16 - selling shit




Capítulo dezesseis,
Seelling shit















       Mackenzell atravessou o jardim, os passos lentos sobre a grama úmida, até avistar Rafe de pé junto ao cais de madeira. Ele estava parado, braços cruzados, encarando a água calma com aquela postura imbatível que parecia fazer parte dele. Diferente da última vez que se viram, o cabelo estava penteado para trás com gel, dando a ele um ar de controle absoluto. Um controle que, de alguma forma, sempre a deixava desconfortável.

Ela se aproximou devagar, chamando pelo nome dele.

— Rafe...

Ele se virou, um sorriso leve se formando em seus lábios antes de se aproximar e deixar um beijo íntimo na boca dela. Mackenzell retribuiu brevemente, mas logo se afastou um pouco, desconfortável com a proximidade excessiva.

— Oi... — ela murmurou timidamente, evitando o olhar dele.

Ela não gostava de contato físico exagerado  com Rafe, e não sabia ao certo o porquê. Mas ela achava que tinha começado depois da briga no cinema ao ar livre. Alguma coisa lá. Mas uma excessão é claro, foi quando ela estava com tesão e eles transaram.

Rafe inclinou a cabeça, estudando-a com um olhar desconfiado.

— Você sumiu ontem... — ele disse, o tom carregado de uma suspeita velada.

— É... — Mackenzell hesitou, procurando as palavras certas. — Eu e Sarah fomos andar de barco. Acabamos ficando ilhadas a noite toda.

Era verdade. O que ela omitiu foi que passaram a noite com Kiara e os Pogues, fugindo da polícia. Rafe não precisava saber dessa parte.

Ele arqueou uma sobrancelha, os olhos estreitando como se tentasse enxergar além das palavras dela.

— Tem passado muito tempo com a minha irmã, né? — perguntou, o tom mais acusador do que curioso.

Mackenzell franziu a testa, sem entender onde ele queria chegar.

— Sempre passamos. Sarah é minha melhor amiga.

— Entendi... — Rafe fungou e passou a mão pelo nariz, o gesto inquieto e desajeitado.

— Rafe... — ela chamou baixinho, tentando segurar o rosto dele, mas ele se esquivou, como se o toque dela o incomodasse. — Tá tudo bem?

Ele sacudiu a cabeça, evitando o olhar dela.

— Tá, tá... Tudo bem.

— Certeza? — ela perguntou, não convencida, mas deixou por isso mesmo e o puxou pelo braço, afastando-o do cais. Os dois andaram pelo jardim da casa dela, em direção ao canto mais isolado, logo atrás do escritório do pai dela, onde ele passava os dias trancado, envolvido em reuniões com Ward Cameron.

— Eu trouxe uma coisa pra você. — Mackenzell disse, tentando aliviar o clima tenso com um sorriso suave.

Rafe arqueou uma sobrancelha, intrigado.

— O quê?

— Fecha os olhos e abre as mãos. — ela pediu, divertida.

Rafe obedeceu, mas antes que ela pudesse entregar a surpresa, ele ergueu as mãos, brincando ao fingir que tentaria apalpar os seios dela.

— Ei! Não é isso! — Mackenzell riu, afastando as mãos dele, e então colocou uma grande pepita de ouro nas mãos abertas dele. — Agora sim. Pode abrir.

Rafe abriu os olhos e ficou encarando a peça brilhante em silêncio. A surpresa no rosto dele era evidente enquanto ele girava a pepita entre os dedos, como se não acreditasse no que via.

— Onde você achou isso? — ele perguntou, a voz baixa e incrédula.

— Não importa. — Mackenzell sorriu de leve. — Pode ajudar você a pagar o que deve pro Barry.

Os olhos de Rafe se estreitaram.

— O quê?

— Nós vamos penhorar essa pepita hoje, e eu posso te emprestar uma parte do dinheiro... — explicou, esperançosa, gesticulando como se já tivesse o plano todo traçado.

— Nós? — ele perguntou, agora desconfiado.

Ela mordeu o lábio, percebendo tarde demais o deslize.

— Eu e os Pogues.

O rosto de Rafe mudou instantaneamente. Sua expressão se fechou, o olhar escurecendo com uma fúria silenciosa.

— Você tá brincando comigo, né? — ele avançou um passo na direção dela, a raiva crescendo em cada palavra. — Você tá dizendo que anda se esgueirando com aquela merda de Pogues?

— Essa não é a questão! — Mackenzell rebateu, tentando manter a calma. — Eu só quero te ajudar, Rafe... Como eu prometi.

— Não é só isso, Kenzell... — ele murmurou, passando as mãos pelo rosto. A voz dele estava pesada, arrastada, cheia de frustração contida. — Meu pai descobriu. Tá legal? Ele descobriu tudo e pagou minha dívida.

Ela piscou, atônita.

— O quê? — Mackenzell recuou, segurando a pepita de volta contra o peito, como se quisesse protegê-la dele. — Como assim ele descobriu?

Rafe balançou a cabeça, frustrado.

— Eu tentei pegar dinheiro emprestado... e ele descobriu.

— Merda... — Mackenzell sussurrou, desapontada.

Mas então, algo brilhou nos olhos de Rafe. Ele se aproximou novamente, mais devagar desta vez, como se já tivesse formulado um novo plano na mente.

— Mas essa pepita... Kenzell... — ele disse, a voz baixa, quase sedutora. — Onde você achou isso? Os Pogues têm mais?

Mackenzell sentiu o peso das palavras dele e a ameaça implícita nelas.

— Eu... eu não sei. — tentou mentir, mas a incerteza em sua voz a denunciou. — Talvez.

Rafe sorriu de canto, satisfeito com a resposta dela.

— Você precisa contar pro seu pai. — ele murmurou, passando a mão pela boca pensativo, enquanto o anel dourado em seu dedo refletia a luz do sol. — Ele vai saber o que fazer. Se esses Pogues têm isso, então eles sabem onde pode ter mais.

Mackenzell sentiu o estômago revirar. Rafe não ia parar até conseguir o que queria. E agora, ela estava presa entre duas escolhas igualmente perigosas.

Rafe avançou mais um passo, a mandíbula tensa e os olhos fixos nela, como se tentasse dobrá-la pela força do olhar. Mackenzell se manteve firme, apertando a pepita de ouro contra o peito, embora o peso da presença dele quase a esmagasse. Ele inclinou o corpo para mais perto, a voz baixa e cortante, cheia de urgência.

— Você não pode esconder isso, Kenzell. Se sabe de alguma coisa, tem que falar.

Ela balançou a cabeça, os lábios trêmulos, mas o olhar firme.

— Não, Rafe! Eu não posso. — ela dando um passo pra trás, tentando se afastar dele

Rafe soltou uma risada curta e amarga, inclinando a cabeça para o lado.

— Sabe qual é o problema com você? — ele sussurrou, o desprezo crescendo em cada palavra. — Você tá se afundando com esses Pogues. E eles não são nada.

— Você não sabe disso! — ela gritou irritada

— Eles nunca vão ser nada perto da sua família. — ele disse abanando os braços como se ela fosse burra e não entendesse o obvio — Você tem que dizer!

As palavras atingiram Mackenzell como um tapa. O coração dela disparou, não de medo, mas de raiva — uma raiva fria, intensa. Aquele não era o garoto com quem ela havia se envolvido. O Rafe que a fazia rir entre beijos, que parecia tão perdido quanto ela, tinha desaparecido.

— O ouro é deles, Rafe! — ela murmurou, a voz embargada, mas carregada de desgosto. — A gente não pode simplesmente pegar e fingir que é nosso! Eu só queria te ajuda, merda... — ela disse completamente arrependida de ter o chamado

O rosto dele se contorceu de frustração e desprezo.

— Me dá isso, Mackenzell. — ele exigiu, a mão estendida em direção ao ouro.

Ela recuou, apertando a pepita contra o peito como se fosse a única coisa que a protegesse dele.

— Não! — ela gritou, a voz firme

Rafe deu um passo brusco para a frente, a expressão carregada de raiva.

— Me dá isso, porra! — ele rosnou, a mão se esticando para arrancar o ouro das mãos dela.

Mackenzell tropeçou para trás, empurrando-o com o ombro, os olhos marejados e brilhando de raiva.

— Não, Rafe, para! — ela gritou, o peito subindo e descendo com a respiração acelerada. — Vai embora!

Por um instante, o silêncio foi esmagador. A respiração dele estava pesada, e os olhos de Rafe ardiam com uma fúria que ele parecia não conseguir conter. Ele abriu a boca para falar, mas uma voz grave e firme o cortou como uma lâmina.

— Vai pra casa, filho.

Ambos se viraram para ver o pai de Mackenzell, parado ali na frente dela e a defendendo. Com os ombros quadrados e uma expressão impenetrável. Ele se aproximou lentamente, posicionando-se entre os dois. Não precisou erguer a voz — a autoridade no tom era mais do que suficiente.

— Vai pra casa, Rafe. — ele disse grosseiramente empurrando seu ombro

Rafe hesitou, como se tentasse decidir entre obedecer ou desafiar, os punhos cerrados ao lado do corpo. Mas ele sabia que não havia espaço para negociação.

— Pai... — Mackenzell sussurrou, a voz embargada, os olhos marejados. — Por favor...

Rafe praguejou baixo, frustrado. Lançou um olhar de desprezo para Mackenzell, como se fosse ela a responsável por tudo aquilo, antes de girar nos calcanhares e sair a passos pesados.

O pai dela ficou ali, firme, até que Rafe desaparecesse da vista. Então, sem dizer uma palavra, ele se virou para Mackenzell. O olhar dele era suave agora, sem qualquer julgamento — apenas a certeza de que ela não precisava enfrentar aquilo sozinha.

Mackenzell respirou fundo, tentando organizar os pensamentos que corriam como um turbilhão em sua mente. O coração ainda batia acelerado, e seus dedos tremiam quando ela, quase sem pensar, guardou a pepita de ouro de volta no bolso. Não havia mais motivo para explicações — não para o Rafe, nem para ninguém.

Seu pai permaneceu imóvel por alguns segundos, apenas observando-a, como se soubesse que ela precisava de tempo para se recompor. Mackenzell desviou o olhar, mordendo o lábio para conter as lágrimas. No fundo, uma parte dela se sentia aliviada por ele não ter ouvido toda a conversa. Ele não sabia de tudo, mas havia aparecido exatamente quando ela precisava.

O silêncio entre eles era estranho, mas carregava uma espécie de conforto. Quando ele se aproximou e a envolveu num abraço firme, o corpo dela finalmente relaxou. O cheiro familiar da camisa dele, misturado ao aroma suave de café e cigarro, trouxe um inesperado consolo.

— Vai ficar tudo bem — ele murmurou, baixinho, enquanto passava a mão nas costas dela em um gesto reconfortante.

Mackenzell deixou a cabeça cair contra o ombro dele, finalmente permitindo que algumas lágrimas silenciosas escapassem. Sentia-se exausta, como se tivesse acabado de correr uma maratona emocional.

Por um momento, tudo o que ela fez foi fechar os olhos e aceitar aquele abraço. Não havia respostas ali, nem certezas — apenas a promessa implícita de que ela não precisaria enfrentar aquilo sozinha. E, por agora, isso era tudo o que ela precisava.






Mackenzell estava encolhida na poltrona de couro marrom da sala de estar, os joelhos dobrados contra o peito enquanto as lágrimas escorriam descontroladamente pelo rosto. O brilho suave dos lustres não fazia nada para aliviar o peso que ela sentia. Seu pai, Reece Kook, andava de um lado para o outro, furioso, a voz grave e cheia de autoridade ecoando pelas paredes como um trovão.

— Eu não vou tolerar mais esse moleque aqui, Mackenzell! — ele disse, a frustração borbulhando em cada palavra. — Eu vou falar com o Ward. Isso tem que acabar!

— Papai, por favor... não precisa — ela implorou entre soluços, a voz fraca e quebrada pelo choro. Mas não era apenas a discussão com o pai que a fazia desmoronar; era tudo o que vinha acontecendo ao mesmo tempo, como se o mundo inteiro estivesse desabando sobre ela.

Antes que Reece pudesse continuar, Ambrie desceu as escadas correndo, o som dos passos apressados ecoando pela casa silenciosa. A preocupação estava estampada no rosto dela.

— Que gritaria é essa? O que aconteceu? — Ambrie perguntou, ofegante, os olhos ansiosos pousando em Mackenzell e depois em seu pai.

Mackenzell tentou falar, mas o nó na garganta a impediu. Ela soluçou, tentando recuperar o fôlego.

— O Rafe, ele... — começou, a voz entrecortada.

Mas Reece não deu tempo para explicações. Ele continuou seu discurso, a raiva ainda mais evidente.

— Você me disse que ele era um bom garoto. Você garantiu! — ele gritou, apontando para a filha como se ela fosse a culpada por tudo.

Ambrie, na tentativa de aliviar a tensão, soltou um comentário irônico:

— Ai, ela mentiu feio.

O olhar severo de Reece pousou nela como uma lâmina.

— Ambrie! — Mackenzell exclamou, a voz aguda e desesperada.

— Não foi assim, ele só... — Mackenzell tentou explicar, mas as palavras ficaram presas no meio do choro.

— Ele só gritou com você e tentou arrancar algo das suas mãos! — Reece rosnou.

Com passos firmes, ele se aproximou da mesa lateral e pegou o celular.

— Se você mentiu sobre isso, Mackenzell... o que mais você pode estar mentindo? Huh? — ele gritou, a voz ecoando como um golpe final. — Sobre o que mais você tem mentido?

Mackenzell chorava sem controle, os soluços sacudindo seu corpo. Ambrie se sentou ao lado dela no sofá, tentando segurar sua mão em um gesto de conforto, mas Mackenzell afastou o toque, incapaz de aceitar carinho naquele momento.

Reece, com as mãos trêmulas de raiva acumulada, discou o número de Ward Cameron. Não era apenas sobre Rafe. Havia algo a mais ali, algo que ela não entendia do que se tratava. Era como se o pai não estivesse lidando apenas com Rafe, mas com uma raiva muito mais profunda a ser debatida.

— Papai, por favor, não liga! — Mackenzell implorou, mas a súplica dela foi cortada pela expressão rígida de Reece.

Ele levantou o dedo, sinalizando para que ela se calasse. Mackenzell mordeu o lábio, sentindo-se ainda menor sob o peso daquele gesto autoritário.

Então, Ward atendeu. A mudança no semblante de Reece foi instantânea. A voz firme se transformou em uma falsa suavidade.

— Faço de tudo porque amo você, querida — ele disse para Mackenzell, num tom quase gentil, antes de sair da sala com o celular colado ao ouvido.

Enquanto ele subia a escadaria em direção ao escritório, a conversa entre ele e Ward começou. O som de sua voz foi ficando distante, mas o peso das palavras que ele deixou para trás permaneceu, afundando Mackenzell ainda mais na poltrona.

Ambrie permaneceu ao lado da irmã, agora em silêncio, sem saber o que dizer. Ela só podia observar enquanto Mackenzell tentava segurar o mundo nos ombros, cada vez mais frágil sob a pressão de todos os segredos e responsabilidades que eram jogados sobre ela.

Ambrie se inclinou ligeiramente para a frente, tentando quebrar a distância entre elas.

— O que aconteceu? — perguntou suavemente, tentando ser carinhosa, mas Mackenzell afastou o corpo como se o toque da irmã a queimasse. Rapidamente, limpou as lágrimas com a manga da blusa, os olhos vermelhos e inchados.

— Eu fiz besteira. — murmurou, mas sua expressão mudou. A tristeza profunda que dominava seu rosto deu lugar a uma raiva crescente, voltada para si mesma.

Ambrie franziu a testa, preocupada com a mudança repentina de humor.

— O que foi? Me conta. — insistiu, a voz baixa e cuidadosa.

Mackenzell apertou os lábios com força, respirando fundo para evitar mais lágrimas. O nó na garganta ainda estava lá, mas ela tentava disfarçar.

— Eu confiei nele. Achei que podia controlar isso. — A frustração vazava nas palavras, como se cada sílaba fosse um espinho na pele.

Ambrie inclinou a cabeça, os olhos fixos na irmã.

— Rafe?

Mackenzell assentiu, apertando as unhas na palma das mãos

— Kenzell... você fez o que achou que era certo. Você não podia saber que ele...

— Não importa. — Mackenzell a interrompeu, sua voz agora mais fria. — O papai vai falar com o Ward. E aí, eu não vou conseguir mais consertar nada, porque se o papai viu isso, eu fodi com tudo.

Ela esfregou o rosto, tentando tirar o peso das emoções acumuladas, mas era inútil. Ela tirou o ouro do bolso, o levantando na direção da própria irmã, que completamente chocada abriu a boca antes de tocar nele

Mackenzell sentiu o celular vibrar mais uma vez na mão e, com um suspiro, revirou os olhos.

— É a Kiara. Marcamos de penhorar o ouro. Como eu sou idiota. — Ela apertou o celular com frustração.

Ambrie estreitou os olhos, confusa.

— Espera, você tá falando com a Kiara Carrera? — perguntou, tentando entender em que ponto da história tinha perdido o fio.

Mackenzell soltou uma risada curta e exasperada.

— E ontem de madrugada eu me enfiei num poço fundo, cheia de lama, e destruí meu tênis favorito pra pegar isso. — Ela apontou para o ouro nas mãos de Ambrie e rapidamente o pegou de volta, como se temesse perdê-lo novamente. — As coisas mudam.

Ambrie piscou, assimilando a informação.

— Por isso você ficou horas no banho ontem. — comentou, cruzando os braços. Um sorriso brincalhão surgiu em seus lábios. — Quem diria... Olha quem tá fedendo como uma Pogue agora.

Mackenzell riu, relaxando um pouco.

— É, talvez eu esteja. — disse, guardando a pepita de ouro no bolso como se quisesse mantê-la o mais perto possível. — Vou mandar uma mensagem pro Rafe e pedir pra ele não dizer nada.

Antes que pudesse digitar, Ambrie rapidamente tomou o celular da mão dela.

— O quê? Tá doida? — Ambrie exclamou, segurando o celular fora do alcance da irmã. — Você não vai mandar mensagem praquele babaca.

Mackenzell suspirou, exasperada.

— Então o que eu faço, Ambrie? Espero ele sair por aí contando pra todo mundo que eu achei a merda do ouro? — Ela colocou as mãos no rosto, se sentindo um fracasso. — Por que eu tenho que ser tão burra?

Ambrie puxou o braço da irmã com firmeza, forçando Mackenzell a olhá-la nos olhos.

— Você não é burra, tá legal? — disse com confiança. — E, olha, se ele falar alguma coisa, ninguém vai acreditar. Se eu mesma não estivesse vendo esse ouro na minha frente, também acharia que você tava pirando.

Mackenzell revirou os olhos levemente, mas um pequeno sorriso escapou, como se começasse a acreditar, mesmo que a contragosto, nas palavras da irmã.

— Agora, você vai ligar para Kiara e avisar que tá indo encontrá-la pra fazer o negócio com esse ouro. Beleza? — Ambrie disse, séria, mas com um toque de encorajamento na voz.

Mackenzell respirou fundo, assentindo devagar.

— Tá, beleza... — murmurou, começando a se recompor, a mente já tentando reorganizar o caos em que havia se metido. — Você já falou com o Pope?

Ambrie hesitou por um instante, fechando um olho como se reconsiderasse suas últimas interações.

— Trocamos algumas mensagens. — respondeu, sem muita firmeza, enquanto mexia no cabelo, pensativa. — Vamos nos encontrar mais tarde no píer pra conversar.

Mackenzell acenou com a cabeça, como se o simples fato de ouvir isso a tranquilizasse um pouco.

— Bom, bom. — disse, o tom um pouco mais leve agora. — Isso é bom. Ele é um garoto super legal, sabe?

— É, ele é. — Ambrie concordou, sorrindo de lado

As duas ficaram em silêncio por um momento, como se a tensão entre elas tivesse finalmente se dissipado, pelo menos por ora.








O sol queimava suave no início da tarde enquanto Sarah e Mackenzell caminhavam rápido, os passos apressados pelas ruas de terra batida. Mackenzell olhava por cima do ombro de vez em quando, como se esperasse ver alguém surgir repentinamente — talvez Rafe, talvez o próprio pai dela. Mas, não. Tudo parecia em paz, pelo menos por fora.

— Não sei o que você tem na cabeça, mas a gente vai conseguir isso. Vai dar certo — Sarah comentou ao lado dela, tirando os óculos escuros e colocando no topo da cabeça. A confiança na voz da amiga era o tipo de coisa que Mackenzell invejava. Queria poder acreditar tão facilmente.

Ela balançou a cabeça em concordância, apertando o casaco ao redor do corpo, como se aquilo pudesse segurar tudo que a perturbava. Não vou contar pra ninguém... A promessa ecoava na mente dela. Ninguém podia saber que Rafe estava ciente do ouro, e muito menos do confronto no jardim.

Elas viram a van de John B estacionada ao longe, com a porta lateral aberta. A velha Kombi parecia relaxada, quase convidativa, mas Mackenzell sentiu o coração acelerar. Não havia como voltar atrás agora.

— Eles já estão aí — Sarah comentou, acelerando o passo.

Quando chegaram, John B, JJ e Pope estavam amontoados na parte de trás da van, discutindo algo em voz baixa. Kiara estava sentada no banco da frente, batendo os dedos distraidamente no volante. Assim que Mackenzell e Sarah chegaram, JJ levantou a cabeça e deu aquele sorriso despreocupado, quase irritante.

— Até que enfim, hein? A realeza chegou. — JJ provocou, jogando uma lata de refrigerante para Mackenzell.

— Cala a boca, JJ. — Kiara revirou os olhos, mas havia um sorriso discreto em seu rosto.

Mackenzell se jogou no banco da Kombi, tentando parecer mais relaxada do que realmente estava. Ela evitou o olhar direto de John B, que logo foi direto ao ponto:

— Certo, então... qual é o plano?

— A gente vai penhorar o ouro. É simples — Mackenzell respondeu, tentando parecer decidida.

— Simples, é? — Pope arqueou a sobrancelha, cético. — Você tem ideia de como a gente vai vender isso sem levantar suspeita?

JJ esticou o corpo, cruzando os braços atrás da cabeça. — Relaxa, Pope. Eles nem vão perguntar de onde veio. Um quilo é fácil de passar despercebido.

— Fácil pra quem? — Kiara rebateu, ainda batendo os dedos no volante. — Pra um bando de adolescentes?

Sarah suspirou e cortou a discussão:

— Olha, ou a gente faz isso agora ou esquece o plano. Não temos muito tempo.

John B concordou, coçando a nuca. — E depois disso? A gente divide o dinheiro?

Mackenzell cruzou os braços, a ansiedade crescendo. E se Rafe aparecer? E se ele contar pra alguém? Ela sacudiu a cabeça, afastando o pensamento. Não. Ela não ia deixar isso estragar o plano.

— Depois que conseguirmos o dinheiro, cada um faz o que quiser com a parte dele — Sarah respondeu, prática.

JJ lançou um olhar divertido para Mackenzell. — E aí, princesa, já decidiu o que vai fazer com sua parte? Vai investir em bolsa de valores ou comprar uma ilha? Isso se a sua parte não for sua mesada.

— JJ, sério? — Kiara bufou, enquanto Mackenzell apenas balançava a cabeça, sem humor para brincadeiras.

— Não cansa de provocar. — ela disse irritadiça

John B olhou para todos eles, tentando manter o foco. — Então tá. Sem erros, sem mais segredos. A gente penhora e o ouro some antes que alguém comece a perguntar.

Mackenzell apertou o casaco ao redor de si, como se aquilo fosse o bastante para segurar tudo que ela escondia por dentro. O rosto de Rafe e as palavras dele ainda ecoavam em sua cabeça, mas ela empurrou tudo para o fundo da mente.

— Vamos acabar logo com isso. — A voz dela saiu mais firme do que esperava, e todos na van assentiram.

JJ deu um leve tapinha no ombro dela antes de se levantar. — Essa é a minha garota.

Eles fecharam a porta da van com um rangido, o motor roncando alto logo em seguida. O plano estava em movimento, e não havia mais espaço para hesitação.

Mackenzell lançou um último olhar para o horizonte enquanto o veículo começava a se mover. Ela não sabia o que viria depois, mas uma coisa era certa: ela não deixaria mais ninguém a controlar.

A van de John B parou em frente a um prédio envelhecido, com um letreiro grande e piscante: "POG - Ouro Pago em Dinheiro". A fachada estava desgastada, e o interior era ainda mais sombrio. O cheiro de mofo e cigarros pairava no ar, enquanto uma TV de tubo passava um jogo qualquer, ignorada por todos.

Mackenzell se remexeu desconfortavelmente ao ver a maquiagem estranha e pesada da atendente atrás do balcão. Algo naquele lugar parecia... fora do eixo. Mas ela forçou um sorriso e fingiu não notar nada.

— Acha que alguém vai acreditar nessa merda? — JJ perguntou pra Kiara, apontando pro ouro mal derretido que eles tinham em mãos

— Desculpa, JJ. — ela disse cinica — Da próxima vez você faz melhor.

— Pra você é fácil dizer isso. Não é você que vai vender essa merda aí. Por que eu tenho que fazer isso, hein? — ele perguntou torcendo o nariz

Mackenzell sorriu de canto. — Porque você é o melhor mentiroso entre nós.

Com um suspiro, Mackenzell se aproximou do balcão. A atendente, uma mulher com expressão entediada e olhar clínico, ergueu os olhos sem muito interesse.

— Boa tarde, senhora. — Mackenzell tentou soar casual. — A senhora compra ouro?

A mulher apontou para o letreiro sem desviar o olhar. — Tá na placa, não tá?

— Ótimo, então espero que compre muito — Mackenzell disse, tirando a pepita do bolso e colocando-a sobre o balcão. — Porque você vai ficar impressionada.

A mulher deu uma risada seca. — Nada me impressiona hoje em dia, querida. Mas manda ver.

— O que acha de uma maçã de ouro? — JJ provocou, empurrando a peça na direção dela com um sorriso presunçoso.

A mulher pegou a pepita com desconfiança e a analisou por um momento. — Não é verdadeiro.

— Não é verdadeiro? — Mackenzell arregalou os olhos, com fingida incredulidade. — Não pode ser. Sente o peso.

Ela empurrou a peça para a atendente novamente, que franziu o cenho, intrigada.

— Tá. Vamos ver... — A mulher segurou a pepita com mais atenção. — Pode ser tungstênio pintado.

— Tungstênio? — JJ riu. — Sério? Tenta ver o quão macio é.

— Posso? — A atendente perguntou.

— Vai fundo. — JJ deu de ombros.

A mulher pegou uma lâmina e raspou a superfície da pepita. Ela franziu o cenho ao ver a consistência do metal. — Nossa... Calma aí. Ainda não fiz o teste com ácido.

— Ah, o teste com ácido. Meu favorito! — JJ comentou, jogando charme para disfarçar a tensão.

A mulher passou um líquido sobre o metal, observando a reação com cuidado. Ela ergueu os olhos, agora mais atenta. — Bom... Não é folheado nem pintado. Isso aqui é real.

— Eu disse! — Mackenzell afirmou, forçando confiança na voz. — Tão real quanto pode ser.

A atendente virou a pepita nas mãos, intrigada. — Parece que alguém tentou derreter isso.

— Minha mãe — Mackenzell respondeu, improvisando rápido. — Ela achou que seria melhor derreter algumas joias antigas pra consolidar.

— Três quilos e meio? — A mulher ergueu uma sobrancelha. — Sua mãe era cheia de joias, hein?

Mackenzell abaixou a cabeça, fingindo um toque de tristeza. — É difícil... Ver minha mãe perder a memória por causa do Alzheimer.

A mulher hesitou por um momento, talvez tocada pela mentira, e se levantou. — Me dá um minuto.

Ela se afastou para falar com alguém nos fundos, enquanto os Pogues trocavam olhares tensos. JJ deu um leve aperto no braço de Mackenzell, satisfeito com a atuação dela.

— Mandou bem, princesa.

— Cala a boca, JJ. — Ela revirou os olhos, mas havia um pequeno sorriso escondido.

A atendente voltou depois de alguns minutos, segurando um telefone contra o ombro. — Certo, falei com meu chefe.

— E...? — John B perguntou, impaciente.

— O que eu posso oferecer é 50 mil.

— Só 50 mil? — JJ franziu a testa, incrédulo. — Acha que entrei aqui  sem saber o preço de mercado? Isso é piada.

— Sei que vale mais de 140 mil. Pelo menos. — Pope cruzou os braços, sério.

A atendente deu uma risadinha sarcástica. — Querido, isso aqui é uma casa de penhores. Não é Zurique.

— 90 mil ou a gente cai fora. — Mackenzell bateu a mão no balcão, firme.

— 70. E eu não faço perguntas sobre onde conseguiram isso.

Mackenzell hesitou por um momento, avaliando. — Quero em notas grandes.

A mulher fez uma careta. — Tem um problema. Não tenho tudo isso em espécie.

— Como assim? — JJ franziu o cenho. — Não é isso que tá na placa? "Pago em dinheiro"?

— Tenho que pegar no depósito.

— Onde fica o depósito? — John B perguntou, desconfiado.

A mulher sorriu, ajeitando o batom vermelho borrado. — Do outro lado da cidade. Espero que não se importem com uma viagem.

Os Pogues se entreolharam. A tensão crescia, mas não havia outra escolha.

— Vamos nessa — Mackenzell disse, pegando a pepita de volta.







Mackenzell estava quieta, observando a estrada passar pela janela. A tensão se acumulava no peito dela, o segredo sobre Rafe e o ouro pesando mais do que nunca. Ela sabia que não podia contar para ninguém. Nem mesmo para Sarah. Se eles descobrissem, tudo desmoronaria e perderiam a confiança nela de novo.

Então, ela decidiu guardar aquilo para si. Deixar o segredo sufocar dentro dela era mais seguro do que arriscar a rejeição dos amigos outra vez. Ao seu redor, eles riam e conversavam, ignorando o turbilhão na mente dela. A Kombi seguia pela estrada de terra em direção ao lugar que a mulher prometera ser o depósito para trocar o ouro por dinheiro.

— É estranho — Sarah disse, do banco da frente, franzindo a testa enquanto olhava para fora. — Eu nunca vim por aqui.

— Claro que não. Você é rica — JJ zombou, recostado no banco com um sorriso malicioso.

Sarah bufou e virou o rosto para Kiara, que a defendeu com um olhar impaciente.

— Você também não conhece, JJ.

— Valeu! — Sarah agradeceu.

— Eu só sei que aqui só tem mato. — JJ reclamou

— E só porque tem mato não significa que não possa ter polícia — Kiara retrucou, os olhos escaneando nervosamente a paisagem quando um carro se aproximou e a sirene ecoou.

— Meu Deus! Tá de brincadeira? — Sarah perguntou, a voz subindo uma oitava. — O que a gente fez de errado?

Antes que alguém pudesse responder, John B freou bruscamente, e um silêncio pesado tomou conta da Kombi. O som distante de sirenes se aproximava devagar, mas com certeza.

Mackenzell se recostou instintivamente no banco ao lado de JJ, o coração disparando. JJ se mexeu rapidamente, empurrando-a para fora do caminho para pegar a mochila que estava sob o banco dela.

— JJ, o que você tá fazendo? — Mackenzell perguntou, sentindo o pânico subir pela garganta.

Ele não parou para responder. Abriu a mochila e começou a recolher freneticamente sacos de maconha que estavam espalhados.

— Quer que a gente seja pego? — JJ murmurou entre dentes.

— A gente? — Mackenzell disparou, incrédula. — Eu não tô carregando nada!

— Cala a boca e esconde isso, rápido! — Ele jogou os sacos para o fundo do baú improvisado.

— Você trouxe a arma? — John B perguntou por cima do ombro, sem tirar os olhos da estrada.

— Não. Vocês me encheram o saco pra deixar ela no Castelo.  — JJ respondeu, irritado.

— Graças a Deus! — Kiara exclamou, aliviada.

Antes que conseguissem esconder tudo, um carro preto surgiu na estrada, fechando a Kombi com violência. John B pisou no freio, e todos foram jogados para a frente com o impacto. A porta do carro se abriu, e um homem mascarado, com uma bandana de caveira cobrindo o rosto, desceu armado.

— Todo mundo com as mãos pra cima, agora! — ele berrou, apontando uma pistola direto para John B. — Quero ver todas as mãozinhas no alto!

O silêncio dentro da Kombi se transformou em um caos sufocante. John B foi o primeiro a sair, levantando os braços lentamente, enquanto o mascarado o empurrava para o lado.

— Bora, fora do carro! Todo mundo! — o homem gritou. — Anda logo, desce!

JJ lançou um olhar rápido para Mackenzell e, sem aviso, puxou-a pelo braço quando ela congelou no banco.

— Vem, Ell, sai logo! — Ele sussurrou, a voz baixa e urgente.

Mackenzell parecia paralisada, os olhos fixos no homem mascarado como se pudesse ver através da bandana, até o fundo da alma dele. Só quando JJ a empurrou para baixo, obrigando-a a deitar no asfalto áspero, ela percebeu o que estava acontecendo.

— Abaixa a cabeça! — o mascarado gritou, apontando a arma para o grupo. — Todo mundo no chão! Mãos na cabeça, agora!

O som de soluços veio de Sarah, que estava encolhida ao lado de Kiara. JJ pressionou Mackenzell para baixo com mais força, os dedos dele firmes em seu ombro, ela estava quase abaixo dele, como se o corpo dele a protegesse.

— Relaxa, Ell. — ele murmurou, a voz tensa.

Ela sentiu o peito apertar, o asfalto frio contra a pele e o peso de tudo o que estava acontecendo esmagando sua mente. Isso era diferente de qualquer coisa que já havia passado. Não era como as explosões de tiros que rolaram com a senhora Crain. Dessa vez, parecia real. Demais.

Ela engoliu em seco, tentando controlar a respiração. As mãos trêmulas foram parar na nuca, obedecendo mecanicamente às ordens do mascarado. Enquanto JJ se abaixava ao lado dela, Mackenzell não conseguia afastar a sensação de que, a partir daquele momento, nada mais seria como antes.

O asfalto era frio e irregular, machucando a pele de Mackenzell e Sarah enquanto se encolhiam contra o chão, jogadas entre pedrinhas e poeira. Mackenzell sentia o coração dela martelando no peito, e, no impulso de procurar algum conforto, estendeu a mão para Sarah. A outra garota, tremendo, apertou de volta, como se aquele simples contato pudesse segurá-la à realidade.

Do lado de fora, o mascarado, armado e nervoso, vasculhava a Kombi rapidamente. O barulho das mochilas sendo reviradas e das coisas caindo ecoava na mente de Mackenzell como um presságio do pior.

— Esse desgraçado tá pegando o ouro — ela sussurrou, a voz saindo entrecortada pelo medo.

Ela sabia, agora, que tinham sido enganados. A mulher que prometeu o depósito planejava roubá-los desde o início. O plano era perfeito: atraí-los para uma estrada isolada, cercá-los e tomar o ouro para si. E agora eles estavam ali, indefesos, enquanto o mascarado fazia o serviço sujo.

John B, deitado de bruços, respirava pesado ao lado deles. De repente, ele se levantou num impulso, como se não conseguisse mais suportar a sensação de estar encurralado.

— John B, não! — Sarah murmurou, a voz quase um gemido desesperado.

— Não tenta bancar o herói, cara — Pope alertou baixinho, os olhos arregalados de preocupação.

John B ignorou. Ele começou a correr na direção do carro preto que o mascarado usou para bloqueá-los. As sirenes falsas ainda tocavam, e as luzes piscavam furiosamente, como se zombassem da impotência deles.

Mackenzell, ainda agarrada à mão de Sarah, puxou o braço de JJ, que estava agachado ao lado dela.

— JJ... eu conheço esse cara — ela sussurrou, a garganta apertada.

JJ virou a cabeça para ela, confuso.

— O quê? Como assim?

Ela o encarou com seriedade, cada palavra carregando peso.

— É o traficante do Rafe.

JJ paralisou por um segundo, os olhos dele se estreitando em desconfiança. Ele levantou o rosto lentamente, o olhar atravessando a Kombi até o homem mascarado, que mexia apressadamente no compartimento onde estava o ouro. E então JJ reconheceu.

— Porra... — ele murmurou, a voz carregada de compreensão amarga. — É o mesmo do meu pai.

De repente, tudo fez sentido para JJ. A armadilha, as sirenes falsas, a precisão do plano.

John B respirou fundo e, sem hesitar, correu em direção ao carro. O motor da Kombi ainda roncava baixo ao longe, e Barry estava distraído, berrando ameaças para os outros que ainda estavam agachados no chão. John B se jogou para dentro do banco traseiro, rápido como um reflexo, e se escondeu. As palmas das mãos suavam enquanto ele alcançava a ignição e arrancava a chave, silenciosamente.

Do lado de fora, Barry se virou para eles com um olhar furioso.

— Fiquem aí, seus lixos! — ele rosnou, cuspindo no chão.

Antes que mais alguém pudesse reagir, Barry abriu a porta do carro e entrou, jogando o corpo no banco da frente. No mesmo instante, John B se lançou sobre ele, agarrando-o pelo pescoço.

— O que...?! — Barry tentou puxar algo do bolso, mas foi interrompido pela força do impacto.

Os dois começaram a lutar dentro do carro, grunhidos e socos abafados ecoando pelo pequeno espaço. John B conseguiu afastar a mão de Barry da cintura, onde ele tentava sacar uma arma, e arrancou a pistola.

— Não hoje, parceiro! — John B rosnou, segurando a arma com firmeza.

Mas Barry era forte e conseguiu empurrar John B com o ombro, e os dois rolaram para fora do carro, caindo com um baque surdo no chão de terra.

JJ estava de olho, pronto para agir. Assim que Barry tentou se levantar, ele correu até o traficante, plantando um soco firme na lateral do rosto dele.

— É assim que você quer jogar? — JJ murmurou, os olhos brilhando de adrenalina. Ele seguiu com um soco certeiro no estômago, fazendo Barry se dobrar e gemer de dor.

Enquanto Barry cambaleava, tentando recuperar o fôlego, Sarah surgiu atrás dele e, com um movimento rápido, abriu a porta do carro. A borda de metal bateu violentamente na cabeça do traficante, que caiu de joelhos com um grito de dor.

— Vocês estão fodidos! — Barry cuspiu sangue, se contorcendo no chão.

Pope observava tudo, nervoso, mas sabia que não tinham outra opção a não ser terminar o que começaram. JJ se agachou ao lado de Barry e, sem pensar duas vezes, usou o cabo da arma para acertar o rosto dele com força. O traficante caiu, gemendo, a face machucada e ensanguentada.

— Esse merda vende coca pro meu pai. — JJ rosnou, os dentes cerrados.

Com Barry estirado no chão, JJ revistou rapidamente os bolsos dele. Tirou a carteira e abriu, encontrando a habilitação. Ele leu o nome em voz alta, um sorriso sarcástico no rosto.

— Nós temos uma última parada. — JJ murmurou, sacudindo a habilitação no ar, cheio de raiva — Vamos ver onde esse merda mora.

Ele jogou a carteira de volta no chão e olhou para os outros.

— Vamos nessa.

Todos correram até a Kombi. JJ assumiu a direção, girando a chave com um sorriso maníaco no rosto.
Mackenzell entrou por último, o peso das emoções esmagando seu peito. Enquanto a Kombi ganhava velocidade e eles deixavam Barry para trás, o arrependimento brotava amargo na garganta dela. A ideia de que, por um momento, havia se disposto a ajudar Rafe a resolver uma dívida daquele verme fazia seu estômago revirar.

Cena: Vingança em Território Perigoso

A Kombi avançava lenta pela estrada esburacada, cada solavanco trazendo à tona memórias que ninguém ali queria revisitar. O silêncio dentro do veículo era quase palpável, preenchido apenas pelo zumbido do motor e a expectativa pesada no ar. Ao longe, os trailers velhos e amassados se revelavam sob a luz fraca da lua, dispostos em fileiras irregulares como esqueletos de um passado esquecido. O cheiro de ferrugem e terra batida enchia o ar, impregnando-se nas roupas e nos pensamentos.

JJ estava tenso. As mãos coçavam pela necessidade de agir, de transformar a dor em algo concreto. Assim que a Kombi parou, ele saltou para fora, batendo a porta com força como se pudesse esmagar a raiva que ardia dentro dele.

— Yo soy justiça. — murmurou para si mesmo, com um sorriso amargo, antes de marchar até o trailer de Barry.

Pope soltou um suspiro exasperado, passando a mão pelo rosto.
— Esse cara só pode ter batido a cabeça.

Sarah, parada ao lado da porta da Kombi, cruzou os braços, preocupada.
— Alguém tem que ir atrás dele. Ele não pode fazer isso sozinho.

Kiara mordeu o lábio, os olhos presos na figura de JJ desaparecendo dentro do trailer.
— Ele tá perdendo o controle...

Mackenzell suspirou, hesitante, mas conhecia JJ. Sabia que ele usava a raiva como escudo, como se a vingança pudesse apagar as marcas do passado.

— Eu vou. — John B disse com um suspiro cansado, abrindo a porta e descendo da Kombi. — Alguém tem que evitar que ele faça uma besteira.

Dentro do trailer, JJ estava em um frenesi caótico. Gavetas eram arrancadas, roupas e objetos espalhados pelo chão, como se ele pudesse encontrar redenção no meio do caos. A dor não vinha só do que Barry havia feito, mas do que ele próprio se tornara.

John B entrou e fechou a porta atrás de si.
— Qual é o seu plano, maluco? Vai destruir tudo até não sobrar nada?

JJ se virou, o olhar febril.
— Assim como ele roubou da gente, eu vou roubar dele.

— Isso vai acabar mal, JJ. — John B avisou, tentando soar firme. — Esse cara é um traficante. E ele conhece a gente.

— Eu não ligo. — JJ respondeu, enquanto continuava a revirar o trailer. — Ele que se foda.

Com um puxão final, JJ abriu o armário do quarto e encontrou o que procurava. Ele ergueu uma bolsa cheia de maços de dinheiro com um sorriso vitorioso.
— Achei! Tá resolvido. Me vinguei.

John B balançou a cabeça, incrédulo.
— Isso não é vingança, JJ. Isso é suicídio. Se continuar assim, vai acabar como seu pai.

As palavras foram um golpe. JJ parou, o sorriso desaparecendo instantaneamente. Ele largou a bolsa e avançou até John B, os olhos apertados em uma mistura de raiva e mágoa.
— Cuidado com o que fala.

John B permaneceu firme, a voz baixa e controlada.
— Não tá cansado de apanhar?

JJ hesitou. A raiva em seu rosto vacilou por um segundo, e por trás dela, a dor e o cansaço transpareceram. Era como se toda a luta, todas as feridas, tivessem se acumulado dentro dele sem espaço para mais nada.

— A questão não é essa, John B... — JJ murmurou, quase sem voz. — É que eu tô cansado.

O silêncio que seguiu foi denso, cortante. JJ abaixou a cabeça por um momento, tentando sufocar o peso das emoções que o consumiam. Mas ele não conseguia parar. Pegou a bolsa de novo e caminhou para fora do trailer com passos duros, deixando John B parado ali, impotente.

Do lado de fora, o resto dos Pogues esperava em silêncio. JJ jogou a bolsa no chão com força, como se fosse um troféu amargo.

— Cinco mil pra cada um. É isso. Agora estamos quites.

John B saiu logo atrás dele, a voz cheia de frustração.

— JJ, você não entende... Quando o Barry descobrir que a gente pegou isso, ele vai vir atrás da gente.

JJ riu, mas havia um tom sombrio e desesperado em sua voz. — Então deixa ele vir.

Mackenzell cruzou os braços, encarando JJ com seriedade. — Barry queimou o braço do Rafe porque ele tava devendo. E a gente acabou de roubar ele. O que você acha que vai acontecer com a gente?

JJ deu de ombros, o olhar vazio.
— A gente aguenta.

Pope se aproximou, os punhos cerrados.
— Isso não vai resolver nada, JJ. Só vai piorar tudo. Você sabe disso.

JJ explodiu. Ele empurrou John B contra a parede do trailer, os dentes cerrados, a raiva fervendo como um vulcão prestes a explodir.

— É isso que você acha? Eu fiz isso por nós, por você! Eu fui pra cadeia por você! E sabe o que eu ganhei? Nada. Nem um obrigado.

— Eu nunca pedi pra você fazer nada disso, JJ. — Pope disse, gritando de volta

JJ riu amargamente, a voz quebrada. — Mas eu fiz! Eu fiz por você! Eu te perdoei, porra. Eu fui pra cadeia por sua causa. — ele disse encarando Mackenzell com um olhar desapontado — E agora? Eu vou embora. Sozinho.

John B tentou chamá-lo, a voz implorando.
— JJ, espera...

Mackenzell balançou a cabeça, frustrada.
— Deixa ele ir.

JJ não olhou para trás. Ele marchou pra longe e o grupo ficou ali, parado na escuridão, observando enquanto JJ desaparecia na estrada.

O silêncio que restou era pesado, cheio de coisas não ditas. Eles sabiam que algo dentro dele havia quebrado — e talvez não houvesse como consertar.






Rafe estava recostado na cadeira, com a atitude relaxada que sempre exibia quando estava no controle. A atendente do clube se aproximou com o cartão para ele assinar a conta. Ele abriu um sorriso debochado e respondeu:

— Aí, pode botar isso na conta do Ward Cameron. Se soletra W-A-R-D. — Ele piscou. — Obrigado, você é demais.

Kelce, sem perder tempo, lançou a provocação:
— Cara, cê acha que sabe quem já tá transando? Será que dá pra você falar?

Rafe riu pelo nariz, mas a tensão nos ombros denunciava seu incômodo.

— Ah, que som é esse, hein? — Kelce continuou, agora se referindo a Sarah e John B. — Eles tão fazendo aquele som de novo.

Rafe cerrou o maxilar.
— Você acha que eu quero saber disso agora?

Topper, que já estava visivelmente frustrado, jogou-se contra o encosto da cadeira.
— Qual é, cara? Eu não vou pensar nessas coisas. Você acha que eu quero saber dessa parada agora?

Kelce deu de ombros, como se a situação não fosse tão grave.
— Calma, a gente só tá tentando te deixar melhor.

Topper resmungou, os olhos baixos.
— Não tem graça.

— Ela que se deu mal. — Rafe comentou, ainda tentando manter a aparência de que estava no controle. — Olha com quem ela tá.

De repente, um grito ecoou na entrada do clube, fazendo Rafe travar no meio da frase.

— Merda... — ele murmurou ao reconhecer a voz. — Barry.

O grito veio mais alto dessa vez.
— Rafe Cameron!

Rafe se levantou às pressas, nervoso.
— Peraí, anda, vem cá. — Ele tentou dar um sorriso amigável enquanto andava em direção a Barry, que agora estava parado na porta. — Oi, oi, e aí? O que você tá fazendo, cara?

Barry não estava para brincadeiras.
— Não, não tá, cara. Por que sua família inteira acha que eu sou um mané e pode fazer o que quiser comigo? Primeiro eu tive que lidar com o teu pai indo na minha casa e me enchendo de porrada. Agora é tua vez.

Rafe tentou manter a calma, mas o suor já se acumulava na testa.
— Você já recebeu sua grana, cara. Recebeu.

Barry deu um passo à frente, o olhar ardendo de ódio.
— Não é sobre a grana. Eu tô perguntando o que eu sou. Eu sou um otário? É isso que a sua família acha?

Rafe desviou o olhar.
— Não...

— Não? — Barry zombou, a voz gotejando sarcasmo. — Então explica por que a tua irmãzinha e aqueles Pogues de merda roubaram 25 mil da minha casa. Pode me explicar?

Rafe bufou, incrédulo.
— A Sarah te roubou?

— É, a Sarah me roubou. E é por isso que eu tô aqui.

— Cara, ela não pega um dólar na rua. Do que você tá falando?

Barry sorriu de canto, mas seus olhos não traziam humor.
— Acha que eu sou burro? Acha que eu não sei o que tá rolando? Eu tô te avisando, Rafe. É melhor resolver essa merda com a tua irmã, ou eu resolvo. Quero a minha grana.

Rafe respirou fundo, tentando conter a raiva.
— Olha só, eu não sei do que você tá falando, tá bom?

Barry avançou mais um passo, ficando cara a cara com Rafe.
— Não sabe do que eu tô falando? Me explica então. Os Pogues tão rodando Outer Banks, invadindo casas. E sua irmã e sua namorada tão envolvidas nisso.

Rafe apertou os punhos.
— Não chama ela de invasora de lares.

Barry riu, sarcástico.
— Sarah Cameron. Invasora de lares. Você sabe o quanto isso é estúpido?

Antes que Rafe pudesse responder, Barry agarrou o braço dele, puxando-o pelo punho machucado. Rafe caiu de joelhos com um gemido de dor.

— Quantas vezes eu vou ter que lidar com você? — Barry rosnou. — São 25 mil, Rafe.

Topper se apressou para intervir, afastando Barry com um empurrão leve.
— Tudo bem, tudo bem.

Barry virou a atenção para Topper, o que fez o ar ao redor ficar ainda mais pesado.
— Vai encarar, Topper?

Topper levantou as mãos, tentando apaziguar a situação.
— Calma. Tá tranquilo, cara. Relaxa.

Barry deu um sorriso ameaçador enquanto recuava um passo.
— Eu vou pegar minha grana, Rafe. Se não for com você, vai ser com ela. Não esquece disso.

Ele se virou e começou a sair, mas não sem lançar um último aviso.
— Vejo vocês por aí.

Rafe ficou parado, ainda segurando o pulso com dor, enquanto Topper e Kelce o observavam em silêncio, a tensão pairando no ar como uma tempestade prestes a explodir.






O sol estava se pondo atrás das janelas do The Wreck, tingindo o restaurante de tons dourados e laranjas. O cheiro de peixe grelhado e batatas fritas se misturava com a brisa salgada que soprava pela costa. Mackenzell estava sentada no banco de madeira, segurando sua bolsa pesada no colo. Pela primeira vez em semanas, ela usava uma rasteirinha nos pés, algo que parecia estranho para ela. Seus olhos se fixaram nos próprios pés, como se o simples fato de não estar usando um salto alto ou um tênis a incomodasse profundamente. Ela se perguntava em que momento da vida havia perdido o controle sobre quem era.

Os outros estavam espalhados ao redor da mesa. Pope estava encostado no batente da janela, mexendo distraidamente em uma lasca de madeira solta. Kiara estava ao seu lado, olhando para fora, como se esperasse ver JJ surgir de repente na praia. Sarah permanecia em silêncio ao lado de John B, que cruzava os braços e olhava para Mackenzell como se tentasse acalmá-la.

— Ele vai mudar de ideia, tá? — disse John B, tentando tranquilizá-la. — Ele só tá sendo o JJ.

Kiara desviou o olhar para ele, a preocupação evidente em seu rosto.
— Acha que ele vai pra casa?

Pope riu, sem humor.
— Porcento de chance do JJ ir pra casa? Zero.

— Tudo bem? — John B perguntou suavemente para Sarah.

— Tudo. E você?

— Ainda tô inteiro, então... — John B deu de ombros com um meio sorriso.

Sarah respirou fundo, mas a tensão não abandonava seu olhar.
— É perigoso demais penhorar isso desse jeito.

— Então... nossa melhor chance é descer lá e tirar tudo. — John B continuou, pensativo. — Trazer tudo de uma vez e colocar, sei lá, num cofre seguro. Só até a gente achar alguém confiável.

Mackenzell levantou os olhos, ajeitando a franja que insistia em cair sobre o rosto. Estava mais comprida do que o normal, quase pronta para ser presa atrás da orelha, mas ela não sabia se cortaria de novo ou não.

— A gente pode falar com o meu pai. — sugeriu, hesitante.

O silêncio caiu sobre o grupo, e Sarah foi a primeira a reagir, balançando a cabeça.
— Não. É arriscado demais.

Mackenzell franziu a testa.
— Que foi? O meu pai é confiável. Lá em casa tem vários cofres. Talvez ele possa ajudar.

— Não, sem chance. — John B cortou de imediato. — Não podemos envolver mais ninguém nisso.

Os olhos de Mackenzell se estreitaram, sua voz ficando tensa.
— Tá dizendo que meu pai não é confiável, John B.?

— Não é isso que eu tô dizendo. — John B tentou se explicar, mas tropeçou nas palavras. — Só tô dizendo que...

Pope interveio, tentando apaziguar a situação.
— Podemos pensar nisso depois. Eu vou preparar tudo hoje à noite e a gente volta lá amanhã de manhã.

Kiara assentiu, sem muita convicção.
— Tá legal, eu topo.

Sarah cruzou os braços e lançou um olhar  para John B. — E o seu lance com o meu pai?

John B soltou um suspiro exasperado.
— Merda.

— Que lance? — Kiara perguntou, curiosa.

— Eu tenho que ir pescar com o Ward.

— Não vai buscar o dinheiro porque vai matar peixe? — Kiara ironizou, impaciente.

— Olha, eu tenho que ir. — John B deu de ombros sem muita escolha

— São 400 milhões em ouro, John B. — Pope disse incredulo — Desmarca isso!

— E depois o meu pai que é o problema, né? — Mackenzell resmungou, cada vez mais irritada.

John B inclinou-se para a frente, a expressão séria.
— Ele me salvou, tá legal? Se não fosse por ele, eu ia pra um lar temporário. Então, eu tenho que ir.

Um silêncio desconfortável caiu sobre o grupo. Kiara foi a primeira a quebrá-lo.
— E é melhor a gente fazer isso à noite, né?

John B assentiu.

— Tá, tá, vai pescar. — Pope disse concordando mesmo que relutante

— Pelo menos até lá o JJ já vai ter aparecido. — Mackenzell soltou um suspiro pesado e passou a mão pelo rosto, tentando aliviar a tensão.

A conversa morreu ali, enquanto cada um se afundava nos próprios pensamentos, esperando que a próxima decisão fosse a certa — ou pelo menos, a menos desastrosa.






O escritório de Ward era um ambiente luxuoso, decorado com móveis de mogno escuro e livros em estantes perfeitamente alinhadas. Uma janela ampla dava vista para o horizonte da ilha, onde o sol da tarde mergulhava no oceano. A iluminação suave das lâmpadas douradas refletia no decanter de cristal sobre a mesa, enchendo o ar com uma aura de formalidade que combinava com os ternos impecáveis dos dois homens ali presentes.

Ward estava sentado atrás de sua mesa, ajeitando os punhos da camisa branca por baixo do paletó. Reece, em pé à frente dele, balançava um copo com uísque nas mãos, enquanto olhava para Ward com uma expressão que oscilava entre ceticismo e irritação.

— Eu não achei que fosse verdade quando você me contou da Sarah. — Reece admitiu, sem esconder o tom desconfiado. — Pra ser sincero, eu pensei que você tava exagerando.

Ward recostou-se na cadeira, cruzando os dedos sobre a mesa. — Não, tô dizendo, cara... Tem possibilidade, entende?

Antes que Ward pudesse continuar, Reece o interrompeu, levantando a mão.

— Não é possibilidade, Ward. É real.

Reece enfiou a mão no bolso interno do terno e tirou uma pepita de ouro. A peça brilhava sob a luz do escritório, pesada e inconfundível. Ele a colocou sobre a mesa de Ward com um gesto controlado, mas cheio de implicação.

— Encontrei isso debaixo da cama da Mackenzell hoje de manhã. — disse Reece, o olhar firme. — Ela tava com o Rafe no jardim. Ela falou alguma coisa sobre emprestar pra ele.

Ward estreitou os olhos, tentando processar a informação. — E o que mais você viu?

Reece apertou os lábios, a irritação evidente em sua voz. — Vi seu filho sendo um merdinha e tentando ao voar pra cima da minha filha.

Ward ficou em silêncio por um momento, a mandíbula apertada. — Rafe... — Ward sibilou — ele é uma decepção e ja sabe disso.

— Eu sei o que eu vi, Ward. — Reece rebateu, firme. — Então vou deixar bem claro: se ele chegar perto da minha filha de novo, eu mesmo acabo com ele.

Ward soltou um suspiro pesado, passando a mão pela nuca.

— Rafe tá passando por um momento difícil... Ele se meteu em umas dívidas. Não vai acontecer de novo. — Ward fez uma pausa, escolhendo cuidadosamente as palavras. — E, pra ser sincero, eu gostava da ideia dele e da Mackenzell juntos. Eles... eram um casal bonito.

Reece resmungou algo indecifrável, mas a tensão em seu rosto começou a se dissipar, quando Ward se protegeu em um pedido de desculpas. Ele pegou a pepita da mesa e a devolveu para Ward, jogando-a de forma casual, mas precisa.

— É, cara. Isso aqui ta se tornando real finalmente.

Ward pegou a pepita, observando-a com uma expressão séria. — São o que? Três quilos?

— Três e quinhentos. — Reece admitiu, cruzando os braços sorrindo — Ela não disse onde tinha encontrado, mesmo que Rafe insistisse. Mas uma coisa é certa: o John B tá metido nisso até o pescoço, e eu temo que ele esteja querendo colocar nossas filhas no meio disso.

Ward assentiu, a expressão sombria.
— Claro que tá. Mas isso não vai acontecer, fica tranquilo.

Reece deu um gole no uísque e deu um passo em direção à porta.

— A gente precisa descobrir onde esse ouro tá.

Ward girou lentamente a pepita de ouro entre os dedos, um sorriso frio se formando em seus lábios.
— Deixa comigo. Eu marquei de pescar com o garoto.

— O velho truque da pesca. — Reece riu em escárnio

— Sempre funciona. — Ward disse com um sorriso no rosto.

Com essa declaração enigmática, a cena chegou ao fim, e o silêncio no escritório se tornou quase palpável, como a calmaria antes de uma tempestade iminente










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9131

a mendiga voltou
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