012

CAPÍTULO DOZE:
.✧
O beijo.

Paul Lahote parecia ser apenas uma sombra do garoto confiante e impulsivo que todos conheciam. Ele vagava pela reserva como se estivesse carregando o peso do mundo nos ombros. Nem mesmo os gritos e explosões de seu pai bêbado, que em outras épocas eram motivo para discussões acaloradas, conseguiam arrancar qualquer reação digna do garoto. Seu problema tinha nome e sobrenome: Helena Uley.

"Eu desisti de você há muito tempo, Paul."

As palavras repetiam-se incessantemente na mente do Lahote, como um punhal sendo cravado em seu peito várias e várias vezes. Ele não sabia como interpretá-las. Será que isso significava que, em algum momento, ela havia sentido algo por ele? Ou era apenas uma maneira cruel de dizer que ele nunca teve importância em sua vida?

No entanto, aceitar isso simplesmente não era uma opção. Sim, ele sabia que sempre fora um idiota imaturo, mas se havia algo de que Paul Lahote tinha absoluta certeza, era de seus sentimentos por Helena Uley. Antes mesmo do imprinting, ela já era tudo o que ele desejava. Agora, tê-la por perto não era apenas um desejo; era uma necessidade vital. O problema era que Helena não parecia sentir o mesmo. Ou pelo menos, não demonstrava.

─ Acho que você deveria contar a ela sobre o imprinting, cara. ─  Jared sugeriu enquanto caminhavam juntos para a escola, atrasados como sempre. ─ Funcionou pra mim. ─ Ele deu de ombros com um sorriso confiante.

Paul bufou, revirando os olhos.

─ Claro que funcionou. A Kim já vivia babando por você. ─ O Lahote retrucou, lançando-lhe um olhar irritado.

Jared não tinha argumentos contra isso. Era verdade; Kim sempre esteve ali, esperando por ele, e ele só percebeu sua importância quando o imprinting aconteceu. Desde então, tudo pareceu se encaixar perfeitamente. Ele ainda se perguntava como havia demorado tanto para perceber que Kim era a mulher da sua vida. Não tinha dúvidas de que os espíritos haviam escolhido certo.

Mas, ao observar Paul, viu algo diferente. O caso dele era mais complicado. Jared se perguntou se os espíritos haviam realmente facilitado, ou complicado as coisas para o amigo.

─ Talvez você tenha a mesma sorte. ─ Jared murmurou por fim, em um tom encorajador.

Paul balançou a cabeça com um sorriso triste nos lábios.

─ Helena me odeia. ─ Paul sussurrou, quase como se não quisesse admitir isso em voz alta. O gosto amargo da verdade era difícil de engolir.

Jared ficou em silêncio por um momento, ponderando. Embora Helena evitasse Paul como o diabo foge da cruz, Jared sabia que havia algo mais naquela história. Ele já tinha visto o jeito como os dois se olhavam, mesmo quando tentavam esconder.

─ Tem certeza disso? ─ Jared questionou, por fim, astuto. ─ Cara, já pensou que essa raiva toda dela, não seja apenas raiva?

Paul não o respondeu imediatamente, mas pareceu considerar as palavras do amigo, enquanto entravam na escola. E se Jared estivesse certo? E se Helena ainda sentisse algo por ele, mas estivesse escondendo? Ele lembrava claramente do olhar dela naquela noite, quase três anos atrás, quando eles se despediram. Não era ódio. Não podia ser.

─ Hoje é o primeiro dia dela na escola, não é? ─ Paul perguntou de repente, parando no corredor vazio.

Jared franziu o cenho, confuso com a mudança de assunto.

─ Sim, e...?

O Lahote olhou para o relógio na parede, calculando o tempo desde que o sinal havia tocado.

─ Ela deve estar na secretaria agora.

─ Ou talvez ela tenha chegado cedo, pegado o horário e já esteja na aula. Coisa que deveríamos fazer. ─ Jared apontou, prático.

Paul ignorou, balançando a cabeça com convicção.

─ Eu conheço a Helena. Ela com certeza não chegou adiantada.

─ Então o que você vai fazer, geniozinho? ─ Jared perguntou, mas Paul já estava correndo pelo corredor antes de responder.

Jared apenas balançou a cabeça e riu, murmurando algo sobre teimosia enquanto seguia para a sala.

Quando Paul virou o último corredor antes da secretaria, seus passos desaceleraram. Lá estavam elas. Duas garotas conversavam ao longe. Ele as reconheceu imediatamente. Helena estava de costas para ele, o cabelo loiro inconfundível. Ao lado dela, Grace, com um sorriso irritante nos lábios.

Houve um estalo em sua mente. Grace.

"Eu desisti de você há muito tempo, Paul."

As palavras de Helena ecoaram novamente, mas agora vinham acompanhadas de outra lembrança. Uma festa. Um beijo em Grace. Algo que não significou nada para ele. Mas, parado ali, vendo as duas juntas, ele finalmente compreendeu. Grace e Helena eram amigas. Ele se lembrava perfeitamente de vê-las juntas por todos os cantos da escola, para cima e para baixo, até aquela noite...

Ele se lembrava de perguntar a Grace sobre Helena e Embry. Ela dissera que eles estavam juntos, escondidos, e aquilo o fizera perder o controle. Grace estava lá para oferecer consolo. O beijo aconteceu, mas foi um erro. Mais um erro enorme e idiota para sua lista de incontáveis burrices.

Ele nunca mais as viu juntas depois disso.

Um vulto passou por ele, trazendo-o de volta ao presente. Ele prendeu a respiração enquanto observava Helena sumir pelo corredor, ignorando-o completamente, como se ele fosse invisível. Grace, no entanto, o notou. Um sorriso irritante surgiu em seu rosto enquanto ela se aproximava.

─ Eu acho que ela ainda nos odeia. ─ Grace murmurou, ao parar em frente ao Lahote. Sua expressão carregava um falso pesar, como se estivesse se divertindo com a situação.

Paul cerrou os punhos, sentindo o calor familiar de sua transformação começar a borbulhar sob a pele.

─ Que merda você fez, Grace? ─ Ele rugiu entre os dentes, tentando manter o controle. Seu corpo tremia levemente, e ele fechou os olhos por um momento, buscando se acalmar.

Grace deu de ombros, fingindo inocência.

─ Eu? Não fiz nada. Só estava tentando ajudar a Helena, mas ela surtou. ─ Ela suspirou dramaticamente. ─ Mas você sabe como ela é, né? Sempre tão complicada.

Paul virou-se bruscamente, sem paciência para as mentiras de Grace. Não podia se dar ao luxo de perder o controle ali, no meio da escola.

─ Ei, Paul! Espera! ─ Grace chamou, mas ele a ignorou completamente. ─ Mais que rancorosos... ─ Ela murmurou para si mesma antes de seguir pelo corredor, com o mesmo sorriso nos lábios.

Ela sabe, Paul finalmente concluiu. Helena sabia do beijo. Claro que sabia. E isso explicava tudo. A frieza, a distância, o desprezo. Mas, ao mesmo tempo, algo em sua mente não fechava. Como ela descobriu? Ele sabia que Grace tinha culpa, mas precisava descobrir o que realmente acontecera naquela noite.

Com Helena de volta, Paul sabia que teria outra chance. E dessa vez, não deixaria Grace ou qualquer outra pessoa se colocar entre eles ─ nem ele próprio. Ele a amava. Mesmo que isso significasse enfrentar as consequências de seu passado, estava pronto para lutar por Helena Uley.

Oioi, amores.
Demorou, mas saiu.

Espero que gostem.
Xoxo, e até o próximo!😚👋🏼💖

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top