CAPÍTULO SEIS.

Me diga uma coisa, garoto
Você não está cansado, tentando preencher esse vazio?
Ou você precisa de mais?
Não é difícil manter toda essa energia?

SHALLOW
Lady Gaga ft. Bradley Cooper

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O sorriso de Joan Swan era viciante.

Algo como mergulhar por muito tempo, ficar sem ar e, finalmente, encontrar a superfície. Foi instantâneo. Romântico, como todos sempre disseram. Um olhar, aquele puxão no peito e então o ar entrou em meus pulmões mortos como se eu estivesse apenas existindo desde então.

Era irônico. Hipócrita, no mínimo. Julguei tanto Edward por ter se apaixonado por uma humana, por ter se deixado levar pelo sentimento idiota e, então, ali estava eu. Encarando os olhos verdes de Joan, enquanto ela sorria para um convidado qualquer do casamento e encantava a todos com aquela personalidade envolvente e acolhedora. Tão diferente de mim. Tão melhor.

As gêmeas Swan eram muito parecidas, mas de alguma forma, uma forma única e apenas dela, Joan conseguia ser diferente. Como se Isabella Swan fosse o rascunho mal-feito e jogado fora, e Joana fosse a obra-prima. Esculpida à perfeição.

Controlo a vontade de apertar as mãos, sabendo que entre elas havia uma taça de vinho branco esquentando aos poucos, esperando pelo gole que não viria. Se eu colocasse a mínima força naquele gesto, o vidro se transformaria em pó sem esforço algum.

Eu conseguia ouvir a voz rouca e ritmada dela, mesmo estando do outro lado do salão improvisado feito no quintal de casa. Era uma conversa banal e pouco interessante, que eu normalmente ignoraria, mas que agora tinha minha total atenção.

Desde quando eu tinha me transformado naquela versão patética e, claramente, um pouco menos psicopata, do meu irmão mais velho?

— Pare de encarar, você está dando bandeira. — Sinto a mão de Emmett se posicionar no meu ombro, o tom jocoso de quem não tinha nenhuma preocupação em mente para que pudesse levar a vida com um pouco mais de sinceridade.

— É viciante. E completamente irritante. — Me sinto exasperada, e viro para meu irmão, para que ele consiga ver no meu rosto tudo o que estava passando na minha cabeça.

Emmett era meu porto seguro. Mesmo que no começo houvesse aquela expectativa de nos tornarmos companheiros, a irmandade falou mais alto e ele se tornou a melhor parte de mim. Salvá-lo do urso foi a melhor coisa que fiz, e a única talvez, em toda a minha existência patética e cheia de traumas. Muitas vezes, agradecia o fato de ele ser tão burro que havia enfretado um urso sozinho, de mãos vazias, esperando que talvez ganhasse.

A sorte foi que encontrei ele ainda vivo, e Carlisle conseguiu completar a transformação. Eu não conseguiria, mas corri o mais rápido que pude com ele nos meus braços, o sangue pungente manchando toda a minha roupa.

— A garota cantou Audioslave pra você, eu te entendo maninha. — Os dois tapinhas nas minhas costas foi de pura pena irônica. O olhei com a sobrancelha arqueada, odiando seu tom e prometendo uma surra nas entrelinhas do meu olhar. — O que foi? Eu também cairia nos encantos da Swan mais velha se ela tocasse violão e cantasse para mim. Ela tem uma página no google, você sabia? A banda dela, no caso. Eu não sabia que Isabella tinha uma irmã, e muito menos que era famosa.

— Eu sabia que ela tinha uma banda, mas não que fosse de tanto destaque. — Olho surpresa para ela, mas era de se imaginar. A família de Isabella era pobre, Charlie Swan se mantinha com o salário de policial, mas era apenas isso. E a mãe delas nem se fale. O marido jogador da segunda divisão mal conseguia um emprego fixo. E, mesmo assim, Joan foi capaz de dar um par de ouro branco para a irmã. — Como é o nome da banda?

— Ophidse ou algo assim. É dinamarquês, eu acho.

— Sim, é sim. — Reviro os olhos ao ouvir Edward se aproximando, sua voz baixa ecoando pelo salão enquanto ele atravessa os convidados, já que sua esposa aparentemente estava tendo uma dança com o pai. — Significa "excitar". Estou me sentindo vingado por você estar passando pela mesma coisa que eu, espero que saiba, Rosalie. — Ele diz, chegando ao nosso lado e parecendo extremamente confortável em sua postura zombeteira. — Você não pode me matar. O que Joana diria de você? Sou o cunhado dela.

Rosno, não gostando de ter meus pensamentos invadidos, mesmo que já tivesse se passado décadas de convívio com esse idiota intrometido.

— A garota não parece gostar muito de você, irmão. — Em diz, fingindo levar a taça aos lábios que, fechados, não absorvem o líquido. — Ela parece querer levar uma injeção na bunda do que ter de passar alguns minutos com você. Sabia que ele foi pedir a benção da Joan sobre o casamento, e ela simplesmente disse que não era problema dela? — Os olhos dourados me olham, cúmplices, e deixo uma risada escapar.

— Você é tão antiquado, Edward. Chega a ser no mínimo ridículo. — Reviro os olhos.

— Ela não disse que não era problema dela, mas sim que quem tinha que me aceitar era Bella, não ela. Emmett está distorcendo a conversa, para variar.

Volto meu olhar para Joan, procurando-a e finalmente a encontro, tentando uma dança desengonçada com Isabella e falhando miseravelmente. Seguro o riso, vendo que ali estava a primeira coisa que vi de parecido nas duas. Aparentemente, tinham dois pés esquerdos e o mesmo talento nulo para dançar.

Me afasto aos poucos dos dois patetas que eu chamava de irmãos, tomando o caminho para os fundos da casa. A balbúrdia da festa ainda estava irritante, mas pior do que isso estava meus sentimentos. Mesmo durante minha vida humana, nunca senti tal sentimento e isso me assustava. Eu não sabia lidar bem com pessoas no geral, ainda mais humanos. Uma humana, no fim de tudo, parecia ser a jogada mais irônica e sacana do destino.

Puxo o ar, sentindo ele rodopiar entre meus pulmões mortos e sair de onde veio, mais gelado do que quando entrara. Morta, gelada. Assim eu era. Parada no tempo como uma maldita estátua, que não conseguiria mudar. Que não teria linhagens, legado.

Ouço o barulho de um galho quebrar e o perfume dela é a primeira coisa que sinto, assim como o calor de sua pele se aproximando e seu coração que batia tão devagar que parecia que ela sabia como controlá-lo. E então ela parou, alguns metros de distância e fingiu observar tudo ao redor. Eu podia ouvir seus movimentos, o tecido caro do terno roçando enquanto ela levava as mãos até os bolsos e a camisa se movimentando.

Deus. Cada ruído fazia meu corpo querer entrar em combustão. Muito foi falado sobre o amor vampiro. Almas gêmeas, companheiras. Um único olhar e tudo poderia mudar, suas almas, se é que tínhamos uma, estariam entrelaçadas pelo resto da eternidade.

— Você consegue estar mais bonita do que a lua. — A voz rouca preenche o silêncio, sobressaindo entre os sons da floresta. Me viro, vendo os olhos verdes me olharem com tanta atenção que me senti Mona Lisa, assim que da Vinci terminou a pintura e a olhou com admiração. Os lábios rosados se abrem, deixando os dentes um pouco maiores da frente a mostra em um sorriso tão bonito que, em minha cabeça, neguei tudo o que ela disse.

Joan Swan estava mais bonita do que a lua.

— Deveria estar comemorando junto de sua irmã. — Foi o que eu disse, ao contrário do que pensei. Minha voz saiu baixa, assim como a dela, não querendo interromper aquela energia boa que estava ali.

— E você junto do seu irmão. Mas estamos aqui. — Ela suspira, os olhos se fechando por um instante e então sorri novamente, em um tom zombeteiro.

— O que foi? — Dei um passo em sua direção, curiosa, querendo ter a maldita habilidade de Edward para poder saber o que ela estava pensando. — Do que está rindo?

Joan morde o lábio inferior, levantando os ombros em um gesto tão banal que me irrita, enquanto apoia todo seu peso no pé direito.

— Quer dançar comigo?

Tombei a cabeça para o lado, ouvindo a melodia da música que tocava. Para mim, estava nítido, mas me surpreendia o fato de Joan conseguir estar ouvindo. Estávamos longe o suficiente da área da festa para a música se tornar apenas um zumbido.

Ela me estendeu a mão e quando a aceitei e juntamos as nossas, foi como se uma corrente elétrica piegas passasse por nós. Seus dedos quentes se cruzam com os meus e, em um puxão leve, deixo que me leve para perto dela.

Sua mão livre se encaixa na base da minha coluna e levo a minha para seu ombro, balançando desajeitadamente de um lado para o outro sem de fato sair do lugar. E, então, para minha surpresa, Joan começa a cantar.

Your love is my turning page
Where only the sweetest words remain
Every kiss is a cursive line
Every touch is a redefining phrase

(Seu amor é minha página virada
Onde apenas as palavras mais doces permanecem
Cada beijo é uma linha cursiva
Cada toque é uma frase redefinida)

Sua voz é suave, rouca e melódica, como se anjos cantassem no meu ouvido e me sinto em paz. Pela primeira vez, tudo o que me toma é um sentimento bom que parece fazer todo o meu corpo formigar. Respiro fundo, como se precisasse de ar, minha mente parecendo estar entre nuvens e sinto o toque dela. Sinto o toque dela como brasa, aquecendo meu corpo frio.

I surrender who I've been for who you are
For nothing makes me stronger than your fragile heart
If I had only felt how it feels to be yours
Well, I would have known what I've been living for all along
What I've been living for

(Eu me rendo para quem você é
Nada me faz mais forte do que seu coração frágil
Se eu apenas tivesse sentido como é ser seu
Bem, eu teria sabido para que eu tenho vivido por todo esse tempo
Para que eu tenho vivido)

Joan se aproxima, os lábios mais perto do meu pescoço enquanto a música ainda sai pela sua boca, encantando todo o meu ser. Sinto o hálito quente em minha pele dura, os lábios macios centímetros de enfim me tocar.

Em um gesto involuntário, escorrego minha mão do seu ombro para o pescoço, junto da outra que larga sua mão e a seguro na minha frente. Joan e eu tínhamos a mesma altura, mas me senti pequena naquele momento. A grandeza do sentimento que ela usava para cantar.

Quando enfim ela parou, deixando um ar de que a música ainda tinha mais para continuar, levanto o rosto, olhando fundo para seus olhos.

— Que música é essa? — Sussurro, tentando entender como uma humana podia me deixar daquele jeito. O sorriso que ela dá me faz bambear e sentir todo o meu corpo tremer.

— Eu escrevi para você.

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