013

CAPÍTULO TREZE:
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"Segredinho sujo".

Com o passar do tempo, algumas coisas tornam-se inevitavelmente claras. Experiências e lições moldam a maneira como enxergamos o mundo, inclusive as pessoas ao nosso redor. Helena sabia disso agora. Grace era um exemplo perfeito. Quando era mais jovem, a Uley acreditava nos sorrisos dela, na doçura exagerada que revestia cada palavra, e até mesmo nos comentários aparentemente inocentes, mas carregados de malícia. Olhando para trás, não entendia como havia sido tão ingênua.

Agora, com uma perspectiva mais madura e olhos bem abertos, via tudo com nitidez. Por trás do sorriso ensaiado, dos gestos calculados de gentileza e, principalmente, daquele olhar frio e vazio, Grace não passava de uma pessoa venenosa, tão bonita por fora quanto podre por dentro.

Helena não queria gastar seu tempo discutindo com alguém que não tinha mais espaço em sua vida. Sem paciência, puxou os papéis com os horários das mãos de Grace, observando o falso semblante de choque e mágoa que ela encenava. Um riso seco escapou dos lábios da Uley, enquanto seus olhos percorriam a figura da outra de cima a baixo. Nada havia mudado.

Grace, no entanto, teve a audácia de perguntar o motivo daquela atitude. Sua voz melosa carregava uma falsa curiosidade que só irritava mais a garota.

─ Já fazem anos, Lena. Seu tempo fora não te ensinou nada? ─ Grace murmurou, suas palavras transbordando cinismo, enquanto um sorriso venenoso curvava seus lábios pintados de vermelho.

Pouco a importava o que aconteceu no passado, Grace tinha razão em uma coisa: o tempo havia passado. Mas isso não significava que queria aquele passado de volta. Grace não importava mais. Paul Lahote… Não, ele também não deveria importar. Contudo, uma parte dela, teimosa e persistente, insistia em contestar. Ainda assim, Helena sabia que permitir que alguém a machucasse repetidamente era tolice. Era masoquismo, e ela não estava disposta a entrar nesse ciclo novamente.

─ Pelo contrário. ─ Helena forçou um sorriso, encarando-a com desdém. ─ Aprendi a ficar longe de pessoas como você. ─ Endireitou a mochila no ombro, sentindo o papel dos horários amassado entre os dedos. Por um breve instante, desejou que fosse a cara de Grace que estivesse amassando. ─ Foi um desprazer revê-la, Grace. Passe bem… bem longe de mim.

Virando-se, Lena deu um leve esbarrão no ombro da outra e começou a caminhar, determinada a deixar tudo para trás. No entanto, parou de repente. Lá estava ele. Paul Lahote, parado a alguns metros de distância. Seus olhos estavam fixos na direção das duas, mas ele parecia distante, alheio ao que acontecia.

Sem hesitar, ela apressou o passo, passando por Paul sem sequer olhar para o lado ou para trás. Não queria vê-lo com ela. Pensar na possibilidade fez seu coração se apertar, confirmando o que ela já havia notado desde o primeiro encontro dos dois quando chegara a reserva: Paul Lahote ainda era seu ponto fraco.

Helena respirou fundo mais uma vez ao virar o último corredor que levava para a sala da sua primeira aula do dia. À aquela altura a aula provavelmente já deveria estar quase no final, mas a intenção era o que contava. Ela deu algumas batidinhas na porta esperando por uma confirmação que não demorou muito a vir. Ela então girou a maçaneta, entrando na sala, atraindo a atenção dos outros alunos.

A primeira pessoa que seus olhos identificaram fora Embry, que sorriu fraco para a garota. Kiara estava algumas carteiras atrás e repetiu o ato do garoto, então ela viu que Jared também estava naquela aula. Seu peito gelou por um instante. Paul estaria naquela aula também?

Ela deixou aqueles questionamentos de lado, caminhando até o professor. Para sua surpresa era o Sr. Bohen. Ele e sua mãe haviam tido um rápido namoro há uns cinco anos atrás, mas o namoro não foi para frente, já que sua mãe tinha sérios problemas de confiança devido aos traumas causados pelo seu pai.

Ele era um bom homem, gentil, dedicado. Mas, ao que parecia, o Sr. Bohen havia seguido em frente. Uma aliança dourada brilhava em sua mão esquerda, e os sinais de entradas na linha do cabelo sugeriam que ele era agora um pai de família dedicado. Ao menos esse era o seu palpite.

O professor a reconheceu rapidamente e a cumprimentou com um sorriso caloroso. Após uma breve apresentação, ele indicou um assento vago ao lado de Embry.

Helena começou a caminhar até lá, notando a mochila que ocupava a cadeira. Ela a reconheceu de imediato ─ era a mochila de Embry, a mesma que ela havia lhe dado de presente no aniversário de 12 anos. Na época, ele insistia que já era um homem, então Lena escolheu algo mais “adulto”. Pelo visto, fora uma boa escolha, já que ele ainda usava a mochila até hoje.

Quando Lena se aproximou, Embry rapidamente tirou a mochila do lugar, sorrindo para ela.

─ Você demorou ─ Ele murmurou, baixo o suficiente para não atrair a atenção do professor.

Ela apenas deu de ombros, evitando entrar no assunto naquele momento.

Enquanto a aula continuava, Lena tentava se concentrar, mas seus olhos iam para a porta de tempos em tempos, o receio de Paul aparecer era constante. Contudo, isso não aconteceu. Ele não entrou, e, por algum motivo, Lena não se sentiu tão aliviada quanto esperava. Em vez disso, uma parte dela ponderava a possibilidade de Paul estar com Grace, e essa ideia a incomodava mais do que gostaria de admitir.

. . .

As aulas passaram arrastando-se. Helena mal se lembrava de que a escola era tão chata. Por um lado, ela estava feliz, não havia visto Paul pelo resto do dia, por outro tivera o desprazer de ver Grace por toda a escola, a todo momento. Tudo bem que aquele lugar era minúsculo, mas ela ainda tinha esperanças de não com a garota tão frequentemente assim.

Ela estava arrumando algumas coisas no seu armário enquanto esperava por Embry para finalmente irem embora.

─ Que bonito, Senhorita Uley. ─ Helena deu um pulinho ao ouvir uma voz masculina atrás dela.

Ela se virou, dando de cara com dois garotos, ambos com os braços cruzados e olhades acusatórios. Ela não precisou de mais do que alguns segundos para reconhecê-los: Quil Ateara e Jacob Black.

─ Meninos! ─ Ela sorriu, se inclinando para abraçá-los. Nenhum dos dois correspondeu, então ela se afastou, encarandos-os, a sobrancelha erguida em questionamento. ─ O que foi? ─ Piscou inocente.

─ Você tá aqui há o quê? ─ Jacob trocou um olhar com Quil antes de se voltar para a garota novamente. ─ Duas semanas? E nenhuma visita? ─ O Black arqueou uma sobrancelha, encarando-a de forma acusatória.

─ Bom, o Embry ela visitou. ─ Quil alfinetou.

Helena abriu e fechou a boca, erguendo o dedo como se tivesse alguma justificativa plausível, e ela até tinha.

─ Olha só, Black. Eu iria a sua casa no fim de semana passado, mas a Kiara disse que você estava com a filha do tio Charlie. ─ Helena deu de ombros, defendendo-se como podia.

─ Ah, a "sua" garota? ─ Quil sorriu provocativo, cutucando o amigo com o cotovelo.

─ Jake tá namorando a Bella? ─ A Uley questionou surpresa. Eles faziam um casal tão estranho e bem, ela era mais velha. Não que idade fosse realmente um problema quando existe amor, de todo modo.

─ O quê? Não, não. Quil está sendo idota, como sempre. ─ Jacob tentou justificar, visivelmente nervoso e envergonhado.

Helena gargalhou, tinha certeza de que se a pele de Jacob já não fosse avermelhada por si só, ele estaria vermelho como um pimentão. Foi então que ela percebeu o quanto sentia falta daqueles momentos.

─ Mas bem que você queria, não é, Black? ─ Ela provocou, ainda rindo.

─ E você e o Lahote? Finalmente vão se casar? No que era mesmo... ─ Jacob fingiu pensar. ─ Ah! No- ─ Helena nunca tinha se movido tão rápido em toda a sua vida quanto naquele momento. Em segundos a Uley estava com a mão sobre a boca do Black, impedindo-o de continuar falando besteiras.

─ É melhor ficar caladinho, Black, ou eu arranco a sua língua. ─ Ela disse séria, ameaçando-o.

O sorriso nos lábios da Uley fez o Black engolir em seco. Ela sabia ser ameaçadora quando queria, e Jacob sabia que ela não era do tipo que parava em ameaças. A Helena que conhecia sabia ser bem macabra quando queria.

Aos onze anos Helena teve a brilhante ideia de ter um diário. Estava na moda na época e ela achou que realmente seria uma boa idéia ter um caderno onde escrevia todos os seus sentimentos e planos para o futuro, inclusive seus planos para o futuro com um certo idiota, vulgo Paul Lahote.

Jacob sempre foi meio enxerido e acabou descobrindo seu diário e o leu. Haviam coisas as quais Helena não se orgulhava lá, uma delas... eram planos de casamento que obviamente jamais aconteceria. Céus! Ela infartaria caso mais alguém descobrisse sobre seu segredinho sujo.

O Black acenou com a cabeça, então a garota finalmente se afastou.

─ Ótimo. ─ Ela deu dois tapinhas no ombro do amigo, com um sorriso "doce" então seu olhar foi para Quil que apenas observava tudo, meio perdido, meio assustado. ─ Quer dizer algo também, Ateara?

Quil negou, balançando a cabeça freneticamente em negação.

Logo depois Embry se aproximou do trio, Kiara o acompanhava. Eles saíram da escola, caminhando para casa juntos.

─ Deveriamos marcar algo qualquer dia desses. ─ Helena sugeriu para os quatro. ─ Como nos velhos tempos, mas agora temos a Kiara, vai ser ótimo não ser a única garota do grupo. ─ Ela sorriu para Black que retribuiu.

─ Eu tô dentro. ─ A Black deu de ombros, olhando para o restante do grupo.

Os três confirmaram e eles começaram a fazer planos para quem sabe o final de semana. Quando Helena chegou em casa, ela estava bem mais animada do que quando saiu. A irritação de outrora pareceu evaporar com a presença dos seus amigos, dando lugar à um ânimo que ela não tinha há muito tempo.

Não havia dúvidas, apesar de tudo, era muito bom estar de volta.

Sem revisão.
Relevem os erros ortográficos.

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