15 - golden run







Capítulo quinze,
Golden Run










O céu começava a clarear no horizonte, mas o dia ainda não havia começado de fato. Mackenzell e as outras já estavam exaustas de ficar presas ali, trocando olhares cansados e impacientes enquanto esperavam. As ondas leves faziam o barco balançar de forma quase irritante, um lembrete constante de que não tinham escolha a não ser aguardar. Foi então que avistaram o outro barco se aproximando.

— Esqueceram a chave, por acaso? Precisam de reboque? — Pope gritou de longe, um sorriso provocador surgindo nos lábios.

Mackenzell inclinou-se para Kiara, falando baixo, com um tom conspiratório:
— Não dá a eles o prazer de acharem que deu certo.

Kiara lançou um sorriso de canto, cruzando os braços. — Ah, de jeito nenhum.

— Vocês têm que admitir que foi engraçado. — John B comentou enquanto se aproximava, a expressão satisfeita no rosto.

— John B., essa ideia foi sua, né? — Sarah perguntou, já sabendo a resposta.

Ele deu de ombros com um ar travesso.
— Tô sempre planejando.

Kiara revirou os olhos e rebateu com uma voz carregada de sarcasmo:
— Que coisa mais machista.

— De macho escroto. — Sarah concordou, arqueando as sobrancelhas com desdém.

John B. riu, sem se deixar abalar.
— Mas ainda sou gente, né?

Com um movimento fluido, ele lançou a corda para soltar o barco onde elas estavam.
— Aí, toma. — Ele piscou para Kiara.

Agora, com um sorriso provocativo, ele se dirigiu diretamente a Sarah — E ainda me odeia?

Sarah deu de ombros, sorrindo de leve.
— Um pouco.

— Eu tô sempre odiando vocês. — Mackenzell sorriu brincalhona, encostando-se na borda do barco

— A gente vai se vingar quando vocês menos esperarem. — Sarah ameaçou, sua voz leve, mas cheia de promessas.

John B. ergueu as mãos, rindo. — Por mim, aceito o desafio.

— Então... vocês já resolveram as diferenças?

Mackenzell e Sarah trocaram um olhar rápido, e foi Mackenzell quem respondeu, sem rodeios: — Nem de longe. Mas nós topamos trabalhar juntas.

— Quer saber? Isso já é uma vitória.

JJ abriu um sorriso orgulhoso e declarou:
— Sabe o que fez isso? A minha maconha.

— Aí, cala a boca, JJ. — Mackenzell revirou os olhos, embora soubesse que ele estava certo.

John B. se inclinou sobre o barco, batendo com a mão na borda. — Estão prontas pra missão?

Sarah respirou fundo e lançou um olhar confiante para as outras. — Tá, vambora.

John B. sorriu.
— Legal, bem-vindas a bordo.

JJ, já no motor, deu a partida com entusiasmo.
— Vamo lá.

O barco acelerou, cortando a água reluzente ao nascer do sol, enquanto eles seguiam em frente, prontos para o que viesse a seguir.







A madrugada ainda cobria tudo com um véu denso, pesado, como se o mundo estivesse preso em uma pausa sombria antes do amanhecer. A Kombi sacolejava pela estrada de terra esburacada, seu motor roncando baixo e irregular enquanto avançava em direção à casa dos Crain. As luzes dos faróis perfuravam a escuridão por instantes, iluminando brevemente as árvores e arbustos que margeavam a estrada, antes de serem engolidas de volta pelo breu absoluto.

Dentro do veículo, o ar estava carregado, tenso como a eletricidade antes de uma tempestade. Mackenzell estava surpreendentemente calada, uma raridade para alguém que costumava reclamar de qualquer coisa fora de sua zona de conforto. Ela se acomodava entre JJ e Kiara, os olhos fixos na janela, observando a paisagem que passava como se o movimento do lado de fora fosse mais interessante do que qualquer conversa ali. Era difícil dizer se sua quietude vinha de uma escolha consciente ou se era apenas efeito do clima pesado que envolvia todos no carro.

Na parte da frente, Pope se inclinava para frente, repassando em voz alta a lista mental de equipamentos para a missão, enquanto John B dirigia, focado na estrada.

— Trouxeram cordas? — Pope perguntou, a voz tensa.

— Sim. — John B respondeu, sem desviar o olhar do caminho.

— E o gancho pra escalar? — insistiu Pope.

JJ bufou com desdém.
— Não temos gancho. Não somos o Batman, cara.

Mackenzell deixou escapar uma risada curta, mais reflexo do sarcasmo do que diversão genuína. Mas assim que percebeu o olhar rápido de JJ, que se virou na mesma hora em que ela riu, seu sorriso murchou. Ele não pareceu minimamente afetado pela risada, nem esboçou seu costumeiro sorriso de canto. Ao invés disso, seu olhar ficou distante, como se algo o incomodasse profundamente. Mackenzell franziu o cenho, se perguntando o que, exatamente, tinha dado errado entre eles. Não tinham conversado desde a última vez, mas ela achava que estavam bem... Será que não estavam?

— Luvas? — continuou Pope.

— Sim. — John B respondeu automaticamente.

— Lanternas?

— Temos.

— Beleza. Estamos prontos. — Pope assentiu, aliviado, como se organizar o inventário fosse a única forma de controlar a ansiedade crescente.

John B desligou o motor, e a noite mergulhou em um silêncio quase opressor. Ele respirou fundo, virando-se para os amigos.

— Bora ficar ricos, pessoal. — Sua voz saiu leve, mas carregada de expectativa.

Mackenzell revirou os olhos, jogando o cabelo para trás. — É, ricos.

JJ lançou um sorriso enviesado, mas não disse nada. Ela sentiu que o gesto era mais um desafio do que uma brincadeira, como se ele estivesse guardando algo para a hora certa.

— Ei, sério. — John B parou na porta da Kombi, encarando o grupo com sinceridade. — Obrigado por estarem aqui. Vocês são importantes pra mim.

Kiara deu um passo à frente e pousou a mão no ombro dele, oferecendo um sorriso cúmplice.
— Sempre.

— Valeu. — John B murmurou antes de sair do veículo.

Enquanto o grupo começava a se organizar, Mackenzell pegou o celular, surpresa ao perceber que o sinal havia voltado. Duas mensagens não lidas iluminavam a tela.

"Onde você tá?" – era do pai dela.

"Kenzell?" – essa era de Rafe, logo acima de outra que ela já tinha respondido, dizendo que a tarde com ele tinha sido ótima. Apenas isso. E, de repente, ele não havia enviado mais nada. Silêncio. Incomum para Rafe.

Antes que ela pudesse se aprofundar na estranheza daquilo, sentiu alguém se inclinar por cima do ombro. JJ. Lendo a tela dela sem o menor pudor.

— Licença? — ela sibilou, puxando o celular de volta para si com força.

— Toda. — JJ devolveu, seco, jogando-se para trás como se tivesse acabado de provar um ponto invisível.

A irritação borbulhou dentro dela, e sem pensar duas vezes, Mackenzell empurrou a porta da Kombi e desceu atrás dele, a poeira da estrada subindo em torno dos pés.

— Qual é o seu problema, hein? — ela disparou, encarando-o com os olhos faiscando.

JJ parou abruptamente, virando-se para ela com o cenho franzido, a frustração estampada no rosto.
— Meu problema? Nenhum. Só tô tentando entender o que você tá fazendo aqui.

— Sem DR agora, pessoal! — John B apareceu entre os dois, erguendo as mãos como um mediador desesperado.

— DR? — Kiara arqueou as sobrancelhas, surpresa.

Mackenzell ignorou o comentário, avançando um passo à frente.
— Eu já disse por que estou aqui.

— Disse? Ou você só contou uma historinha sobre sua mãe e achou que tava tudo resolvido? — JJ rebateu, o olhar afiado, buscando uma reação.

— JJ, para. — Sarah advertiu, como se tentasse proteger a amiga da tempestade iminente.

— Sério, galera, será que dá pra não brigar na porta de uma criminosa? — Pope interveio, nervoso, olhando para os lados como se esperasse que alguém aparecesse a qualquer momento.

Mackenzell cerrou os dentes, a raiva fervendo em sua garganta.
— Vai se foder, JJ. — Ela empurrou o peito dele, forçando-o a dar um passo atrás.

JJ não recuou por muito tempo.
— E o que garante que você não vai desaparecer de novo pra correr atrás do Rafe, hein?

— Isso é por causa de uma mensagem? — Ela cruzou os braços, encarando-o como um desafio. — Eu não vou fazer isso.

Ela não era do tipo que se calava, e JJ claramente não estava pronto para recuar.

— Como eu posso ter certeza? — Ele avançou um pouco mais. — Você é ótima em fugir.

— Chega, JJ. — John B se enfiou entre os dois, empurrando o amigo para trás. — A gente votou. Tá decidido. Chega.

JJ manteve o olhar cravado em Mackenzell, os músculos da mandíbula rígidos. As palavras que ele queria dizer morreram em sua garganta, presas entre orgulho e frustração. Ela, por outro lado, cruzou os braços, o olhar firme, esperando algo que ele não estava disposto a oferecer: uma explicação.

— Eu votei errado. — JJ murmurou, amargo, como se a confissão queimasse em sua língua.

John B suspirou, exausto da tensão crescente.
— Certo, vamos focar no ouro. A gente tem coisa mais importante pra resolver.

— Isso aí. Concentração. — Kiara concordou, jogando uma lanterna para JJ, que a pegou no ar com um gesto rápido.

Mesmo assim, ele não conseguiu evitar lançar mais um olhar furtivo para Mackenzell antes de se afastar. Havia algo não resolvido ali, uma faísca que ainda queimava.

John B ajeitou a mochila nos ombros e olhou para o grupo.

— Prontos?

Mackenzell ergueu o queixo, a voz fria e decidida.
— Sempre.

JJ soltou um suspiro baixo, frustrado, guardando para si tudo o que ainda queria dizer. A missão finalmente começava, mas a batalha entre eles estava longe de terminar.

— Seu babaca. — ela disse, claramente magoada com seu comentário cruel sobre a mãe dela, antes de passar por ele de esbarrão e andar em direção ao muro, onde Sarah já começava a subir.

O muro era mais alto do que parecia à primeira vista, com tijolos irregulares e hera escura serpenteando pelas bordas. Sarah parou na frente dele, olhando para cima, como se calculasse mentalmente a melhor forma de escalar. Ela lançou um olhar rápido para Kiara e apontou com o queixo.

— Vamos. — A voz dela era firme, mas suave, como quem já tinha decidido o que fazer.

— Você primeiro.  — Kiara deu um passo atrás, cruzando os braços de leve, hesitante.

Sarah arqueou a sobrancelha, soltando um suspiro curto e resignado.

— Tá bom. — Ela se preparou para a subida, ajustando a mochila nos ombros.

— Bora, bora! — Kiara murmurou, impaciente, mas sem esconder a leve tensão na voz.

Sarah agarrou as bordas ásperas do muro e começou a escalar com agilidade, os pés encontrando apoio nas reentrâncias da pedra. A hera arranhava seus dedos, mas ela ignorou, focada em alcançar o topo. Assim que subiu, ela jogou o corpo para o outro lado e caiu no chão com um baque suave entre a vegetação alta.

— Vem! — Sarah chamou baixinho, agachada no matagal que separava o muro do jardim.

Um por um, os outros foram escalando, cada movimento rápido e silencioso, como se temessem despertar algo no escuro. JJ foi o próximo, seguido de Pope John B e Mackenzell, que segurou a mão dela pra que ela não caísse na descida. Então  saltaram para o outro lado, desaparecendo na penumbra do mato que crescia alto e indisciplinado.

— Apaga a lanterna. — Pope sussurrou apressadamente, jogando um olhar nervoso para a luz piscante na mão de JJ.

— Eu não tô pegando a lanterna! Ela tá com problema! — JJ resmungou, batendo na lateral da lanterna, que piscava freneticamente, jogando faíscas de luz nas folhas ao redor.

— Desliga isso! — Sarah exigiu, tentando manter a calma.

JJ finalmente conseguiu desligar, mas todos se abaixaram instintivamente, a respiração curta e controlada. A tensão era palpável, como se a própria escuridão os observasse.

— Ela tem sensor de movimento. — Pope sussurrou, olhando para os outros com olhos arregalados.

— Então... E se a gente só andar bem devagar? — JJ sugeriu como se fosse óbvio

— Claro, gênio. Vai andando devagarinho e vê se a velha assassina não te acha. — Mackenzell, revirou os olhos, de maneira acusadora

— Você é insuportável. — JJ lançou um olhar irritado para ela, uma mistura de provocação e frustração.

Ela apenas sorriu de volta — Troca o disco. — ela disse, se referindo a frase que ele sempre se repetia, cruzando os braços como se tivesse vencido uma pequena batalha.

— E agora? — Kiara perguntou em um sussurro tenso, os olhos vasculhando o jardim silencioso.

John B coçou a cabeça, pensativo, e então soltou:
— Bora jogar uma pedra.

— O quê?! — Kiara e Mackenzell disseram em uníssono, em um sussurro quase indignado.

— Sério? — Mackenzell zombou. — Que ideia brilhante. Vamos jogar uma pedra e avisar a assassina que estamos aqui.

John B ergueu as mãos, tentando defender sua ideia.
— Alguém tem uma sugestão melhor?

— Qualquer coisa, menos isso. — Kiara murmurou, passando a mão pelo rosto como se tentasse afastar o nervosismo.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, escutando apenas o som do vento entre as folhas e os estalos ocasionais do matagal.

— Certo... Sem pedras. — John B suspirou, frustrado. — Vamos só seguir em frente, ok?

Sarah inclinou levemente a cabeça, como se tivesse se lembrado de algo.

— Espera, mas e o disjuntor? Tem uma caixa de luz na varanda. A gente brincava de esconde-esconde aqui quando era criança, e quem era corajoso subia até lá. Eu já vi.

— Não, não, você não vai até a casa sozinha. — John B a encarou, preocupado.

— Duvida? — Ela cruzou os braços e lançou um sorriso desafiador.

— Aquela velha corta pessoas em pedaços. — JJ balançou a cabeça, com uma mistura de incredulidade e sarcasmo.

— Se você acredita nisso. — Sarah revirou os olhos.— E ela deve ter o quê, uns 85 anos? Já tá com um pé na cova.

Mackenzell tocou de leve o ombro de Sarah.
— Tudo bem, eu vou com você.

— Tá, a gente espera um sinal aqui — concordou Pope, dando um passo atrás.

John B segurou a mão de Sarah por um instante, o polegar deslizando pela pele dela.
— Sarah, toma cuidado.

Ela sorriu para ele, os olhos brilhando.
— Eu vou.

As duas desapareceram pelo matagal, deixando o resto do grupo para trás. JJ observou-as sumir na escuridão e logo se virou para Pope, com um sorriso debochado.

— Ain, se cuida — imitou ele, segurando o rosto de Pope com ambas as mãos e fazendo uma voz aveludada.

Pope entrou na brincadeira e gemeu de leve.
— Eu vou me cuidar, só pra você!

— Tá, tá, calem a boca. — John B balançou a cabeça, envergonhado. — Ou eu mato os dois.

Sarah e Mackenzell começaram a caminhar pela mata, segurando a lanterna baixa, um pouco abaixo da barriga, para iluminar o chão e ver por onde andavam. O mato seco rangia sob seus pés, e o ar denso parecia aumentar a tensão.

— Qual é o lance com o JJ? — Sarah perguntou casualmente, enquanto desviava de alguns galhos.

Mackenzell lançou-lhe um olhar de lado.
— Nada. Não tem nada acontecendo.

— Tem certeza? — Sarah insistiu, com um sorriso leve. — Ele tá esquisito.

Mackenzell resmungou.
— Ele é esquisito.

Sarah riu baixinho.
— Sim, eu sei, mas... Ele parece meio estranho, você não acha?

Mackenzell balançou a cabeça, tentando mudar de assunto.
— Não, não acho. Ali, a varanda.

Elas se abaixaram um pouco, encarando os degraus. As luzes com sensores de movimento poderiam denunciá-las se não fossem rápidas. As duas subiram as escadas da varanda em silêncio, os passos apressados e leves. Sarah se aproximou da caixa do disjuntor e a abriu.

— Espera... Cadê o disjuntor? — Sarah murmurou, encarando os fios soltos que encontraram ali.

— Que merda! — Ela soltou, desesperada. — Não, não, não...

— Ele vai pra dentro. — Mackenzell apontou para o tubo de PVC que conduzia os fios até o interior da casa.

Sarah lançou um olhar para a porta e a empurrou levemente, fazendo-a ranger. As duas trocaram olhares rápidos e entraram, tentando não fazer barulho. Apontaram a lanterna para cima, iluminando o caminho. Sarah parecia tensa, o que deixou Mackenzell ainda mais ansiosa.

— O rato! — Mackenzell exclamou, um pouco mais alto do que deveria. Instantaneamente, ela cobriu a boca com a mão.

Sarah soltou uma risada baixa, contendo o nervosismo.
— Calma. — Colocou a mão no ombro da amiga, encorajando-a a continuar.

As duas seguiram silenciosamente pelo interior da casa. Em um momento, Sarah olhou para o teto e viu o tubo se conectar em algum ponto mais alto.
— Ei, por ali! — Ela sussurrou, apontando.

Mackenzell manteve a lanterna apontada para cima até que, finalmente, avistaram o disjuntor.
— Aqui! Achamos!

Sarah abriu a caixa e começou a mexer nos fios com confiança. Mackenzell a observava, impressionada. Não fazia ideia de como Sarah sabia lidar com aquilo, mas não questionou.

— Beleza. — Sarah sussurrou enquanto puxava os botões com cuidado, tentando não fazer barulho.

Do lado de fora, todas as luzes da casa e do jardim se apagaram de uma vez, mergulhando tudo na escuridão. JJ, John B, Kiara e Pope estavam no jardim e perceberam a mudança.

— Elas conseguiram. — JJ sorriu, puxando a faixa sobre o rosto para cobrir parte dele. — Bora nessa.

Os três colocaram as máscaras e correram pelo jardim, em direção ao porão.

— Puta merda! Sabe o que isso parece? — JJ disse de repente, com a corda na mão. — Tipo aquele filme do Indiana Jones... Aquele da bola gigante que sai rolando.

John B olhou para ele, sem paciência.
— Do que você tá falando?

— Ah, vocês nunca viram esse filme? É bom! — JJ respondeu, girando a corda no ar.

— Cala a boca, JJ. — John B resmungou, passando a corda para Pope.

Pope começou a desenrolar a corda para dentro do poço. Kiara o ajudava, soltando os nós enquanto observavam a profundidade.

— Acha que é muito fundo? — John B perguntou, tentando não atrapalhar.

— Vamos descobrir agora. — Kiara disse, focada, enquanto continuava a soltar a corda para dentro do poço.

— Shhh! — Mackenzell fez, quando ouviram um barulho, como se alguém tivesse acordado. As duas se encostaram na parede ao lado do disjuntor, escondendo-se atrás da pilastra da casa da senhora Crain, completamente assustadas. O que poderia ter sido esse barulho?

Logo, elas começaram a ouvir passos. A velha cega descia as escadas, segurando um acendedor de lareira como se fosse uma bengala. Embora não conseguissem vê-la, podiam ouvir os passos pesados e o rangido da madeira. As duas se entreolharam, aterrorizadas com o que poderia acontecer a seguir.

— Droga! — Sarah sussurrou, olhando para cima, tentando ouvir se a mulher estava se aproximando ou não.

Ao mesmo tempo, no porão, John B. descia pelo poço, enquanto Pope, Kiara e JJ tentavam segurá-lo em uma tipoia presa no teto. Quanto mais JJ soltava a corda, mais fundo John B. descia. Ele foi descendo, um pé após o outro, encostando seus tênis brancos nas paredes de tijolo, tentando encontrar um jeito de descer sem escorregar.

— Continuem! — gritou John B.

— Tudo bem! — JJ disse, fazendo força.

— Ei, temos uns quatro metros sobrando! — gritou Pope para John B. — Você acha que está perto do fundo?

— Não sei dizer. — John B. respondeu, tentando iluminar o fundo do poço com a lanterna. Mas tudo o que viu foi escuridão. — Continuem, me deem mais corda!

— Tudo bem! — J.J. respondeu, soltando mais corda enquanto John B. balançava na escuridão.

— Para! Para! — John B. gritou, com a voz cheia de nojo. — Estamos em cima de uma água que parece esgoto.

— Você quer subir? — Pope perguntou, preocupado.

— Não, continua, eu acho. — John B. disse, aceitando, enquanto sentia seus tênis afundarem na água suja, o cheiro azedo subindo até suas narinas.

— Está bom, está bom! — Ele disse, tentando segurar a respiração, percebendo que estava quase completamente submerso. — Estou no fundo!

— Como é que está aí embaixo? — Pope perguntou, curioso.

— Pior do que eu imaginei! — John B. respondeu, franzindo a sobrancelha.

Enquanto isso, dentro da casa, Sarah e Mackenzell tampavam a boca desesperadas, apavoradas com as palavras da idosa cega que falava sozinha.

— Está tarde, Leon! — a velha descabelada murmurou, como se conversasse com um ex-marido que havia assassinado. — Muito tarde! — ela disse, batendo a bengala no chão.

Mackenzell olhou para Sarah, desesperada. Nunca havia passado por nada semelhante e a situação parecia a mais angustiante de todas.

— Você achou ouro? — J.J. gritou para John B., esperando que ele ouvisse do fundo do poço.

— Nada ainda! — John B. gritou de volta, enquanto tentava olhar para o fundo. — Espera, acho que senti alguma coisa no meu pé. Ai, que nojo! — Ele se encolheu.

Então, John B. afundou na água suja, tentando tocar o que tinha sentido. Ao colocar a mão, percebeu um pedaço de crânio humano.

— Merda, merda! — Ele exclamou, quase vomitando de nojo. — J.J., me puxa! Me puxa, vai! — gritou, desesperado, agitando-se e batendo nas paredes do poço, completamente apavorado. — Me puxa, anda!

Os três puxaram-no para cima, tentando tirá-lo de lá. Mesmo com o braço enfaixado, John B. se segurava nas paredes do poço, tentando ajudar a subir mais rápido.

Então, enquanto puxavam, uma das pedras das paredes do poço se soltou, caindo em cima dele.

— Merda! — Ele gritou, sentindo a pedra bater contra seu estômago. Enquanto se debatia para subir, percebeu um buraco. As pedras que caíam abriram passagem.

— Ei, espera! Acho que encontrei alguma coisa! — Ele disse, olhando para o buraco na parede.

— O que você disse? — perguntou Pope, ao vê-lo parar de implorar por ajuda.

— Eu encontrei alguma coisa! Espera! — John B. apontou a lanterna para o buraco. — Tá bom, tá legal. — Ele disse para si mesmo, respirando fundo, enquanto começava a se enfiar pelo buraco que ele mesmo tinha feito.

Ele quase não cabia e conseguiu sentir seu tronco arrastando-se pelo concreto entre as pedras.

— Eu não consigo! É muito pequeno! Eu não entro aqui! — John B. gritou.

— Você acha que eu caibo? — Kiara gritou perguntando, mesmo que relutante

— Não! Bosta! É estreito, mas muito curto! — ele gritou, sabendo exatamente quem teria que entrar ali. — Me puxem pra cima!

Então, os três começaram a puxar, levando John B. de volta para a superfície.

A velha continuava falando sozinha, sua voz ecoando pela casa sombria. De repente, ela gritou — Vamos brincar! — e virou-se para as duas. Com um olhar carrancudo, seus olhos brancos e completamente cegos pareciam encará-las. A cena era aterrorizante, e as duas não hesitaram em gritar e sair correndo.

A velha, com o corpo capenga e troncho, movia-se lentamente pela casa enquanto as duas se afastavam rapidamente.

Elas entraram em uma sala escura e, no mesmo instante, os celulares começaram a tocar. O celular de Mackenzell vibrava freneticamente, e Sarah gritou — Desliga!

— É o John B! — ela gritou atendendo freneticamente o celular com medo de serem pegar — O que foi? — Mackenzell atendeu, a voz tremendo.

A urgência na voz dele a deixou nervosa. — Precisamos que você venha para o porão! — Ele insistiu, e Mackenzell virou-se para Sarah, com a expressão de pânico. — A gente precisa ir ao porão!

— Como assim? Por quê? — Sarah respondeu, confusa. Mackenzell deixou o celular no viva voz, então John B  interveio

—Precisamos de alguém pequeno para entrar no buraco que achamos no poço. Senão, não tem ouro. Achamos que ele pode estar lá, mas se ninguém pequeno entrar, nunca saberemos.

As duas se olharam, a tensão crescente. — Tudo bem, vai. — Sarah disse, determinada, mas Mackenzell hesitou, balançando a cabeça em negação.

— O que? Não! Não posso deixar você aqui com aquela velha louca.

— Vai! Desce as escadas e vai para o porão. Eu te encubro. Eu te encubro, Kenzie! — A voz de Sarah era firme, e a relutância de Mackenzell diminuiu. Finalmente, ela acenou com a cabeça.

As duas saíram correndo da sala, com um plano inconsciente em mente e Sarah começou a fazer barulho, distraindo a velha e gritando para que a pegasse, enquanto Mackenzell descia as escadas do porão o mais rápido que podia.

O corredor era escuro e sombrio. Assim que chegou ao final, ela ligou a lanterna, segurando o celular na outra mão. O lugar estava sujo, imundo, e ela sentiu os tênis branquíssimos da Nike ficando cobertos de lama.

Avançando com cautela, ao chegar em frente a uma porta de madeira antiga, ela ouviu as vozes de JJ e John B conversando. Bateu com força na porta, chamando: — John B? — Depois de alguns golpes, a porta finalmente cedeu, abrindo-se com um rangido.

— Oi! — ela disse toda descabelada e aliviada por conseguir encontrá-los  — O que aconteceu?

— E a Sarah? — John B perguntou e a morena olhou para trás por um instante

— Ela ficou lá. — ela disse relutante — A senhora Crain acordou e ela ficou lá pra eu pudesse fugir.

— Merda!  — John B disse

— Eu vou atrás dela. — Kiara disse determinada e correu na direção do portão antes que John B tentasse a impedir.

— Vai ficar tudo bem. — Kenzell disse, tentando soar tranquila para John B. Ela sabia que sarah não seria pega, a melhor amiga era muito sagaz — Me digam o que fazer.

— Você vai me odiar por isso, mas você precisa descer lá. — John B disse enquanto os outros dois desviavam o olhar

Ao olhar para ele, percebeu que ele estava coberto de lama, cheio de sujeira e um odor insuportável. Hesitou, a mente corrida com pensamentos. "Por que eu ainda estou aqui?" refletiu, sentindo a pressão da situação e se questionando sobre suas escolhas.

— Eu... — ela hesitou, olhando para o poço escuro e fundo

— Eu disse que ela ia recusar. — JJ disse esfregando a mão no rosto

— Tudo bem. — Mackenzell acentiu com a cabeça pra John B, mesmo que o arrependimento a fizesse embrulhar o estômago — Eu desço.

Enquanto isso, Sarah continuava a distrair a velha, fazendo barulho para atraí-la.

JJ se aproximou, prendendo uma corda em torno da cintura de Mackenzell. — Relaxa, vamos descer você até que encontre o buraco.

— E então? — ela perguntou, com pavor e adrenalina nos olhos

— Então é só entrar no buraco e ver se tem alguma coisa lá dentro. — ele disse, sua voz preocupada, como se não tivesse havido uma briga entre eles momentos antes. — Qualquer coisa grita que nós te puxamos de volta.

Mackenzell assentiu, concordando com a cabeça, ainda assustada. Eles a penduraram, e ela ficou estirada com a corda na cintura.

— Só não me deixem cair, por favor. — pediu, a ansiedade crescendo. Ela havia dito no plural, mas seus olhos assustados estavam em JJ.

Enquanto desciam, Mackenzell apontava com a lanterna, mesmo com o medo tomando conta de si. O espaço era apertado e desconfortável, mas ela se esforçava para iluminar as paredes em busca do buraco, a adrenalina pulsando em suas veias, totalmente ansiosa para descobrir o que os esperava.

Enquanto JJ e os outros desciam Mackenzell para dentro do poço, ela sentia seu tênis, que antes era branco, agora coberto por uma camada de sujeira e um tom pardo, arrastando-se pelas paredes ásperas. A insegurança a dominava; a corda parecia prestes a ceder a qualquer momento, e a sensação de peso que ela carregava em seu corpo nunca foi tão intensa. JJ, ao seu lado, parecia não se importar com o esforço de transportá-la para dentro daquela escuridão.

— Não consigo ver nada! — ela gritou, apontando a lanterna freneticamente para todos os lados, enquanto a corda girava ao seu redor.

— Calma! É só apontar a lanterna — JJ respondeu, segurando a corda com mais força. — Você vai conseguir.

Mackenzell sentiu-se acuada, um nó se formando em sua garganta.

— Desculpa! — disse, sua voz carregada de nervosismo, parando abruptamente no meio do caminho.

— Não tem problema, é só focar a lanterna — ele encorajou, percebendo a apreensão em seu olhar enquanto os dois continuavam a descê-la pelo rapel improvisado.

De repente, Mackenzell parou.

— Espera, acho que vi alguma coisa! — gritou, apontando a lanterna para um buraco na parede. — Achei! É o buraco!

JJ, sem hesitar, parou de descer, segurando-a firme.

— Tudo bem, agora você entra e se esgueira até o outro lado.

— Mas e se não tiver um outro lado? — a dúvida permeou a voz de Mackenzell, ecoando seu medo.

— Vai ter! Confia em mim, está tudo bem — John B incentivou, a firmeza em sua voz tentando acalmá-la.

Mackenzell hesitou, a claustrofobia começando a sufocá-la. O coração batia acelerado enquanto ela refletia sobre a situação.

— JJ! — gritou, a ansiedade tomando conta.

— É só entrar! — ele exclamou, esforçando-se para manter a calma mesmo enquanto suportava o peso dela.

— Se precisar, grita que eu te puxo de volta! Eu não vou deixar você cair, eu prometo! — ele assegurou, tentando que ela confiasse nele.

Ela ficou em silêncio por um momento, a mente dividida entre o medo e a necessidade de seguir em frente. Sabia que não deveria confiar neles, que não devia estar ali, mas encarou o buraco novamente, respirando fundo.

— Ell? — ele gritou, chamando-a pelo apelido carinhoso que compartilhavam.

Finalmente, fechou os olhos, respirou fundo e se preparou.

— Tudo bem, estou entrando! — anunciou, empurrando seu corpo magro para dentro do buraco.

A passagem era apertada, e o contato com o cimento áspero arranhou sua pele, lembrando-a da queimadura de água-viva ainda fresca em seu estômago. A dor a fez hesitar, mas não havia volta.

— Tudo bem? — JJ gritou, preocupado.

— Eu to bem! — ela respondeu, mas logo um arrepio de nojo a atingiu.

— Ai, que nojo! — ela exclamou ao sentir algo pegajoso encostar nela, como uma baba de chorume que a envolvia. Um tropeço a fez escorregar, e o rosto dela bateu no chão frio e imundo.

— Tem alguma coisa aí? — John B perguntou, ansioso.

Mackenzell apontou a lanterna mais uma vez e, ao iluminar a gruta, percebeu que não se tratava de pedras. Havia pilhas de objetos, e algo brilhava em meio à sujeira. Com as mãos tremendo, ela pegou um pedaço do que parecia ser ouro, seu coração disparando.

— Merda, merda! — gritou, a animação tomando conta dela. — Eu achei!

Mackenzell começou a esfregar a mão pelas pilhas douradas cobertas de lama, enfiando algumas das relíquias nos próprios bolsos, esquecendo-se completamente da sujeira que a envolvia.

Dentro da casa, Kiara agarrou a bengala da velha com firmeza, arrancando-a de suas mãos e forçando-a a soltar Sarah.

— Por aqui! — gritou, empurrando Sarah para dentro de outro cômodo. As duas se moviam rápido, tropeçando nos próprios passos para fugir da idosa assassina que vinha atrás delas.

— Vem, pelo porão! — Kiara ordenou, trancando a porta atrás delas com um estalo seco e ofegando enquanto mantinha o corpo encostado nela, como se a velha pudesse arrombar a qualquer instante.

Sarah tentou recuperar o fôlego, as mãos nos joelhos, respirando em arfadas rápidas.
— A senhora Crain acordou... — anunciou, sua voz ainda trêmula, os olhos arregalados de pavor.

— Trancamos ela na sala, mas é melhor irmos embora logo — disse Kiara, regulando a própria respiração, os ouvidos atentos a qualquer som além da porta. O medo era quase palpável no ar.

Ambas correram pelo corredor escuro até chegarem onde o poço estava, a luz da lanterna balançando em seus movimentos apressados. A visão do grupo tentando puxar Mackenzell de volta trouxe alívio, mas não por muito tempo.

— Ell? Vem logo, sobe! — JJ gritou do topo do poço, já enrolando a corda em torno da mão com força, o suor escorrendo pela testa enquanto ele se preparava para puxar.

— Não! Esperem um instante! — Mackenzell gritou lá de baixo, percebendo que não conseguiria levar tanto ouro sozinha. Ela segurava com força o que conseguira agarrar, mas seu corpo estava preso na gruta apertada.

— Vamos, Kenzie! — Sarah gritou, desesperada, seu coração acelerando ao ouvir os passos lentos da velha vindo de algum lugar da casa.

Os cinco se juntaram à corda, as mãos de JJ, John B, Kiara, Sarah e Pope agarrando firmemente o improviso, puxando com toda a força. A tensão era visível em seus braços, os músculos esticados enquanto tentavam tirar Mackenzell do poço.

Por um momento, parecia que estavam conseguindo. Mas então, com um estalo seco, a corda cedeu. Todos caíram no chão em um baque confuso e dolorido, ofegantes e sem entender o que tinha acontecido. A corda escorregou de volta para dentro do poço, e Mackenzell permaneceu lá embaixo, sozinha.

— Ell?! — JJ gritou, levantando-se em um salto, com os olhos fixos no fundo escuro do poço. Ele se arrastou até a beirada, a preocupação escancarada na voz, esquecendo qualquer discussão ou briga que haviam tido antes. — Ell! Me responde!

Kiara se aproximou rapidamente, o rosto tenso.
— Kenzell! — gritou, o desespero começando a tomar conta.

A luz da lanterna de JJ piscou por um momento, lançando sombras inquietas nas paredes do poço. Ele inclinou o corpo para dentro, tentando ver qualquer sinal dela. O silêncio lá embaixo era sufocante, como se a escuridão estivesse engolindo tudo.

— Eu achei o ouro! — Mackenzell gritou lá de baixo, mas o poço era fundo demais e o som saiu abafado, um resmungo distante que fez todos no topo se entreolharem, confusos.

— Quê? O que ela disse? — Kiara perguntou, nervosa, sem conseguir esconder a impaciência. — Puxa ela! Puxa ela!

— Calma, Kiara! — Pope respondeu, tentando manter a calma. Ele se aproximou da corda, alinhando-a entre as mãos. — Ell! Se prende na corda que a gente vai te subir!

— Pode puxar! — Mackenzell gritou, já se agarrando firme, enquanto sentia alguns pedaços de ouro pesados caírem dos bolsos. — Merda! — ela resmungou, tentando equilibrar-se enquanto se pendurava na corda.

Todos começaram a puxar com força, os músculos dos braços tensionados enquanto gritavam e resmungavam, unidos no esforço.

— Puxa! Puxa! — JJ gritava, concentrado.

Então, um estrondo ecoou pela casa, fazendo-os largar a corda por um instante e se abaixarem instintivamente.

Era um tiro.

A porta da sala de estar foi arrombada, e a velha Crain surgiu, segurando uma arma e apontando diretamente para eles.

— Jesus! — Pope gritou, sentindo o pânico subir por sua espinha.

— Desce! — Kiara gritou, empurrando Sarah para se abaixar ao lado da pilastra.

Enquanto isso, Mackenzell se agarrava desesperadamente às paredes irregulares e à corda, tentando não cair de volta na escuridão.

— Que merda tá acontecendo?! — ela gritou, cada vez mais nervosa.

— Segura firme, Ell! — JJ gritou de cima, tentando mantê-la focada. — A gente vai te tirar daí! Confia em mim!

— Amarra isso, cara! — Pope insistiu, cutucando JJ apressado. — Amarra isso logo!

JJ finalmente prendeu a corda numa pilastra, enquanto todos se escondiam atrás dela para evitar os disparos da velha.

— A mira dela é péssima! — Kiara sussurrou, tentando se esconder melhor.

— Ela é cega! — Sarah finalmente percebeu, exclamando com um misto de alívio e descrença. — A velha é cega!

— Vai, Sarah! — Kiara gritou, já correndo para o outro lado do porão em busca de uma rota de fuga.

Lá embaixo, Mackenzell fincou os pés contra a parede de pedras, escalando o poço com esforço. A cada puxada, seus braços tremiam, mas ela se recusava a desistir. Quando finalmente chegou ao topo, tentou se impulsionar para alcançar a beirada.

— Merda... — ela ofegou, forçando o corpo sujo de lama para fora do poço.

Um novo tiro soou, o estrondo ecoando pelo porão.

— Ela tá atirando! — Mackenzell gritou, sentindo o coração disparar.

Com um último impulso, ela conseguiu se jogar para fora do poço, suja e exausta. JJ estava lá, esperando por ela com os braços abertos. Sem hesitar, ela correu na direção dele, e ele a envolveu num abraço apertado, como se o mundo tivesse parado por um instante.

— Você tá bem — JJ murmurou, encarando o rosto dela, sujo de lama. Ele soltou uma risada leve, quase aliviada, enquanto passava o polegar pela sujeira em seu rosto.

— Vamos sair daqui — ele disse, sorrindo.

— Vamos — Mackenzell concordou, ofegante, mas determinada.

Eles saíram correndo do porão, passando pelo jardim antes de pular o muro e correr em direção à Kombi.

— E a Kenzell?! — Sarah perguntou, pulando para dentro da Kombi e olhando para trás, ansiosa.

— Eles tão vindo! — Kiara gritou enquanto também pulava o muro, logo atrás de John B.

— Entra! Entra! Entra! — Pope gritou do volante, enquanto acelerava.

— Tá todo mundo aqui? — John B perguntou, preocupado, olhando para os amigos.

— Tá, tá sim! — JJ e Mackenzell confirmaram, pulando para dentro da Kombi por último.

Mackenzell se jogou no chão da van, completamente suja e exausta, sem dignidade alguma.

— Vamos, vamos, vamos! — John B gritou, vendo Pope dar ignição e sair em disparada.

Mais tiros foram disparados em direção à Kombi, fazendo todos se abaixarem instintivamente.

— Por que sempre atiram na gente?! — Pope resmungou, nervoso, enquanto acelerava mais.

— Meu Deus, você tá podre! — Kiara disse, olhando para Mackenzell se esparramar no chão da Kombi.

— Pope, acelera! — JJ gritou, sentado ao lado de Mackenzell, como se quisesse protegê-la.

— Tá tudo bem? Você levou algum tiro? — Sarah perguntou, preocupada.

— Não, tô bem! — Mackenzell respondeu, ainda eufórica e respirando pesado.

— Você tá com cheiro de bunda! — Sarah comentou, encarando Mackenzell com uma careta. — Vocês dois!

— Tenta entrar num poço sujo pra ver como é bom — John B rebateu, rindo.

— Mas que porra aconteceu? — Mackenzell perguntou, encarando o teto da Kombi enquanto tentava recuperar o fôlego.

— Porra, a gente vai pro hall da fama dos Pogues! — JJ disse, eufórico.

Todos começaram a rir, o nervosismo finalmente dando lugar ao alívio.

— Aquela vaca tava possuída! — Kiara disse, rindo junto.

— Como que aquela velha andava tão rápido?! — Pope perguntou, ainda incrédulo.

— Ela é cega, gente! — Sarah lembrou, sacudindo a cabeça.

— Aquela velha filha da puta é tipo um mestre Yoda! — Pope disse, respirando fundo.

Então Mackenzell enfiou a mão no bolso e tirou um pedaço de ouro, coberto de lama e sujeira. Ela o ergueu para que todos vissem, um sorriso surgindo em seu rosto.

— O que é isso? — Kiara perguntou, curiosa.

— Porra, não pode ser! — Pope arregalou os olhos.

— Não! Você tá de sacanagem! — JJ exclamou, completamente animado.

— Nós conseguimos, porra! — Mackenzell gritou, eufórica.

Todos começaram a gritar juntos, socando o teto da Kombi com empolgação.

— Porra! Porra! Porra! — eles repetiam em uníssono, a adrenalina tomando conta.

Mackenzell tirou mais um pedaço de ouro do bolso e entregou para John B.

— A gente conseguiu! — ela disse, sorrindo.

— Porra, conseguimos! — ele repetiu, abraçando-a.

Eles riam e gritavam, ainda imundos e exaustos, mas triunfantes, enquanto Pope acelerava a Kombi para longe dali.

— Cara! A gente vai ficar rico! — JJ gritou, rindo alto.

— Rico tipo os Kooks! — Kiara completou, juntando-se à euforia.

— Sim! Vamos virar Kooks! — todos gritaram juntos, comemorando como se já estivessem no topo do mundo.















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6304 palavras.

não suporto parecer uma mendiga implorando por interação.
Sem comentário, sem capítulo novo.
É isso, bjs
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