CAPÍTULO OITO.

Eu realmente preciso de você hoje à noite
A eternidade vai começar essa noite

A eternidade vai começar essa noite


TOTAL ECLIPSE OF THE HEART
Bonnie Tyler


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Era noite. Eu parecia saber disso antes mesmo de abrir os olhos. Podia ouvir o barulho das corujas ao redor, a movimentação no andar de baixo. A movimentação ao meu lado. Podia até ouvir o ar entrando nos meus pulmões e saindo, como se eu não precisasse retê-lo dentro de mim. Estranhamente, aquele som estridente e nervoso do meu coração batendo tinha se acabado. Aquela escola de samba batendo em meu peito tinha chegado ao fim junto com o incêndio que havia no meu corpo. E agora, só havia restado isso.

Eu não sabia o que isto realmente era. Mas parecia diferente, como se meus pensamentos fossem mais rápidos e meus sentidos foram aguçados. Um passo ao meu lado chamou minha atenção, e antes que eu pudesse pensar direito na seguinte ação, meus olhos se abriram para aquele mundo... em alta qualidade. Parecia que eu estava vendo com a lente de uma câmera profissional – além disso, talvez. Podia enxergar uma gota de água escorrendo longe na janela. Podia sentir o cheiro da chuva molhando a terra, dos animais e das flores. Podia ouvir o mínimo movimento nas folhas lá fora, o estalar de galhos. Podia sentir, ver e ouvir tudo.

Franzo as sobrancelhas e penso em me levantar. E novamente meu corpo age sem um segundo comando, tão rápido que mal posso processar. Em um momento estou deitada em uma... maca, e em outro em pé perto da janela, curiosa com meus novos sentidos.

Inspiro profundamente, e sinto meu corpo tremer inteiro com a fragrância que está por todo o quarto. Rosalie. O cheiro dela sempre me fez arrepiar, meu estômago dar um salto com as benditas borboletas imaginárias mas agora... agora era diferente. A cada respirada, seu perfume se entrelaça com a minha alma.

— Joan? — Sua voz baixa ecoa pelo quarto silencioso, e quase posso sentir sua tensão.

Me viro, tentando lembrar do que havia acontecido, mas as imagens são substituídas pela figura mais bela que já havia visto.

Suspiro, prendendo a respiração, e aquele ato não me sufoca.

Rosalie Hale parecia uma deusa.

— Deus... Como você consegue ficar ainda mais bonita? — Me surpreendo com minha própria voz, que sai quase sem comando quando a frase dança em minha mente.

Aquela voz era diferente. Mais aveludada, um pouco mais rouca talvez... Mas encantadora. Franzo as sobrancelhas, curiosa com isso, sabendo que o uso do cigarro fodeu com minha garganta ao ponto da minha voz não ser tão boa quanto já foi um dia.

Pisco duas, três, cinco vezes seguidas, me lembrando do que havia acontecido finalmente. Solem me enchendo o saco por telefone, eu dirigindo pela estrada de Forks durante a noite e então... eu sufocada com meu próprio sangue.

— O que... O que aconteceu? — Pergunto, confusa, com as imagens péssimas que minha mente conseguia lembrar. Era tudo borrado, coberto com uma névoa estranha. — Acidente? Bati o carro?

— Um caminhão bateu em você. Um desgraçado bêbado perdeu o controle e acertou a caminhonete. Atingiu o lado do motorista. — Rosalie deu um passo à frente, a mão levantada na minha direção. Confusa, sigo seu movimento, unindo nossas mãos, pronta para sentir o toque gelado, mas a única coisa que senti foi a maciez de sua pele junto a minha.

— Eu morri? — Sussurro, focada em observar sua mão na minha.

— Sim...

Fico em silêncio por um momento. Milhares de pensamentos passando por minha cabeça, indo e vindo como um vórtice, tentando procurar alguma resposta para o que estava acontecendo. Abro a boca diversas vezes, pronta para falar algo e depois desisto.

Suspiro outra vez, agora voltando a respirar e me toco que fiquei minutos sem algum ar entrar no meu pulmão.

— Sempre achei que iria para o inferno... Mas então um anjo veio me buscar. — Tento sorrir, mas vejo pelo reflexo nos olhos de Rosalie que a única coisa que sai é um repuxar estranho. Focada no reflexo, consigo ver meu rosto.

Todo o bronzeado que consegui na Califórnia foi para o ralo, já que eu estava mais pálida do que quando saí de Forks. E os olhos... A cor verde que herdei de Reneé sumiu, e em seu lugar havia um vermelho estranho e macabro.

— Isso não é o céu, não é? — Pergunto, tomando consciência dos movimentos lá embaixo. A risada baixa de Emmett. A voz suave de Esme.

Rosalie nega, seus cabelos loiros se mexendo ao redor de seu rosto.

— Alice previu seu acidente e eu corri o mais rápido que pude para te salvar. Mas não consegui... — Ela abaixa os olhos, puxando sua mão da minha. — Você já estava quase morrendo... Não sabia o que fazer... Não podia te perder, eu só... Joan, eu sinto muito...

Tombo a cabeça para o lado, antigos pensamentos que tive na outra vida vindo em minha mente. Como são todos iguais, mesmo não compartilhando o sangue. Tão pálidos. Cerro os olhos.

— O que vocês são? — Pauso por um instante, notando que agora eu era tão pálida quanto Rosalie e sua família. — O que eu sou?

— Os Quileutes nos chamam de Frios... Mas há outro nome mais comum..

— Vampiros. — A corto, lembrando das lendas que Billy deixava escapar quando eu ia junto com ele e Papai pescar. — Puta que pariu.

Mesmo aparentemente não precisando mais respirar, perco o fôlego. O ar sai de meus pulmões mortos e me sinto perdida. Vampiros. Que merda era essa? Tudo parece ainda pior quando sinto minha garganta queimar, como se fogo em brasa estivesse consumindo tudo.

— Que porra é essa, Rosalie? — Rosno, levando minhas mãos para onde mais doía, fechando-as em torno da minha garganta em uma atitude inútil para fazer a dor diminuir.

Você está com sede. — Rosalie diz sombriamente. — Precisa de sangue.

— Não vou fincar meus dentes em uma pessoa por aí! — Minha voz sai alta, e viro a cabeça quando sinto diversos cheiros vindo até mim. Fecho os olhos, me concentrando em tudo, e ao mesmo tempo não me concentrando em nada.

Quando dou por mim, meus pés descalços estão na terra molhada pela chuva e eu pareço um predador à procura de sua caça. Minha boca saliva e mesmo que eu tente conter aquele instinto idiota, não consigo.

— Joan! — Rosalie corre atrás de mim, numa velocidade tão assustadora que me surpreendo por conseguir acompanhar cada movimento de seu corpo gracioso. — Vamos para as montanhas. Você pode caçar alguns ursos por lá.

—Por favor, Rosa, não me deixa machucar ninguém. — Digo desesperada, uma voz estranha, misturada com um rosnado, tentando controlar meus movimentos.

Não vou deixar. Confie em mim.

[ n o t a s ]

demorei horrores? demorei.
peço perdão! minha vida está uma bagunça por aqui. tentando normalizar aos poucos.
amo vocês e peço paciência!

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