- 𝗘𝗣𝗜́𝗟𝗢𝗚𝗢 -
Tudo começou com aquele sorriso.
ㅡ Você está bem? Eu te machuquei? ㅡ eu tive a impressão de que sua voz, tão gentil quanto o sorriso que me oferecia, tivesse ecoado em meu peito, aquecendo meu âmago.
E permanecido ali.
ㅡ Não… Não se preocupe ㅡ respondi, baixo, capturando pela primeira vez a magnitude cinzenta daqueles olhos vibrantes, expressando tanta simpatia para alguém sem valor como eu.
Eu me levantei sem conseguir desviar o olhar, limpando os resquícios de sujeira que se instalaram em minha calça jeans quando caí. A garota se abaixou, me ajudando a pegar as coisas que deixei cair mesmo sendo eu o único culpado a me esbarrar nela.
Emancipado da família e recentemente demitido do trabalho, eu já não tinha mais esperanças na vida medíocre que desenrolei. Meus pais concordavam comigo nesse quesito, nunca acreditaram no meu potencial. Eu devia ter desistido antes, quando me disseram que não conseguiria, ao menos me pouparia a dor de cabeça de uma amarga decepção.
Tudo já estava acabado para mim. Talvez nem tivesse começado, pra começo de conversa.
Naquele momento, no entanto, senti que algo nasceu dentro de mim, na mais profunda de minha essência.
Uma ambição; uma obsessão.
Um gatilho que me fez olhar para trás, no momento em que ela foi embora, levando consigo toda a luz que a escuridão à minha volta tentava extinguir, e que pela primeira vez me fez enxergar algum sentido para a minha existência, um rumo ao meu caminho sem saída.
Então, eu comecei a segui-la.
ㅡ Mais um drink, senhor? ㅡ um garçom pergunta ao passar por mim, dispondo uma bandeja repleta de taças contendo bebidas alcoólicas da mais alta qualidade, em um evento beneficente que a família Shimizu faria, meses depois.
Rejeito educadamente, logo voltando com o foco para a multidão dançante, mais especificamente, Kiyoko Shimizu, o próprio sol da noite em que vários pequenos insignificantes orbitavam ao seu redor a todo momento.
Meu coração gritava com urgência, um pedido de aproximação. Eu estava procurando por uma oportunidade para expressar meus sentimentos desde que a festa teve início, agora quase tão insuportáveis que mal conseguia respirar normalmente.
Eu precisava dela assim como precisava de oxigênio para sobreviver.
Eu já estava ficando sem ar.
A melodia requintada de um piano se mesclava à tensão de uma pequena comoção de alguns minutos atrás, causada por Tsukishima Kei e Kageyama Tobio que, por serem pessoas próximas à Kiyoko, eu não pude deixar de prestar atenção.
Este, agora, era o principal assunto das conversas mais isoladas, todos conseguiam notar, afinal, nada como pequenas intrigas de gente influente que não pudesse se transformar em uma atração principal. Até porque os ricos são pessoas bem entediadas.
Certo momento, Kiyoko fez menção de se afastar, através de uma linguagem corporal discreta que eu aprendi a interpretar. Aguardo alguns segundos antes de acompanhá-la por entre algumas pessoas até um corredor vazio, mantendo sempre uma distância segura, já que olhares curiosos estavam sempre sobre ela.
Cruzando o corredor, a porta do escritório do senhor Shimizu se abre e, por ela, Kiyoko entra rapidamente, como quem quisesse fugir de alguma coisa.
Me segurei por mais alguns instantes, com vontade de segui-la adentro, mas, fui interrompido após ver a imagem de seu "melhor amigo" passando até o ambiente.
Outra vez alguém se colocando entre nós. Eu não suportaria assistir por muito mais tempo.
Um longo tempo se passou até que Oikawa saísse do escritório, como uma tempestade, seu humor com certeza arrastaria qualquer um que estivesse à sua frente. Logo depois, Kiyoko saiu, trazendo a calmaria para meus olhos.
Porém, sua expressão assustada não concordava com isso. Ela procurava por alguém, ansiosamente.
Eu estou aqui, meu amor.
Meus sonhos foram afastados ao ver quem ela realmente almejava. Desgosto estampado em meu rosto.
Tsukishima se aproximava e assim mais uma de suas incontáveis discussões dava início. Mais um show para a grande noite.
Meus olhos percorriam cada centímetro de seu rosto, analisando toda emoção que surgisse. Eu a conhecia, eu a entendia. Kiyoko estava infeliz.
E estaria enquanto continuasse com alguém que não fosse eu.
Novamente ela fez seu caminho até o escritório, querendo encontrar algum tipo de paz nessa noite cheia de caos. E, eu daria isso a ela.
Eu a sigo, discretamente, como faria por toda a minha vida.
Antes que ela fechasse a porta completamente, eu me apresso a entrar, encostando-a antes de me deparar com a figura de Kiyoko debruçada sobre a escrivaninha executiva. Cansada, posso ver. Eu me aproximo lentamente, enfatizando o silêncio que ela merecia naquele momento onde deveria estar evitando o barulho estressante da festa.
Viu? Eu penso sempre no seu bem, amor.
Agora, apenas alguns centímetros nos afastam e eu não me contenho em diminuir mais alguns, sentindo a fragrância refrescantemente amadeirada de seus cabelos e o perfume sofisticado do Chanel N° 5 que geralmente usava.
ㅡ Kiyoko Shimizu… ㅡ sussurrei, o sabor de seu nome saindo pelos meus lábios fazendo meu peito formigar, ali eu mergulhei em um sonho distante em que não queria acordar.
Se eu morresse agora, morreria feliz.
ㅡ Com licença?! ㅡ ela de repente se afasta, indo até a porta e me empurrando para a mesa no processo. ㅡ Esse lugar está fora dos limites dos convidados!
ㅡ Desculpe, eu… precisava falar com você a sós ㅡ falei, implorando mentalmente para que não fosse embora.
ㅡ Olha, se for sobre algum contrato ou seja lá o que meu pai disse…
ㅡ Não é! ㅡ ela para, me olhando com receio. ㅡ Eu precisava falar sobre os sentimentos que guardei por você durante todos esses meses, sei que sente o mesmo, ninguém nunca sorriu para mim daquele jeito antes!
Meu peito ficava mais leve conforme eu botava tudo para fora.
Mas ainda não parecia o suficiente.
ㅡ O que? Eu nem te conheço, e ainda chega nas pessoas assim… Você é louco ㅡ Kiyoko dá alguns passos para trás, se afastando ainda mais.
Louco? Louco? Não… Como poderia, quando tudo isso é tão real? Está falando isso porque o namorado está por perto? Mesmo que.. Mesmo que o que sentimos um pelo outro seja tão forte?
ㅡ Você não está falando sério… Não está… ㅡ um murmúrio que não está tentando chegar nela, mas sim, me fazer acreditar.
Um vaso da escrivaninha é derrubado quando eu me esbarro no móvel, quebrando em vários pedacinhos pelo chão. Os cacos fazem um barulho crocante sob os meus pés enquanto caminho na direção de Shimizu, parecendo tão assustada naquele momento.
ㅡ E-Eu não sei que tipo de brincadeira é essa, mas você está me assustando ㅡ ela abre a porta do escritório, porém eu corro para fechá-la tão cedo quanto a música lá de fora aumenta por um instante através da brecha.
Poderia perdê-la se a deixasse ir, um pânico descomunal me envolve ao pensar nisso.
ㅡ Nada disso foi brincadeira, meus sentimentos não são brincadeira, e tudo o que já aconteceu entre nós também não foi brincadeira. Você deve estar fazendo isso de propósito. Quer se fazer de difícil agora?
As mãos de Kiyoko se fecham em punho, ela tenta me empurrar para longe, porém não consegue. Eu não desistiria dela tão fácil.
ㅡ Socorro! ㅡ ela grita o mais alto que seus pulmões permitem, consigo até sentir a sua garganta doer como se fosse a minha. ㅡ Socorro!!
Ninguém, lá fora, poderia escutar com o isolamento acústico do escritório. Nunca fora tão conveniente quanto agora, para mim.
ㅡ Você é minha, Kiyoko Shimizu… Você é minha, minha, minha, minha… ㅡ as palavras saem de minha boca repetidamente, é a única coisa que faz sentido na minha cabeça.
Minhas mãos, antes em cada lado da cabeça de Kiyoko, agora sentem um pulso cardíaco acelerado nas artérias do pescoço da mesma; e estão apertando cada vez mais forte, ao ponto dela não conseguir mais formular palavras com a escassez de oxigênio, apenas barulhos angustiantes que para mim soavam tão atrativos.
Em algum momento, eu já não consigo sentir mais nada em minhas mãos.
E logo, um corpo sem vida cai no chão.
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