06.ㅤ⛸️ ... I DON'T LIKE YOU

⛸️ … TRUST ME, THEN FALL
06. ‘ I DON'T LIKE YOU
© pizzastri, 2024.

── Sua vadia patética ── Cassandra esboça um sorrisinho tímido quando a cabeleireira loira, cheia de laquê, para em sua frente ── Eu senti tanto sua falta.

── Achei que seu cabelo fosse cair de tanto produto que vocês, modelos e misses estaduais, utilizam.

── Vem logo me dar um abraço, Cassandra Claire Kennington! ── a figura abre os braços, balançando seus dedos para incentivar com que a patinadora se aproximasse. O que deu certo, já que Cassandra não demora muito para abraçá-la, caindo na risada no momento em que sua amiga passou a soltar alguns sons estranhamente pornográficos, um pouco alto demais. ── Nova Iorque é tão chato sem você.

── Como convenceu seu empresário de deixar com que viesse sozinha pra cá?

── Foi preciso colocar só alguns dólares na conta dele ── ela dá de ombros, afastando-se do abraço ── só não consegui me livrar dos seguranças. Mês passado um tarado do Kansas tentou me seguir, achei melhor evitar que isso acontecesse de novo.

Quando se vive em um ambiente da alta sociedade, é de se esperar que as amizades nunca sejam sinceras. O que prevalece são as intenções e o lado egocêntrico de cada indivíduo que busca conseguir o que deseja, sendo da forma mais filha da puta possível, ou não. Cassandra nunca teve amigas. Costumava se estressar constantemente com as puritanas de olhos baixos e voz tão suave quanto algodão doce. Essas eram as piores, as mais interesseiras de todas.

Em jantares beneficentes, onde sua presença era obrigatória para manter a integridade e falha imagem de união dos Kennington, Cassandra costumava passar a noite ao lado do bar, misturando diversas bebidas de teor alcoólico para esconder o inferno que era sobreviver diversas horas sorrindo para velhos insuportáveis, debatendo sobre dinheiro, o quão bonita era e o interesse de fazer negócio com a família.

Então, em um desses dias, uma figura se senta ao seu lado, resmungando sobre os olhares dos tarados que recebia, ao mesmo tempo que usava um palavreado extremamente obscuro para alguém com uma feição extremamente angelical. Melissa Georgina era seu nome. Modelo, miss e herdeira de um escritório de advocacia extremamente polêmico. Cassandra nunca desenvolveu intimidade com alguém tão rápido como desenvolveu com Melissa.

── Então, primeiro as novidades ── Melissa diz com animação, dando alguns pulinhos no lugar antes de finalmente se sentar na cadeira do restaurante ── É realmente verdade isso de que vai voltar para as duplas? Por isso que saiu de Nova Iorque?

── Na verdade, sai por conta dos desgraçados dos meus irmãos ── diz com certo desgosto, omitindo a vergonha do papel de idiota que pagou em sua última competição ── Mas sim, vou voltar.

── Hummmm… ── a modelo finge folhear o cardápio ── Nicholas Chavez, então?

── Qual é? Todo mundo conhecia esse cara menos eu? ── Cassandra bufa, apertando a mesa à sua frente.

── Cassie… o cara é um gato. Pode não competir nas competições de elite, mas tem que forçar muito para dizer que ele não é atraente.

Cassandra dá de ombros, não querendo pensar muito naquela fala carregada de informações perigosas. Muito perigosas.

── Você é casada, Mel.

── Meu marido me trai ── sua voz não continha um peso de emoção, como se não ligasse para a informação ── assim como eu traio ele, isso é conceito de casamento. Mas, não é como se eu quisesse o patinador bonitinho, já tô de olho em alguém aí…

── Ele é um saco, Mel. Tipo, chato pra cacete. Sinto vontade de dar um soco no rosto dele de petulante. Odeio homem assim…

── Gostoso?

── Insuportável.

A gargalhada que invade o restaurante até então vazio pelo horário, é impagável. Melissa chegou até mesmo a se debruçar na mesa, deixando os fios loiros de seu cabelo escorregarem para frente de seus olhos. Cassandra, por outro lado, tinha no rosto uma linha reta em seus lábios. Seus braços somente estavam cruzados por conta do incômodo do assunto ser sobre outro alguém, outro alguém que infelizmente era sim, muito atraente.

Ela tem um calafrio, tremendo dos pés à cabeça pelo pensamento que definitivamente não foi convidado para a conversa. Quando respira o suficiente, buscando coragem para perguntar o porquê de estarem debatendo sobre o rapaz, Melissa ergue a mão para chamar um garçom.

── Senhorita? ── um rapaz jovem, um tanto quanto nervoso, para ao lado da mesa.

── Me veja uma garrafa do vinho Harlan Estate ── encara Cassandra ── e para ela uma dose de Wild Turkey com limão.

Ele sai apressado antes que Cassandra pudesse negar.

── Eu não posso beber tanto, tenho ensaio amanhã de manhã.

── É nosso reencontro, uma dose não vai te matar ── a loira diz revirando os olhos. ── Além disso, fiquei curiosa.

── Com o que?

── Você e o bonitinho se conheceram quando mesmo?

Cassandra deixa escapar um suspiro involuntário, mas não de encanto, e sim de ódio.

── Por que ainda estamos falando sobre ele?

── Porque eu sou sua melhor amiga, e eu quero saber. Portanto, abre essa boca, Cassie! ── dita com seriedade, arrancando mais um suspiro longo e arrastado da mulher que parecia já ter se arrependido de estar ali. Céus, como poderia Nicholas Alexander ter o dom de deixá-la tão irritada sem ao menos estar ali?

── Uma ou duas semanas, sei lá. Não me lembro.

Melissa começa a rir novamente, dessa vez com muito mais disposição, o que deixou Cassandra com um enorme ponto de interrogação acima da cabeça. Ela chega até mesmo a olhar para os lados, para certificar de que não havia ninguém prestando atenção na conversa, ou muito menos em sua amiga tendo uma crise de riso intensa. Seus olhos se piscam lentamente, buscando evidências do porquê daquela cena tão repentina.

── Qual a graça? ── o mau humor em sua voz era visível. O garçom até mesmo larga o pedido com certa urgência, com medo de seja lá o que estivesse acontecendo na mesa.

── Cassandra… K-Kennington! ── a mulher tenta recuperar o ar, gaguejando e falhando diversas vezes ── Isso é mais hilário do que imaginei.

── Uhum, o que é hilário?

── Você diz que não gosta de falar sobre ele, mas com duas semanas já guardou mais traços de personalidade dele do que quando você namorava.

Os olhos da patinadora se arregalaram numa velocidade desconhecida por ela, contribuindo para que a risada melodiosa de Melissa se prolongasse por mais um tempo. Suas mãos, que até pouco tempo estavam descansadas sobre a mesa, tateiam-na desesperadamente até que finalmente encontrasse o copo com a bebida gelada. Cassandra toma o whisky que desce rasgando em sua garganta, porém, não interrompe aquela sensação desgostosa de queimação contínua.

Ela tinha plena convicção que o desconforto não era uma sede qualquer, a qual ela poderia esconder com um copo de água; mas sim o gosto amargo da verdade impregnado em toda sua boca. Porra, era verdade. Ela estava se importando tanto assim com alguém que não merecia um pingo de sua atenção? Por qual motivo, caramba? Você é estúpida, Cassandra Kennington!?

Seus olhos se fecham com força, sua mente tenta expulsar as dezenas de cenas imaginárias que ela criava no calor do momento de como seria interessante atropelar Nicholas com seu carro. Nunca sentirá antes um ódio mortal por alguém, a ponto de que esse maldito alguém alugue um lugar em sua mente para fazê-la sempre se lembrar de que estava presa a ele.

Não completamente presa. Ela pensa revirando os olhos, debatendo sozinha contra os próprios pensamentos violentos e petulantes. Porém, precisava de Nicholas. E  o fato de precisar de Nicholas era o que contribuía para que Cassandra voltasse a sentir aquela adrenalina maluca correndo pelas suas veias, a mesma adrenalina que se fazia presente quando estava ao lado dele. Uma adrenalina de que você precisa se segurar, se não irá cometer crimes.

Cassandra sentiu essa adrenalina desde o primeiro encontro, quando os lábios nojentos dele encostaram-se contra sua mão.

── Acho que te quebrei ── a voz de Melissa interrompe seu fluxo de pensamentos que corriam de forma rápida ──, você ficou quase dois minutos quieta depois da bebida.

── Só pensando.

── No bonitinho?

── Podemos parar de falar sobre ele? É sério, Mel. Eu realmente me incomodo. O cara é bonito? Que se foda, eu não ligo. Eu já aturo demais tendo que lidar com ele todos os dias, até a porra do ano que vem.

Elas engatam numa espécie de silêncio estranho, talvez como uma batalha mental para saber quem era a mais forte. Cassandra não desvia o olhar da loira, ele permanece intacto, seguro e um tanto quanto exigente. O suficiente para que Melissa soltasse um suspiro de derrota, rendendo-se ao levantar ambas as mãos.

── Ok, você venceu ── solta uma risada nasalada ── Assunto proibido.

── Obrigada.

── Agora vamos falar sobre o cara que eu  estou a fim.

── O cara com o qual você vai trair o Mick? ── Cassandra zomba.

── É, tanto faz.

( . . . )

NO DIA SEGUINTE.
SUN VALLEY, IDAHO.

Cassandra dormiu mal para caralho.

Whisky não era lá o tipo de bebida fácil de derrubá-la. Só que quando se toma mais de quatro doses, ultrapassando seu próprio limite que já não é muito bom, ela se lembra o porquê raramente comete esse mesmo erro patético. Por resultado de suas péssimas escolhas, sua cabeça agora estava doendo mais do que tudo nesse mundo.

Era fácil de saber que seu humor estava perfeito. Incrível, maravilhoso. Cassandra somente precisava que a arena permanecesse silenciosa, até, pelo menos, parte de sua dor passar.

── Você está horrível, Kennington.

Só que a voz de satã sussurrou no ouvido dela. Ela esboça um sorriso frio, não deixando-se abalar.

── Pensei em você antes de dormir e deu nisso.

── Hummm… ── Nicholas se debruça sobre a cadeira da arquibancada ── Então sonhou comigo, foi?

── Infelizmente sim. ── diz com falsa lamentação ── Daí eu acordei gritando de horror quando sua cara feia surgiu na minha frente. Nem o massacre da serra elétrica me assustou tanto assim.

Ele ergue o dedo do meio.

── Vaca.

── Bom saber que quando Irina não está aqui, você mostra quem realmente é ── zomba amargamente.

── Se quiser, eu começo a te chamar de vaca na frente dela, não tem problema nenhum. ── ele diz entre risadas.

── Tenta e eu faço pior.

O que impede Nicholas de dar outra resposta à altura, é o som dos saltos de Irina que ecoam pelo ambiente, anunciando sua chegada. Ambos os patinadores, que mantinham expressões extremamente sérias em seus rostos, as dissolveram como pólvora. Cassandra não perde tempo em finalizar a amarração dos cadarços dos patins, movendo-se com pressa até a pista para sair o mais rápido possível do lado daquele homem que lhe dava calafrios, calafrios ruins.

── O que deu nela? ── Irina olha desconfiada para Nicholas, que apenas dá de ombros, como se não tivesse sido ele que  atentou Cassandra segundos atrás.

── Dor de cabeça.

── Hum ── a velha não engole completamente a resposta, sabendo claramente que não era apenas a dor de cabeça que deixou Cassandra com uma expressão descomunal de incômodo ── Vá se aquecer, vamos falar sobre o programa em breve.

── Já escolheu? ── Nicholas tinha as sobrancelhas levemente erguidas, curioso com a fala da russa.

── Se temos a primeira competição no início do próximo mês, então sim, já escolhi.

Mesmo tendo contato há pouquíssimo tempo com Irina, a ignorância dela já não era mais tão incômoda assim para Nicholas ── o contrário de Cassandra. De um lado, havia uma profissional séria que sabia o que estava fazendo, tinha visão do sucesso e acumulava anos de experiência com a patinação.

Do outro lado havia Cassandra.

Enquanto seus patins escuros o guiavam pelo gelo, de canto de olhos aproveitava para jogar olhares para Kennington que, definitivamente, parecia não estar nada bem. A expressão de raiva pela discussão que tiveram já não estava mais lá, porém, no lugar, uma de enjôo tomou conta.

Contanto que não vomite em mim”. Ele gorfa dramaticamente só de pensar.

Não é como se Nicholas Chavez odiasse a ilustre presença de Cassandra Kennington. É muito pouco tempo para odiar alguém como ela ── embora motivos não falte ──. Porém, já tinha percebido que sua pessoa causava uma espécie de reação na patinadora. Era como se um núcleo de átomos se unissem, gerando uma bomba atômica. Cassandra era uma bomba. Uma bomba altamente radioativa.

E Nicholas tinha muita curiosidade para saber até onde ele conseguiria ir sem acionar o elemento x que a fizesse explodir.

( . . . )

── A temporada começa em março ── Irina tinha um cigarro em seus lábios ── Antes disso temos duas exibições: uma aqui, em Sun Valley, e outra em Boston.

── Exibições? ── Nicholas pensa que murmura baixo o suficiente para que ninguém escute, mas seu desejo infelizmente não é ouvido.

──  Exibições é o momento que olheiros aparecem para saber se vão apostar ou não em determinada dupla.  ── Cassandra responde sem o encarar ── Agora se forem ruins como você, fica marcado para apostar a favor do seu fracasso.

── Vem cá, por que você gosta de elevar o próprio ego diminuindo outras pessoas? Isso lhe dá prazer? ── ele aperta a barreira com força, tentando disfarçar o ódio com um sorrisinho presunçoso ── Porque pra mim, você continua sendo a mesma fracassada que saiu xingando diversas patinadoras que não tinham nada a ver com suas vulnerabilidades.

── Virou meu psicanalista?

Nicholas dá de ombros.

── Na verdade, é fácil de saber que sua autoestima é baixa. Você não se ajuda muito quanto a isso.

A bomba ameaça explodir. Cassandra se vira lentamente na direção do rapaz, dando de cara com a mesma expressão convencida de sempre que ele tinha. E céus, a vontade de gritar xingamentos pesados passou por sua cabeça de forma involuntária, a ponto que precisasse respirar fundo diversas vezes para não piorar o clima.

Cassandra, a cada momento vivido ao lado de Nicholas, sentia que o odiava cada vez mais. Era impressionante. Não sabia, honestamente, como iria sobreviver um ano ao lado dele.

──  Eu escolhi a ópera Carmen como programa técnico. ── A fala de Irina gera uma reação instantânea. Os pescoços de Nicholas e Cassandra se viram tão rápido na direção dela, que pouco não estalam pelo movimento brusco.

── O que? ──  praticamente berram juntos.

── Passei esses últimos dias buscando algo que pudesse destacá-los, e, aparentemente, a Ópera Carmen foi o único programa que consegui visualizá-los juntos.

── Ela caiu! ── Nicholas acusa Cassandra.

── Você me derrubou!

── Por que opera Carmen? ── Nicholas ignora a fala da mulher, voltando a encarar Irina ── Existem outros programas melhores.

── Ópera Carmen é um programa bom ── Cassandra, ao lado dele, murmurou alto o suficiente para que ele escutasse.

── Como programa livre, Kennington. ── ele ri amargo ── Não como técnico. Se liga!

── Você o fez aquele dia.

── Porque era um teste. Não achei que fôssemos utilizar nas competições.

── Já vai desistir, Chavez? Uau, foi mais rápido do que eu imaginei. ── Zomba, esboçando um sorriso ladino.

Nicholas cruza os braços, ajeitando a postura.

── Tonya Harding te humilhou pouco, pelo visto.

── Nenhum dos dois idiotas estão em posição de dizer se o programa é bom ou não. Nem patinar sabem direito! ── Irina diz alto o suficiente para que se calem ── Vocês parecem que não sabem fazer porra alguma, para falar a verdade.

── Porque, provavelmente, é culpa dela ── ele aponta de forma nada discreta para Cassandra.

── Você chegou ontem e quer definir o que é culpa de quem?

── É culpa dos dois imbecis! ── A russa corta o barato ── Olhe, eu não tenho paciência nenhuma para aguentar essas respostas patéticas toda hora. Vocês estão aqui para patinar e ganhar a merda daquela medalha. Então, se ambos têm pelo menos um pingo de amor pelo que fazem, ou ambições boas o suficiente, usem-nas para fazer algo que presta e patinem na merda desse gelo. Vão se odiar na puta que pariu, mas aqui? Eu que mando! E vocês vão fazer o que eu mandar para que consiga enfiá-los na merda das Olimpíadas. Fui clara?

Cassandra e Nicholas prendem a respiração, tensos com o puxão de orelha. Eles se encaram brevemente, pelo canto dos olhos, e logo balançam a cabeça em concordância.

── Sim. ── dizem em conjunto.

── Ótimo ── Irina pega outro cigarro de dentro do bolso de seu sobretudo, o acende com ajuda de um isqueiro, e dá uma boa tragada naquela droga ── Vamos começar aprendendo do zero. Quero Nicholas posicionado do lado direito de Cassandra, segurando a cintura dela, a outra mão entrelaçada na dela.  

⛸️ . . .ᐟ Uma breve explicação sobre o motivo da revolta deles: atualmente, nos padrões de competição da patinação artística em dupla, são duas coreografias. Uma com saltos, técnica e exigências maiores, e outra livre, onde a dupla pode mostrar uma coreografia mais emotiva, dançante e livre.

Entretanto, esse padrão só foi alterado em 2004, e como essa obra se passa em 1991, eles seguem o padrão antigo de APRESENTAÇÃO 1 + APRESENTAÇÃO 2 = APRESENTAÇÃO 3.

(PROGRAMA CURTO + PROGRAMA TÉCNICO = PROGRAMA LIVRE)

AP1 + AP2 são duas performances onde servem para definir a nota. Há a soma delas duas, onde o peso maior é da AP1. Elas que definem se a dupla vai para a final, que, se acontecer, competem com a AP3.

Nicholas e Cassandra, embora ela tenha tentado não demonstrar, estão preocupados com a escolha de Ópera Cármen que vai se encaixar no programa técnico que envolve técnica e diversas acrobacias. Ópera Carmen é conhecido por ser um programa livre pela dramatização e suavidade nos momentos. Escolher para técnico é doideira demais. Então... entendam o desespero deles.

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