02 | Noivo fujão.
NARRADOR
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Os dias se passaram com uma rapidez inebriante, parecia que quanto mais Nikolai quisesse fugir da data marcada, mais rápido ela se aproximava dele o deixando sem escolhas.
Durante aquela madrugada, ele novamente encontrava-se sentado e olhando pela janela de seu quarto a pouca – quase nenhuma – movimentação do lado de fora. Em suas mãos, várias coisas que ele guardou durante sua vida, entre elas, a temível carta que Natasha deixou para ele antes de partir de sua vida o culpando pela morte.
Como ele poderia casar com Polina sabendo que ela não era a pessoa certa para ele? Nikolai só acabaria infringindo dor para a garota, assim como ele fez inconscientemente com os que vieram antes dela. Seria melhor terminar o casamento antes que ele fosse consumado, não queria tirar a pureza de Polina sabendo que mais cedo ou mais tarde, ele a machucaria querendo ir embora de sua vida.
Era isso, ele não a amava. Ele gostava da companhia e gostava da atenção que ela lhe dava, mas chegar a chamar de amor era demais. Ele amou poucas vezes durante a vida, talvez um ou dois namorados, ele amou Natasha, ele amou seus pais e amou com fervor a si mesmo.
Ele era assim. Ele entrava em relações que não eram baseadas em amor, algumas vezes por divertimento, outras para alimentar seu ego – e ele odiava assumir que tinha esse defeito –, e outras apenas por gostar da companhia da pessoa, mas gostar não é amar, e ele sabia bem disso.
Quando o sol raiou marcando seu décimo oitavo aniversário, ele já tinha dado como certo o que faria, e sabia que futuramente poderia ter que lidar com as consequências, que seriam muitas, mas ele não se arrependeria.
Havia chegado o seu momento de punir-se a si mesmo por sempre machucar o coração dos outros.
——— Filho, já está pronto? — Sua mãe perguntava ao bater na porta e adentrar.
Ele realmente vestia o terno de seu casamento, mas não iria para a igreja. De fato que não. Ele precisava falar com Polina explicar tudo a ela, talvez a garota fosse compreensiva com o fato de que ele não poderia se casar com ela. Ele gostava de pensar que Polina seria assim, o deixava menos nervoso.
Mas ele sabia que aquilo era só uma imaginação, obviamente ela o xingaria por cancelar o casório no dia que seria realizado, ele teve dias para tomar aquela decisão mas deixou para o exato dia do casamento. E ele pensava que aquela era mais uma das provas que ele gostava de causar e ter atenção.
Abandonar sua noiva no dia do casamento seria um impacto para a mídia que gostava de saber de sua vida.
Ele não era nenhuma celebridade em São Petersburgo, mas mesmo assim, todos agiam como se ele fosse. A vida dele era um entretenimento para as demais pessoas. E sinceramente, ele abraçou aquilo para si mesmo. Se fosse para impactar, ele faria isso da maneira certa.
Ele era assim, ele infligia a dor aos outros mas quem estava por fora via como entretenimento. E mesmo que ele odiasse a sua forma de agir, ele sempre continuava persistindo no erro.
——— Não vou sair do quarto até conversar com Polina, mãe. Chame ela! — Ditou Nikolai com a voz decidida.
Sua mãe o olhou abismada antes de explicar:
——— M-mas o noivo não pode ver a noiva antes do casamento, dá azar.
——— Não me casarei até que ela venha aqui, chame logo ela, mãe! — Nikolai afirmou com ainda mais obstinação.
Sua mãe suspirou antes de dizer que faria o possível e saiu de seu quarto. O relógio já mostrava que o casamento estava atrasado, era para já estarem na igreja assinando os papéis, mas ele ainda estava aqui em seu quarto.
Mais 20 minutos se passaram até que batidas foram ouvidas na porta de seu quarto, Nikolai petrificou quando Polina abriu a porta o observando com adoração.
——— Nikolai! — Ela o observou sorrindo.
Ela também estava bela com o vestido de noiva, parecia uma princesa que saiu de um conto de fadas, fora que a beleza era algo inegável em Polina. Mas não era certo o que ele estava fazendo.
——— O que houve, querido? Você está com uma cara que me assusta.
——— Sabe o que que é, Poli... Está tudo indo tão depressa. — Nikolai disse engolindo em seco tentando organizar seus pensamentos para falar algo que não machucasse os sentimentos de Polina, mas ele sabia que de uma forma ou de outra, ela sairia machucada. — Eu sei que ninguém me empurrou, Poli, mas eu tô me sentindo empurrado.
——— Isso não é hora de ficar divagando, Nikolai. No carro, a gente pode conversar. Vamos? — Polina comentou mordendo os lábios, parecendo correr do inevitável.
——— Eu não vou entrar na igreja sem ter a certeza. — Nikolai disse.
O rosto de Polina escureceu se aproximando dele perigosamente.
——— Quer me fazer dar um tiro na cabeça que nem sua outra namorada? — A moça ameaçou raivosa, Nikolai abriu a boca e engoliu novamente.
Ele estava furioso agora, como ela podia falar de Natasha sabendo o quanto o suicídio da mesma o abalou?
Sua vontade era partir para cima dela, mas ele era um cavalheiro acima de tudo, e não batia em mulheres. Ele não era um covarde, mas confessa que se segurou muito para não burlar seus próprios princípios.
——— NÃO FALA ISSO NUNCA MAIS! — Berrou Nikolai perdendo o compasso mas apertando os punhos com força.
Polina se aproximou dele puxando o colarinho de seu terno com raiva.
——— QUEM É A OUTRA VADIA COM QUEM VOCÊ ESTÁ SAINDO? — Polina gritou irritada, ela estava fora de si.
——— Eu não tenho ninguém, me solte! — O Gogol retrucou a empurrando levemente para longe de si.
Os olhos da noiva – agora, ex – estavam marejados, mas não se tratava de tristeza, se tratava de raiva, indignação, despeito, mágoa.
——— Bem que me falaram que você não prestava! — Ela respondeu em um tom de acusação apontando o dedo para ele. — Seus amigos e amigas me ligavam falando para que eu ficasse esperta com você, traia suas namoradas todas e me traia também debaixo do meu nariz.
Aquilo não era verdade, Nikolai jamais traiu Polina nem ninguém. Mas a acusação pesou seus ombros. Ele tinha muitos defeitos e sabia disso, mas ele não era um homem infiel.
E o que mais doeu não foi a acusação injusta, mas sim, o peso de saber que suas amizades eram falsas, do quão mal as pessoas que ele considerava amigos falavam dele por trás. Mas Nikolai sabia exatamente o sentimento que motivou aquilo: Inveja.
——— Eu caso com você do mesmo jeito, Niko. Só me diga: Quem é ela? — Polina implorou com os olhos lacrimejantes tentando manter a compostura.
E aquilo irritou ainda mais Nikolai, ela era sua noiva e dizia o amar, mas ainda acreditava que ele era capaz de algo tão baixo quanto infidelidade, acreditava nas más línguas que o cercavam.
——— EU NÃO TENHO NINGUÉM! QUE DEUS ME CEGUE, EU NÃO TENHO NINGUÉM! — Gritou Nikolai.
Polina estava sentada no pequeno estofado que havia ali no quarto do mesmo, seu rosto estava entre as mãos.
——— Espere passar o casamento e resolvemos isso. Eu juro, eu juro que vou dar meu melhor pra lhe satisfazer... Eu só não... Eu só não quero ficar de cara no chão diante de todo mundo! — Polina disse, e naquela hora, Nikolai se afastou.
Ela não queria se casar por que o amava incondicionalmente, ela queria se casar para não sair mal nas matérias. Tudo para Polina se tratava de uma merda de uma reputação a zelar. Como Nikolai conseguia se envolver com alguém tão superficial? Talvez seja porque no fundo, ele também era alguém superficial em devidos momentos. Mas não naquele.
——— Não irei, Polina.
——— Você pode ter suas amantes, só te peço que seja discreto... Eu tô te pedindo pelo amor de Deus! — Polina implorou.
Nikolai mordeu os lábios e fechou os olhos antes de se recompor e olhar para ela com determinação.
——— Não se humilhe mais. — Ele pediu indo até a porta de seu quarto abrindo com raiva e olhando novamente com irritação para Polina — EU NÃO TE QUERO MAIS NEM COBERTA DE OURO!
Os olhos da Gromov escureceram novamente em frente a tal humilhação e ela se recompôs irritada andando até a porta e lhe dando uma bofetada antes de sair do quarto aos gritos para quem quisesse ouvir. Incluindo, os pais de Nikolai.
Ela foi para fora da casa enquanto todos corriam atrás dela tentando impedir, menos Nikolai que permaneceu ali parado.
——— Seu filho é um vagabundo! — Polina xingou para a mãe de Nikolai que parecia sem saber o que fazer.
Desse jeito, a ex-noiva adentrou o carro de sua família e foi levada pelo motorista para longe da residência dos Gogol.
A mãe de Nikolai subiu rapidamente até o quarto do filho o encontrando sentado no estofado e rapidamente correu até ele desesperada.
——— Nikolai, por que diabos você fez isso, meu filho? Como vamos ficar diante da sociedade agora? Como? — Maria Gogol gritou com o filho diante da situação inesperada.
——— Eu pensei que eu amava a Polina, mas eu me enganei! — Exclamou Nikolai para a mãe.
Sua mãe que estava de costas se virou para ele como se tivesse ouvido a maior das desculpas, olhou para Nikolai como se ele fosse novamente uma criança que houvesse quebrado o vaso preferido dela depois de jogar bola dentro de casa escondido.
——— Que amor, garoto? O amor vem depois com a convivência! — Berrou a mulher e logo suspirou se aproximando pegando nas mãos de Nikolai — Filho, usa a cabeça: Na vida, a gente tem que ser prático.
Nikolai imediatamente retirou suas mãos de perto da progenitora com indignação, como podia ele estar rodeado de pessoas assim? E o pior, como que ele nunca enxergou aquilo antes?
A alta sociedade era uma mentira.
——— Uma mentira, é isso que vocês todos são, uma mentira. — Nikolai exclamou.
Sua mãe ficou calada mas suas feições não eram das melhores, imediatamente a mais velha se afastou e saiu do quarto batendo a porta com força.
Nikolai ficou parado por um tempo até tomar uma decisão, ele desceu as escadas silenciosamente e viu sua mãe no telefone no andar de baixo, muito provavelmente conversando com seu pai do outro lado da linha. Ele rapidamente se adiantou olhando em volta e saindo pelo fundo das casas pegando o primeiro táxi que passou e pedindo para que o motorista apenas dirigisse.
Nikolai chorou naquele banco do carro olhando pela janela, sua vida foi uma mentira e tudo acabou da noite para o dia. Seu noivado, a confiança em suas amizades, e principalmente, a visão perfeita que tinha de seus pais.
——— E então, para onde o senhor gostaria de ir? — Perguntou o taxista pela primeira vez desde que Gogol adentrou o carro.
Nikolai pensou um pouco antes de suspirar limpando as lágrimas que escorriam, ele tinha quer forte. Ele abandonaria tudo para trás e seria ele mesmo daqui para frente. Que se foda a sociedade, que se foda os bons costumes, que se foda o que os outros pensavam sobre si.
——— Me leve para a Zona Boêmia!
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