Entendi. — Ele disse, com um suspiro profundo. Ele deu meia volta para entrar no prédio da faculdade, mas antes de se afastar totalmente, olhou para ela novamente. — Me promete uma coisa, Ambrie.

Ela o encarou, curiosa.

— Claro. O que é?

Pope a olhou com seriedade.

— Me promete que não falou nada sobre o ouro pro seu pai.

Ambrie olhou diretamente nos olhos dele e, após um longo momento de hesitação, respondeu com sinceridade.

— Eu juro, Pope. Não falei nada... A casa tava uma bagunça quando eu cheguei, meu pai e Ward em ligações e a pista de voo um caos... Eu não tinha como contestar, você não conhece o meu pai...

Pope a encarou por um momento, ainda incerto, mas parecia acreditar nela. Era estranho, a diferença dela e de Mackenzell ao falar do próprio pai. No dia anterior, Kenzell parecia certa de que ele era confiável, enquanto Ambrie parecia ter medo dele.

— Eu gosto muito de você, Ambrie... — Ele disse, com um tom grave. — Mas se você tiver entregado o ouro, por causa do que aconteceu com o John B, eu nunca mais vou olhar na sua cara.

Ambrie ficou um pouco tensa, mas logo se acalmou.

— Não fiz isso... Eu nunca faria isso... Eu estava ocupada pegando o Mason no aeroporto, depois de despistar meu pai de manhã como eu te disse. Foi a pior manhã da minha vida, e nem tive tempo de falar com o meu pai. Eles me mandaram fazer as malas e pronto...

Pope a olhou com mais carinho agora, sentindo que ela estava sendo honesta.

— Eu acredito em você, Ambrie. — Ele disse, se aproximando e a beijando suavemente, como se esse gesto fosse a única forma de aliviar a tensão que existia entre eles.

Quando o beijo terminou, ela se afastou um pouco e disse:

— Prometo que volto antes do verão terminar.

Pope deu uma última olhada nela e entrou no prédio. Ambrie ficou ali, observando-o, com o coração apertado e um sentimento estranho de que as coisas estavam prestes a mudar de maneira que ela não conseguia prever.



A entrevista estava em andamento há apenas alguns minutos, mas Pope já sentia como se o tempo tivesse parado. Os professores, sentados à sua frente, olhavam com atenção enquanto faziam suas perguntas. Ele estava tentando manter a calma, respirando fundo, mas sua mente estava longe dali. A sala de conferências, com suas paredes brancas e móveis de madeira clara, parecia distante, como se nada ali tivesse importância naquele momento.

— Então, Pope, você mencionou em sua carta de motivação o interesse pelo Royal Merchant. Pode nos falar mais sobre como você acredita que sua experiência nesse campo pode contribuir para a sua futura carreira? — perguntou o professor de negócios, um homem de meia-idade com óculos e cabelo grisalho.

Pope engoliu em seco e sorriu, tentando se lembrar do que havia escrito. Era uma resposta ensaiada, algo que ele já tinha dito outras vezes, mas naquele momento parecia difícil de manter o foco.

— Claro, eu acredito que o Royal Merchant... — ele começou, mas a palavra "Royal" parecia ecoar em sua cabeça de uma maneira diferente. Ele sentiu uma estranha pressão no peito, como se a chave para uma grande revelação estivesse na ponta da língua. — Bom, eu encontrei... Encontrei ele com meus amigos.

Ele respirou fundo, tentando ignorar o frenesi crescente em sua mente, mas a cada segundo que passava, algo estava prestes a se encaixar. Os outros professores trocaram olhares rápidos, aparentemente satisfeitos com sua resposta, mas Pope sentia uma crescente inquietação.

— Interessante, Pope. — O professor de logística comentou, ajustando seus óculos. — E como você acha que a logística de uma grande operação...

Pope piscou, tentando processar a pergunta. Ele estava prestes a responder quando, de repente, um pensamento aleatório surgiu em sua mente, causando um choque de compreensão. Ele parou, a respiração curta e ofegante. A pergunta sobre logística... o ouro... o avião... Ele estava começando a ver tudo de forma diferente.

De repente, ele entendeu. O clique.

O avião do Reece Kook... precisaria de mais espaço para correr. Por que?

Porque estava muito pesado.

Porra.

A mente de Pope deu um salto. Ele não precisava mais de provas. Ele sabia agora. Reece Kook tinha roubado o ouro. Ele tinha pegado o ouro embaixo da cama da Mackenzell. Tinha descoberto a parcela nove e tirado tudo de lá. Não era culpa da Ambrie, nem da Kenzell. Elas não tinham ideia do que estava acontecendo.

O Ward e Reece Kook haviam ido até o poço e levado tudo. E agora, para fugir, precisavam de mais espaço para o voo. O ouro estava escondido no bagageiro do avião.

A raiva e a incredulidade invadiram seu corpo, e sem pensar, Pope se levantou abruptamente, quase derrubando a cadeira. Os professores ficaram surpresos, trocando olhares confusos.

— Pope? — O professor de negócios perguntou, com um tom de preocupação.

Mas Pope não ouviu. Sua mente estava em outro lugar, e ele não conseguia mais se concentrar na entrevista. Ele sentiu como se a sala estivesse se fechando ao seu redor, a pressão aumentando a cada segundo.

Ele não sabia o que fazer com a informação, mas uma coisa era certa. Ele precisava falar com John B. Agora.

Sem pensar duas vezes, Pope deu as costas aos professores, correndo para a porta da sala. As palavras dos docentes ainda ecoavam em sua cabeça, mas ele estava em transe, sua mente concentrada apenas em uma coisa: encontrar John B. E contar a ele o que ele tinha acabado de descobrir.

Ele saiu da sala sem olhar para trás, seu coração batendo forte no peito.

A verdade estava finalmente clara.












_______________
15 mil 575 palavras.

Não sei o que dizer, eu me recusei a assistir a última parte da 4 temporada. Não sei se sequer terei coragem.
Não sei se o JJ realmente morreu,
Mas JJ Maybank, você foi meu personagem de consolo por quatro anos, me vi em você, sofri com você, ri de todas as suas piadas.

Se você realmente se foi, parte de mim se foi junto.
E terei que viver com isso, um vazio do que era você.
Meu personagem favorito.
Minha fanfic não vai parar, honestamente ela mal começou!
Então sem tristeza, e SEM SPOILERS nos comentários.
Me digam o que acharam do capítulo!
Comentem mto.
Eu super escreveria uma fic com o ponto de vista da Ambrie, oq vcs acham? Hihi
Com amor, e com muitas lágrimas,
Back.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top