03. O bom filho à casa torna.



16 de Maio, 2006

Ashlyn McCarty nasceu em uma manhã ensolarada nos vales do Tennessee, em 1919, a mais nova de quatro irmãos, e a única filha mulher de um casal de fazendeiros de classe média. Emmett, o segundo mais velho, sempre foi o irmão favorito de Ash, aquele que nunca saiu de seu lado um só dia desde que ela veio ao mundo.

Eles se entendiam melhor do que aos restantes membros da família, sua parceria e cumplicidade transcendendo qualquer expectativa. Onde quer que Emmett estivesse, pode ter certeza que a pequena Ashlyn estaria logo atrás.

E isso não foi diferente na morte.

Emmett McCarty desapareceu após sair pra caçar em 1935, uma semana antes do aniversário de 16 anos de sua irmãzinha.

Quatro semanas depois, sua família velou um caixão vazio, pois seu corpo nunca foi encontrado na floresta, apenas a arma de caça e pedaços de suas roupas em farrapos ensanguentados.

O dia em que Ashlyn perdeu Emmett, foi o dia em que todos a perderam também.

Cada segundo de sua vida pelos próximos sete meses pareciam se arrastar em uma sensação de dor e agonia intermináveis. Ela ainda estava viva, mas sentia que seu coração fora enterrado junto do caixão de seu irmão.

Não levou muito para que Ash seguisse, inconscientemente, o mesmo caminho que Emmett. Ela deveria ter morrido naquele acidente de carro após seu aniversário de dezessete anos. Mas, novamente, sua família enterrou outro caixão vazio, pois a explosão após a batida não deixou sequer um corpo para ser velado.

A verdade é que Ashlyn morreu naquele acidente, mas não permaneceu morta.

Se estiver sendo honesta sobre isso, morrer foi a melhor coisa que aconteceu à ela, pois isso permitiu que reencontrasse seu irmão, sua pessoa favorita no mundo todo, a quem ela nunca mais precisaria se preocupar em perder.

Ela sente falta de seu irmão cada segundo de cada dia desde que deixou Forks. Deixá-lo para trás, ela pensa, é seu único arrependimento.

Mais de um ano se passou desde o fatídico dia em que ela decidiu se separar de Edward, e sua única certeza agora é que já está na hora de parar de fugir.

Ashlyn está voltando para casa, para seu irmão e a família que ela escolheu para si. Afinal, ela é, e sempre será, uma Cullen.





17 de Maio, 2006

          Rosalie Hale não odeia tudo sobre Isabella Swan. Ela só odeia a indiferença que a garota tem por sua vida humana, e sua falta de amor próprio, e sua ausência de personalidade, e o fato de que ela, mesmo sem saber, partiu o coração de sua irmã.

Ela não odeia tudo, mas está bem perto disso.

Rose sempre achou que Ashlyn fosse perfeita para Edward, seu carisma e jovialidade, sua inteligência e maturidade emocional, seu amor pela arte e sua dedicação à família. Qualquer um teria sorte de ser amado por Ash.

Não fazia sentido ele escolher uma humana sem graça.

Então, Rose chegou à conclusão, pode ser que nunca tenha havido uma escolha a ser feita. O destino amarrou Edward e Isabella juntos porque, por alguma razão, deve ter sido melhor assim.

Rose só não odeia Isabella um pouco mais, porque espera que o futuro tenha reservado coisas melhores para Ashlyn.

É claro que isso ainda não a impede de mentalizar as piores coisas possíveis sobre a garota, principalmente se seus pensamentos puderem irritar Edward até o limite.

Ele merece um pouco disso.

Além disso, ela odeia principalmente o fato de que Isabella é um enorme imã para problemas, mas que precisa deles, seres não mortais, para resolverem a bagunça. Como agora que Edward tirou a garota da cidade para que os Cullen possam caçar Victoria.

Então, Rose acredita que tudo bem odiar Bella um pouquinho por cada uma dessas coisas, que somadas resultam em uma grande pilha de desprezo e rancor.

— Eu não sou o Edward, mas posso imaginar todas as atrocidades que você está pensando agora. — Jasper resmunga do assento ao seu lado no sofá, e Rosalie rola os olhos enquanto grunhe algo ininteligível. — Também sinto falta dela.

— Nenhum de nós sente mais que o Em. — Rose murmura, lançando um olhar breve para a porta da sala. — Ele não fala comigo sobre isso, mas eu consigo ver como ele olha pra todas as coisas dela que ficaram para trás. — Jasper morde o lábio, acenando com a cabeça enquanto cruza os braços sobre o peito.

— Eu sei. — Ele diz. — Ele parece incompleto sem ela.

— Ele ficou arrasado depois da transformação, sabia? — Rose confessa, impulsionada pelo fato de que não havia ninguém na casa além dos dois. — Não porque havia morrido, não porque agora era um tipo de monstro desalmado, não porque a única coisa capaz de saciar sua fome seria o sangue de outro ser vivo. Mas porque nunca mais veria sua irmãzinha outra vez. — Ela suspira, mesmo que não seja mais necessário. — Eu me lembro até hoje do dia em que ela chegou, e como Em a olhava como se todos os astros tivessem finalmente se alinhado, como se o mundo tivesse cor outra vez. E quando ela foi embora outra vez...

— Foi como ver o Sol se apagando. — Jasper apontou precisamente, recebendo em troca um aceno de confirmação. — Não me admira o soco que Edward tenha levado.

Rose sorri um pouco, uma mistura de apreciação e orgulho em seu peito ao recordar tal momento.

— Ele mereceu.

— Eu nunca disse o contrário.

O rosto de Rose volta a cair em uma expressão de amargura e melancolia, e ela apoia o a bochecha contra a palma da mão.

— Eu quero ela aqui, Jasper. — Ela diz. — Quero nossa irmã conosco, e também quero que ela seja tão feliz quanto era antes de...

A frase nem mesmo precisa ser terminada, os olhos dourados de Jasper reluzem um brilho de entendimento enquanto ele encolhe os ombros suavemente.

— Eu também, Rose. — Mais do que qualquer um ele compreendia, e odiava, cada pedaço da dor que sua irmã estava sentindo. — Eu também.





18 de Maio, 2006

          Não há lugar tão bom quanto o nosso lar. Foi um pensamento que passou pela mente de Ash no momento em que avistou a placa de boas-vindas na entrada de Forks. Com pouquíssima luz solar espreitando através das densas nuvens de chuva acima da cidade, foi como ser imediatamente imersa em uma outra dimensão.

Ashlyn dirigiu sob a chuva fraca, o silêncio no interior do carro preenchido apenas pelos ruídos das pancadas de água no retrovisor. Cada rua, esquina e comércio eram tão familiares, e o caminho até a casa dos Cullen parecia entalhado em seu coração: saindo para a rodovia após nove quilômetros e entrando na terceira estrada de terra à direita.

A chuva ficara quatro quilômetros atrás de si quando ela finalmente avistou a grande casa de madeira e vidro espreitando entre as árvores. E mesmo com medo do que encontraria de agora em diante, ela sorriu em um misto de alívio e saudade.

E quando seis figuras saíram para a varanda antes mesmo que ela pudesse estacionar o carro, e todos os rostos tão familiares se iluminaram com sorrisos brilhantes para sua chegada, Ash não conseguiu se arrepender de sua escolha.

Ela parou o carro e mal teve tempo de desligar o motor e desafivelar o cinto antes que a porta ao seu lado se abrisse. Seu corpo fora praticamente puxado para fora do veículo e para dentro de um par de braços enormes.

Emmett gargalhou enquanto a erguia até que seus pés saíssem do chão, ele a girou no ar. Ash riu, apertando-o de volta com o rosto enterrado em seu pescoço, os dedos enrolados na jaqueta e no cabelo dele, mantendo-o perto sem a menor intenção de se afastar.

Nunca mais.

— Senti sua falta.

— Eu senti mais, baixinha.

Ash respirou, os cheiros de seus irmãos e pais se misturando com o aroma da floresta de pinheiros, e a água do riacho ao sul, e algo doce e agradável que ela aprendeu a distinguir como lar.

Era tão bom estar em casa.

Ou pelo menos estava sendo, nos primeiros dez minutos antes de ouvir tudo o que eles tinham para lhe contar. Honestamente, a história toda lhe deu vontade de vomitar.

— Então, estão me dizendo que essa mulher, Victoria, está procurando vingança por seu companheiro morto. — Ash repetiu lentamente, sentada na cadeira do piano. Sua família, que se espalhou ao redor do cômodo durante a conversa, parecia propositalmente muito próxima, como se não quisessem manter muita distância física dela. — E pra ela não assassinar... a garota... — Todos tiveram a decência de não mencionar sua relutância em dizer o nome de Isabella. — Ele a tirou do estado pelo fim de semana, pra que vocês possam pegar a vampira psicótica antes que ela cause mais transtornos.

— Esse é um resumo bastante preciso. — Jasper comentou, sorrindo para sua irmã quando ela o olhou sarcasticamente.

— Só pra constar, ainda estou brava por nenhum de vocês ter me dito qualquer coisa sobre isso antes. — Ashlyn diz, os braços cruzados sobre o peito enquanto seu rosto se contorcia em desgosto e preocupação.

Cada um deles parece apropriadamente constrangido enquanto se entreolham com expressões castigadas.

— Nós pensamos que...

— Eu sei, Alice. — Ash interrompe gentilmente. — E agradeço a consideração com meus sentimentos, mas eu ficarei muito feliz se nunca mais fizerem isso.

— Quer dizer, te proteger? — Rosalie franze o rosto bonito em uma feição sugestiva.

— Quero dizer, me impedirem de ajudá-los. — Corrige Ashlyn com convicção. — Vocês são minha família, perder um de vocês partiria meu coração muito mais do que qualquer divórcio poderia.

Se não estivesse olhando com muita atenção, Ashlyn não teria visto o que suas palavras causaram em sua família, em como eles tentaram, e falharam, em esconder a surpresa momentânea, e depois os sorrisos discretos e orgulhosos que não puderam ser contidos.

Por sorte, ela viu tudo. E Ash soube que fez a coisa certa em voltar, porque aquelas pessoas bem ali, imortais, excêntricas e indiscretas, nunca a desapontariam.

De fato, não existe lugar como o lar.






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