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CAPÍTULO QUATORZE:
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Pare de fugir.

A primeira semana de aula arrastou-se mais lentamente do que Helena gostaria. Em seu primeiro dia, ela não encontrou Paul novamente após o episódio no corredor com Grace. Ela não o viu na escola, tampouco em sua casa. Ele parecia estar evitando-a deliberadamente, o que não era exatamente surpreendente. Helena sabia que sua atitude naquele dia não havia sido das mais amistosas. Ignorá-lo foi quase instintivo, e, se fosse ser completamente honesta, naquele momento específico, ela estava realmente irritada, não apenas com ele, mas consigo mesma e, principalmente, com Grace. No entanto, depois, mais calma, percebeu que todo aquele drama apenas parecia tolice.

Quando o encontrou no segundo dia, percebeu algo diferente nele. Como imaginara, eles dividiam algumas aulas ─ algo inevitável em uma escola tão pequena e com turmas ainda menores. Não era uma surpresa, mas o comportamento de Paul, sim, a surpreendeu. Ele não parecia ser ele mesmo. A energia usual, cheia de provocações e autoconfiança irritante, havia desaparecido.

Paul estava estranhamente quieto, a expressão distante, como se sua mente vagasse muito além das paredes da sala de aula. Distraído..., constatou. Não que Paul já tivesse sido o exemplo de aluno dedicado, mas dessa vez havia algo mais profundo em sua distração. Ele evitava olhá-la diretamente, o que, de certa forma, incomodava mais do que suas brincadeiras constantes. Será que eu o afastei de vez? É isso que queria, não é?, refletiu, mas a ideia de tê-lo realmente afastado deixou um gosto amargo que ela não soube explicar.

Os dias seguintes foram igualmente confusos. Paul continuava agindo de forma estranha, mas com nuances que a deixavam inquieta. Ele parecia mais atento a ela. Às vezes, Helena captava o olhar dele fixo em si, como se ele estivesse prestes a dizer algo. Uma palavra que, no entanto, nunca vinha. Era frustrante. Ele mantinha as conversas no nível básico, quase impessoal, e até mesmo suas provocações haviam se tornado raras ─ embora ainda existissem o suficiente para lembrar que aquele era, de fato, Paul Lahote.

Helena tentou não pensar muito nisso, mas era impossível. Cada vez que ele a olhava daquele jeito indecifrável, como se guardasse um segredo, sua mente fervilhava com perguntas. Por que ele estava agindo assim? O que, afinal, estava acontecendo?

No fim, Helena só conseguiu concluir uma coisa: Paul continuava irritante. Isso, pelo menos, era constante.

Depois da longa semana, o sábado finalmente chegou e Helena pôde relaxar. O dia estava estranhamente tranquilo, começando pelo fato de que não tinha ninguém em sua casa pela manhã além dela e Emily, nem mesmo seu irmão Sam estava em casa quando acordou.

─ Bom dia, Lena. ─ Emily a cumprimentou com um sorriso. Helena ainda não tinha se acostumado com a cicatriz gigante no rosto da Young.

O que será que aconteceu? Ela se perguntava. Seria muito invasivo perguntar sobre? Por fim, ela deixou aquilo para lá, tentou sorrir de volta e desejar um bom dia para a mulher também.

─ A casa está silenciosa hoje. ─ Helena comentou, enquanto se servia de um copo d'água.

─ Sim, ─ A Young riu, concordando. ─ Sam e os garotos foram resolver algumas coisas da oficina.

Helena apenas concordou, seus olhos vagando até a mesa onde os garotos costumavam ficar, comendo e zoando uns com os outros, ou até com ela mesma. Fazia menos de um mês que voltara para a reserva, mas ela já havia se acostumado com a rotina e, por mais que negasse, a sua convivência com os garotos, até mesmo com o Lahote.

Ela tomou seu café da manhã, trocando apenas algumas palavras com Emily sobre sua primeira semana na escola. As duas ainda não estavam tão entrosadas quanto Sam gostaria, mas estavam se dando um pouco melhor. Ainda era esquisito para Helena pensar nos dois como um casal quando ela passou anos vendo seu irmão com Leah Clearwater. Tudo bem, era a vida dele, mas isso não deixava de ser esquisito. Emily era a melhor amiga de Leah e então, aparece noiva do ex noivo da Clearwater? Às vezes olhar para Emily a fazia lembrar de Grace. Era instintivo. Uma associação automática mesmo sabendo que elas eram pessoas diferentes e que suas situações eram bem distintas. E, honestamente falando, em sua opinião o que Emily fez foi bem pior. Ao menos ela não tinha nada com Paul, já Sam e Leah, por outro lado, viviam dizendo para os quatro cantos que se casariam e formariam uma família enorme.

Helena lavou a louça depois do café, mesmo que a Young tenha insistido para ela que não precisava. Ela odiava se sentir inútil, parecia que a única coisa que Emily fazia na vida era cozinhar e limpar. Ela não tinha nenhum hobbie, ou qualquer outra atividade fora daquela casa que não envolvesse tarefas domésticas. A Uley não sabia exatamente se era uma escolha dela, já que a mulher parecia feliz e satisfeita com isso.

─ Estou saindo, se o Sam perguntar por mim, diz que eu fui até a casa do Jake com os meninos. ─ Ela avisou a cunhada, enquanto estava saindo, ouvindo a confirmação da Young já ao longe.

Helena havia combinado de se encontrar com os meninos na casa de Embry para então irem até a casa de Jacob e Kiara.

─ Vocês notaram algo estranho na Kie essa semana? ─ Embry questionou enquanto ele, Quil e Helena caminhavam para a casa dos Black.

A loira franziu o cenho, a verdade é que ela não conhecia Kiara tão bem quanto Embry a conhecia. Elas haviam se dado muito bem, e ela sentia que viria uma bela amizade pela frente, mas ainda era cedo demais para saber quando a garota estava agindo de forma estranha ou não. Por fim, a Uley apenas deu de ombros.

─ Um pouco. ─ Foi Quil a responder. ─ Mas talvez ela só não esteja sabendo como agir perto de você depois de- ─ O Ateara se calou ao receber um olhar mortal do amigo.

Helena franziu a testa, encarando-os confusa.

─ Depois de…? ─ Ela incentivou.

Quil mais uma vez trocou um olhar com Embry, como se pedisse permissão ou ajuda. Helena não soube identificar especificamente, mas sabia que os dois tinham um segredinho juntos. Ela arqueou uma sobrancelha, ainda esperando por uma resposta que, infelizmente, sabia que não viria. A não ser que perguntasse para a própria Kiara, mas a verdade é que por mais que estivesse curiosa, não era da sua conta.

─ É uma longa história. ─ Embry murmurou, superficialmente.

Para o alívio de Embry, eles já estavam em frente a casa dos Black. Havia uma caminhonete vermelha desbotada parada quase em frente a garagem, Helena se lembrava bem da lata velha.

─ Uau, isso aqui ainda funciona. ─ Ela sibilou, aproximando-se da lataria, seus dedos deslizando pelo capô da caminhonete, os olhos vagando pela peça impressionados.

─ O pai do Jacob vendeu para Charlie Swan, que comprou pra filha dele…

─ Bella. ─ Helena constatou, completando o raciocínio do Call, que confirmou com um aceno.

A loira sorriu maliciosa.

─ Então a garota do Jake está aqui. ─ Ela trocou sorrisos maliciosos com os meninos, os três dividindo o mesmo pensamento.

Eles deram uma olhada na entrada da garagem, estava aberta então decidiram entrar.

─ É melhor darmos algum sinal, vai que eles estão se agarrando ai. ─ Helena sugeriu. Embry e Quil trocaram um olhar desacreditado.

─ Eu duvido. ─ Embry riu, acompanhado de Quil. A Uley deu de ombros. ─ Mas está bem. ─ Ele cedeu enquanto entravam. ─ E ai, Jake! Cê tá aí? ─ Perguntou um pouco mais alto.

─ Estamos entrando! ─ Helena avisou.

Segundos depois eles já entraram no campo de visão de Jacob e Bella, a garota parecia meio assustada. Será que eles realmente estavam fazendo algo? Helena sorriu para si mesma.

─ São meus amigos. ─ O Black murmurou para a Swan.

─ Oi, Jake. ─ Helena acenou para o garoto e deu um pequeno sorriso para Bella mais atrás.

─ E aí, não sabia que viriam. ─ Ele respondeu se levantando. ─ Gente, está é a Bella. Bella, esses são Quil, Embry e Helena.

─ Sou Quil Ateara. ─ Quil se apresentou, visto que Jacob não havia especificado quem era quem em sua apresentação. Bella sorriu, houve um pouco de silêncio antes do garoto continuar: ─ Então o lance da moto é verdade.

─ Ah, é sim. Ensinei a ele tudo o que sabe. ─ Bella brincou.

─ E a parte de que é garota dele? ─ Quil perguntou.

Helena mordeu o lábio, tentando não rir. Mais alguns segundos de silêncio antes da Swan finalmente responder.

─ Somos amigos. ─ Bella deu de ombros, visivelmente sem graça.

Os três riram.

─ Uh, dançou. ─ Embry zombou.

─ Na verdade, eu disse que era uma garota, não a minha garota. ─ Jacob tentou se justificar.

─ Lembram dele ter feito essa distinção? ─ Quil perguntou para Embry e Helena, que trocaram olhares divertidos antes de responderem juntos:

─ Não, não lembramos.

─ Vocês namoram? Que legal. ─ Bella entrou na onda. Defendendo o amigo.

Helena coçou a nuca, contendo um riso. Jacob, no entanto, gargalhou com vontade.

─ Tem, tem sim. ─ Jacob debochou. ─ O Quil vai dançar com a prima dele no baile de formatura. ─ Embry e Helena riram, mas o Black não parou por aí. ─ O Embry não tem coragem de falar pra garota que ele gosta, que gosta dela. ─ A Uley encarou o melhor amigo, que desviou o olhar. Kiara? Ela se perguntou, mas sua atenção se voltou para Jacob quando ele concluiu: ─ E a Helena vai se casar em Junho na praia.

A Uley encarou o garoto mortalmente.

─ Ok, isso não tem mais graça. ─ Ela bufou, o rosto queimando de vergonha. Ele tinha que tocar nesse assunto? 

─ Quer graça, Black? Eu vou te dar graça. ─ Quil disse partindo para cima de Jacob e os dois começaram uma “briga”.

Helena e Embry se aproximaram da Swan que encarava tudo meio deslocada, mas rindo.

─ Eu tô apostando no Quil. ─ Murmurou Embry.

─ Eu apostaria no Jake, mas ele não tá merecendo. ─ Helena retrucou com um bico enorme.

Embry riu fraco. É claro que ele sabia sobre o diário da Uley. Não sobre o conteúdo nele, claro, ele sempre respeitou o espaço da amiga, mas sabia que Jacob o havia lido e sabia bem a quem ele estava se referindo quando falou sobre casamento.

─ Helena, certo? ─ Bella indagou, observando a garota. Ela se lembrava de conhecê-la de algum lugar.

─ Isso. ─ A Uley confirmou.

─ Você não é a filha da Juliet? ─ Perguntou a Swan, puxando no fundo da memória a garotinha sorridente e sapeca que costumava cuidar quando era mais jovem.

Helena sorriu, confirmando. Ela se lembrava de Bella claro. Sua memória era boa até demais.

─ Sim, sou eu. Minha mãe sempre te pedia pra cuidar de mim quando éramos crianças. ─ A Uley confirmou.

Bella riu.

─ E você sempre fugia pra ir brincar com os garotos. ─ Bella disse se lembrando. Ela não entendia como uma garotinha com pernas tão pequenas conseguia ser tão rápida.

─ Bons tempos. ─ Helena suspirou nostálgica.

Não demorou muito mais para que Quil e Jacob se cansassem da brincadeira e voltassem a se juntar aos outros três. Eles acabaram passando mais um tempo ali antes da Swan ir embora e então Quil, que tinha um compromisso com seu avô. No final restaram Helena, Embry e Jacob.

─ Jake, ─ Helena chamou o garoto, que ergueu a cabeça para encará-la. ─ E a Kiara? Não tá em casa? ─ Perguntou, dando pela falta da outra garota.

─ Ah, ela tava se sentindo meio mal hoje. Acho que pegou alguma virose. ─ O Black murmurou dando de ombros. ─ Ela deve estar no quarto, se você quiser ir vê-la…

Embry franziu o cenho. No dia anterior a garota realmente não parecia estar muito bem, além de estar muito irritadiça. Ela disse que deveria ser tpm, mas a verdade é que ele nunca tinha visto a Black tão irritada, além dela parecer estar com febre.

Por fim, Helena achou melhor deixar a garota descansar. Eles se despediram de Jacob e Embry se ofereceu para acompanhá-la até em casa no fim da tarde.

─ A garota que o Jacob citou mais cedo… ─ Helena começou, puxando o assunto. Embry não entendeu inicialmente, mas quando a compreensão o tomou, seu coração disparou. Será que ela finalmente entendeu? ─ A garota que você gosta… é a Kiara?

A pergunta foi como um balde de água fria. Ela realmente não conseguia considerar a hipótese de que ele gostava dela? Era tão inimaginável assim? Ou ela simplesmente não queria ver?

Embry bufou um riso, irônico. Helena arqueou uma sobrancelha.

─ O que foi? ─ Perguntou a Uley.

O Call sorriu, mas um sorriso amargo, balançando a cabeça.

─ Nada. Jake só estava tirando uma com a nossa cara. ─ Ele deu de ombros.

Mas Helena sabia que não era verdade. Ele havia dito a verdade sobre Quil e sobre ela, por que mentiria sobre Embry? Não fazia sentido.

─ Tem certeza? ─ Ela voltou a questionar. ─ Você pode me contar tudo, você sabe. ─ Ela segurou o ombro do garoto, fazendo-o parar.

Embry a encarou de soslaio, um suspiro escapando dos seus lábios. Ela realmente não via o quanto o magoava com sua indiferença? Claro, ela o amava, ele sabia. Mas jamais seria da forma como ele a amava e aquilo doía mais do que ele seria capaz de colocar em palavras.

─ Embry? Tudo bem? ─ Ela perguntou, percebendo o semblante do garoto. Os olhos brilhando com lágrimas que ele não queria deixar cair.

─ E você? ─ Ele riu, balançando a cabeça, enquanto tentava espantar as lágrimas. Não podia chorar na frente dela, como explicaria isso? ─ Quer mesmo se casar com o Paul em Junho e na praia? É a de La Push, certo? ─ Aquele era outro assunto que o magoava, mas o que poderia fazer? Se não falasse sobre outra coisa, ela continuaria lhe questionando sobre a garota que ele gosta, sem saber que ela estava bem ali.

A Uley bufou, rolando os olhos.

─ Eu vou arrancar a língua do Jacob!

─ Acho que ele gosta de você. ─ Embry disse de repente.

Ela franziu a testa, fazendo uma careta.

─ O Jacob?

─ O Paul. ─ Embry esclareceu, rolando os olhos. Tão lerda. Ele suspirou.

─ Não. Ele não gosta. ─ Ela afirmou.

─ Você não vê porque está sempre fugindo dele. Não presta atenção na forma como ele te olha. ─ Embry segurou o pulso da garota quando ela tentou voltar a andar. ─ Para de fugir, Helena.

─ O quê? ─ Ela voltou a encará-lo. ─ Eu não tô fugindo.

─ Nem você acredita nisso. ─ Embry riu sem humor. Se ele não podia tê-la, ao menos que ela fosse feliz com quem gosta. E se Paul ousasse, magoá-la… ─ Você gosta dele. Sempre gostou. Não acha que está na hora de encarar isso de frente?

Houve longos segundos de silêncio, Helena não sabia bem como responder aquilo.

─ Eu não consigo. ─ Ela disse por fim, suspirando em resignação. ─ Não depois do que houve.

─ Faz anos, Helena. E bom, vocês não tinham nada, ele nem sabia que você gostava dele. ─ O Call murmurou. Ele nunca quis dizer aquelas coisas para ela, porque não queria que ela perdoasse Paul Lahote. Foi egoísmo, ele sabia, mas ele acreditava que se ela o esquecesse, teria alguma chance. Uma ilusão, apenas. Helena jamais o esqueceria. ─ Sabe que eu não sou o maior fã do Paul, mas quem realmente te devia lealdade era a Grace.

Helena engoliu a seco. Ele tinha razão, ela sabia.

─ Eu… você tem razão, mas eu… não consigo, Embry. Eu não sei mais o que eu quero, ou o que eu sinto, se tudo isso não é reflexo de algo mal resolvido, sabe? ─ Ela tentou explicar, ainda que nem ela mesma entendesse o que realmente estava acontecendo dentro dela.

─ Acho que eu entendo. ─ Ele suspirou, puxando-a para um abraço. Helena deitou sua cabeça no peito do garoto, percebendo o quão rápido o coração dele batia. Embry afagou seus cabelos, soltando outro suspiro, seus batimentos se acalmando aos poucos. ─ Acho que vocês deveriam conversar. ─ Ele sugeriu, enfim, sentindo uma fisgada em seu peito. Só queria que ela fosse feliz, e se essa felicidade era ao lado de Paul Lahote, ele apenas aceitaria.

Ele a sentiu rir contra seu peito.

─ E como eu vou explicar esse surto todo pra ele? ─ Ela não estava esperando realmente uma resposta.

Embry riu.

─ Hum… tpm?

Sem revisão.
Relevem os erros ortográficos.

Vem cá, Embry.
Se a Helena não quer, eu quero.😭

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