𝐭𝐡𝐫𝐞𝐞, fair




Oi, gente!

Então, antes do capítulo de hoje, gostaria de ser BEM sincera, principalmente por causa do conteúdo dele.

Ele está pesado, eu fiquei muito desconfortável, a parte inicial mesmo eu quase vomitei enquanto escrevia, só não coloquei tudo pra fora pq não tinha tomado café da manhã. Além disso, algumas amigas minhas já leram e nem elas sabem como realmente descrever os TW do capítulo, então, se você sensível ao que estiver neles, de verdade, peço do fundo do meu coração, não leia.

Além disso, ele tá BEM grande, então podem ler com calma kkkkkk

Não se esqueçam de votar (isso ajuda MUITO nós autores) e boa leitura!









🔥



TW: menção a assédio sexual, autocondenação, possível relação ao estupro, ansiedade, uso e consequências do abuso de substâncias ilícitas






Como sempre e no modo automático, você começou a acordar, ainda sentindo uma boa quantidade de preguiça. Esticou os braços, se espreguiçando na cama e tateou o colchão, à procura de uma pessoa em específico, mesmo sabendo que, provavelmente, ela já não estaria mais ali.

Blake nunca esperava, somente te acordava quando tinham aula, por simples desencargo de consciência, e ele dizia que você demorava demais, então não tinha muita paciência para tentar te fazer levantar. Esfregou os olhos e os abriu, logo se arrependendo em seguida já que tinha uma certa quantidade de luz no quarto.

As cortinas de uma das janelas estavam abertas.

Você suspirou e se virou de lado observando as coisas que estavam espalhadas pela cômoda de madeira escura. Alguns papéis que pareciam anotações sobre o início das aulas do curso de Economia que ele fazia, o relógio que já marcava o horário de mais de onze horas da manhã e um porta-retrato muito específico, o que você tinha dado no aniversário de vocês de um ano e meio, que tinha como foto uma das que tiraram no Havaí.

Muitas coisas invadiram a sua cabeça nesse momento.

Uma delas foi o fato de ter dormido demais, não sabia que estava tão cansada assim e outra foi a própria foto, tirada no dia em que Blake resolveu aprender a surfar. Mesmo tendo nascido em Los Angeles e viver relativamente perto da praia, o moreno nunca tinha realmente tentado algo do gênero, totalmente diferente da sua realidade, já que aprendeu com a sua mãe quando era mais nova.

Aquele dia tinha sido incrível, até jantaram em um restaurante super chique no final do dia, com uma vista privilegiada da região mais rica da ilha.

Reunindo forças, se levantou e sentiu um leve incômodo nas pernas, mas não era como se pudesse esperar algo diferente. Blake não é o que podemos considerar como uma pessoa delicada ou que, talvez, realmente se preocupe com algo além do próprio umbigo. Andou até o banheiro privativo que o seu namorado tinha por ser o vice-líder da fraternidade e, ao se olhar no espelho, sentiu o seu estômago dar uma leve revirada.

Você não entendia ou, na verdade, não queria aceitar o fato do que tinha acontecido na noite anterior.

Sexo não deveria ser uma forma de descontar as frustrações do dia a dia, já que se tem uma outra pessoa envolvida no meio do processo, mas parecia que Blake não entendia isso, na verdade ele não entendia muitas coisas e isso te frustrava, nem que seja um pouco.

Tentar explicar as coisas para alguém que não quer ouvir é uma das situações mais desgastantes do mundo e com você não seria diferente, principalmente sendo uma das melhores estudantes de enfermagem que tinha passado pela Universidade.

Perceber cada mínimo detalhe das atitudes de Blake era praticamente algo padrão, então não foi uma surpresa muito grande quando o viu na festa já à base de cocaína, o problema estava no fato de você não ser o quanto que ele tinha usado. Drogas e bebidas são comuns no meio das pessoas da sua idade, os seus amigos usavam, até mesmo você usava, mas eram tão poucas vezes que nem se podia realmente considerá-las.

A situação de Blake era muito diferente da de vocês e a pior parte disso tudo era que ele sabia que você não gostava disso, ele tem plena consciência dos motivos que te levaram a querer enfermagem. Porém, era como ele vivia dizendo: "nós até podemos ser um casal, mas cada um tem a sua vida".

Essa é uma frase até que faz sentido, não é? É justo pensar assim.

Então por que você sentia os seus olhos arderem com uma ameaça de querer deixar lágrimas caírem pelo seu rosto? Por que estava olhando para as marcas que Blake tinha deixado no seu pescoço com tanta repulsa?

Mais uma vez você não tinha conseguido ter dito "não" e se via em uma situação de querer ajudar a melhorar o "péssimo dia" que o seu namorado tinha tido, mas às vezes você se sentia mais como um psicóloga do que verdadeiramente a parceira dele, quem ele gostaria de ter do lado.

Engoliu o choro, mesmo que a sua garganta doesse por tal ato, lavou o rosto e voltou a sair do banheiro, catando as suas roupas pelo ambiente, queria poder chegar no seu quarto o mais rápido possível, mesmo que pensasse que Senju não gostaria de te ver tão cedo. Tudo estava tão confuso na sua cabeça e piorava com o barulho alto da música que começou a vir do andar de baixo da casa.

Depois de terminar de se vestir, pegou a sua bolsa, a colocando no ombro, e saiu do quarto, fechando a porta logo atrás de si. Ao longo do corredor que dava acesso aos quartos, conseguia ver ainda um pouco de sujeira do dia anterior, com certeza a fraternidade tinha feito um pré antes de irem para a festa na Toman e se essa casa já estava assim, você não queria nem imaginar o estado da dos seus amigos.

Finalmente chegou no piso térreo e respirou fundo antes de andar até a porta, não gostava de ficar ali, se sentia um mísero pedaço de carne perto daqueles caras que se diziam amigos de Blake, mesmo que você soubesse que era só por causa do dinheiro que ele tinha, a família dele era dona de uma enorme rede de bancos do país. Tentou andar rápido, sair despercebida, mas ao ouvir a voz de Hanma te chamando, o seu plano tinha ido por água abaixo.

— Bom dia, Hanma — respondeu, tentando ser simpática e andou até onde ele estava, na bancada da cozinha, que tinha um conceito semi-aberto para a sala e entrada da casa.

— Que cara é essa? A farra de ontem não foi boa? — ele perguntou sugestivo e você revirou os olhos, o que claramente o divertiu.

Ele era o único que você até suportava da fraternidade Valhalla, mas não era como se gostasse muito da personalidade dele ou das coisas que fazia. Ele sempre te causava uma boa quantidade de trabalho no Hospital Universitário, já que era quem tinha contato com as pessoas que colocavam drogas dentro do campus. Porém, também não tinha muito direito de reclamar de ter essa pequena amizade, a erva que conseguia era realmente boa e ele sempre te dava desconto.

— Só estou cansada e quero ir pro meu dormitório logo.

— Se quiser, posso procurar o Blake, acho que ele tá lá fora no quintal.

— Não se preocupe, posso ir a pé.

— Pode ir aonde? — uma voz grave ecoou atrás de si e, ao virar a cabeça, encontrou o seu namorado, que tinha acabado de terminar de deixar as coisas prontas para o pequeno churrasco que fariam.

Percebendo que uma tensão se instalaria ali, Hanma se afastou dando a privacidade que, talvez, vocês precisassem.

— Pro meu dormitório.

— Por que não fica? A gente vai fazer um churrasco lá fora e tem roupa sua no meu armário.

— Só quero ir pra lá, tenho coisa pra arrumar ainda.

— Mas você não pode ir depois? Queria que você ficasse.

— Hoje não, Blake, de verdade.

— Se fosse os seus amigos pedindo, com certeza ficaria — ele disse, completamente cínico.

— O que o pessoal tem haver com isso?

— Vai dizer que é mentira?

— Vou sim e ainda adiciono o fato de que você está mudando mais uma vez de assunto, colocando eles em uma conversa que não tem nada haver.

Você podia jurar que tinha visto uma relance de raiva passar pelos olhos azuis gélidos de Blake, mas, na mesma velocidade que apareceu, tinha desaparecido. Diferente do que você imaginava, ele ficou em silêncio e simplesmente andou até a porta e pegou na mesinha, que tinha ao lado da porta escura de madeira, as chaves do próprio carro e indicou com a cabeça que o seguisse.

Suspirou cansada, obedecendo o que ele estava pedindo, e saiu da casa sentindo a mesma sensação ruim que tinha sentido ao acordar.

Desconforto.

Nunca passou pela sua cabeça que essa palavra fosse ser associada ao seu namorado, mas pelo menos naqueles minutos que se sucederiam dentro do carro dele te diziam muita coisa. Pode perceber que ele estava irritado, segurava com força o volante e ainda andava em uma velocidade que não precisava, principalmente estando dentro da universidade.

Mas você pediria para ele diminuir?

Claro que não, já sabia a resposta decorada.

"Sou eu quem está dirigindo".

Na velocidade em que estavam, não demorou muito para que chegassem ao prédio do seu dormitório e você respirou fundo antes de tirar o cinto e ameaçar sair do carro. Porém, algo te impediu, a mão de Blake em cima da sua coxa.

Virou o rosto para encará-lo e arqueou uma das sobrancelhas, indicando para que ele falasse o que queria, mas você só recebeu o silêncio e um aperto forte da mão dele.

O clique da porta sendo destravada ecoou dentro do carro e ele logo se afastou de você, o que te fez suspirar. Dessa vez, não iria falar nada, não buscaria, mais uma vez, ser quem "resolvia" as coisas, estava confusa demais para tentar algo assim. Então, surpreendendo tanto a si mesma quanto a Blake, simplesmente saiu do carro e bateu, com um pouco mais de força, a porta da Mercedes Classe E cinza chumbo.

No momento, simplesmente não queria saber de mais nada.

Acompanhando a cena de longe, Senju viu como você saiu do carro e ainda, como bônus, Blake cantando pneu ao sair disparado pelas ruas da Universidade. A platinada mal conseguiu conter o sorriso, adorava quando quando ele ficava irritado, era extremamente satisfatório.

— Muito obrigada pela carona, Draken — agradeceu, enquanto tirava o cinto.

— Sem problema.

— Posso te pedir um favor?

— Claro.

— Me avisa quando o Mikey acordar.

— Depois fala que não se preocupa com ele.

— Nem começa com esse papo também.

O loiro riu da indignação da amiga e assentiu com a cabeça, indicando que faria esse pequeno favor a ela.

— Nós vamos nos ver mais tarde pra almoçar ou algo assim? — ela perguntou, enquanto digitava uma mensagem rápida para Yuzuha, que dizia que ia comer fora do campus com o irmão caçula.

— Não sei, depende muito, mas acho que vamos no refeitório. Não seria muito higiênico almoçar naquela casa.

— Tenho que concordar — os dois riram fraco — Você vê com os meninos e avisa no grupo depois.

— Combinado.

A platinada se despediu rapidamente e saiu do carro, andando até o prédio dos dormitórios. Tentando acordar e até mesmo despertar o corpo, subiu até o segundo andar pelas escadas, demorando um pouquinho mais do que seria se tivesse usado o elevador.

Ao chegar no corredor do quarto, te encontrou abrindo a porta com a chave.

Você escutou o som do salto dela contra o chão e a viu pelo canto do olho. Então, ao entrar, não fechou a porta, deixando-a aberta para que pudesse passar, o que ela logo fez. O silêncio que estava entre vocês duas te deixava inquieta, ansiosa, mas não podia muito a ser feito, pelo menos você achava que não tinha.

— Dormiu na Valhalla, né? — ouviu a voz de Senju e virou a cabeça para trás, observando a platinada tirar os saltos.

— Dormi e você?

— Na Toman mesmo.

— Com o Mikey? — você ousou perguntar e uma risada fraca saiu pela sua boca ao ver a cara emburrada dela.

— Não, ele tava alucinado demais pra sequer pensar em transar comigo.

— Alucinado tipo como?

Senju suspirou ao perceber o tom preocupado na sua voz e se levantou da cama para buscar a cestinha que tinha todos os itens de banho que precisava e uma muda de roupa.

— Lembra a festa de aniversário do meu irmão no ano passado?

— A do Haru? — perguntou e ela assentiu com a cabeça — Naquele nível?

— Aham, mas não se preocupe — a platinada assegurou, vendo você se movimentar para pegar o celular na bolsa — Ele tá dormindo.

— Conseguiram fazer ele dormir? — você perguntou, meio chocada.

— Ele apagou na real.

— Mas que merda.

— Você sabe que qualquer coisa eles vão vir atrás de você.

— Eu sei — suspirou frustrada e passou as mãos pelo rosto.

— Você vai tomar banho? — Senju perguntou, mudando de assunto.

— Eu preciso muito —  você disse, o que a fez rir.

— Vamos juntas então.

Assentiu com a cabeça e logo pegou as coisas que precisava, não demorando muito para que vocês duas voltassem a sair do quarto. Caminharam em silêncio, não tinha muito o que se conversar, afinal, a tensão sobre o que aconteceu na festa ainda existia e você não sabia ainda se estava pronta ou não para conversar.

Na verdade, tinha muita coisa passando na sua cabeça agora.

Talvez fosse o fato de que estava longe de Blake e sentindo a água quente do chuveiro sobre você ou o fato de que esfregava tanto o seu corpo, mas não conseguia se sentir limpa.

Por que? Por que isso logo agora?

Perguntas e mais perguntas se repetiam na sua cabeça.

Por que estava se sentindo suja por ter transado? Não era sexo? Por que estava tão incomodada com isso ao ponto de sentir lágrimas silenciosas caírem pelas suas bochechas?

Você não queria?

Você não tinha negado, tinha até gozado.

Então, por que estava assim?

Se sentindo suja e até mesmo achando que aquilo que aconteceu não tinha sido justo?

Por que estava achando que ajudar o seu namorado tinha sido algo errado?

Fazia sentido ou era só mais uma das suas paranoias que te atormentavam desde quando era criança? A necessidade de, talvez, ter uma validação por tudo o que fazia. Você tinha o ajudado, não é?

Ele tinha dito "eu te amo" pra você antes de se virar e dormir.

Deveria bastar.

Na verdade, sempre tinha bastado.

— [Nome]? — Senju tinha te chamado, mas você não escutava.

Não tinha como escutar, a sua mente estava em completo estado de looping, lembrando cada passo, toque, frase, investida e gemido.

Por que estava se culpando tanto sobre isso? Essa não era a primeira vez que tinha acontecido algo do gênero, então por quê?

Você só queria entender.

Se entender.

Sentiu uma mão tocando no seu ombro e você se assustou, praticamente dando um pulo. Ao olhar para trás, encontrou Senju te olhando com uma expressão preocupada e os olhos azuis passearam pelo seu corpo até chegarem nos seus braços, completamente vermelhos pelo tanto que você os esfregou.

O som da água caindo do seu box era o único que podia ser escutado.

Nos dormitórios da Universidade, tinham banheiros coletivos, sendo dois por andar, cada um ficando em pontos extremos, para abranger as 40 pessoas que viviam por cada nível do prédio. Nesse horário, já passando de meio-dia, e depois da festa de ontem, estava completamente vazio, só tendo vocês duas nele, o que você não sabia dizer se era bom ou não.

Como se conheciam desde o ensino médio, tinham intimidade suficiente para tomarem banho juntas, já tinham feito isso incontáveis vezes, mas ali, naquele pequeno espaço de tempo, você desejava que não fossem tão próximas. Não queria que ela te visse assim, depois do que tinha "feito", estava se sentindo suja, mesmo não entendendo o porquê.

Por que estava se julgando tanto agora?

Por que não conseguia olhar Senju nos olhos?

Encarava o azulejo branco, vendo a espuma sumir pelo ralo, sem saber o que realmente dizer. Na verdade, pensando melhor, o que você iria dizer?

Você não tinha resposta nem pra isso.

— [Nome] — Senju te chamou, mais uma vez, e fechou a cortina do box atrás de si — O que aconteceu?

A platinada, enquanto se enxugava, estranhou a sua demora em sair do banho, não era comum você fazer isso. Então não pensou nem duas vezes em ir atrás, mas não esperava que te veria assim.

Não era só a sua cabeça que estava cheia, a dela também, e te ver assim só fez com que tudo ficasse ainda mais intenso. Como o fato dela não saber se Mikey realmente estava bem ou não, ninguém conseguia pará-lo quando ele começava a querer ficar "insano", foi até por isso que você perguntou se tinham conseguido o fazer dormir, era uma missão quase impossível.

Porém, todas as pessoas no mundo possuem limites.

Mikey, Kazutora, Emma, Draken, Senju e até mesmo você.

Todo mundo tem um nível do que pode suportar e o grupo de vocês estava começando a chegar nele, sendo em momentos e estágios diferentes.

Senju percebeu que você não falaria nada, tinha aprendido, mesmo que na marra, que você começou a preferir ficar quieta em relação a certos assuntos, não desabafando tanto e até mesmo nem conversando. Porém, apesar de doer nela te ver assim e até explodir, como aconteceu no dia anterior, ela não podia fazer nada.

Afinal, era a sua vida e você sempre seria a responsável por ela e isso te assusta mais do que deveria.

Arregalou os olhos ao ver Senju tirando da sua mão a esponja e a pendurando no registro no chuveiro e mordeu o lábio ao sentir os braços dela te envolvendo. Talvez não fosse a melhor situação para um abraço, com a água do chuveiro caindo e vocês duas peladas, mas era necessário.

Você precisava daquilo, porque significava que, independente do que acontecesse, Senju não te abandonaria e ela sabia como a sensação de abandono te dava mais medo do que qualquer coisa.

Você já tinha sido deixada para trás por muita gente e não aguentaria isso mais uma vez.



(...)



O silêncio do quarto só era quebrado pelo barulho do secador de Senju, que era utilizado pela platinada para secar o seu cabelo com a calma que você precisava. Depois do abraço de vocês, que durou longos minutos, ela te ajudou a terminar o banho e logo voltaram para o quarto.

Você estava sentada na cama, vestindo um short jeans de lavagem clara e a uma blusa de uma de suas bandas favoritas, The Neighbourhood, e já tinha passado uma maquiagem leve no rosto e no pescoço, cobrindo os chupões que Blake tinha feito. Estava claramente mais calma, ficar sozinha realmente era difícil, seus pensamentos ficavam cada vez mais altos e quase impossíveis de serem ignorados, te sufocavam por inteira.

— Os meninos estão no refeitório para almoçar — Senju disse, depois de terminar de secar o seu cabelo e olhar as mensagens do grupo no celular — Quer ir?

— Posso?

— Você sabe não precisa se afastar por causa do que aconteceu antes — a platinada disse e ela viu os seus ombros tensionarem um pouco, enquanto se levantava da cama para calçar o seu all star branco

— Eu não sei mais de nada — sua voz saiu baixa, mas ela tinha escutado.

— O que?

— Não é nada.

— Como assim não é nada, [Nome]?

— Não sendo.

— Você sabe que conversar ajuda a tentar entender o que acontece.

— Eu sei e é esse o ponto — suspirou — Não quero entender.

Talvez essa frase doesse mais nela do que você poderia imaginar.

— Tudo bem — disse, derrotada, e também se levantou para terminar de se arrumar.

Em silêncio, você foi até a sua cômoda e tirou do carregador o seu celular, vendo as notificações das mensagens. A maioria delas era do grupo de vocês "Inteligentes e o Mikey", sobre combinarem de almoçarem juntos, outras eram do grupo do estágio, que você veria depois com mais calma e mais duas em específico, que fizeram o seu coração apertar um pouco.



Papai: Cadê a merda do dinheiro que você
disse que ia depositar?
Está ficando tão inútil quanto a sua mãe?



Você odiava quando ele te procurava só por isso, te reduzia a simplesmente uma mera "funcionária" e não uma filha que realmente tentava fazer com que ele tivesse uma vida decente, mas não é como se o seu pai fosse te ouvir. Ele ouvia ninguém, parecido demais com uma pessoa em específico, alguém que não tinha te mandado mensagem até agora.

Dentro de você, tinha um sentimento crescente e que estava te tentando a mandar mensagem para Blake, mesmo que, na verdade, ele deveria ser quem tivesse que tomar tal atitude. Porém, nunca foi assim, nem no início, então você já não tinha mais força para esperar algo vindo dele ou até mesmo uma mínima mudança, pelo menos em relação a isso.

— Vamos? — a voz de Senju ecoou, te "acordando" do transe e até mesmo te impedindo de abrir a conversa com Blake.

— Claro.

Saíram juntas do quarto e não quiseram esperar o elevador, descendo pelas escadas e logo saindo do prédio. O dia estava lindo, um clássico fim de verão, com o sol ainda presente, o céu incrivelmente azul e até mesmo um vento fresco, fazendo com que o seu cabelo balançasse um pouco enquanto andava.

— Já escolheu o que vai querer comer? — Senju te perguntou.

— Acho que quero um hambúrguer e com certeza batata frita.

— Você e sua paixão por batata.

— Mas batatas são tipo um alimento incrível! — contestou — Além da questão nutricional, não existe nenhuma forma que batata seja ruim! Gratinada, frita, assada, no purê e ainda tem muita opção!

— Você tem um ponto.

— Sei que tenho — sorriu, um pouco convencida — Sou a maior defensora das batatas.

— Apoio criar um fã clube — sua melhor amiga disse, tentando conter a risada, mas foi só você dar um leve empurrão no ombro, que as risadas de vocês duas ecoaram.

A platinada entrelaçou o braço com o seu e andaram juntas até o refeitório, que começava a ficar lotado, já que se passava de uma da tarde e era comum muitas pessoas acordarem nesse horário em um dia de domingo. Ao entrarem, passando pelas portas automáticas de vidro, não demoraram muito para achar o seu grupo de amigos, que é consideravelmente grande.

Andaram até o fundo do ambiente, onde as clássicas mesas já estavam juntas e todos estavam ali, faltando quem disse que não poderia vir e vocês duas, o que te fez sentir uma leve quantidade de vergonha, já que tinha sido a causa do atraso. Percebendo que algo se passava na sua cabeça, Senju te puxou e deixou um beijo na sua bochecha e sorriu.

Você não sabia como demonstrar o tão grata que era por a ter na sua vida.

— Bom dia, meu povo! — Senju cumprimentou animada e as costumeiras respostas vieram.

— Atrasamos muito?

— Não, juro que tem cinco minutos que eu, o Baji e o Chifuyu chegamos — Kazutora te respondeu e você assentiu, andando até ele e se sentando na cadeira vazia ao lado.

— Cadê o Mikey? — perguntou, em um tom de voz mais baixo, e você viu a expressão dele vacilar um pouco.

— Ainda tá dormindo — respondeu vago.

— Kazu...

— A gente te leva até ele depois de você almoçar — Draken disse, se intrometendo na conversa que tinha escutado já que estava sentado na frente de vocês.

— Tudo bem — concordou, mas nem dois segundos depois já estava se levantando e praticamente correndo na direção da praça de alimentação, que tinha os mais diversos restaurantes e tipos de bebida.

— A Emma te mandou alguma coisa? — Kazutora perguntou, enquanto também se levantava para te seguir.

— Ele ainda tá dormindo — o loiro suspirou.

Não só Kazutora, como todos que estavam na mesa e que também se levantaram para poderem pegar suas respectivas comidas, se sentiam cúmplices por "deixarem", mais uma vez, Mikey chegar a esse nível. Em festas grandes como a do início do semestre ou as que faziam depois de uma vitória em um jogo, ele se "permitia" abusar.

Na festa do dia anterior o fato de ter te visto virar as costas para ele foi quase como o que o fizesse pensar "por que não ficar insano?". Você não estaria mais ali, então, totalmente diferente de Blake, o loiro se permitiu se "divertir" respeitando as suas razões por não gostar de ver certas drogas e atitudes. Porém, a que preço? Na verdade, essa pergunta ressoava agora na sua cabeça, enquanto estava na fila esperando a sua vez para fazer seu pedido.

A que preço você tomava certas atitudes?

Abrir mão do que?

Foram duas situações, praticamente seguidas, que Blake tinha implicado com os seus amigos, dizendo que você sempre os escolheria, mas isso era mentira. Tinha, por exemplo, ido para o Havaí com ele, no lugar de ficar com aqueles que estão na sua vida praticamente desde o ensino fundamental. Não era justo ele pensar isso sobre as suas escolhas, não é?

Aliás, por que você estava se questionando tanto sobre isso?

A opinião de Blake era tão importante assim?

Antes que a sua mente voltasse a entrar em um looping infinito de questionamentos que você nunca conseguiria a resposta, sentiu uma pressão acima da sua cabeça e, pelo clássico barulho de um gizo, soube que era Kazutora, ele tinha apoiado o queixo em você.

— A cada dia que passa tá ficando mais abusado — brincou e ouviu a risada dele.

— Você sempre foi um ótimo apoio.

— Sinceramente — resmungou, conseguindo arrancar mais risadas do moreno.

Sentiu braços te envolvendo pelos ombros e se permitiu inclinar para trás, se encostando no corpo dele e o clássico perfume invadiu suas narinas, Kazutora sempre foi cheiroso.

— Aconteceu algo? — o tom de voz dele era sério.

— Só estou confusa com umas coisas.

— Mesmo?

— Meu pai mandou mensagem também, só pra me complicar.

— O que ele quer dessa vez? — você sentiu a raiva no tom de voz do seu melhor amigo de infância.

— O de sempre.

— Ele só pensa nessa porra de dinheiro?

— Parece que sim, provavelmente vai comprar neve.

— Ele te faz gastar uma grana com clínica de reabilitação e depois fode tudo.

— Não sei se a grana que gastei importa, tipo, o meu tio tá cuidando da empresa no lugar do meu pai e até mesmo tá melhor do que antes, mas ele não me mandava mensagem a mais de um mês. Ele literalmente me procurou só por causa do dinheiro que eu sou obrigada a dar.

Kazutora entendia a sua frustração, acompanhou tudo de perto, te conheceu antes, durante e depois de tudo.

A sua família tem uma empresa focada em Marketing, sendo atualmente uma das mais renomadas do país, por isso você disse que a grana não importava, sempre teria dinheiro na conta bancária. Porém, com o fato do seu pai ser um dependente químico, acabava sendo você quem tinha o controle sobre a vida dele, tinha assumido essa responsabilidade dois anos atrás, e desde então fica cuidando de tudo, imóveis, contas e investimentos.

Claro que não fazia completamente sozinha, algumas coisas um contador fazia por você, mas as contas bancárias são algo que você faz questão de ficar de olho, sabia muito bem como o seu pai podia ser ardiloso em assuntos como esse. Então, uma vez por mês, colocava uma quantidade de dinheiro na única conta que ele tinha acesso, de forma que, na teoria, ele só conseguiria se manter no quesito básico, como a alimentação.

Era desgastante porque a relação de pai e filha tinha se resumido a isso, mas não era como se ela realmente já tivesse existido alguma vez, você sempre tinha sido mais próxima da sua mãe.

— Vou ter que ir no caixa eletrônico daqui do campus depois — resmungou, cansada.

— Eles não deixam fazer a transferência pelo celular, não é?

— Nem sei porquê, acho que é por causa da quantia ser um pouco alta.

— Bancos e sua necessidade de sempre complicarem a vida dos seus clientes em prol do capitalismo.

— Você tá passando muito tempo com o Take — você provocou, fazendo menção ao amigo, também namorado de Hina, que fazia Sociologia e Antropologia.

— Mas não vai me dizer que ele não tá certo?

— Realmente.

Vocês dois riram e Kazutora te apertou um pouco mais no abraço e ficaram assim até chegaram no final da fila, já que teriam que carregar as bandejas e voltarem para a mesa. O almoço em si foi tranquilo, com algumas conversas aleatórias, principalmente sobre o início das aulas, a maioria do grupo estava no último ano, então a ansiedade para formarem estava presente.

— Tem comida lá na frat? — perguntou, depois de terminar de comer a sua última batata frita.

— Assim, depende do que você considera comida — Baji respondeu e você revirou os olhos.

— Yakisoba e coca-cola não contam.

— Chata.

— Tem fruta?

— Você realmente tá perguntando isso pra gente? — Pah perguntou, meio desacreditado.

— Ainda tenho fé que um dia vocês vão ter alguma coisa que presta dentro daquela cozinha.

— Nem vem que você comeu hambúrguer! — Baji tentou argumentar.

— Sim, mas o Mikey não vai conseguir comer algo gorduroso, imbecil.

— Mas o que tem haver fruta com o Mikey?

— Acho que vou mudar o nome do grupo para "Inteligentes, o Mikey e o Baji" — Senju disse, conseguindo um dedo do meio do moreno como resposta.

— Eu não sei o que ele usou, mas, levando em conta o que ele já fez, provavelmente ele vai vomitar quando acordar e ainda vai tá de ressaca. Frutas possuem glicose, pra repor o que ele perder, e são leves para não agredir o estômago dele — você respondeu.

— Não sei nem como você passou pra Veterinária.

— Vai se fuder, Kazutora!



(...)



— A gente vai poder te ajudar em alguma coisa? — Senju perguntou, enquanto te seguia por dentro da casa da Toman.

— Com certeza, vamos lá que vai dar certo e não vamos ter que levar ele pra um hospital.

— Nem fala disso — Mitsuya disse sério e você assentiu, sabia muito bem, da mesma forma como todos ali, o fato de que Mikey odiava hospitais.

— Primeiro, vamos liberar a Emma e a deixar almoçar, sei que ela deve nem ter saído do lado dele. Você trouxe o almoço dela, Draken?

— Trouxe, só falta colocar num prato.

— Perfeito. Continuando, quero que alguém me traga um balde, outra pessoa pegue uma cadeira de plástico e já deixe debaixo do chuveiro do banheiro dele e outra corte as frutas que eu comprei e coloque a água de coco num copo com um canudo. Acho que é isso, tudo bem?

— Às suas ordens, chefia! — Baji bateu continência, tentando amenizar o clima, o que conseguiu, já que todos riram um pouco.

— Acho que a única coisa que preciso agora é o balde, mas o resto pode ser com calma, já que ele ainda não acordou.

Todos assentiram e foram se dividindo nas tarefas, enquanto você subia os degraus de dois em dois e andava rapidamente até o quarto de Mikey, um dos últimos do corredor. Abriu a porta devagar e encontrou o cômodo praticamente no escuro, só tendo como luz pequenas frestas das cortinas, e bem gelado, já que o ar condicionado estava ligado.

Entrou devagar e logo a atenção de Emma foi direcionada para você e, mesmo que não pudesse ver com clareza por causa da falta de iluminação, a loira tinha um sorriso aliviado no rosto só por ter a sua presença ali.

— Tem quantas horas que ele tá dormindo? — você sussurrou ao se aproximar da amiga, que estava sentada na cadeira da escrivaninha.

— Ele capotou lá pelas três da manhã, então talvez umas doze horas.

— Tudo bem, tá dentro do que é considerado "normal".

— Todos vocês estão aí?

— Sim, aliás o Draken comprou o seu almoço, tá arrumando pra você na cozinha, mas provavelmente ele vai te fazer comer lá fora. Tá praticamente um chiqueiro no andar de baixo.

— Não duvido muito — suspirou, cansada.

— Você tá aqui desde o início?

— Não, meio que ficamos revezando pra ficar de olho nele, a Senju que viu ele apagando no meio da sala. Aí os meninos carregaram ele aqui pra cima e a gente tentou fazer o que você fez daquela vez que o Baji passou mal, de cobrir com o cobertor e ligar o ar.

— Fizeram certo, não se preocupa com isso — você assegurou e a abraçou — Desce lá e vai comer, daqui a pouco o pessoal sobe com as coisas que eu pedi.

— Tudo bem e desculpa por isso.

— Não é como se fosse culpa sua e muito menos dele, Emms.

A loira não conseguiu sustentar o olhar com você, desviando rapidamente para o irmão. Tinha tanta coisa por trás das atitudes dele que a deixavam sobrecarregada, por achar que não conseguia fazer muito para o fazer parar de sempre ser assim, buscando os extremos para sentir alguma coisa ou se sentir "invencível".

Depois de alguns segundos abraçadas, Emma se levantou e saiu silenciosa, deixando você sozinha com Mikey no quarto. Essa não era a primeira vez que vocês dois se encontravam em uma situação como essa e isso te incomodava de uma forma que não gostaria de admitir. Pelas coisas que seus amigos te explicaram, sabia que, dessa vez, ele realmente quase teve uma overdose e isso ecoava dentro do seu cérebro de um forma que não conseguia se orientar direito.

Sabia que, para os seus amigos que se concentravam em começar a limpar e organizar a casa no andar debaixo, tava tudo sob controle e que parecia estar tudo bem, mas não era essa a realidade. As suas experiências no hospital da Universidade tinha te dado noção de muitas coisas, mas as suas pessoais mais ainda.

Ver Mikey desse jeito era como rever a cena de encontrar o seu pai da mesma maneira no meio do chão na sala quando só tinha 14 anos. Se lembrava até hoje da voz de Kazutora ligando pra emergência porque você não conseguia fazer nada, somente encarando a cena do seu pai ter a primeira overdose e o sangue que saía do braço dele, já que tinha desmaiado e caído sobre a mesinha de centro.

Respirou fundo, enxugou a única lágrima que caiu pela sua bochecha e andou até o armário do loiro, o abrindo logo em seguida para pegar uma muda de roupa limpa, sendo uma cueca box preta, uma bermuda moletom cinza e uma camiseta branca qualquer. Deixando a roupa já separada na bancada do banheiro, também ajeitou a toalha estendida para quando ele tomasse banho.

Fazia tudo no modo automático e mal percebeu quando Kazutora tinha entrado no quarto, com o balde e a cadeira que tinha pedido.

— [Nome]? — escutou a voz do moreno te chamando e saiu do banheiro e o encontrou parado no meio do quarto.

— Aqui! — sussurrou de volta, entrando no campo de visão dele.

— Onde quer que eu coloque o balde?

— Aqui do lado da cômoda mesmo.

— A cadeira debaixo do chuveiro, né?

— Isso!

Ele assentiu com a cabeça e foi fazer o que tinha pedido, enquanto você se mantinha em silêncio encarando Mikey. Andou até a cama de casal e tirou o tênis, se sentando no colchão e apoiando as costas na cabeceira de madeira, ficando atenta a cada possível que o seu melhor amigo podia fazer no meio do sono.

Você franziu as sobrancelhas ao ver Kazutora saindo do quarto, mas ele só fez um sinal para que você aguardasse. Menos de dois minutos depois, ele voltou, fechando a porta com cuidado, e andou até você, também se sentando no colchão, mas na sua frente.

— Veste — ele sussurrou.

— O que?

— Você tá arrepiada por causa do ar condicionado.

Estava tão no modo automático que nem tinha percebido que estava com frio e muito menos o moletom Kazutora tinha ido buscar no quarto dele.

— Muito obrigada — respondeu, pegando o moletom branco e vestindo em seguida, tendo o perfume dele invadindo mais uma vez o seu nariz.

— Não precisa agradecer — ele sorriu fraco, apoiando o queixo na mão, o que fez que o leve barulho do brinco ecoasse pelo quarto.

Permaneceram em silêncio, mas não era totalmente desconfortável, não tinha muita coisa a ser dita também. Depois de alguns minutos, a porta foi aberta mais uma vez e um leve sorriso apareceu no seu rosto vendo o grupo inteiro entrando no quarto e se acomodando no cômodo, se sentando na cadeira da escrivaninha, no chão e na própria cama.

— Você acha que ele vai demorar pra acordar? — Emma perguntou.

— Não sei, depende muito — você respondeu, passando por cima de Senju, que estava sentada ao seu lado, para se levantar.

Dando a volta pela cama, chegou no lado em que Mikey estava virado e se agachou para ficar na altura do rosto dele, observando como o lábio tremia levemente, mesmo que tivessem o embrulhado em um cobertor grosso. Porém, a sua atenção foi para os olhos dele, que começaram a se abrir, mesmo com uma dificuldade perceptível.

— Chifuyu — chamou o loiro, que estava sentado ao lado de Baji no chão do quarto, perto da porta — Você pode pegar rápido um copo de água lá na cozinha?

— O que tá acontecendo, [Nome]? — Emma falou, claramente preocupada, se levantando do colo de Draken e andando até você.

— Ele tá acordando — explicou, pegando o balde e o deixando ao seu lado.

Mikey sentia que a cabeça dele iria explodir ou até mesmo o corpo inteiro. Os ouvidos zuniam de uma forma absurda enquanto tentava forçar abrir os olhos, mesmo que isso estivesse sendo uma das coisas mais difíceis que já tinha tentado fazer na vida. Um gemido doloroso saiu da boca dele ao tentar se mexer e, ao finalmente conseguir abrir os olhos, encontrou o seu rosto.

— Não fala nada, tá? — sua voz saiu suave ao ver que ele abria a boca — Depois a gente conversa, tudo bem?

Ele assentiu minimamente com a cabeça e voltou a fechar os olhos com uma clara expressão de dor. A porta não demorou a ser aberta e Chifuyu apareceu com o copo de água que tinha pedido.

— Pode colocar aqui na cômoda — pediu.

— Que horas são? — escutou a voz rouca de Mikey e você riu fraco, pegando o celular do bolso do moletom para conferir o horário.

— São quase quatro da tarde.

— Puta que pariu — resmungou e foi quase impossível todos vocês não conseguirem segurar as risadas, era trágico e engraçado ao mesmo tempo.

— Quer sentar? — perguntou e ele assentiu com a cabeça.

Você se levantou e, com a ajuda de Kazutora, o fez se sentar e não demorou nem cinco segundos para que a vontade de vomitar chegasse. Entregou o balde e suspirou ao o ver colocando praticamente tudo pra fora, doía o ver dessa maneira.

Senju ficou de joelhos no colchão, atrás dele, e começou a alisar as costas, tentando amenizar o desconforto, e segurar o cabelo do loiro, para que não o atrapalhasse. Todos olhavam atentos a qualquer movimentação de Mikey e, começando a recobrar os sentidos, percebeu que não tinha só você no quarto, mesmo que essa fosse a vontade dele.

Ele odiava quando muitas pessoas se preocupavam com ele, mesmo isso sendo extremamente contraditório, se parar para pensar sobre as atitudes que ele tomava, mas não era como se Mikey fosse querer ser uma pessoa que fizesse sentido ou até mesmo fácil de lidar.

— Draken, você pode colocar a água do chuveiro para esquentar?

O loiro assentiu e se levantou, andando rapidamente até o banheiro, enquanto Emma estava em pé ao seu lado com o copo de água e você percebeu como as mãos dela tremiam levemente.

— Foi tudo? — perguntou para Mikey, que assentiu com a cabeça, ainda um pouco zonzo — Agora bebe a água que a Emma vai te dar, tudo bem?

Se afastou para que a loira pudesse ficar na frente do irmão. Mesmo com ele estando acordado e isso realmente melhorando o clima de tensão que estava no quarto, ainda era perceptível o desconforto, era quase palpável no ar.

Tudo seguiu sem que muito precisasse ser dito, era quase como se tivesse um acordo sobre todos vocês. Alguns dos meninos logo se mobilizaram e levaram Mikey para o banheiro, onde o deram banho, inclusive lavaram o cabelo dele.

— Ele quase teve uma overdose, não é? — a voz de Emma quebrou o silêncio que tinha se instalado no quarto depois que os meninos tinham entrado no banheiro.

— Emms...

— Não minta pra mim, [Nome].

Era nítido como ela estava a um passo de chorar e você, melhor do que ninguém, sabia como essa sensação era horrível.

— Foi — respondeu, sincera.

Não precisou mais nada ser dito e Emma somente assentiu com a cabeça, cruzando os braços na altura do peito. Ela nunca pensou que chegaria a ter essa verdade verbalizada para si e chegava a ser estranho a ter vagando pela sua mente, não acreditava que Mikey parecia começar a ter o mesmo destino que Shinichiro.

Logo os meninos saíram do banheiro e Mikey ainda cambaleava um pouco, mas visivelmente estava melhor depois de terminar de tomar banho e colocar uma roupa limpa. Você desligou o ar condicionado e abriu as cortinas e, em seguida, as janelas, deixando o vento fresco entrar dentro do quarto.

— Senju, você pode... — a sua voz foi interrompida pela sua própria melhor amiga já se levantando da cama e saindo do quarto.

— Acho que a minha cabeça vai explodir — Mikey resmungou ao voltar a se sentar na cama.

— Bem que podia pra aprender logo de uma vez.

— Emma...

— Vai se fuder, Manjiro — a loira sentenciou antes de sair do quarto e só não fechou a porta porque Senju voltava com o prato de frutas e a água de coco que ela mesma já tinha arrumado antes.

— Pode ir atrás dela, Kenchin — Mikey disse, percebendo a indecisão do seu melhor amigo que, com essa confirmação, saiu do quarto em busca da namorada.

— Que tal comer um pouco, ou pelo menos tentar? — você perguntou, tentando mudar o foco da conversa, e se sentou na cama de frente para Mikey.

— Você realmente está me pedindo isso?

— Ela tá e você vai obedecer — Senju disse, se sentando ao lado dele e colocando o prato com as frutas no colo do loiro.

Um leve sorriso apareceu no seu rosto ao ver, por exemplo, as maçãs já cortadas e até mesmo a melancia em pequenos triângulos, mostrando como a platinada estava realmente preocupada com a situação, mesmo que a expressão desinteressada e o olhar fixo no celular parecessem transmitir outra coisa.

Com o tempo, o quarto foi se esvaziando, com cada um percebendo que Mikey estava bem e que a situação estava até que "controlada", mesmo que a tensão que tinha se instalado entre os gêmeos da família Sano ainda pairasse no ar, mas isso já era um assunto deles, mesmo que muitos já tivessem em mente o que poderia ter feito Emma ficar tão irritada com tudo.

No final, praticamente só sobrou você e Senju no quarto, já que os membros da fraternidade ainda tinham de terminar de arrumar a casa, não só jogando o lixo fora, como realmente a lavando, e até mesmo se preparar para o primeiro dia de aula que se aproximava com o passar das horas. Agora, o pôr do sol coloria o céu, marcando o início da noite que, mesmo sendo ainda no verão, sempre era mais fresca, então você nem tirou o moletom de Kazutora.

— Princesa... — Mikey disse e Senju suspirou, bloqueando o celular e o encarando nos olhos pela primeira vez durante essas horas.

— Não ache que não vai ter uma conversa comigo também — a platinada fez uma leve ameaça e o loiro assentiu com a cabeça, sabia que merecia — Quer que eu te espere, [Nome]?

— Não precisa, vou ter que ir na secretaria antes. Se quiser, já pode ir pro quarto.

— Vou deixar a porta destrancada pra você.

— Obrigada.

A platinada deixou um beijo na sua bochecha antes de sair.

— Desculpa — vocês dois disseram juntos, o que fez que rissem fraco da situação como um todo.

— Olha, [Nome]...

— Posso falar primeiro? — você o interrompeu.

— Claro.

— Sobre ontem... — começou meio incerta, sem saber quais palavras escolher — Foi tudo meio confuso e também não fui sincera com você.

— Em relação a que?

— Sobre o que estava me incomodando — admitiu — O Blake não tinha me respondido há horas e eu não sabia onde ele tava e quando ele se aproximou eu percebi que ele já não tava completamente sóbrio. Eu só não queria que vocês brigassem e também que ele não causasse mais problemas.

— Mas você não precisa se afastar com ele por causa disso — Mikey disparou, mas se arrependeu ao ver a expressão que tomou o seu rosto — Eu só não quero que você se afaste.

— Não é como se eu quisesse, Mikey, mas ontem era isso ou realmente vocês dois iam cair no soco. Não foi sem razão o Draken se colocando na sua frente, ele já imaginava que isso ia rolar, não foi só eu.

O loiro cruzou os braços na altura do peito e desviou o olhar, não conseguindo, agora, te olhar nos olhos. Ele não queria que você tivesse razão, principalmente em uma assunto que envolvia Blake, alguém que poderia dizer com toda a certeza do mundo que odiava e que desprezava qualquer mínima atitude. Claro que nem sempre foi assim, de início era aceitável a presença dele e era nítido como o seu relacionamento com ele te fazia bem, mas agora a história era outra.

Entretanto, você ainda não tinha tido coragem para compreender, da mesma maneira que aconteceu horas atrás, não queria entender o que tinha acontecido consigo mesma.

Talvez não tivesse coragem para buscar a resposta.

— Tudo bem — ele disse, voltando a te olhar — Só que é difícil simplesmente não conseguir tempo com você.

— Eu sei, não ache que não me incomodo com isso.

— Sério? — você assentiu com a cabeça.

— Mesmo ele sendo meu namorado e tudo, vocês ainda são a minha família.

O sorriso que Mikey deu foi um dos mais sincero que ele podia e a sua risada ecoou com ele te puxando, a colocando sobre o colo dele, e a abraçando.

— Você não vai se livrar tão cedo de mim

— Eu espero viu, mocinha? — você riu mais ainda, o que o deixou mais seguro.

— Agora, acho que é a minha vez de falar — ele começou, o que te fez assentir com a cabeça — Me desculpa pelo trabalho e por ter te preocupado também.

— Não é como se eu não fosse cuidar de você, Mikey.

— Mas não é justo com você.

— Como assim?

— Já tem o seu pai, não precisa de mais um problema como eu.

O tom de voz que Mikey usou fez com que o seu coração estremecesse, ele não estava sendo justo com ele mesmo.

— Nunca mais diga isso.

— O que? — ele te perguntou, confuso.

— Não diga que você é um problema e muito menos se compare com o meu pai.

— [Nome]...

— Não, Mikey, estou falando muito sério agora — respirou fundo — Você está pedindo desculpas pra mim, por tudo o que aconteceu, e eu sei que quando a gente terminar aqui, você vai pedir para todos que estão lá embaixo e ainda vai ir atrás da Emma. Você se importa com a gente, meu pai nunca me pediu desculpa por nada que ele fez e muito menos me agradeceu. Nunca mais se compare com ele.

O loiro te olhou e viu a seriedade que o seu olhar transmitia e isso bastava, pra ele bastava. Sabia que tinha vacilado, mais uma vez, e que teria que ir atrás para concertar as coisas, principalmente com a irmã, mas esse era o ponto de tudo.

Isso era justo.

Mikey iria correr atrás, não deixaria o orgulho simplesmente se sobrepor a isso, sabia que até ele, o famoso e invencível quarterback, teria que abaixar a cabeça e ouvir.

Completamente diferente de uma pessoa em específico que, ainda, não tinha te mandado mensagem ou se quer ter demonstrado uma mínima curiosidade para saber se estava bem, afinal foi você que tinha "rejeitado" passar o dia com o próprio namorado.

Depois de alguns minutos, com vocês dois ainda conversando sobre o que aconteceu, sendo mais você perguntando se ele ainda estava sentindo alguma coisa, Kazutora bateria na porta e os chamaria para comer, já estava de noite e as estrelas começavam a decorar o céu. Vocês três desceriam e se sentariam no chão da sala junto com todos os outros, inclusive Senju, que tinha decidido ficar pra jantar, em um clima totalmente confortável, com você se sentindo tranquila, praticamente esquecendo do que tinha acontecido mais cedo.

Esse era o poder que os seus amigos, sua família, tinham sobre você.

Porém, não é como se Blake não fosse descobrir que você passou o dia com os seus amigos e posso te garantir que isso, na visão dele, não havia sido justo.






Oi de novo! Não vou nem perguntar como vocês estão para não ser apedrejada kkkkk

Mas enfim, esse cap foi MUITO difícil escrever, tanto pelo fato dele estar enorme quanto pelo próprio conteúdo em si e não sei o que realmente dizer aqui sobre essa parte

Tivemos momentos fofinhos, com interações da [Nome] e do Kazu e sério, eles são tudo e mais um pouco pra mim, sem nem condições fml

Além disso, não se viram, mas nesse final de semana teve atualização dupla de Forelsket, a minha fanfic com o Draken, e na sexta eu vou postar a short-fic com o Wakasa!

Bem, espero que, na medida do possível, tenham gostado! Não se esqueçam de votar e de comentar (AMO ler o feedback de vocês)!

Até a próxima! ♥︎

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