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CAPÍTULO QUINZE:
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Rastro.

O aroma dos bolinhos caseiros da Emily preenchia a cozinha, mas eu não estava sentindo o mínimo apatite. Era a rotina, os garotos e eu sempre nos reuníamos aqui antes das rondas, e hoje não seria diferente.

Suspirei, encarando o prato que ela gentilmente colocou à minha frente. Não era a comida, cheiro acolhedor da casa, e muito menos as risadas e brincadeiras dos garotos, que me incomodava. Era algo maior, algo mais profundo ─ uma mistura sentimentos que nem mesmo eu sabia como decifrar por completo.

A noite já estava caindo, e logo iniciaríamos a ronda. Diferente de outras vezes, não iríamos nos dividir em duplas. A matilha inteira estaria transformada, caçando juntos, como um só. O alvo era a vampira ruiva, que parecia brincar com nossas tentativas de capturá-la. Hoje, isso terminaria. Pelo menos era o que eu queria acreditar.

Um passo em falso dela, e o problema seria resolvido de uma vez por todas. No entanto, eu sabia que não era apenas isso que me incomodava, mas me recuso a pensar demais sobre isso.

Um movimento na mesa interrompeu meus pensamentos. Olhei para cima e vi a mão de Paul se estendendo, sem qualquer cerimônia, em direção ao meu prato. Encarei Paul, que me olhava com aquele sorriso cínico de sempre. Ele sempre tinha um jeito de brincar quando eu estava quieta, como se me provocasse só por esporte.

─ Pode comer, Lahote. ─ Murmurei, empurrando o prato em sua direção, sem muita animação.

O sorriso de Paul vacilou, e ele me encarou como se eu tivesse sido substituída por um alienígena. Ele estava claramente esperando que eu ameaçasse arrancar seus dedos ─ o que, na maioria das vezes, seria o mínimo que ele poderia esperar de mim. Mas hoje, eu simplesmente não tinha energia para isso.

Paul arqueou uma sobrancelha, surpreso com a facilidade com que eu cedi. Ele hesitou por um segundo antes de pegar o bolinho, me observando com um misto de confusão e preocupação.

─ Você está bem? ─ Ele perguntou, genuinamente preocupado.

Dei de ombros. A última coisa que queria era ter que falar sobre o que realmente se passava na minha cabeça.

─ Isso é pelo... ─ Paul começou, mas eu o cortei antes que ele falasse besteira.

─ Só estou pensando em hoje em a noite. ─ Resmunguei, tentando desviar o foco da conversa.

Não queria, de jeito nenhum, que aquela conversa surgisse ali, naquele momento. Já era ruim o bastante ter meus pensamentos abertos para a matilha quando estávamos em nossa forma de lobo, compartilhando até as mais íntimas emoções. A última coisa que eu queria era que eles, ou qualquer um, falassem sobre aquilo.

Meu imprinting com Edward. Um vampiro. Como se não fosse o suficiente eu ser a primeira mulher a se transformar na matilha, agora era também a primeira a sentir o imprinting por alguém que diziam ser nosso inimigo natural. E para piorar, ainda havia toda a situação com Jacob.

Paul balançou a cabeça, um sorriso zombeteiro voltando ao seu rosto. Mas ainda conseguia ver o brilho de preocupação em seus olhos.

─ Mais um motivo para estar animada. Vai ser uma boa briga! Come alguma coisa, você vai precisar de energia. ─ Ele insistiu com um sorriso, antes de dar uma mordida no bolinho que eu havia empurrado para ele.

Ele tentou animar o clima, e os outros garotos, ouvindo a conversa, logo se juntaram a ele, brincando entre si sobre quem acabaria com a vampira primeiro. Risadas e piadas começaram a encher o cômodo, e por um momento, a leveza que eu não sentia se espalhou entre eles. Tentei entrar no clima. Dei uma mordida em um bolinho, forcei um sorriso para Paul, mas minha mente continuava dispersa.

Mas, ao contrário de Paul e dos outros garotos, Sam manteve o rosto sério. Ele sabia que aquele assunto era sério demais para ser levado na brincadeira.

─ Isso não é brincadeira. ─ O Uley disse, sério. Sua voz era firme, digna de um alfa. ─ Aquela vampira é esperta, e já escapou várias vezes. Precisamos estar focados hoje.

Assenti, concordando com nosso alfa. A cada aparição da vampira, ela parecia se tornar mais ousada, como se estivesse nos provocando, testando nossa paciência.

Paul, no entanto, continuou com suas tentativas de me animar, soltando piadas sobre a caçada e sobre a comida. Tentei sorrir, mas não conseguia. Peguei outro bolinho, dei uma mordida, mas mal consegui engolir. Minha mente estava a quilômetros de distância, em algo que eu preferia esquecer, mas infelizmente não conseguia.

Não demorou muito para que Jacob aparecesse. Assim que entrou na cozinha, seus olhos pararam em mim por alguns segundos. Felizmente, ele desviou o olhar e não disse nada. Talvez ele estivesse, finalmente, entendendo e aceitando a distância que eu havia imposto entre nós.

Ele passou por mim indo se sentar junto aos outros, e a conversa voltou a fluir, descontraída, como se ele nunca tivesse estado ausente. Todos estavam "satisfeitos" ─ embora eu duvidasse que fosse possível saciar o apetite voraz desses garotos por muito tempo ─ e Sam aproveitou o momento para nos explicar o plano.

─ Certo, vamos ao plano ─ Começou Sam, com a voz firme. Ele se inclinou sobre a mesa, traçando mentalmente o percurso que faríamos. ─ Eu e Paul ficaremos à retaguarda. O resto de vocês, cerquem o território a partir do leste. Jacob e você ─ Ele me encarou ─, vocês dois são os mais rápidos. Se encontrarem o rastro dela, tomem a dianteira. Vamos cercá-la. Depois que vocês a pararem, nós acabaremos com ela juntos.

Meu olhar encontrou o de Jacob por um instante, mas nenhum de nós disse uma palavra. Sabíamos o que precisávamos fazer. Deixar de lado tudo o que se passava entre nós e focar no que importava agora.

. . .

Quando finalmente chegou a hora, eu respirei fundo, espantando toda e qualquer distração ou assunto que não envolvesse Victoria.

Minha respiração saía em baforadas rápidas, o ar fresco da noite preenchendo meus pulmões. Ao meu lado, o lobo de Jacob corria, seus olhos focados no caminho à frente. Nossos pensamentos se misturavam, incrivelmente focados no mesmo propósito.

A floresta se tornava mais densa à medida que Jacob e eu avançávamos, seguindo o rastro quase imperceptível que havíamos captado minutos atrás. Meus sentidos estavam em alerta máximo, cada som, cada movimento ao redor era uma possível ameaça. O cheiro de Victoria estava fraco, mas nítido o suficiente para guiar nossos instintos. Jacob, em sua forma lupina ao meu lado, bufava, o hálito quente se misturando com o ar frio da noite. Estávamos perto.

Finalmente, após minutos que pareciam horas, avistamos sua silhueta ágil dançando entre as árvores. Victoria. Seu cabelo flamejante era um borrão no ar noturno. Mas logo percebi que não estávamos mais sozinhos nessa caçada. Do outro lado do rio, os Cullen também haviam tomado parte na perseguição. Eles estavam em seu território, respeitando os limites do tratado, mas, assim como nós, estavam caçando Victoria.

"Ela está no nosso território!" Jacob rosnou mentalmente, mas antes que qualquer um de nós pudesse reagir, Victoria se lançava de volta para o lado dos Cullen, em uma provocação descarada.

Ela parecia estar se divertindo. Transitava de um lado para o outro da fronteira, quase como uma criança brincando de esconde-esconde. Seu sorriso cínico era uma provocação clara. Isso estava virando um jogo para ela um jogo em que nós éramos as peças que ela manipulava ao seu bel-prazer.

Eu podia ouvir os pensamentos homicidas de Paul, e dos outros entrelaçando-se aos meus. Estávamos todos prontos para o ataque, mas ela continuava nos escapando como água entre os dedos.

Meus instintos tomaram o controle. Minhas patas se moveram com mais força, mais rapidez, e antes que eu percebesse, havia ultrapassado Jacob. Ele olhou de relance para mim, surpreso, mas não disse nada. Sabia que eu estava sendo guiada pelo mesmo impulso que ele. Victoria estava perto demais. Não podíamos perder essa chance.

Do outro lado do rio, Emmett, o gigante entre os Cullen, parecia igualmente determinado, seguindo Victoria de perto, mas respeitando a linha do tratado. Seu corpo grande e musculoso movia-se com a graça impossível de um predador. Quando Victoria atravessou de volta para nosso lado, Emmett cometeu um erro.

Tudo mudou quando ela, com um movimento ágil, passou novamente para o nosso lado. E, num ato impensado, Emmett fez menção de segui-la.

Paul reagiu.

Num piscar de olhos, o lobo prateado saltou, rugindo de fúria. A colisão foi brutal. Emmett, pego de surpresa, caiu para trás, mas sua força rapidamente o fez se recompor. A caçada parou. Os Cullen e a matilha se encaravam, congelados em um misto de raiva e indecisão.

Eu, no entanto, não parei.

Enquanto todos hesitavam, meus instintos tomaram o controle. Minhas patas não diminuíram o ritmo. Victoria virou o rosto, seu sorriso arrogante desaparecendo ao perceber a curta distância entre nós. Agora, ela estava vulnerável. Eu estava prestes a alcançá-la.

"Não ataque sozinha!" A voz de Sam ecoou em minha mente.

Mas já era tarde.

Meus músculos se contraíram enquanto eu saltava, o ar parecia estagnar ao meu redor. Victoria girou, rápida demais para que eu pudesse ver claramente seus movimentos, mas eu estava sobre ela antes que pudesse reagir completamente. Nossas formas colidiram com força, e nós duas rolamos pelo chão, minha mandíbula tentando se fechar ao redor de qualquer pedaço de sua pele fria e imortal.

Mas Victoria era rápida, mais rápida do que eu esperava. Antes que pudesse reagir, senti uma dor aguda na lateral do meu corpo.

Fui lançada pelo ar, o impacto contra as árvores foi violento. O impacto me arrancou o fôlego, minhas costelas explodindo de dor. Atravessei duas, três árvores, que se partiram ao meio sob o impacto do meu corpo, até que finalmente parei, encolhida no chão. O mundo girava ao meu redor.

A dor pulsava em cada fibra do meu corpo, e por um momento, tudo o que consegui fazer foi gemer. Quando finalmente consegui abrir os olhos novamente, sentindo as costelas quebradas protestarem a cada movimento, percebi que ela já não estava mais lá. Ela havia desaparecido na escuridão.

"Vampira maldita..." O rosnado que escapou de mim foi uma mistura de dor e raiva.

Na mente da matilha, o alarme soou como um trovão. Sam estava gritando ordens, os outros se dispensavam, tentando pegar seu rastro novamente, mas tudo parecia confuso, desconexo. Estávamos todos fora de ritmo, desorganizados por aquela breve distração.

"Você está bem?" A voz de Jacob soou em minha mente, carregada de preocupação, enquanto ele corria em minha direção. Eu sabia que ele estava próximo, sentia o calor familiar da conexão entre nós, mas não conseguia responder de imediato. Tudo o que eu consegui fazer foi forçar meus músculos a se moverem, a me levantar novamente.

"Ela escapou." Resmunguei. Minha mente cheia de frustração, dor e raiva.

Jacob chegou ao meu lado, suas patas arranhando o chão enquanto se aproximava, os olhos castanhos fixos em mim. "Você não deveria ter ido sozinha." Disse ele, sua voz agora soou baixa, quase um murmúrio, mas não havia censura alí. Só preocupação.

"Eu sei." Respondi, minha voz soando mais baixo do que gostaria. O gosto amargo da derrota estava preso na minha garganta.

Levantei-me com dificuldade, meu corpo protestando a cada movimento. Eu podia sentir as costelas doloridas, talvez quebradas, e o latejar constante em todo o lado onde Victoria havia me atingido. Mas a pior dor era interna, a dor da falha. A sensação de que, apesar de toda a nossa força, de toda a nossa determinação, ela ainda estava a frente de nós.

O corpo era o de menos, eu sabia que me curaria em pouco tempo.

"Vamos pegá-la." Jacob disse, certamente pescando meus pensamentos. Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, vi a mesma fúria e frustração que queimava dentro de mim.

Sam falou novamente, chamando toda a matilha de volta. Jacob voltou a sua forma humana e eu também, precisava de ajuda para voltar para casa e ter tempo de me curar.

─ Não ouse se aproveitar. ─ Apontei, tentando não gemer com a dor, quando ele me pegou cuidadosamente no colo, com um sorrisinho irritante nos lábios.

Ele balançou a cabeça, tentando ficar sério, mas falhando miseravelmente.

─ Eu não faria isso. ─ Ele murmurou cinicamente.

Rolei os olhos.

─ Anda logo, Black! ─ Dei um tapa em seu ombro, tentando ignorar o fato de não estarmos usando roupas. Não era nada que não tenhamos visto antes de qualquer forma.

Sem revisão.
Relevem os erros ortográficos.

Oioi, amores!
Tô super ativa por aqui essa semana, né?

Eu, particularmente, gostei muito desse capítulo e espero que vocês gostem tanto quanto eu.

Xoxo, e até o próximo!😚👋🏼💖

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