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CAPÍTULO DEZESSEIS:
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Na minha casa ou na sua?
Naquela manhã de segunda-feira, Helena acordou sentindo-se mais leve, era como se um peso enorme tivesse sido tirado das suas costas e, principalmente, do seu coração. Conversar com Paul sobre tudo o que aconteceu e sobre seus sentimentos foi assustador, ela admitia, estava morrendo de medo e teria fugido na primeira oportunidade ─ se tivesse tido uma. No entanto, agora ela entendia que precisava daquela conversa. Precisava falar sobre o que sentiu naquela época e também saber o que ele sentia.
“Vou ser o amigo que você precisar. Ou qualquer outra coisa que você estiver disposta a me deixar ser.” Ela repassou as palavras do Lahote, um sentimento novo surgindo em seu peito. O que era aquilo? Sua paixão por Paul nunca havia lhe trago bons sentimentos, nada além de decepção e um coração partido, aquele velho e conhecido aperto no peito. Porém, agora, as coisas pareciam mudar, era um sentimento bom, algo que aquecia seu peito, que lhe fazia querer sorrir como uma boba ao se lembrar das palavras dele e de como ele a olhara, tão intensamente, como se nada mais importasse, como se ela fosse o centro do seu universo.
“Porque eu gosto de você, Helena Uley. Porque eu sempre gostei de você.” Seu coração batia tão rápido que ela quase ficou sem ar. Paul tinha essa habilidade de surpreendê-la, pegá-la de surpresa, assim como na noite anterior a sua partida da reserva.
A Uley deixou aqueles pensamentos de lado, algo lhe dizia que aquele seria um bom dia, ainda que tivesse que recomeçar a rotina cansativa da escola. Ao menos nesta manhã, estava de bom humor. Após fazer sua higiene matinal e se arrumar para a escola, Helena foi até a cozinha, mais uma vez encontrando apenas Emily, que arrumava a mesa do café. Ela franziu o cenho. Já faziam dias que os garotos não vinham tomar café em casa, e até aí tudo bem, todos estavam voltando as suas rotinas na escola, mas onde estava Sam?
─ Bom dia, Lena. Dormiu bem? ─ Emily perguntou, o sorriso gentil de sempre.
Helena acenou lentamente, em confirmação, seu rosto ainda confuso.
─ Bom dia. Sim, eu dormi. Onde está o Sam? ─ Ela perguntou, seus olhos vagando para a porta que levava a sala, nenhum sinal do homem.
Quando chegou em casa na noite anterior, Sam ainda não havia chegado. Ela já estava deitada quando ouviu a voz do homem na casa, baixa, mas não o suficiente. Ouviu algo sobre uma “ronda”, mas nada fazia muito sentido. Ao menos não para ela.
Emily deu de ombros.
─ Ele foi para a oficina mais cedo hoje. ─ Ela respondeu, mas algo no tom da mulher fez Helena acreditar que havia muito mais por trás de tudo isso.
A verdade é que desde que voltara, as coisas andam estranhas. A aproximação repentina de Sam, Paul e Jared. A forma como estavam sempre juntos, descamisados e aquela tatuagem? Por que todos eles tinham a mesma tatuagem? Jacob havia comentado algo sobre uma “gangue do Sam” e, honestamente, ela não acreditava que seu irmão tinha criado uma gangue, não, não deveria ser isso. Ainda assim, eles escondiam algo e mais cedo ou mais tarde ela iria descobrir o que era.
Tomou uma xícara de café rapidamente, mais para afastar o sono do que por fome, e pegou uma fruta antes de se despedir de Emily.
─ Até mais tarde.
Sem esperar resposta, saiu apressada pela porta. Ainda precisava passar na casa de Embry para irem juntos à escola.
. . .
─ Então vocês finalmente conversaram? ─ Perguntou Embry, assim que Helena terminou de lhe contar os acontecimentos da noite anterior.
O Call sentia um frio no estômago. Era medo. Sim, ele mesmo tinha a aconselhado a ter uma conversa franca com o Lahote, mas ele não achou que ela realmente fosse fazê-lo. Por um lado, era algo bom, por outro… ele não sabia bem o que pensar, ou como se sentir a respeito. Ele sabia que Paul jamais a rejeitaria, quem em sã consciência rejeitaria Helena Uley? E isso era bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque ela finalmente estaria com o garoto por quem sempre fora apaixonada, ruim porque ele jamais estaria com a garota por quem ele sempre fora apaixonado.
─ Sim, ele me encontrou na praia. ─ Ela suspirou, brincando com os próprios dedos. ─ Ele… ele disse que sempre gostou de mim, Emby. ─ Um riso escapou da sua garganta, como se aquela fosse uma piada muito ruim.
Embry franziu o cenho, confuso com a reação difusa da melhor amiga. Não era o que ela sempre desejou?
─ E por que você não está dando pulos de felicidade? ─ Questionou o Call.
─ Eu não sei… de repente parece tarde demais pra nós dois, sabe? ─ Ela sorriu, quase nostálgica. ─ Combinamos de sermos amigos agora. ─ Ela deu de ombros, Embry ainda tinha uma expressão confusa no rosto.
─ Amigos? ─ Ele arqueou uma sobrancelha. Aquele definitivamente não fazia o estilo do Lahote.
─ Bom… ─ A loira mordeu o interior da bochecha, tentando conter um sorrisinho, seus olhos cravados em seus pés enquanto os dois amigos seguiam sua caminhada até a escola, mais lentamente do que de costume. ─ Ele disse que vai ser o que eu deixar que ele seja. ─ Ela deu de ombros.
Embry ajeitou a alça da sua mochila nos ombros, um pouco desconfortável. Paul Lahote sabia como mexer com a cabeça das garotas, principalmente se a garota for Helena Uley.
─ E ele disse que não iria desistir de mim. Que iria provar que posso confiar nele. ─ Ela continuou, sem perceber a hesitação no semblante de Embry. ─ Ah! ─ Ela exclamou de repente, fazendo o garoto pular um pouco para o lado com o susto. ─ Você acredita que ele disse que tinha ciúmes de nós dois?
O Call podia sentir a temperatura do seu rosto subir ao ponto de sentir suas bochechas arderem, uma tosse repentina tomou conta do garoto, fazendo os dois pararem. Helena franziu o cenho, dando alguns tapinhas nas costas do garoto.
─ Nossa, a idéia de ter algo entre nós é tão ruim assim? ─ Ela brincou, mas aquilo só o deixou ainda mais vermelho e desesperado. Quando Embry finalmente conseguiu para de tossir e encarar a garota, a Uley segurou o riso. ─ Devo me sentir ofendida?
─ Não! Não! Claro que não! ─ O Call se apressou em dizer. Como ela podia simplesmente falar isso como se fosse normal? ─ Ele disse que… tinha ciúmes de nós dois? ─ Embry murmurou, um pouco mais calmo, sondando o terreno. Ele realmente gostaria de saber o que Helena pensava sobre isso.
Os dois voltaram a caminhar, enquanto Helena assentia.
─ Sim, acredita? ─ Ela bufou um riso. ─ Não sei, talvez ele só tenha dito isso pra justificar o beijo com aquela que não deve ser nomeada. ─ Embry riu com a menção a Grace. ─ Mas eu não sei, ele pareceu sincero. ─ Ela deu de ombros.
Embry percebeu que a garota não comentaria mais sobre a menção aos dois terem algo, então ele mesmo não comentou mais nada sobre. Talvez fosse melhor assim. Seu silêncio já era uma resposta muito clara.
. . .
As primeiras aulas passaram tão rápido quanto Helena gostaria. Paul estava lá quando ela entrou na sala com Embry, ele ria e conversava com alguns alunos e alunas no fundo. O olhar do Lahote foi diretamente para ela, depois para o Call, e tanto Embry quanto ela poderiam jurar que se olhar matasse, o pobre Embry cairia morto ali mesmo.
Era estranho, agora que ela sabia sobre os sentimentos dele e que ele sabia sobre os dela. Estar no mesmo lugar que Paul, olhá-lo… tudo isso a deixava levemente tímida. Ao menos fora isso que ela sentiu pelos primeiros dois horários, no entanto, quando o terceiro horário chegou e com ele a aula de História, as coisas mudaram um pouco de figura. Paul trocou de lugar, sentando-se na carteira atrás da Uley. Helena olhou para trás encontrando o sorrisinho cínico do Lahote.
Ela rolou os olhos, mas não pôde evitar um pequeno sorriso.
─ Oi. ─ Ele sussurrou, curvando-se um pouco mais para frente, mais próximo dela. Helena sentiu seu coração reagir à aquele sorriso irritantemente atraente do Lahote.
─ Oi. ─ Ela respondeu, tentando soar indiferente e, falhando miseravelmente, enquanto via o sorriso de Paul aumentar aos poucos.
─ Então, agora que somos amigos, você vai finalmente me passar as respostas?
Helena bufou, encarando aquele sorriso cínico e provocador.
─ Então seu interesse em ser meu amigo é conseguir as respostas das atividades? ─ Ela ergueu uma sobrancelha para o Lahote.
Paul a encarava de volta, sem desviar um segundo sequer, exceto pelo momento que seus olhos desviaram para os lábios da garota, fazendo-a corar e se afastar um pouco, instintivamente.
─ Na verdade, meu interesse está em quem tem as respostas. ─ Ele disse como se não fosse nada além de um assunto banal, mas Paul Lahote não era inocente e Helena sabia disso, ele fazia tudo aquilo de propósito para vê-la vermelha como um pimentão. ─ Mas as respostas seriam um bônus legal. ─ Ele piscou para a Uley antes de se afastar novamente, ajeitando-se em seu lugar.
Helena estava sem reação. Idiota! Foi tudo o que sua mente conseguiu formular. Quando o professor chamou sua atenção de volta para frente da sala, ela finalmente saiu do transe, pedindo desculpas e se concentrando ─ ou tentando se concentrar ─ no que realmente importava.
O homem começou a falar sobre um trabalho em dupla e Helena resistiu a vontade de se afundar em seu assento. Eles mal haviam retornado e já estavam falando sobre trabalhos? Ela era uma boa aluna, sempre fora, mas isso não significava que ela gostava de estudar e muito menos de fazer e apresentar trabalhos para toda a turma ─ não que fosse tímida, pelo contrário.
A Uley já tinha sua dupla em mente, claro: Embry Call, mas a próxima fala do professor mandou seus planos pelos ares:
─ Embry, você é a pessoa mais próxima da Kiara Black, certo? ─ O garoto assentiu. Na verdade, os dois costumavam fazer todos os trabalhos em duplas ou até mesmo em grupo juntos. Mas ao que parecia, Kiara ainda estava doente e não atendia nenhuma das suas ligações. ─ Se importa de fazer dupla com ela? Você deve saber que ela pegou um resfriado e não pode comparecer à escola hoje.
Embry trocou um olhar com Helena, antes de assentir. Kiara era uma ótima dupla e ele não podia simplesmente deixá-la de lado só porque sua melhor amiga havia voltado.
─ Ótimo, então os demais, formem suas duplas! ─ Anunciou o professor, quase se arrependendo quando o burburinho na sala se iniciou, os alunos formando suas duplas com quem mais tinham afinidade.
O Call se virou para a Uley.
─ Foi mal. ─ Ele disse, vendo-a dar de ombros com um sorriso.
─ Tudo bem, suponho que vocês já estejam acostumados a fazerem essas coisas juntos. ─ Ela murmurou, ele assentiu. ─ Então- ─ A Uley iria continuar quando sentiu alguém cutucar seu ombro.
Ela se virou vendo Paul com um sorrisinho amarelo.
─ Quer ser minha dupla? ─ Ele ofereceu, Helena riu.
─ Só se eu quiser fazer tudo sozinha, não é? ─ Arqueou a sobrancelha, vendo-o levar a mão ao peito teatralmente.
─ De forma alguma. ─ Ele negou, mas Helena definitivamente não conseguia levá-lo a sério.
─ Aham, sei…
Seus olhos desviaram para a garota que se aproximava, ela forçou um sorriso para Helena, antes de se virar para Paul, curvando-se um pouco na direção do Lahote, que ainda tinha seus olhos fixos em Helena.
─ Paul… ─ A Uley observou enquanto a garota o cutucava com o dedo indicador. Paul finalmente encarou o rosto dela. Argh! Como um simples gesto poderia irritá-la tanto? ─ Quer ser minha dupla? Podíamos fazer o trabalho lá em casa e-
A loira a interrompeu, segurando o braço do Lahote com certa possessividade.
─ Ele já tem dupla. ─ Helena tinha certeza de que aquele fora o sorriso mais falso que já dera em toda a sua vida. Ela quase podia ouvir seus dentes rangerem de tanta força que estava fazendo.
O sorriso da outra garota vacilou, ela olhou para Paul como se esperasse uma confirmação do garoto.
─ Você ouviu a Marrentinha. ─ Ele deu de ombros, fingindo que não notou a fuzilada com o olhar que a Uley lhe dera com o “Marrentinha”.
A garota bufou, murmurando um “ok” antes de sair visivelmente desapontada.
Helena sorriu internamente, soltando o braço de Paul e voltando a sua posição inicial. Ainda assim, o sorriso satisfeito nos lábios do Lahote não se desfez. Era óbvio que ela estava com ciúmes e isso só queria dizer uma coisa: ela ainda gostava dele.
─ Na minha casa ou na sua?
Sem revisão.
Relevem os erros ortográficos.
Ain, onde você quiser, amor... *emoji mordendo o lábio*
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