ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ𝗠𝗜𝗦𝗨𝗡𝗗𝗘𝗥𝗦𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗡𝗚

Hana suspirou ao ver Sieun desaparecer na esquina, seguindo para casa. O dia havia sido longo, e mesmo que estivesse acostumada a se meter em problemas por proteger os outros, dessa vez parecia diferente.

Ela ajustou a alça da mochila e seguiu para sua própria casa, sentindo o cansaço pesar nos ombros. Quando chegou, destrancou a porta e entrou, mas logo percebeu o silêncio absoluto no ambiente.

Seus pais não estavam lá.

De novo.

Hana sentiu uma leve pontada no peito, mas logo afastou o sentimento. Não era novidade. Desde pequenas, ela e Eunji passaram mais tempo sozinhas do que com os pais. A rotina era sempre a mesma: trabalho, viagens, reuniões intermináveis. Quando pequenas, costumavam esperar ansiosamente pela volta deles, mas conforme foram crescendo, aprenderam a não criar expectativas.

Elas se tornaram a única família real que tinham.

Sr. Kim, o motorista da família, era quem costumava cuidar delas. Ele as levava para a escola, ajudava quando ficavam doentes e até mesmo lembrava dos aniversários. Ele era mais presente do que os próprios pais.

Hana largou a mochila no sofá e subiu direto para o quarto da irmã. Bateu na porta de leve antes de entrar.

Eunji estava deitada na cama, abraçando um travesseiro, o rosto ainda um pouco abatido. Ela ergueu os olhos preguiçosamente quando viu Hana entrar.

── E ai, ainda está viva? ── perguntou.

Hana riu baixo, se jogando ao lado dela na cama.

── Sobrevivendo.

Eunji franziu a testa.

── Como foi o dia?

Hana suspirou e virou de lado, apoiando a cabeça na mão.

── Bom... eu sai na porrada com um delinquente que encostou no Sieun, e descobri que Sooho é um ótimo amigo, e que posso confiar nele.

Eunji ergueu uma sobrancelha.

── Então você e o "robô" viraram amigos?

Hana bufou, cutucando a testa da irmã.

── O nome dele é Sieun. E sim, viramos.

Eunji sorriu de canto.

── E Sooho?

── Ele é divertido. ── Hana deu de ombros.

── Sabe aquele tipo de pessoa que tem uma energia que te puxa junto? Ele é assim.

Eunji a observou por um instante, depois soltou um suspiro.

── Sei. E você parece bem com isso.

Hana ficou em silêncio por um momento antes de responder.

── Talvez porque pela primeira vez em muito tempo, eu sinto que tenho algo meu. Alguém que não vai sumir.

Eunji entendeu imediatamente o que a irmã queria dizer.

A ausência dos pais sempre foi um buraco nas duas. Mesmo que tentassem fingir que não ligavam, a verdade era que doía. Doía chegar em casa e encontrar sempre a mesma mensagem no celular dizendo que eles estavam fora em mais uma viagem de negócios. Doía ver outras famílias reunidas enquanto elas tinham que fingir que tudo bem.

Hana nunca disse isso em voz alta, mas Eunji sabia. Porque sentia o mesmo.

Ela se aproximou e cutucou o braço da irmã.

── Bom... pelo menos você tem a mim.

Hana sorriu suavemente.

── Sempre.

E mesmo que a casa estivesse vazia e os pais fossem apenas uma lembrança distante naquele momento, pelo menos elas tinham uma à outra.

Depois de conversar um pouco mais com Eunji, Hana tomou um banho quente e se jogou na cama. O dia tinha sido longo, e o cansaço começava a pesar. Antes de dormir, pegou o celular e abriu o grupo que havia criado com Sieun e Sooho ── um grupo recém-formado.

Hana: Boa noite, seus idiotas. Tentem não apanhar amanhã.

Sooho visualizou e respondeu primeiro.

Sooho: Sonha, eu que dou porrada nos outros.

Logo depois, Sieun respondeu de forma curta, como sempre.

Sieun: Boa noite.

Hana riu baixinho e jogou o celular de lado, fechando os olhos.

Talvez, só talvez, a escola ficasse um pouco mais suportável agora.

[...]

O despertador tocou, e Hana acordou se espreguiçando. O quarto ainda estava meio escuro, e ela levou alguns segundos para realmente despertar.

Se levantou com preguiça da cama e foi se arrumar, colocando sua blusa e sua saia, junto de seus sapatos incrivelmentes limpos, deixando seu cabelo solto e finalizando com um perfume docinho.

Quando desceu para o café da manhã, viu Eunji ainda de pijama, sentada no sofá com uma coberta nos ombros.

── Vai cabular a escola de novo? ── Hana perguntou, pegando uma torrada.

Eunji bufou.

── Já falei que não tô me sentindo bem.

Hana ergueu uma sobrancelha, mas não insistiu.

── Beleza. Vou indo.

Ela saiu de casa e foi até o Sr. Kim, entrando dentro do carro e murmurando um "bom dia" pra ele.

Ao chegar, percebeu que o portão já estava aberto e a maioria dos alunos já estava em sala. Seguiu para sua classe e encontrou Sooho largado sobre a mesa, aparentemente cochilando.

── Bom dia pra você também. ── Hana bateu de leve na cabeça dele com seu caderno antes de se sentar ao lado de Sieun.

Sooho resmungou algo incompreensível e virou o rosto para o lado, ignorando-a.

Hana olhou para o lado, notando Sieun lá.

Como sempre, ele havia chegado mais cedo que todos.

Sieun estava absorto em um livro, sem dar atenção a mais nada ao seu redor.

A porta da sala se abriu e um novo aluno entrou. Ele olhava para baixo, visivelmente nervoso. A professora parou ao lado dele, chamando a atenção dos alunos.

── Temos um aluno transferido. Se apresente.

O garoto hesitou antes de levantar a cabeça.

── Olá... Eu sou o Oh Beom-seok.

Hana observou a reação dos outros alunos. Alguns cochichavam, outros pareciam não se importar.

Depois do horário de lanche, todos já estavam na sala, mas nenhum professor estava lá, então os alunos estavam apenas conversando e brincando.

── Vai dar uma volta? ── perguntou, ajeitando seu cabelo.

Sieun hesitou, mas assentiu.

── Posso ir com você? ── Hana perguntou de forma casual, como se não fosse nada demais.

Sieun a encarou por um segundo antes de simplesmente dar de ombros.

── Faça o que quiser.

Hana sorriu e o acompanhou pelos corredores. Eles andaram lado a lado, sem pressa.

── Você sempre chega tão cedo assim? ── Hana perguntou, observando-o de canto de olho.

── É mais tranquilo desse jeito. ── Sieun respondeu, com a voz baixa.

── Mas não cansa? Acordar mais cedo que todo mundo e ficar naquela sala sozinho?

Sieun deu de ombros.

── Eu gosto de estudar.

Hana assentiu. Fazia sentido. Ele sempre parecia um pouco exausto, mesmo sem demonstrar diretamente.

── Já se acostumou comigo? ── ela perguntou de repente, cruzando os braços e sorrindo de lado.

Sieun a olhou de relance, arqueando uma sobrancelha.

── O quê?

── Você fala mais comigo do que com o resto das pessoas.

Ele ficou em silêncio por um momento antes de responder:

──Você é estranha, mas é legal.

Hana soltou uma risada curta.

── Puxa, obrigada. Isso foi quase um elogio.

Eles continuaram andando, conversando sobre coisas aleatórias. Por mais que Sieun fosse reservado, Hana percebia que, aos poucos, ele começava a se abrir com ela. Não era muito, mas já era um progresso.

Quando voltaram, perceberam que Young-bin estava sentado na mesa de Sieun enquanto olhava para o novato.

O garoto se aproximou, parando atrás dele. silêncio

── Cai fora. ── foi o que Sieun disse depois de um tempo em .

Hana estava apenas observando, mas sempre atenta, para que ninguém machucasse seu garoto.

── Esse é meu lugar.

Young-bin soltou um sorriso debochado, se virando para Sieun.

── E se eu não quiser?

Nesse momento eu vi os olhos de Sieun descer para a caneta em sua mesa, pegando ela. Não fui a única que viu, o garoto à sua frente também prestou atenção e pareceu se sentir desafiado.

── Só sai daí. ── continuou.

Aquilo não iria acabar bem.

Percebi quando Young-bin ajeitou sua postura, agora de frente para Sieun. Não esperei nenhum dos dois falar nada, apenas me juntei ao lado dele, segurando sua mão.

── Você só pode ta ficando maluco.

Hana estreitou os olhos, empurrando Sieun de leve para trás.

── Dá pra sair da mesa dele? ── a voz dela saiu firme, carregada de impaciência.

Young-bin a olhou, surpreso por um instante, antes de soltar uma risada.

── Por que, Hana? Vai continuar protegendo ele agora? Ele não consegue resolver as coisas sozinho?

Hana cruzou os braços.

── O problema não é ele. O problema é você, seu lixo.

A risada dele morreu aos poucos, mas o sorriso debochado permaneceu.

── Se você gosta tanto dele, por que não se senta no colo dele também?

Antes que Sieun pudesse dizer algo, Hana já estava se movendo.

Ela agarrou Young-bin pela gola do uniforme e o puxou para perto, seu rosto a centímetros do dele.

A sala ficou em silêncio.

── Escuta bem, merda. ── Hana sibilou, os olhos queimando de raiva.

Young-bin arregalou os olhos por um segundo, claramente não esperando aquilo.

── Se você acha que pode brincar com ele sempre que quiser, eu posso brincar com você também. Mas, diferente de Sieun, eu não sou paciente.

De repente, o clima de tensão se cortou com Sooho acordando.

── Por que vocês estão falando tanto ultimamente, ein? Eu to tentando dormir aqui.

── Posso dormir? ── perguntou, com uma expressão de sono.

Solto Young-bin, o empurrando.

── Não enche, Sooho. ── bufo, e volto meu olhar para Sieun, que encarava Young-bin, mas sua atenção veio até mim quando encostei em seu rosto.

── Você tá bem? Prometo não deixar ele te machucar.

Ele a encarou por um segundo antes de soltar um suspiro curto.

── Você não precisava fazer isso.

Hana revirou os olhos e sentou em seu lugar. Ela o defendia e o que recebia em troca era isso.

── Eu faço o que eu quiser caralho. ── Respondeu seca.

Sieun apenas a observou por mais alguns segundos antes de voltar sua atenção ao livro na mesa.

O resto das aulas passou lentamente. Hana manteve a expressão séria, tentando ignorar a confiança que ainda sentia. Ela sempre esteve ao lado de Sieun, sempre o defendeu. E, no final, tudo que recebia em troca era aquela frieza dele.

Quando o sinal tocou anunciando o fim do dia letivo, ela se levantou sem olhar para Sieun e simplesmente saiu.

Então Sooho viu a tensão entre os dois e arqueou a sobrancelha, olhando de um para o outro.

── Vocês brigaram ou algo assim? ── Sooho perguntou, mas não recebeu resposta.

Hana seguiu direto pelo corredor sem se despedir de ninguém.

Sieun apenas esperou ela sair, sem dizer nada.

Assim que Hana abriu a porta de casa, percebeu que algo estava errado.

As vozes altas ecoavam pelo ambiente. Seus pais estavam brigando na sala de estar, como acontecia com frequência.

── Eu te falei que essa viagem era importante! ── a voz de seu pai estava tão irritada.

── E eu te falei que suas filhas precisam de você! ── sua mãe rebateu, furiosa.

Hana parou na entrada, observando os dois sem se mover. Nenhum deles pareceu notar sua presença.

Então, de repente, seu pai se virou e a viu.

O silêncio caiu sobre a sala por um segundo. Mas, ao invés de saudá-la ou perguntar como foi seu dia, ele apenas franziu a testa.

Ele não se importava com a própria filha?

── Por que você chegou tão tarde? ── sua mãe disse, cruzando os braços.

Hana respirou fundo.

── Eu estava na escola.

── Você está atrasada para o cursinho. ── Seu pai cortou.

Hana revirou os olhos.

── Que surpresa, vocês passam meses fora de casa e quando voltam nem perguntam como foi meu dia. Vocês se importam comigo?

── Não responda desse jeito! ── A voz da mãe ficou mais firme.

Hana suspirou, sentindo a raiva crescer dentro dela.

── Tanto faz. Eu já estou indo.

Sem esperar mais, ela pegou sua mochila e saiu novamente, indo para seu quarto.

Hana fechou a porta do quarto com força, sentindo o peso da discussão dos pais em seus ombros.

Respirando fundo, ela pegou sua toalha e foi direto para o banheiro. A água quente ajudava a relaxar, mas sua mente continuava turbulenta.

O dia tinha sido cansativo. Os problemas com Young-bin, a atitude de Sieun, a ausência dos pais... tudo parecia estar se acumulando de uma vez.

Depois de um banho rápido, ela secou e vestiu roupas confortáveis. Seu uniforme do cursinho já estava separado sobre a cama.

Assim que terminou de se arrumar, pegou o celular e viu algumas mensagens de Sooho e Sieun no grupo que compartilhavam.

Sooho: "Vou dormir. Não façam nada de errado sem mim."

Sieun: "Boa noite."

Hana hesitou por um segundo antes de responder.

Hana: "Boa noite, seus idiotas."

Mesmo irritada com Sieun, ela não conseguiu evitar.

Antes de sair, resolvo passar no quarto de Eunji.

Hana entrou sem bater, como sempre fazia. Eunji estava sentado na cama, falando no celular, mas se animando ao vê-la.

── Você demorou.

Hana suspirou e se jogou ao lado da irmã.

── Adivinha? Nossos pais mal chegaram e já estão estão brigando de novo.

Eunji bufou.

── De novo isso?

── De novo isso. ── Hana confirmou, revirando os olhos.

Por um momento, fiquei em silêncio. Era cansativo falar sobre nossos pais. Sempre o mesmo padrão.

Eunji descobriu que sua irmã estava inquieta.

── O que mais aconteceu?

Hana hesitou antes de responder.

Foi um dia difícil.

── Vamos lá, diga. ── Eunji a cutucou de leve.

── Sieun foi atacado de novo por aquelas babacas. Eu defendi ele, claro, mas depois ele foi grosso comigo. Como se eu estivesse errado em ajudá-lo.

Eunji arqueou a sobrancelha.

── E você se irritou e ignorou ele, né?

── Óbvio.

Eunji riu baixinho.

── E o Sooho?

── Dormindo. Como sempre.

As duas trocaram um sorriso.

Apesar de tudo, conversar com Eunji sempre fazia Hana se sentir um pouco melhor.

Até que ela veja o horário.

── Merda, eu tô atrasada pro cursinho!

Levantou-se apressada e pegou a mochila, indo para a porta.

── Tente não socar ninguém hoje. ── Eunji brincou.

── Sem promessas.

E com isso, Hana saiu de casa, pronta para mais algumas horas de estudo.

[...]

O lugar era silencioso, apenas o som do professor falando, das folhas sendo viradas e canetas arranhando os cadernos preenchiam o ambiente.

Hana se sentou em seu lugar habitual, colocando os fones de ouvido sem nem olhar para os lados.

Ela sabia que Sieun também fazia cursinho ali, mas não pretendia falar com ele.

E como esperado, ele apareceu logo depois.

Sieun olhou a direção de Hana ao entrar. Ele hesitou por um segundo antes de seguir para se sentar ao lado dela. Não parecia, mas ele estava começando a gostar de sua amizade.

Por um tempo, nenhum dos dois disse nada.

Mas, eventualmente, quando seu professor saiu de sala, Sieun se levantou e foi até ela.

Hana percebeu sua sombra, mas continuou olhando para o caderno, fingindo que não o viu.

── Hana. ── Sieun chamou, com sua voz calma e controlada.

Ela ignorou.

Ele suspirou antes de se inclinar levemente, apoiando as mãos na mesa dela.

── Você vai ficar assim até quando?

Hana finalmente olhou para ele.

── Por que você se importa? Hoje mesmo você foi um idiota comigo, eu entendo você ser fechado e não gostar de fazer amizades, mas é só me avisar que eu paro!

Sieun ficou em silêncio por um momento.

Não.. não quero que pare. E eu só queria dizer... Me desculpe.

Hana piscou, um pouco surpresa.

Sieun não era do tipo que pedia desculpas facilmente.

Ela o encarou por um instante antes de desviar o olhar.

Tanto faz. — murmurou, mas seu tom de voz estava menos frio.

𓈒ㅤׂㅤ𓇼 ࣪ 𓈒ㅤׂㅤ⭒

notas !

𝐁oa tarde, meus amores !

𝐕oltei com um novo capitúlo, dessa vez mais longo!

𝐆ostaram desse capitúlo? Deixem suas notas para eu saber que estão gostando mesmo, espero que sim!

𝐁eijinhos da liz, até o próximo cap. <33


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© cover by gemstonesf.

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