i.
"It's strange what desire make foolish people do
I'd never dreamed that I'd meet somebody like you"
— Wicked Game, Chris Isaak
Era comum ver o trio matando aula atrás da escola, com os cigarros nos lábios e uma garrafa de uma bebida qualquer sendo compartilhada entre os três. Todos sabiam que eles iam lá para fumar erva, e ficavam lá até o fim das aulas e iam chapados para casa.
Os alunos, principalmente, sabiam e não tinham coragem (ou um nível de idiotice muito alto) para contar aos professores e a diretoria. E ninguém mexia com eles, é claro. Por que mexer com o que está quieto, não é?
E era isso o que Tony Stark, Nathasha Romanoff e Clint Barton faziam naquele exato momento. Pouco se fodendo se a aula de Inglês estava rolando, ou qualquer outra coisa.
— Então você resolveu que vai brincar com o Garoto de Ouro? — Natasha debochou, tragando o cigarro e segurando a fumaça por um tempo, até soltar pelo nariz.
E passou para Clint, ao seu lado.
Deitado no chão de concreto, Tony apenas assentiu. Os olhos fechados, cobertos pelos óculos escuros e os braços cruzados abaixo de sua cabeça, fazendo a vez de travesseiro.
Barton riu, soltando a fumaça e devolvendo o cigarro para Natasha.
— Ele nunca fez seu tipo, Tony. Por que dessa agora?
— Vai ser engraçado. — Stark disse, com um sorriso debochado nos lábios grossos. — Toda vez que chego perto dele, ele cora feito uma mocinha.
— Por que ele é, Stark, uma mocinha encubada. — Barton revirou os olhos. — Uma garotinha virgem que cora com qualquer elogio ou sacanagem que ouve.
— Ele é. E é por isso que vai ser tão engraçado. — Tony riu, sentando-se e pegando o cigarro da mão de Natasha, que levantou a sobrancelha na direção do amigo.
— Pensei que gostasse do amigo dele, o Barnes. — Comentou, pegando o cigarro de volta.
Tony negou com a cabeça, soltando a fumaça pelo nariz.
— Não diria gostar, Tasha. Ele só é bom no boquete.
Os três riram.
Na sala de aula, Steve Rogers estava copiando seu dever. Fingindo estar interessado nas equações, enquanto dava rápido olhares para a cadeira no fundo da sala, que estava vazia.
Balançou a cabeça com descrença, não sabendo como Stark conseguia passar todos os anos, sendo que não comparecia boa parte do ano. Mas na verdade ele sabia: o cara era um gênio e passava com uma facilidade, por fazer os trabalhos por compensação de faltas.
— Você fez outra vez. — Pepper Potts falou ao seu lado, cutucando-o.
— Fiz... O que?
— Olhou para a mesa do Stark e se perdeu lá. Ele não está ali, você sabe, não é? — Falou, tirando a franja do rosto e puxando o cabelo ruivo para trás, evitando que ele continuasse incomodando.
— Eu sei, Peps. — Falou, passando a mão por seu cabelo e bagunçando os fios perfeitamente arrumados. O sinal do intervalo tocou, fazendo Steve fechar seu caderno e arrumar suas coisas, colocando-as em sua mochila sem pressa.
Quando já estava no corredor, com Pepper, sua melhor amiga, ao lado, James Barnes juntou-se a eles, assim como Bruce Banner.
James, chamado carinhosamente de Bucky pelos amigos, era quase da mesma altura de Steve. Uns cinco centímetros mais baixo, talvez. Tinha porte atlético e usava ostentosamente a blusa do tipo, com o brasão bordado do lado direito. Bruce, por outro lado, não poderia ser mais diferente de Steve e Bucky.
Baixinho, óculos e suéter por dentro da calça. Assumidamente nerd, é claro.
— Já ficaram sabendo da festa na casa do Phil? — James perguntou, colocando um braço ao em cima dos ombros de Steve e o outro no de Pepper. — Os pais deles foram viajar e deixaram a tia dele tomando conta de tudo, mas a velha toma remédios e dorme cedo e como uma pedra.
— Phil? O garoto que idolatra o Steve, o novato do time? — Pepper perguntou, franzindo as sobrancelhas ruivas.
— Esse mesmo! — Bucky riu.
— Quem tanto vai? — Steve perguntou, tentando soar desinteressado.
— A escola inteira, meu amigo! Todas as gatinhas vão estar lá, prontinhas para mim!
Steve bufou com o jeito cafajeste de James.
— A escola inteira, mesmo? — Perguntou novamente.
Bucky parou, e olhou atentamente para o loiro. Passou a mão pelos cabelos longos e bufou.
— O Stark e sua trupe foram convidados, se é isso o que quer saber. Mas não sei se ele vai, sabe como ele não gosta de se misturar.
— Isso não é verdade! Você só está dizendo isso por que odeia ele.
— É, eu odeio o cara, e o que que tem? Mas é a pura verdade o que eu disse, ele é chamado para todas as festas e não vai em nenhuma. O que quer que eu pense? O cara é um metido e não gosta de se misturar, simples.
Steve olhou feio para James e continuou a andar, sem dar atenção as palavras do amigo.
Depois do almoço foram para os armários, pegarem o material para a próxima aula. Steve ainda estava chateado com o que Bucky dissera, ele tinha certeza que o Stark não era assim.
Apesar do dinheiro do pai, ele via o garoto sempre tentando ser o contrário de Howard Stark. O colégio público que estudava, a jaqueta de couro, os jeans rasgados e as botinas. O comportamento rebelde, as detenções. Ele fazia tudo isso para as pessoas esquecerem que ele tinha dinheiro.
Mas isso não adiantava, pelo que parece. As pessoas ainda o veriam como um mesquinho riquinho numa escola para a classe média.
...
Está bem, Tony tinha que concordar. O garoto Coulson sabia dar uma festa. A batida da música podia ser ouvida da esquina e a rua estava repleta de carros, e ele balançou ao som de enquanto estacionava seu , vermelho com duas faixas pretas no capô. Natasha estava ao seu lado, o cabelo ruivo totalmente solto e rebelde, os lábios pintados num tom escuro de vermelho e os olhos destacados com sombras pretas. Pretas, assim como toda a sua roupa.
E Barton estava no banco de trás, olhando no espelho retrovisor, checando se seu cabelo lotado de gel estava no mesmo lugar.
Revirou os olhos e saiu do carro, ajeitando sua jaqueta e esperando os outros saírem.
Quando entraram na casa de dois andares, foram recebidos com a música alta e vários jovens com copos de bebida nas mãos. Sorriu abertamente, e continuou a andar, procurando o rapaz de cabelo loiro que era o alvo de sua atração.
Rapidamente o encontrou, junto com seus amigos patéticos. O cabelo perfeitamente arrumado, a camisa de botão por dentro da calça, parecendo ridiculamente engomadinho.
Andou até lá, pegando um copo de cerveja de cima da mesa e bebendo um grande gole.
— Rapazes, — sorriu para os garotos e se virou para Pepper, sorrindo de lado — Senhorita.
Banner, o único do grupo com quem Tony conversava de vez enquando, sorriu em cumprimento. Assim como Sam Wilson, que era neutro e conversava com todo mundo.
— O que faz aqui, Stark? — Bucky perguntou, azedo.
— Bucky, é estranho te ver na mesma altura que eu. Normalmente você está de joelhos. — Tony falou, com sarcasmo. — E, respondendo sua pergunta, eu preciso bater um papo com o Rogers.
Steve franziu as sobrancelhas, estranhando a ação do Stark.
— Sobre o que? — James continuou, rude e curioso.
Ignorando Bucky, Tony virou-se para Steve e disse, sorrindo abertamente.
— Vamos, baby?
Todos se viraram para Steve. Este, estava vermelho e olhando para Tony como se ele fosse um louco.
Pelo amor de Deus, vim falar com ele no meio de todo mundo? E chamar ele de baby, quando a nova moda do colégio era enfiar na privada a cabeça dos gays? Não que ele se importasse com isso, é claro. Ninguém enfiava a cabeça de Tony Stark, assumidamente bissexual, na privada.
Mas o mais importante de tudo era: TONY STARK ESTAVA FALANDO COM ELE.
— É um assunto sério, — Tony sorriu charmosamente — eu prometo.
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