Reflexões
Finalmente, eu acabei meu trabalho, ando tão cansada que poderia comer umas seis tigelas de tempurá e duas de kakesoba, fora todos os mochis e chás.
Depois de me reportar ao senhor Ubuyashiki e entregar o relatório da missão, fui para a casa da mestra, no meio do caminho encontrei com meu mestre sorridente carregando um pequeno embrulho em mãos.
-- SN! -- Encarei meu mestre indo até ele.
-- Está voltando da missão? -- Questionei curiosa pelo embrulho.
-- Não! Eu estou levando um doce para aquela usuária da respiração da natureza, ela meio que desmaiou e terá de sair comigo em missão. Ele parecia um pouco desconfortável.
-- Mestre, você a fez treinar até a exaustão?!
-- O QUÊ? NÃO! Não foi por isso que ela desmaiou... Olha, você conversa com ela depois. -- Regoku ficou extremamente vermelho e apertei a bochecha dele de leve.
-- Mestre, o que foi que você fez?
-- EU? NADA! SN, VAMOS LOGO! -- É tão engraçado quando o mestre Regoku fica envergonhado e fofo também.
Seguimos em silêncio até a mansão borboleta.
-- Passará a noite aqui? -- ele questionou.
-- Ainda não sei. Talvez eu vá para casa.
-- E vai ficar bem sozinha? Eu devo voltar de madrugada, quer que eu durma com você? -- Meu mestre é sempre tão amável e eu gosto disso. Olhamos para o lado e só pude ver Uzui rindo alto.
-- São sempre tão extravagantes! -- O Hashira do Som se aproximou, bagunçando meus cabelos e cumprimentando Rengoku. -- Vamos Kyo antes que alguém tente te matar, por não entender direito.
Nem precisei pedir por explicações, sabemos exatamente que ele está se referindo a Sanemi. Segui para a sala da Kocho, onde ela me examinou pessoalmente. Desde que apareci aqui mancando, ela afirmou que eu sempre vou passar pelas mãos dela, então ficou repetitivo: após ir até Oyakata-sama, eu venho direto até ela.
-- E como foi o teste?
-- Magnífico! -- Sorri abertamente, lembrando de cada ato antes de mexer nas minhas vestes e tirar de lá um frasco. -- Trouxe itens de pesquisa. -- Coloquei todos os seis tubos na frente da minha mestra.
-- Isso são...
-- Sim, são partes dos oni em que apliquei o veneno. Ele reage com o sol, quanto mais próximo do nascer, mais forte é a petrificação, mas ao longo da noite eles ficam mais lentos e com a glicínia é uma bomba e tanto, mas retarda demais o processo de petrificação. -- Afirmei e Shinobu pegou o bloco de anotações.
-- Mestra, você acha que dá para utilizar isso em um lua? Ou até mesmo no rei deles?
-- Sn, você está sendo bem ambiciosa, mas não é impossível. Só precisamos dar um jeito nesse veneno e o deixar ainda mais forte. Por um tempo, deitei minha cabeça na mesa pensando a respeito do que poderíamos fazer e algo me ocorreu.
-- Mestra! Eu vou voltar naquele vilarejo e conversar com aquela senhora! -- A hashira me encarou confusa.
-- Ela tinha muitas plantas na tenda, mas a flor da noite foi a que me chamou atenção. E se ela tiver mais venenos? Poderemos produzir inúmeros soros e eu vou poder testar tudinho! -- Eu queria estar pulando de alegria, acho que vou começar a estar esses venenos na minha própria pele depois que produzirmos os antídotos, é claro, assim serei capaz de ver com meus próprios olhos o que causa e eu estou tão curiosa, porém minha mestra não precisa saber disso.
-- Se contenha, Sn, você está salivando! -- Fiquei com vergonha, ok, que eu sou um pouco impulsiva para isso, mas não podem me culpar já que eu luto com o que me dão e tenho certeza que meus olhos brilharam, pois agora não vejo a hora de treinar e ficar mais forte para poder bater de frente com uma lua e fazer esse teste pessoalmente!
-- Agora que tal você ir comer e tomar um banho? Você está fedendo Sn! -- Senti minhas bochechas queimarem.
-- Mestra! Eu só consegui tomar um banho a cada quatro dias, nem todos os vilarejos tinham uma boa condição e a comida foi outra história. -- Sussurrei.
-- Eu aposto que você deu sua comida para alguma criança desnutrida. -- Eu cocei minha nuca, fiz exatamente isso.
-- Vou pedir a Aoi que prepare o seu favorito, agora vá se banhar! -- É muito amável da parte dela, mas dessa vez eu quero fazer isso sozinha.
-- Não mestra. Eu meio que vou tomar banho em casa, mas agradeço. -- Ela estranhou minha recusa, mas não disse nada. Às vezes nem eu sei o que tenho na minha cabeça, principalmente por detestar ficar sozinha. No fundo, a minha infância solitária moldou essa parte da minha mente, a qual não consigo deixar de lado.
Às vezes, a solidão pode ser um problema e eu estou feliz por nunca mais ter que provar disso involuntariamente.
[...]
Eu tinha terminado de tomar banho e arrumar a casa quando resolvi cozinhar e, em nome de Buda, eu cozinho muito mal, dá para matar um oni com essa comida! Parando para pensar... Sanemi é tão grosso e bruto, mas a comida dele é tão boa, aquele Hashira faz tudo tão bem.
Balancei minha cabeça, droga, eu tenho que parar de pensar nele agora. Voltei a terminar minha comida e mesmo que tenha ficado ruim, eu comi tudo, não vou desperdiçar!
E agora estou lidando com as consequências disso, pois tive uma dor de barriga dos infernos, passei horas no banheiro e, quando anoiteceu e eu estava bem, tomei outro banho, arrumei a bagunça da cozinha e resolvi comer fora.
Não quero passar a noite sentada na privada. Fui até o vilarejo próximo ao qual estou acostumada a comer com meus mestres e, depois de comer, comprei alguns manjus e mochis e decidi que iria até a casa de Sanemi. Ele mesmo disse para eu ficar à vontade e, mesmo que eu não queira admitir, estou com saudades.
[...]
A casa do Hashira estava tão intacta desde que passei a noite, deixei tudo limpo e arrumado e agora estou aqui encarando o futton como se fosse a coisa mais suspeita do Japão.
Dei alguns tapinhas no meu rosto, tirando esse pensamento ridículo da minha mente. Eu não posso imaginá-lo daquele jeito toda vez que olho para essa cama! Segui até a cozinha e deixei os doces em cima da mesa de madeira, ainda tapados, ouvi barulho de bicadas e abri a janela.
-- CROC! SN SHINAZUGAWA É DIFÍCIL DE ENCONTRAR! -- Revirei os olhos, Kugumi cismou em me chamar assim.
-- Kugumi! Para de gracinha! -- Mexi no meu bolso e tirei de lá uma carninha para ele, que comeu me agradecendo.
-- Você descobriu o porquê do mestre estar todo envergonhado com a Sayu? -- Questionei o meu corvo, eu sei que ele é um fofoqueiro de marca maior e cansei de lutar contra isso, então vou aproveitar para obter boas informações.
-- CROC! A TSUGUKO DA PILAR DA NATUREZA ACABOU VENDO O PILAR DAS CHAMAS EM UMA SITUAÇÃO EMBRARAÇOSA E CHEGOU A POR SANGUE PELO NARIZ ANTES DE DESMAIAR! CROC!
-- Mentira?! Ela viu ele pelado, é isso?
-- CROC! NÃO SEI, O CORVO DO KYOJURO ME BICOU E NÃO QUIS FALAR! -- Kugumi esfregou o rosto no meu colo e fiz um carinho na cabeça dele, lhe dando mais carne.
-- Tudo bem, querido, depois eu vou dar um esporro nele, a única que pode brigar com você desse jeito sou eu!
--CROC! SN MELHOR HASHIRA!
Gargalhei um pouco e me lembrei de algo de que preciso urgentemente.
-- Kugumi se lembra do festival das flores? -- Ele assentiu. -- Eu quero que você vá até lá e observe a senhora da barraca de flores.
-- AQUELA QUE O SANEMI QUASE AMEAÇOU? CROC!
-- Isso mesmo e... Espera aí, eu não lembro de ter te contado sobre isso? -- Rapidamente, meu corvo bateu as asas, indo para a janela, esse cretino!
-- Eu quero saber sobre os venenos que ela tem! -- Depois de assentir, meu corvo foi embora e respirei fundo, retornando para o quarto de Sanemi, de onde tirei minhas vestes básicas e fiquei apenas com um kimono simples para dormir, pois foi o que coube na bolsa já que eu estava pensando na comida.
Eu confesso que deitar aqui e pegar no sono está sendo a pior das tarefas, a minha mente vaga pelo meu passado e por todas as vezes que me machuquei cumprindo a minha função como caçadora, depois para no olhar daquela Oni estranha que mandou uma divisão inteira para a mansão borboleta com partes quebradas, além de ter me dado a dica da flor, por fim sou arrastada para minha última missão onde aquele moleque parecia estar transformado, admito que não foi muito legal da minha parte me tratar tão mal e, por último, mas não menos importante, a vida que eu tenho levado como um todo até agora. Meus amigos que também são meus mestres, as confusões divertidas em que me meti e a minha atual situação amorosa.
É, Sn, é melhor você dormir, sua mente nesse momento está cheia demais para pensar. A contra gosto, continuei forçando até que finalmente peguei no sono.
[...]
Por Sanemi,
A missão demorou mais do que o esperado, buscar por informações precisas sobre o líder desgraçado dos onis e nos deparar com uma espécie de mercado e um lua inferior com o kanji de um, não durou mais do que meia hora, vivo, tanto eu como Gyomei não tínhamos tempo para isso e pudemos sincronizar nossas respirações pela primeira vez. Depois de tanto trabalho, fomos até Oyakata, passamos bem mais do que um mês fora, após o relatório, fomos dispensados e, assim como Himejima, resolvi ir direto para casa.
A única diferença é que Gyomei, assim como os outros, tem alguém os esperando e eu... afastei o único parente que tenho vivo para protegê-lo desse futuro de merda, respirei pesado, pois essa foi a minha escolha.
Segui meu caminho calmamente, passei naquele vilarejo onde Sn costuma comer com os mestres dela e comprei algo, não estou a fim de cozinhar e, por falar nela, espero que não tenha aprontado, às vezes Sn perde a noção das coisas.
Quando cheguei na minha casa, encontrei tudo arrumado, imagino que Sn tenha arrumado depois da noite que tivemos, segui até a cozinha e coloquei o embrulho sobre a mesa apenas para ver que havia outro, destapei calmamente notando que se tratava de doces...
Será que ela está aqui? Não, deve ter esquecido a comida. Tirei meu haori idêntico ao primeiro que dei a ela, depois os sapatos e meias e segui para o meu quarto, abri a porta calmamente apenas para ter a visão mais inusitada à qual jamais imaginei.
Sn estava dormindo calmamente no meu travesseiro, os fios esparramados pelo local, parecia tão serena que não consegui deixar de admirá-la por um momento. Antes de seguir até a cômoda e pegar um traje confortável, fui para o quarto de banho e, após minhas higienes, retornei, me deitando atrás dela e me acomodando da melhor forma possível, puxando o quadril dela. Essa pirralha é espaçosa para um caralho, ela não demorou a se virar e enfiar a cara no meu peito, além de pôr a perna sobre o meu quadril.
Assim como daquela vez na missão.
Não consegui deixar de sorrir ao recordar daquela confusão pela manhã, puxei o cobertor e me ajeitei melhor, peguei no sono tão rápido que até duvidei, devo estar extremamente cansado para dormir assim e só quero ver a reação de Sn quando acordar amanhã.
O saneamento básico no Japão surgiu por volta de 1590, na época que se passa a fanfic já havia vasos sanitários(eu só não lembro o modelo), mas só em casas abastadas e os hashiras são ricos.
Olha o spoiler: Tá chegando a hora do Sanemi elevar uma cabeçada...😏
Por enquanto fiquem com o nome do próximo capítulo: Reencontro.
Até breve ;*
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top